Os Descendentes e a Ferida da...

By brunohaulfermet

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A Ferida da Terra precisa ser contida. O tempo corre. A situação piora. Mas o que ela é, Ian não sabe. Ele nã... More

Periodicidade das postagens
Amazon e Skoob
Dedicatória
Prólogo
Capítulo 1 - Você Não Devia Estar Aqui, Menino
Capítulo 2 - A Casa da Costa
Capítulo 3 - Corpo Gelado
Capítulo 4 - Meninas Más Morrem Primeiro
Capítulo 5 - As Pequenas Luzes
Material de divulgação do livro - Imagens (I)
Capítulo 6 - A Fuga dos Irmãos
Capítulo 7 - Trio Encrencado
Capítulo 8 - A Excursão
Capítulo 9 - A Reunião dos Improváveis
Capítulo 10 - A Planta no Meio do Vale (I)
Capítulo 10 - A Planta no Meio do Vale (II)
Material de divulgação do livro (II)
Capítulo 11 - Descendentes
Material de divulgação do livro (III)
Capítulo 12 - Festa Julina às Avessas (Parte I)
Capítulo 12 - Festa Julina às Avessas (Parte II)
Capítulo 13 - O Castelo de Sorin
Capítulo 14 - Outros Descendentes
Capítulo 15 - A Adaga Infinita
Capítulo 16 - A Ferida da Terra
Capítulo 18 - Corrente Cósmica Universal (I)
Capítulo 18 - Corrente Cósmica Universal (II)
Capítulo 19 - A Zona Escura
Capítulo 20 - A Floresta das Lágrimas
Capítulo 21 - Um Contra Cem
Capítulo 22 - O Maior Medo de Norah
Capítulo 23 - A Espada Celestial
Capítulo 24 - A Suspeita
Capítulo 25 - Pelúcias
Capítulo 26 - Luz e Água
Capítulo 27 - A Calmaria Antes da Tempestade
Marcadores de "A Ferida da Terra" - Brinde por tempo limitado
Capítulo 28 - O Rompimento
Capítulo 29 - O Rabisco
Capítulo 30 - A Véspera
Curiosidades sobre A Ferida da Terra
Capítulo 31 - A Partida
Capítulo 32 - Em Família
Capítulo 33 - Ele
Capítulo 34 - Sombra Contra Luz
Capítulo 35 - O Fim e o Começo
Capítulo 36 - A Volta (FINAL)
A Ferida da Terra e os leitores: o que vem depois.
BÔNUS - A Saga da Descendência {Livro Dois}
Estudos Ilustrados para Capa Definitiva
[VOTE] Imagem final de um dos cinco.
Color Script
Ilustração e Capa Definitiva - Livro Um
Curiosidades [Parte 2]
Primeiro Encontro Oficial do Wattpad
Livro Dois - Nome e Sinopse
Encontrão do Wattpad - Bienal do RJ 2017
Prêmio Deusa Lendari / Finalista

Capítulo 17 - Os Quatro Dirigentes

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By brunohaulfermet


Ian estava de volta ao quarto, na manhã seguinte, sentado em uma das poltronas e Mabel estava olhando o ferimento na testa dele que estava enfaixado, mas deixava transparecer uma fraca mancha de sangue.

— Está melhor?

— O que aconteceu?

— Encontraram você desmaiado na sala onde fica a adaga.

Ele levou a mão à testa, mas foi interrompido pela menina:

— Não encoste no curativo. Disseram que ele abriu completamente.

— Mas não tinha cicatrizado? Eu nem sentia mais dor.

— Se você que estava lá, não sabe, imagina eu...

— Não lembro de muita coisa. Tinha alguém com um capuz, tentou usar a adaga...

— Como assim? - perguntou Mabel, preocupada.

— Eu acordei de madrugada com sede... - mas Ian foi interrompido com uma batida na porta. Higino, Norah e Rafaelo entraram, caminhando até eles, aflitos. Dava para notar o medo nas feições dos irmãos. Rafaelo era o único que conseguia disfarçar, embora estivesse desorientado.

— Como você está? - perguntou o irmão de Norah. Sua voz saiu falhada.

Ian olhou bem para o amigo. Higino chorara a noite inteira e o mesmo acontecera com Norah. Seus rostos continuavam vermelhos, inchados, esgotados.

— Estou bem, eu acho. E vocês?

— O que você acha? - perguntou Higino, a voz chorosa e triste.

Norah respirou fundo e tirou alguns fios de cabelo da bochecha, que tinham agarrado por causa das lágrimas. Ela se aproximou de Ian, mal conseguindo encará-lo. O que ela disse a seguir causou espanto em todos:

— Me desculpe. Por tudo. Esses anos todos, tantos insultos... - ela fez uma pausa.

— Norah... - ele começou.

— Deixa eu terminar, por favor - ela disse com dificuldade, sem levantar os olhos.

— Fui estúpida. Mimada. Feri tanta gente com as minhas palavras e as minhas atitudes. Me desculpe, Ian. Você também, Mabel. Para falar a verdade, acho que você se veste muito bem - ela deu um sorriso, o mais bonito e singelo que os quatro tinham visto dela até aquele momento. - e você, meu irmão... tão gentil, nunca foi um fracassado. Eu sim. Fiquei arrasada quando nossa mãe morreu e ontem foi a gota d'água. Não posso continuar agindo como antes. Depois dessa noite abri meus olhos. E sei que a mamãe gostaria de ver uma filha do bem.

Lágrimas discretas correram pelos olhos de todos.

— Está tudo bem, Norah - disse Ian. - todo mundo tem problema. Estamos juntos. E apesar das dores, o que estamos vivendo agora é muito especial. Nenhum de nós vai esquecer.

A menina sorriu. Mabel também tinha o que dizer:

— A primeira coisa que eu pensei quando te vi foi nossa, como essa menina tem bom gosto!. Eu já sabia que alguém com um olhar tão bom para moda não poderia ser uma pessoa ruim - ela deu um sorriso.

— Essa noite foi muito longa para nós - disse Higino. - e fez com que a gente avaliasse muitas coisas. Eu também queria pedir desculpas para você, Ian, por ter agido como agi. E para você, Rafaelo. Eu me excedi na Casa da Costa e podia ter ferido vocês.

— Eu sei que você não teve a intenção, quatro-olhos - disse Ian.

— Para falar a verdade, eu achei bem legal, cara! - disse Rafaelo, dando um soquinho no ombro do irmão de Norah. Fui um idiota com vocês dois por todos esses anos. Errei feio - disse, envergonhado. - mas percebi que havia um caminho melhor. Dei conta quando cheguei naquela caverna e te vi desmaiado, Ian. Naquele dia no parque eu fui atrás de vocês para dizer exatamente o que estou dizendo agora, mas não consegui. E estar aqui no meio dessa loucura, conhecendo vocês de outra forma, é assustadoramente incrível. Sei que o clima é de tensão e a coisa está séria, mas nunca me senti tão incluso e animado com algo.

— Acho que esse é o sentimento de todos nós - disse Ian. - quero dizer, descontando a ameaça de Zero e tudo de ruim que vem com ele, todo o resto tem sido fantástico, não? E em tão poucos dias...

Todos concordaram. Os rostos dos irmãos ganharam uma feição de contentamento.

— Vou querer levar as minhas roupas quando isso acabar - disse Rafaelo. Todos riram e as meninas concordaram.

— Ian, termina de contar o que aconteceu - pediu Mabel.

A ardência nos olhos tinha melhorado, mas o ferimento latejava como nunca. O garoto pegou um dos travesseiros que estava ao lado e colocou sobre as pernas cruzadas, para apoiar as mãos. Ele contou o que tinha ocorrido na última madrugada enquanto, aos poucos, os rostos preocupados dos amigos iam se revelando.

— Não acredito que mataram a Megânia, mesmo ela sendo uma estátua - disse Mabel.

— Talvez não fosse tão estátua assim. Tinha vida, né? A ponto de alguém querer tirá-la - Ian ressaltou.

Higino ajeitou os óculos, não disfarçando o medo:

— Você acha que foi Julliette?

— Não sei... os olhos brilhavam como os dela na caverna... não, eram mais intensos. E o encapuzado era mais alto também. Mais rápido.

— Isso não quer dizer nada - disse Rafaelo. - e se ela estiver disfarçada com aquela aparência de velha?

— Será possível? - perguntou Norah.

— Quem sabe - ele respondeu. - olha onde estamos. Tudo é possível. Se existem técnicas que fazem a gente voar, por que não poderia existir outra para disfarçar a aparência?

Todos concordaram, embora Ian estivesse mais propenso a ir em outra direção de raciocínio.

— Não sei, Rafaelo... o que você fala faz sentido, mas não estou totalmente convencido de que possa ser ela. Fato que aquela velha está escondendo alguma coisa, mas entrar no castelo assim?

— Achei aquele tal de Napoleon bem estranho - disse Norah.

— Eu achei as próteses dele o máximo. E ele parece legal. Desses rebeldes que não ligam para nada - disse Higino.

A irmã continuou:

— Ele mostrou muito interesse na adaga, não parava de olhar para ela e até se aproximou mais do qualquer outra pessoa naquela sala. Nem Cosmos estava tão perto.

— A altura do encapuzado até que era parecida - disse Ian.

— Eu achei ele bem simpático - disse Mabel.

— Esses são os piores. Bando de sonsos - disse Norah. As duas riram.

— Ele usou alguma técnica? - perguntou Mabel.

— Não. Só tinha os olhos que brilhavam mesmo. Foi assustador.

— De qualquer forma, todo mundo é suspeito e temos que ficar de olho. E você tem que redobrar o cuidado, agora que isso aconteceu – disse Higino.

— É, já percebi. Não quero ninguém de capuz atrás da minha cabeça.

— Já que temos o nosso primeiro suspeito, vamos ficar de olho nele.

— Vamos sim, Higino. E tem uma coisa que pode nos ajudar. Quando eu atirei a flecha, ela pegou de raspão na lateral da barriga. Quem quer que seja deve estar ferido agora - Ian disse com um certo orgulho de si.

— Não sei se isso ajuda - disse Norah. - acho que ferimentos pequenos eles conseguem curar rápido por aqui. Você mesmo teve sua testa curada antes, certo?

— Droga - ele resmungou, assentindo.

— Não temos pista de nada, então o melhor mesmo é fazer o que Higino falou. Todos em alerta! - disse Rafaelo.

Eles ouviram outra batida na porta. Estéfano entrou, um pouco ofegante:

— Como está, Ian?

— Melhor.

— Você dormiu bastante - brincou.

— Dormi? Que horas são?

— Já passa da hora do almoço.

— O quê? Tanto assim?

— Natural. Vocês têm estado sob muita pressão nos últimos dias.

— O que aconteceu, pai?

— Vim buscar vocês. Vamos para a Sala da Regência. Cosmos convocou uma reunião de emergência com todos os descendentes e até mesmo com os Dirigentes dos Sollos. Ele quer ouvir de você o que aconteceu, Ian. Todos nós estamos preocupados. Um ataque bem debaixo do nosso nariz...

— Vamos sim, claro. Vou trocar de roupa.

Depois de alguns minutos, Ian e seus amigos foram pelo corredor, guiados por Estéfano, através da movimentação de pessoas que andavam de um lado para outro. Ninguém notava o clima tenso que se instalara ali, o que fez Ian ficar apreensivo. Todos riam e brincavam uns com os outros, na mesma atmosfera de quando conheceu o castelo, dois dias atrás. Cosmos e os outros eram mesmo bons em manter sigilo sobre questões internas.

Ao passarem pelos guardas do quarto andar que protegiam a antessala, Ian e os outros chegaram até a Sala da Regência e o garoto nunca a vira tão cheia. Além dele, de seus amigos e Estéfano, estavam lá os três generais de Cosmos, todos os outros descendentes, com exceção do bebê Turmaline, Isla ao lado do Regente e mais quatro rostos desconhecidos, que embora estivessem ali, não estavam fisicamente presentes.

Ian pôde perceber que os quatro eram translúcidos e apesar da pouca opacidade, seus corpos não permitiam que algo os atravessasse ou não conseguiriam ficar sentados, como estavam fazendo, cada um em seu gabinete.

— Projeção astral - sussurrou o pai de Mabel para os cinco.

— Quem são? - Ian sussurrou de volta, perguntando.

— Os Dirigentes de cada Sollo.

Os cinco amigos estavam espantados. Todos os Dirigentes tinham um ar imponente e sério, muito diferente de Cosmos, que regia todo o continente e transmitira boas sensações. Usavam o mesmo tipo de roupa do Regente, cobertos por uma capa, presa por um broche de metal.

O que os diferenciavam eram as cores: um traje era vinho, outro cinza. O terceiro, preto e o último, azul escuro. Nenhum dos cinco amigos se sentiu confortável na presença deles. Ao vê-los entrar, Cosmos se aproximou, se dirigindo a Ian com preocupação:

— Como você está?

— Bem - Ian respondeu pouco convincente.

Cosmos olhou bem fundo nos olhos de Ian e o garoto sentiu um leve desconforto, principalmente porque todos ali também olhavam para ele.

— Esse é o garoto que foi encontrado na sala, Cosmos? - perguntou um dos Dirigentes.

— Sim, Astrodeus. Ian é um dos descendentes, assim como a maioria dos que estão aqui. Ian - ele se dirigiu ao garoto. - pode nos dizer o que aconteceu ontem, por favor?

Ian se sentiu acuado. Não estava conseguindo lidar bem com todos aqueles olhares. Alguns, reprovadores, como os de Sidéria, Êmalin e Aurélio. Outros, como os dos Dirigentes, frios, interessados apenas em saber o que estava acontecendo, sem se importar se ele estava bem. Se estava preocupado. Se estava com medo.

E ele estava.

Sentindo o pavor se instalar a cada nova conversa que tinha com Cosmos, a cada nova situação que surgia. Longe de sua mãe, longe de seu irmão chato, longe de sua casa. De seus seriados e de seu vídeo game. De seus sanduíches e sua pipoca amanteigada escorrendo pelos dedos. Era um mundo novo e ele se sentia sozinho.

Todos esses anos ele nunca soube de nada e de repente estava correndo o risco de morrer. O risco de não ver Joana preparar cremes para comemorar casamentos alheios, o risco de não discutir com Miguel por besteira. O risco de não sair à tarde com Limão e Tartaruga para ir ao cinema.

De repente descobre que a mãe de seu amigo foi assassinada. De repente todos estão olhando para ele, esperando que ele diga ou faça algo que os acalme, que lhes dê uma história que os satisfaça, que lhes dê uma pista, uma esperança, alguma coisa. Qualquer coisa.

Ian atravessou a grande quantidade de pessoas e se viu em câmera lenta andando até o gabinete de Cosmos, vendo cada expressão, recebendo cada vibração de quem estava presente. E não eram muito boas, na maioria.

Sentiu a cabeça latejar antes de começar a contar. Ele refez em palavras todo o trajeto da última noite, desde que acordou na madrugada até atirar a flecha de luz. As imagens vinham em sua cabeça acompanhadas de um peso no coração. Ele percebeu que os rostos que mais pareciam se importar com o que ele tinha sofrido eram os dos seus amigos, o de Estéfano, o de Isla, o de Cosmos e de seus generais.

— Meus amigos... como percebem, a situação se agravou. A adaga estava mantida em segredo por todo o simbolismo e perigo que representa e aparentemente alguém acredita que o sangue que ela carrega vai mesmo trazer a imortalidade. O que pensam sobre isso? Quero ouvir o que vocês têm a dizer – comentou Cosmos.

— Nós encontramos a adaga há poucos dias! - disse uma mulher, em um dos gabinetes. - quem ousaria tentar algo assim?

A mulher de traje vinho tinha o cabelo raspado nas laterais e um alto moicano que começava castanho na raiz e se tornava rosa do meio até as pontas. Um discreto piercing no nariz em formato de rosa combinava com outro em formato de argola, pequeno, que ficava na parte inferior do lábio, centralizado. Olhos cor de mel e pele impecável.

— Certamente, Pinka, alguém que não tem limites e que não dá importância ao perigo que representa cravar a adaga no próprio peito.

— Alguém muito estúpido - disse Pinka.

— E alguém muito seguro também - disse Astrodeus, que estava no gabinete ao lado.

O homem que vestia o traje cinza era alto, muito musculoso e bem mais velho que os demais. Tinha o cabelo liso e branco, preso por um rabo de cavalo no alto da cabeça. Sua barba igualmente longa e bem cuidada, era exatamente igual ao cabelo. Seus olhos castanho escuro e sua grossa sobrancelha branca reforçavam o visual mal encarado, que não tirava os olhos de Ian.

— Sem dúvida - disse Cosmos.

— Para ter matado Megânia, não é qualquer um - disse o outro, com voz grossa, no gabinete em frente ao de Pinka.

Rufus, de preto, era um homem atlético e alto. Olhos castanho escuro da mesma cor que o cabelo, raspado nas laterais e penteado para trás na parte de cima, modelado com algum produto. A barba espessa era curta. As duas mãos eram tatuadas. Ian supôs, por isso, que os braços deviam ser cobertos por elas também.

Ele reparou, além disso, que quando o Dirigente começou a falar, Mabel, Norah e Êmalin ficaram hipnotizadas olhando para ele. Rafaelo também tinha notado. Sabia reconhecer uma possível concorrência contra alguém que era muito bonito.

— Acreditamos que pode ser alguém de dentro do castelo, Rufus. Algum de nós, aqui presentes, que sabe sobre Zero e a adaga. Só alguém assim poderia fazer com que Megânia saísse de sua forma para liberar a passagem. Ela só tinha permissão de fazer isso para algumas pessoas. E todas essas pessoas estão aqui nesta sala, agora.

— Até os descendentes têm permissão? Não é muita exposição? - perguntou o Dirigente de barba branca.

— Não, meu caro Astrodeus. Eles são os que correm mais perigo e se pouco souberem do problema, estarão mais vulneráveis.

Uma voz feminina varreu a sala, imponente, e causou um silêncio absoluto nos outros. Sem exaltação ou qualquer traço de alarde, a Dirigente ao lado de Rufus tinha nos braços uma pequena corça, que dormia. A cabeça do animal estava adornava por uma coroa de flores muito bem trabalhada. Mabel imaginou que ficaria bem com ela.

A mulher, de pele azul celeste, não tinha cabelo. O corpo, exceto o rosto, era inteiro coberto por um padrão branco, azul turquesa e em algumas poucas partes, dourado. Ian achou que pareciam tatuagens de henna da Índia, com a diferença de que eles não estavam naquele país e que aquilo fazia parte do corpo da mulher, não sendo uma pintura. As duas orelhas tinham enormes alargadores escuros, do tamanho de bolas de tênis. Os olhos eram castanho claros.

— Poderia ser qualquer um, Regente – ela disse. - se fosse alguém daqui não precisaria matar a guardiã, se tivesse mesmo o acesso permitido à adaga.

— É um bom ponto, Williana - retrucou Astrodeus.

— Seria, Dirigente. A questão é que Megânia não abriria a passagem para alguém que não tem acesso. E matá-la antes disso seria o mesmo que nada. Me parece que alguém não quis correr o risco de ter uma testemunha.

Todos estavam em silêncio. Pareciam se analisar discretamente, com desconfiança.

— Ela é uma Ceruleana, não é, pai? - a garota sussurrou para Estéfano.

— É sim, filha.

— Com exceção de Ian, todos aqui somos suspeitos - disse o Regente.

— Isso é ridículo! - disse Pinka. - como nós, Dirigentes, poderíamos estar inclusos neste vandalismo?

Cosmos foi enfático:

— Não é nada pessoal, Pinka. É a situação que se apresenta para nós agora. E isso não é apenas vandalismo. É assassinato. É invasão. É acima de tudo, uma ameaça à vida de todo o planeta.

— Como você acha que isso tem a ver com nós e não com Zero? Não poderia ter sido ele a invadir a sala da adaga? - perguntou Rufus.

— E apunhalar o próprio peito pela segunda vez, sabendo como é sentir essa dor? Acho pouco provável - observou o Regente. - ele já teve e tem dor o bastante, não acham?

— Isso é o que o garoto diz - retrucou Astrodeus.

— Eu não estou mentindo - disse Ian, sentindo a raiva surgir. - eu sei o que vi e ele ia cravar a adaga no peito se eu não tivesse chegado.

— Quem nos garante que não foi você quem entrou lá? - perguntou Aurélio, se exaltando.

— Eu não fiz nada!

— Aurélio, se acalme - Cosmos interrompeu. - não vê que o menino está ferido e que ficou cara a cara com a morte?

— Muito conveniente dizer que sua herança se manifestou naquele exato momento! - disse Sidéria, alterando-se com nervosismo.

Êmalin olhava com reprovação para os cinco amigos. Fortuna não estava interessada na discussão dos descendentes. Estava preocupada com a situação que tinha ocorrido. Napoleon tinha um leve sorriso no rosto.

— Gostando de ver o circo pegar fogo, Napoleon? - perguntou Mabel, séria.

— Você não?

— Um amigo meu quase morreu, por que eu deveria estar sorrindo?

— Porque isso é só o começo, garotinha. E vai ficar mais interessante.

Mabel olhou para Higino, Norah e Rafaelo. E não era preciso muito para ver que todos estavam pensando a mesma coisa: Napoleon estava muito contente para quem estava no meio de um problema grave.

— Como isso vai ficar mais interessante, Napoleon? - perguntou o irmão gêmeo de Norah.

— Ah, você sabe... um assassino milenar à solta, invasões, assassinatos. Até que enfim alguma coisa realmente emocionante está acontecendo por aqui.

Rafaelo lançou um olhar de desprezo para o gêmeo de Fortuna, que não se sentiu intimidado:

— Algum problema, amigão?

— Nenhum... por enquanto.

— Aceita um conselho?

— Não - disse Rafaelo, secamente.

— Mas vou dar mesmo assim, bonitão. Vá embora, você não precisa passar por isso. Essa briga não é sua.

— E se eu não quiser?

— Ah, você sabe a lógica. Se você não está fora de algo, então está dentro. E estando dentro, sofrerá as conseqüências por isso.

Napoleon deu uma risadinha debochada e virou, enquanto Ian se aproximava dos outros quatro amigos.

— O que houve? - perguntou para Mabel.

Ela contou do pequeno desentendimento e quando Ian olhou para o garoto, Napoleon ainda olhava para os cinco.

— Idiota – Ian sussurrou.

— Completamente - disse Norah.

A discussão continuava no ambiente:

— Que segurança é essa que você proporciona ao castelo, Cosmos? - alfinetou Astrodeus.

Cosmos não pareceu intimidado. Pinka aproveitou:

— Acha que foi a melhor decisão dispensar quatro generais dos sete que o Regente tem direito a ter?

— Se fiz isso, Pinka, foi por achar mais coerente. E se mais quatro generais fizessem parte da minha proteção agora, seriam mais quatro suspeitos da invasão de ontem. Além disso, Debas, Eugênio e Xaviera dão conta perfeitamente da função.

— Estamos vendo, Regente - disse Williana. Sua ironia podia ser percebida pelas palavras, mas não pela entonação, que era quase invariável.

— O que você quer de nós, Cosmos? - perguntou Rufus.

— Meu caro, primeiro que fiquem atentos. Não sabemos quando isso pode acontecer de novo e se podemos ser atacados de forma mais ostensiva. Segundo, que saibam que eu vou pessoalmente me empenhar em encontrar quem fez isso. Seja o motivo que ele tiver, eu vou descobrir. E conto com vocês para isso.

Firmina, Ariel e Azélio ouviam atentos. Eram os mais apreensivos da sala.

— Vocês cinco vão iniciar seus treinamentos em breve e também espero que dêem o seu melhor - continuou Cosmos, falando com Ian e os outros quatro.

— Ou isso custará a vida de vocês - completou Fortuna.

— Não se preocupe, queridinha, estamos conscientes - respondeu Norah.

— E vamos juntos - completou Higino.

Debas fez um sinal com o polegar em riste para o garoto, em apoio. Os outros dois generais deram um sorriso. Azélio também, tentando disfarçar para que o pai não visse.

Astrodeus levantou de sua cadeira. Pinka fez o mesmo:

— Estamos conversados, Cosmos? - perguntou a mulher.

— Sim, Pinka. Estão todos dispensados. Agradeço a atenção de vocês.

— Ótimo - disse o homem de barba branca, fazendo um aceno para Cosmos e o outros Dirigentes. Sua projeção astral se tornou brilhosa por segundos e se desfez. Em seguida foi a vez da silhueta de Pinka brilhar e desaparecer, depois de um rápido gesto de despedida.

Rufus levantou, a expressão séria:

— Qualquer novidade, Cosmos, não hesite em nos avisar aqui em Magnólia. Vamos ficar atentos também.

— Obrigado, Rufus.

Acariciando a lateral de sua corça, Williana também levantou, fazendo seu traje azul mexer com leveza.

— Um tempo ruim começará em Terraforte, Regente. Em apoio aos descendentes, convido todos a passarem um período em Cerúlea para aprimorar suas técnicas quando quiserem. Serão bem-vindos aqui.

— Você tem minha imensa gratidão, Williana. Eles irão, se quiserem.

Dito isso, as projeções astrais dos dois Dirigentes que faltavam se desfizeram em brilhos. Sidéria estava incomodada e não fazia questão de esconder:

— Vamos viver cercadas por guardas, agora? Até em nossas casas?

— Não, Sidéria. Apenas tomem cuidado e se virem algo suspeito, nos avisem. Tem certeza de que não quer vir para cá com Êmalin por um tempo?

— Acha que é assim, Regente? Largar toda a minha rotina e me mudar para o castelo? Somos descendentes de Sorenta! Ficaremos bem.

Aurélio não perdeu a oportunidade de fazer coro com a mulher:

— Ainda não acho que isso seja motivo para alarde. Nem sabemos se é mesmo a adaga da história. Vai ver é um pobre coitado que acreditou em você.

— Por que resiste tanto a essa história, Aurélio? Venham para cá, estarão sob proteção.

— Se alguém for realmente morto, me avise.

— Megânia está morta. A cabeça dela estava a metros do corpo. Não é suficientemente mortífero para você?

— Um ser de pedra? Quando uma pessoa real morrer, me avise. Então eu e Azélio viremos.

Cosmos não conseguiu evitar a cara de desgosto ao ouvir aquilo. Respirou fundo, olhando para Azélio. O garoto entendeu a expressão de lamento do Regente.

— É melhor irem andando, Aurélio.

Sem responder, o homem saiu fazendo um aceno de cabeça para que o filho o seguisse. Cosmos também acenou para Isla, pedindo que ela acompanhasse pai e filho até a saída. Sidéria e Êmalin também saíram, acompanhadas por Estéfano, que atendia o pedido do Regente para que as levasse. Incomodadas pela escolta, tudo que se via era nariz empinado versão mãe e filha.

— Debas, Xaviera e Eugênio, podem levar Fortuna, Napoleon, Ariel e Firmina até a saída?

— Não precisa se incomodar, Cosmos. Eu e meu irmão sabemos bem onde ela fica - rebateu a menina. E sem se despedirem, a outra dupla de gêmeos descendentes saiu.

— Se fossem meus filhos já teriam levado uma surra - resmungou Firmina.

— Esses jovens não têm jeito - completou Ariel.

Xaviera e Eugênio se entreolharam, dando uma risadinha.

— Meus avós são iguaizinhos – o homem de nariz fino sussurrou para a general.

— O que você está cochichando aí, Eugênio? Hohohoho - Debas deu um tapa nas costas do outro general que quase levou um tombo, pouca era a delicadeza do grandalhão ruivo. Todos riram.

— É assim que se faz, general! - disse Firmina dando socos no ar, com as mãos tremendo um pouco.

Todos riram e apreciaram aquele momento de descontração enquanto o casal saía com os generais. Ian teve a sensação de que dali em diante risadas como aquelas seriam mais escassas. E ele estava certo. Quando estavam apenas Cosmos e os cinco amigos, Ian perguntou algo que esteve pensando durante toda aquela reunião.

— Cosmos... - ele começou.

— Diga, meu jovem.

— Por que abriu o jogo dessa forma para todos, se acredita que um deles é o culpado?

Cosmos sorriu, com gentileza.

— Se o culpado for mesmo alguém que esteve nesta sala, vai saber que não vamos permitir mais esse tipo de atitude e que o castelo reagirá a qualquer um que quiser fazer o mal. Isso pode fazê-lo pensar duas vezes antes de nos atacar de novo. E mesmo que eu não falasse nada, o encapuzado já ficaria alerta de qualquer forma, não concorda? Afinal, nós o descobrimos. E isso porque você estava lá, nosso bravo descendente da luz para frear seus planos - ele disse ao dar dois tapinhas leves no ombro do menino e abrir um sorriso muito espontâneo.

— É... bravo, claro - disse Ian para si mesmo, pensando em como Cosmos estava completamente enganado a seu respeito.







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