4 Years of Struggle

By littletinkerr

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Ana nunca podia imaginar que sua vida daria um giro de 360° graus depois daquele verão. Quatro anos depois do... More

Prefácio
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26

Capítulo 6

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By littletinkerr

Na quarta, três dias depois do nosso dia no zoológico, ninguém mais, ninguém menos que Jack apareceu lá em casa, assim como ele tinha prometido a Summer. E com uma droga de borboleta azul.

Erin não estava em casa, o que me fez lidar com a situação menos fisicamente.

- Vai embora. - falei assim que abri a porta e dei de cara com ele.

Já ia fechando a porta quando ele colocou a mão, impedindo-me de fechá-la.

- Eu prometi a Summer que viria, e eu vim.

- Sai daqui, Jack, por favor.

- Não.

- Eu tô pedindo por favor.

- Eu só quero ver a Summer.

- Ela não quer te ver.

- Tem certeza? Aposto que ela quer, principalmente quando vir o que eu trouxe.

Aquilo me ferveu o sangue.

- Você, por acaso, acha que vai conseguir consertar todos os problemas com presentes? – rebati num tom de voz raivoso.

- O quê? Não! - seus olhos se arregalaram e ele negou rapidamente. - Não é nada disso.

- Então o que é?

- Eu só quero dar um presente pra ela, assim como eu prometi, nada de mais.

- Me deixa fechar a porta.

- Não até você me deixar entrar e falar com ela.

- Eu não vou deixar.

- Eu espero até você deixar.

- Você vai acabar desistindo.

Aquela pequena frase fez as narinas dele inflarem e seu rosto se tingir de vermelho.

- Eu não vou desistir. - falou pausadamente.

- Prévios acontecimentos me fizeram tirar essa conclusão. - retruquei.

- Prévios acontecimentos aconteceram no passado, quando eu ainda era um moleque.

- Você ainda é um moleque. - rebati.

Ele parou. Respirou fundo.

- Eu só quero dizer oi, Ana. Por favor.

Ele quase me convenceu.

- Não. Eu preciso entrar, a Summer tá sozinha.

Pressionei mais a porta, mas ela nem ao menos saiu do lugar. Droga de músculos!

- Mãe, advinha o que eu achei?!

Escutei a voz de Summer inicialmente bem longe, vinda do quarto, mas à medida que ela ia falando, sua voz ficava mais próxima, e eu sabia que a qualquer segundo ela iria dar de cara com Jack.

Empurrei a porta com toda minha força, mas Jack apenas fez mais força, o que me faz cambalear pra trás e abrir o que faltava. No entanto, ele correu até mim, com os braços estirados, quando me viu quase caindo de bunda no chão, mas me recuperei a tempo de ficar estável de novo e bater com força sua mão na minha cintura.

- Oi, Jack!

Jack me olhou por mais dois segundos, de um jeito impassível, e virou a cabeça um pouco, já com um sorriso enorme, pra olhar a criança.

- Oi, princesa.

Ela veio até nós e também retribuiu o sorriso, o que me fez passar a mão no rosto impaciente.

- Olha o que eu achei.

Mostrou a tiara que completava a fantasia que ela estava usando de Minnie, logo colocando em sua cabeça.

- Como você tá linda, Summer. - ele se abaixou pra ficar no nível dela. - E adivinha o que eu trouxe pra você?

- O quê?

Ele estendeu a caixa que estava segurando.

- Eu prometi que ia trazer uma borboleta azul pra você, não foi?

Summer abriu a boca, surpresa, e olhou pra mim, pedindo permissão pra pegar a caixa. Assim que eu ia abrindo a boca pra fazê-la não aceitar o "presente", Jack colocou a caixa em sua mão.

- Ela é tão linda. Obrigada. - olhou maravilhada pra caixa, observando a borboleta. - Olha, mãe, que linda minha borboleta! - estendeu a caixa pra mim.

De fato, a borboleta era bonita. Tinha dois tons de azul, um mais claro, que predominava, e um mais escuro, que coloria os detalhes. E era azul, do jeito que ela tinha pedido.

- Linda, filha. - sorri rapidamente. - Agora dá tchau pra o Jack.

- Mas ele já vai embora? - questionou confusa enquanto se virava pra olhar Jack.

- Já.

- Ele não pode ficar mais um pouquinho?

- Não.

- Por quê?

- Porque ele tem que ir embora. Agora.

Jack se levantou do chão, e nem precisei olhá-lo pra saber que ele estava nadando em ódio.

- Eu não vou...

- Diz tchau, Sun. - o ignorei completamente.

- Jack, fica mais um pouco.

Comecei a ficar desesperada e achar que minha filha e Jack tinham um verdadeiro complô contra mim.

- Ele não pode ficar, filha, ele tem que ir pra casa descansar. - expliquei rapidamente.

- Você tem que ir pra casa descansar? - Summer perguntou pra ele.

- Não.

Ele respondeu "não" na mesma hora em que eu disse:

- Tem.

Summer nos olhou confusa e Jack foi mais rápido que eu e a pegou no colo.

- Você quer que eu fique mais um pouco?

Ela assentiu e sorriu.

- Então diz pra sua mãe.

Eu estava com tanta raiva nesse momento que tive que me controlar, cerrar os punhos até sentir as unhas ferirem a palma, pra não gritar e derrubar o prédio.

- Mãe, eu quero que o Jack fique mais um pouco pra brincar.

Por que minha filha tinha que ser tão amorosa e adorar fazer amigos?!

Minha respiração estava pesada e tinha certeza que estava vermelha de raiva, o que só piorou ao ver o sorriso desafiador e vitorioso de Jack.

- O Jack não pode ficar, meu amor.

- Por que não? Ele já disse que pode.

Dei um passo pra frente e a peguei pelos braços, mas ao perceber que eu a estava tirando do seu colo, Jack a pegou mais forte.

- Jack, ela tem que tomar banho e dormir. – falei duramente.

- Não, mãe! Eu quero brincar com o Jack. Ele já disse que pode ficar.

- Você vai ter bastante tempo pra brincar amanhã, amor. Você vai pra escola, brincar com seus amigos. - expliquei pacientemente, rezando pra ela compreender e largar aquela ideia de brincar com Jack.

- Eu quero brincar agora.

Respirei fundo e passei a mão pelos seus cabelos.

- Eu prometo que amanhã a gente brinca bastante. - olhei pra Jack. - Explica pra ela que ela tem que tomar banho e dormir, porque já tá tarde.

Minha voz não escondia o quanto eu estava brava com ele, e falei justamente a última frase pra ele se tocar que estava atrapalhando a rotina da Summer e ir embora. Ele me olhou por mais alguns segundos, mas percebi sua teimosia desaparecer aos poucos, e soube que ele tinha entendido meu recado.

- Sua mãe tem razão, Summer. Eu prometo que eu venho brincar com você outro dia.

- Mas você disse que a gente podia brincar agora!

- Mas já tá tarde, você tem que dormir pra brincar bastante amanhã. Você quer brincar amanhã?

Mentiria se não dissesse que fiquei impressionada com o jeito que ele lidou com a situação. Falou amoroso, mas firme, e Summer pareceu entender, assentindo devagar. Complô, não falei?

- Então, você tem que dormir, tá certo?

- Você vem outro dia?

- Venho.

Summer estendeu o dedo mindinho pra ele, o qual ele rapidamente enlaçou com o seu. Passei a mão pelo rosto, além de brava.

- Tchau, princesa. - deu um beijo em sua cabeça.

- Tchau.

Jack a colocou no chão.

- Mãe, posso colocar a borboleta no meu quarto?

- Pode, mas não abre a caixa se não ela vai voar, tá?

Ela assentiu e saiu correndo de volta pra o quarto, nos deixando sozinhos novamente. Resolvi ignorá-lo completamente, porque eu não aguentava mais gastar minhas palavras com ele, apenas marchei até a porta e a abri.

- Sai. - minha voz saiu firme.

- Agora que eu tô aqui, eu acho que seria uma boa hora...

- Sai. - interrompi sua fala.

- Ana, a gente...

- Eu falei pra sair. - falei pausadamente, como se explicasse algo pra uma criança.

Ele finalmente pareceu entender que eu não estava pra conversa, mas me encarou por mais alguns segundos, se dando por vencido e saindo. Bati a porta com força e agarrei os cabelos, fechando os olhos com força.

Eu estava com tanta raiva que chegava a pesar o coração. Jack, com a súbita mania de querer ser pai, estava me tirando do sério. Literalmente. Não sabia o quanto ia aguentar até pegar uma briga séria com ele, e falar tudo o que eu tinha guardado esse tempo inteiro, coisa que eu não queria, porque eu sabia que ele não valia à pena.

Jack Parker tinha se excluído da nossa vida, e ele estava muitíssimo enganado se achava que eu iria deixá-lo voltar, com o rabo entre as pernas, com um presente aqui, outro acolá, um sorriso bonito, e me fazer de idiota de novo.

Aquilo não era vingança, não mesmo. Era simplesmente medo que ele fizesse Summer sofrer. Me fizesse sofrer de novo. Nenhuma de nós merecia passar pelo abandono e negligência novamente, principalmente minha filha, que era a coisa mais preciosa do meu mundo, e eu não deixaria nada de mal atingi-la.

Voltei pra o quarto, onde Summer ainda olhava maravilhada pra borboleta. Ela estava à coisa mais linda vestida de Minnie e brincando com a borboleta.

Parei na porta, a admirando, achando lindo cada risada, cada gesto e palavra que ela falava. Eu não conseguia me cansar de olhá-la. Summer era meu mundo, preciosa demais pra cair na minha confusão com Jack.

- Você vai dormir mesmo com sua borboleta?

Perguntei assim que a vi ainda agarrada com caixa, deitada na cama. Ela já estava pronta pra dormir, vestida no pijama de alien que Dean havia dado.

- Vou.

Não fiz qualquer objeção, só comecei a cantar uma canção de ninar. No entanto, fui surpreendida ao vê-la se levantar de repente e ir até a cômoda.

- O que você tá fazendo, Sun?

- Procurando a pedra que o Jack me deu.

Sentei na cama, embasbacada com sua resposta.

- Por que você tá procurando isso? - tentei fazer com que minha voz saísse o mais impassível possível.

- Porque eu quero dormir junto dela também.

Remexeu mais algumas vezes na gaveta e eu já estava pronta pra ir até lá, pra colocá-la na cama de novo, quando fechou a gaveta e voltou pra o meu lado na cama.

- Pronto.

Agora ela estava com a pedra em uma mão e a borboleta em outra.

- Você gosta dos presentes do Jack?

- Gosto. E eu gosto dele também.

- Por que você gosta dele?

Tirei o cabelo do seu rosto.

- Ele é legal, gosta de conversar comigo... E ele disse que eu era amiga dele.

Voltei a deitar ao seu lado, fechando os olhos e me aconchegando mais ainda nela. Não a respondi, mas fui pega de surpresa novamente ao escutá-la falar alguns segundos depois:

- Meu pai é legal como o Jack?

Ao escutar isso, foi como se tudo desse um clique na minha mente, e eu entendi o porquê de Summer parecer tão apegada a Jack, mesmo com tão pouco tempo de convívio: era saudade e carência.

Summer sentia falta de uma figura paterna, mesmo que não lhe faltasse amor. Era estranho pra ela ser lembrada na escola o tempo todo que família tinha que ter pai e mãe e na dela não ter a presença masculina, e quando chegou um cara, do nada, todo atencioso e amoroso, ela logo se apegou, tentando preencher o vazio da figura de pai com qualquer um que mostrasse afeto pra ela.

Eu me senti tão mal, tão inútil naquele momento, e completamente perdida entre querer o bem de nós duas, mantendo Jack afastado, e querer que Summer tivesse o pai perto dela, que quase comecei a chorar e contei toda verdade.

- Hein, mãe?

Percebi que tinha demorado a respondê-la e abri os olhos.

- É. Ele é.

- Como ele é?

Dei um beijo demorado em sua cabeça, sem saber como respondê-la.

- Ele sabe tocar guitarra.

- Guitarra? - questionou surpresa. - Igual àquela que a tia Erin me mostrou?

- Aham, igualzinha aquela.

- Você pede pra ele tocar pra mim quando ele voltar?

- Peço.

Pude ver seu sorriso mesmo na escuridão.

- O que mais?

Pensei por alguns instantes, e mesmo estando confusa e não querendo dar tantas explicações, me vi alegre por vê-la tão interessada e animada.

- Ele gosta de sorvete de chocolate.

Foi impossível não me sentir nostálgica ao lembrar daquilo, e não pude evitar meu sorriso triste.

- Igual a mim!

- É, igual a você.

- Fala mais.

- Deixa eu ver... - dei uma pausa, ainda cautelosa. - Ele tem o cabelo escuro.

- Não é igual ao meu? - pegou uma mecha do cabelo.

- Não. Mas ele tem o sorriso igual ao seu.

- É? - ela riu.

- É. Vocês dois tem o mesmo furinho na bochecha.

Ela deu uma risada tão gostosa que me fez rir junto.

- Ele falou quando ia voltar?

- Não. - falei num suspiro, minha risada morrendo na mesma hora.

- E por que você não liga pra ele pra perguntar?

- Ele vai voltar logo. - sussurrei.

- Logo quando?

- Logo.

Summer pareceu entender que eu não a responderia mais que isso, então pediu:

- Enquanto ele não volta, canta pra mim.

Sorri, aliviada que ela mesmo tinha encerrado o assunto, e comecei a cantar. Ela me acompanhou em alguns versos da música, mas logo começou a bocejar e não demorou muito pra cair no sono.

Saí com o maior cuidado possível da cama para não acordá-la, e joguei meu medo pra o alto, pelo menos naquela noite, deixando ela dormir com a pedra e a borboleta ao seu lado, porque, afinal, era um direito dela.


No dia seguinte, eu estava fazendo um esforço quase subumano pra me manter acordada no restaurante. Eu tinha ido dormir muito tarde, já que depois que Summer dormiu, tive que adiantar as atividades da faculdade.

Lá pelas uma e meia da madrugada, Erin chegou de outro encontro fracassado, e alugou meus ouvidos pra reclamar de "como os homens são babacas e insensíveis". Também decidi contar o que tinha acontecido naquela noite, mas assim como eu, Erin nem gastou palavras, a careta dela já me bastou.

- Ana, o sr. Allen está aqui.

Um dos garçons me avisou, o que me fez assenti e ir até a mesa.

O sr. Allen, ou como ele gostava que eu o chamasse, Anthony, era um senhor que frequentava bastante o restaurante. Logo nos meus primeiros dias de trabalho, eu o atendi e trocamos algumas palavras simpáticas. Não demorou muito para que criássemos uma amizade, já que eu sempre atendia sua mesa, e ele sempre puxava conversa. Ele também fazia questão de me dar boas gorjetas, mesmo sob meus protestos. Anthony era um senhor muito legal, eu realmente gostava dele, diferentemente de outros clientes assíduos de lá, que nos tratavam muito mal.

- Boa tarde, sr. Anthony, tudo bom? - sorri enquanto posicionei o cardápio a sua frente.

- Oi, menina Ana. Tudo bem e com você?

- Muito bem também, graças a Deus.

- E a pequena, a Summer, como vai?

Nós já tínhamos conversado o suficiente pra ele saber bastante sobre minha vida, inclusive que eu tinha uma filha. E em uma das vezes que ele foi pra lá, Summer foi me fazer uma visita. Ocasionalmente, eles se encontraram, e Summer logo o encantou quando perguntou se podia pegar no bigode dele - e ele deixou, só pra vocês saberem.

- Tá ótima também.

- E que cara de sono é essa?

- Rotina, sr. Anthony, rotina. Uma filha e muito trabalho.

Com isso, ele riu, me fazendo acompanhá-lo.

- Ah, como eu entendo! Eu também só tenho uma, mas é o suficiente pra me tirar do sério! Você vai ver o que é trabalho quando ela crescer, aí sim você vai entender.

- Eu já tô imaginando. O tempo passa tão rápido, não é? Quando a gente menos espera, eles já estão enormes.

- Verdade. Lembro da minha na idade da Summer como se fosse ontem, hoje já está uma mulher. Não vou negar que sinto falta da fase de criança dela.

- Não consigo imaginar a Summer adulta. Tô rezando pra demorar bastante.

Ele riu novamente.

- Meu conselho é que você aproveite muito o tempo em que eles são criança, porque depois que crescem... - jogou as mãos pra o alto. - Combinei de almoçar com a minha hoje. Sabe o que ela fez? Me trocou pelo namorado!

Dei outra risada rápida.

- Tenho certeza de que foi um assunto importante, ela não trocou o senhor por mal.

- Acredite em mim, Ana, não foi. - disse em meio a risos. - Aquela ali quando fica apaixonada fica fora do sério.

Sorri triste.

- A paixão faz a gente fazer coisas loucas mesmo. - suspirei. - E sua filha, terminou a faculdade de arquitetura?

- Terminou, inclusive já está até trabalhando lá no escritório. - falou todo orgulhoso.

- É mesmo? Que bom, sr. Anthony.

- Pelo menos ela não me abandonou tanto assim. - brincou. - Mas acredita que ela trouxe o namorado pra trabalhar lá no escritório?

- E o senhor, como aceitou isso? - brinquei.

- Tive que aceitar, não é, Ana? A gente quando tem filhos fica tão idiota...

Eu ri.

- Eu sei bem como é isso. E o que o senhor vai querer hoje?

Esperei pacientemente ele terminar de analisar o cardápio e fazer o pedido, me retirando logo em seguida pra encaminhar seu pedido na cozinha. Depois, entreguei seus pratos e fui atender outra mesa. Quando o sr. Anthony terminou a refeição, me chamou pra pedir a conta.

- Como sempre, comida e atendimento impecáveis. - elogiou.

- Obrigada. - sorri.

Ele tirou a carteira do bolso e colocou três notas de cem dentro da carteira que continha a conta, me entregando sorrindo em seguida.

- O troco é seu.

Eu era acostumada com as gorjetas generosas dele, mas eu sempre me surpreendia.

- Sr. Anthony... - comecei a protestar, visto a quantia do "troco".

- Ah, ah. - me interrompeu. - Quantas vezes eu vou ter que te dizer que eu não ligo?

Senti minhas bochechas ganharem uma cor rosada.

- Muito obrigada.

- Não há de quê. - se levantou e deu dois tapinhas, de leve, na minha bochecha. - Até a próxima, Ana, e espero que a próxima você conheça minha filha.

- Tenho certeza de que ela é uma mulher encantadora.

Ele sorriu orgulhoso.

- Mande um beijo pra menina Summer por mim, tudo bem?

- Pode deixar.

Ele sorriu mais uma vez e saiu do restaurante, me deixando extremamente feliz por finalmente poder comprar um vestido novo pra Summer e o carrinho que ela tanto queria.

- - -

- Olha, mãe, como ele roda!

Summer me chamou pela quarta vez, dando uma rodopiada no meio da rua, enquanto voltávamos pra casa, me mostrando como o vestido novo dela parecia um vestido de princesa.

Eu tinha saído do trabalho e ido pegar Summer no colégio, mas ao invés de voltarmos diretamente pra casa, a levei pra uma loja pra comprar seus presentes. Ela quase explodiu de tanta felicidade, e escolheu o vestido em que ela pudesse "rodar", já saindo da loja com ele vestido. O brinquedo que ela tanto queria, um carrinho de controle remoto, decidi comprar em segredo e entregá-la depois.

- Tô vendo, e você tá parecendo uma princesa!

Ela voltou a segurar minha mão e continuamos a andar de volta pra casa.

- Igual àquela princesa bailarina do filme?

Summer estava obcecada por um filme de princesas bailarinas que eu a tinha levado pra assistir no cinema.

- Igualzinha.

Ela sorriu, mas já olhou logo pra mim com uma carinha de quem ia me pedir mais alguma coisa que eu conhecia bem.

- Mãe, posso pedir uma coisa?

- Pode. - sorri divertida.

- Você me coloca naquela escola de balé?

Eu vinha notando há algum tempo Summer olhando desejosa pra uma escola de balé que tinha em frente à escola dela. Ela até tinha me pedido algumas vezes uma roupa de bailarina, mas nunca imaginei que ela se interessaria em dançar, só pensei que fosse por causa do filme. Sua pergunta, com certeza, me pegou de surpresa.

- Você quer dançar balé?

Ela assentiu.

- E usar uma roupa rosa igual aquela.

- Então você quer só entrar no balé por causa da roupa? - falei entre risos.

- Não... Também! Mas, eu também quero muito, muito, aprender a dançar que nem a princesa do filme.

Sorri, mas logo meu sorriso se desfez ao lembrar que eu não tinha dinheiro pra mais aquela despesa, o que fez com que eu me sentisse muito mal, principalmente porque minha filha não me pedia quase nada.

- Eu vou ver o que eu posso fazer, tudo bem? - tentei mascarar a tristeza da minha voz.

Summer não pareceu notar, já que continuou sorrindo e falando sobre como seria uma bailarina igual a do filme quando crescesse.

Chegamos ao prédio e demos de cara com Greg esperando o elevador. Ele, assim que nos viu, abriu um sorriso.

- É muita sorte acabar de chegar da faculdade e dar de cara com duas gatas. - piscou pra mim, me fazendo ficar mais vermelha que um tomate.

Foi a primeira vez que vi Greg depois que escutei o disco junto com ele. Confesso que tentei evitar encontrá-lo no corredor pelo simples fato de estar com vergonha dele e dos nossos quase beijos.

Pois é, os anos passavam, mas a minha vergonha não diminuía. Por que eu não podia ser mais como Erin? Mais segura? Mais confiante? Por que eu tinha que ser a tapada da Ana?

- Oi, Greg! - Summer foi a primeira a responder, e logo soltou minha mão. - Olha o vestido que minha mãe comprou pra mim!

Rodopiou de novo, pra mostrar pra ele como o vestido rodava que nem a de uma bailarina.

- Você tá mais gata ainda com esse vestido. - falou assim que ela parou de rodar.

- Fui eu que escolhi!

- Então você tem muito bom gosto. - levantou a palma, e ele e Summer fizeram um hi-5.

O elevador abriu as portas, interrompendo a conversa dels, e como um cavalheiro, Greg segurou a porta para nós passarmos primeiro.

- Oi. - dirigi a palavra a ele pela primeira vez desde que chegamos, assim que o elevador fechou as portas.

- Oi. - sorriu. - Tudo bem?

Seu olhar foi dos meus olhos até a minha boca por alguns segundos antes de retornarem para os meus olhos novamente, o que me corar novamente.

Pigarreei antes de responder:

- Tudo ótimo, e você?

Ele olhou pra Summer, que brincava com a barra do vestido, alheia a nossa conversa, pra depois voltar seu olhar pra mim novamente.

- Melhor agora.

Não cora, não cora, não cora, não... Droga.

Sorri sem jeito e olhei pra Summer, procurando alguma saída, mas ela não me olhou, o que me fez não ter escolha a não ser olhá-lo de novo.

- Quando você vai lá em casa de novo?

Percebi que ele tinha dado um passo discreto em minha direção, ficando mais perto, e toda aquela proximidade e o espaço fechado do elevador, de repente, estava me deixando quase claustrofóbica.

- Não sei, rotina agitada, sabe como é...

Antes que ele pudesse responder, as portas se abriram, e eu agradeci a Deus mentalmente por sair daquele espaço confinado. Saímos de lá, mas ele continuou na minha frente.

- Você sabe que eu vou cobrar...

Sorri sem graça.

- Ah, eu sei bem. - brinquei.

- Vou aparecer de surpresa... - se inclinou pra frente de repente, ficando perigosamente perto do meu ouvido. - E dessa vez vou te beijar. - sussurrou só pra eu escutar.

Eu tinha certeza que minha cara inteira estava vermelha, se tornando quase roxa, mas como uma idiota que eu sou, sem conseguir flertar de volta, comecei a rir nervosamente.

- E você acha que eu vou deixar?

Tive vontade de socar minha cara pela tentativa horrorosa de flerte, mas mantive a pose. Greg, no entanto, sorriu malicioso.

- Eu tenho certeza. - piscou.

Antes que eu pudesse ter uma hemorragia na bochecha ou que Greg falasse mais alguma coisa inapropriada pra os ouvidos de Summer, a coloquei no braço, pra encerrar a conversa.

Eu estava arrumando uma distração, confesso.

- Essa moça precisa comer agora, não é? - dei um beijo em sua cabeça.

Ela assentiu.

- Vai lá. - Greg sorriu. - Tchau Summer. - acenou.

Summer acenou de volta e eu também, já me virando, abrindo a porta, e entrando no apartamento. Respirei fundo assim que cheguei à segurança de casa, mas estranhei o fato de estar tudo escuro. Erin provavelmente ainda não tinha chegado.

Acendi a luz da sala, colocando Summer no chão, e indo pra cozinha em seguida.

- Mãe. - a criança chamou ainda na sala.

- Oi?

Acendi a luz da cozinha e já fui em direção à geladeira.

- Tem uma coisa aqui no chão!

- O que é? - franzi as sobrancelhas.

- Um envelope.

Tirei alguns ingredientes da geladeira, os colocando na pia, e abrindo a torneira pra lavar as mãos, mas me perguntando mentalmente do que se tratava o tal envelope. Provavelmente contas. Ou algo referente à faculdade.

- Traz pra mim, por favor?

Escutei seus passos, e ao terminar de lavar as mãos, me virei pra encará-la. Ela observava curiosa o envelope branco nas mãos, mas franzia as sobrancelhas em dúvida por ainda não saber ler.

- Você deixa a mamãe ver?

Ela me entregou o envelope, indo se sentar em uma das cadeiras da mesa da cozinha logo depois.

No entanto, assim que peguei aquilo nas mãos, já sabia do que se tratava, e meu aperto sob o papel aumentou.

- O que é? - Summer perguntou curiosa.

- Nada. - sorri. - Só coisa da minha faculdade. - menti. - Vai guardar sua bolsa lá no quarto pra gente jantar, tudo bem?

Ela assentiu e correu pra o quarto, me deixando sozinha na cozinha, e foi minha vez de sentar em uma das cadeiras, ainda segurando forte aquele envelope que eu conhecia bem. Afinal, ele vinha sendo frequente nos últimos quatro anos.

Meu sangue voltou a ferver, e meu único desejo era de rasgar aquilo em pedaços. No entanto, fixei meu olhar no endereço escrito em uma caligrafia desleixada, reconhecendo a localização vagamente, o que bastou pra me fazer levantar da cadeira e ir em direção ao lixeiro.

Contudo, não consegui jogar o envelope e, de repente, aquilo pareceu pesar uma tonelada. Me encostei no balcão, ainda apertando forte o papel, e decidi continuar fazendo o que tinha virado meu ritual pessoal todas as vezes que eu me deparava com aquilo.

No entanto, ao invés de deixar o envelope intacto, a curiosidade levou o melhor de mim e vi meus dedos rasgarem o papel.


- - - - - - - - - - - - - - - - - -


Chegueeeeei! Tudo bem com vocês? Desculpa a demora, mas como falei no capítulo anterior, Outubro tá sendo um mês cheio pra mim porque o enem tá chegando ~ agarra os cabelos ~, mas arrumei um tempo pra alegrar a noite de vocês \o/ E só quero dizer que muita coisa ainda vai acontecer daqui pra frente, só me falta tempo e inspiração pra escrever, mas peço a paciência de vocês pra continuarem acompanhando ;)

Votem e comentem muitcho pra me deixar felizzzzzzzzzzzz ;)))))

Obs: tô escrevendo uma coisa bem diferente de 9MoT e de 4YoS. É mais dramático, o tipo de escrita também é diferente, e a história vai ser mais curta. Vocês estariam interessadas em ler? Se estiverem, eu posto algum trecho pra vocês avaliarem. Me digam nos comentários, ok?

Obs2: muito obrigada pelas felicitações no capítulo anterior, desejo tudo em dobro pra cada uma de vocês.

Obs3: a playlist de 4YoS vai sair logo, logo, só falta eu descobrir como cria uma playlist no 8track ;P

Muitos beijos =******




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