Os Descendentes e a Ferida da...

By brunohaulfermet

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A Ferida da Terra precisa ser contida. O tempo corre. A situação piora. Mas o que ela é, Ian não sabe. Ele nã... More

Periodicidade das postagens
Amazon e Skoob
Dedicatória
Prólogo
Capítulo 1 - Você Não Devia Estar Aqui, Menino
Capítulo 2 - A Casa da Costa
Capítulo 3 - Corpo Gelado
Capítulo 4 - Meninas Más Morrem Primeiro
Capítulo 5 - As Pequenas Luzes
Material de divulgação do livro - Imagens (I)
Capítulo 6 - A Fuga dos Irmãos
Capítulo 7 - Trio Encrencado
Capítulo 8 - A Excursão
Capítulo 9 - A Reunião dos Improváveis
Capítulo 10 - A Planta no Meio do Vale (I)
Material de divulgação do livro (II)
Capítulo 11 - Descendentes
Material de divulgação do livro (III)
Capítulo 12 - Festa Julina às Avessas (Parte I)
Capítulo 12 - Festa Julina às Avessas (Parte II)
Capítulo 13 - O Castelo de Sorin
Capítulo 14 - Outros Descendentes
Capítulo 15 - A Adaga Infinita
Capítulo 16 - A Ferida da Terra
Capítulo 17 - Os Quatro Dirigentes
Capítulo 18 - Corrente Cósmica Universal (I)
Capítulo 18 - Corrente Cósmica Universal (II)
Capítulo 19 - A Zona Escura
Capítulo 20 - A Floresta das Lágrimas
Capítulo 21 - Um Contra Cem
Capítulo 22 - O Maior Medo de Norah
Capítulo 23 - A Espada Celestial
Capítulo 24 - A Suspeita
Capítulo 25 - Pelúcias
Capítulo 26 - Luz e Água
Capítulo 27 - A Calmaria Antes da Tempestade
Marcadores de "A Ferida da Terra" - Brinde por tempo limitado
Capítulo 28 - O Rompimento
Capítulo 29 - O Rabisco
Capítulo 30 - A Véspera
Curiosidades sobre A Ferida da Terra
Capítulo 31 - A Partida
Capítulo 32 - Em Família
Capítulo 33 - Ele
Capítulo 34 - Sombra Contra Luz
Capítulo 35 - O Fim e o Começo
Capítulo 36 - A Volta (FINAL)
A Ferida da Terra e os leitores: o que vem depois.
BÔNUS - A Saga da Descendência {Livro Dois}
Estudos Ilustrados para Capa Definitiva
[VOTE] Imagem final de um dos cinco.
Color Script
Ilustração e Capa Definitiva - Livro Um
Curiosidades [Parte 2]
Primeiro Encontro Oficial do Wattpad
Livro Dois - Nome e Sinopse
Encontrão do Wattpad - Bienal do RJ 2017
Prêmio Deusa Lendari / Finalista

Capítulo 10 - A Planta no Meio do Vale (II)

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By brunohaulfermet

Oi, pessoal! Este é um dos maiores capítulos do livro inteeeiro e por ser muito longo dividi em duas partes: I - Confronto e II - Pós-vale. Espero que curtam!

PARTE II - Pós-vale

Quatro dias depois da excursão, Ian estava na frente de seu portão esperando Mabel chegar. A menina disse que não demoraria, mas já estava cinco minutos atrasada. Ele decidiu esperar um pouco mais ou iria tocar a campainha da casa dela. Não precisou. Ele a avistou saindo de casa, no fundo da vila.

Enquanto ela vinha em sua direção, Ian não pôde deixar de reparar mais uma vez na beleza da menina. O sol estava brilhando forte e o céu quase não apresentava nuvens. Os raios solares enchiam o cabelo de Mabel com brilho à medida que ela se movimentava.

Ela vestia uma camiseta branca com um círculo vermelho no meio e um shorts branco. O sapato combinava com o conjunto e pareciam novos. Chegou sorridente, o que fez com que Ian também abrisse um sorriso.

— É a bandeira do Japão? – ele perguntou ao apontar para a estampa na camiseta.

— É sim. Achei que ninguém perceberia. Não é linda?

— Aham. Pelo jeito você está bem melhor, né?

— Estou. Deu para descansar a cabeça esses dias. Física e mentalmente. E você?

— Estou bem. Minha testa não dói tanto, mas o corte ficou mais fundo.

Mabel se aproximou para examinar o ferimento de Ian. Ele sentiu a respiração dela perto da sua e ficou tenso. Conseguiu disfarçar.

— Ficou muito roxo e está esquisito mesmo – ela constatou.

— Obrigado, me sinto bem melhor – respondeu com sarcasmo.

— Ah, relaxa, daqui a pouco some. Pelo menos você não foi responsável pela morte de alguém.

— Ei, pode parar com isso! Você não teve culpa de nada.

Mabel ficou cabisbaixa e fechou os olhos:

— Você viu como ele estava... foi definhando... e o que aconteceu depois... meu Deus, que horror!

Ela levou as mãos ao rosto, cobrindo as lágrimas que caíram sem dificuldade. Ian fez menção de abraçá-la, se conteve por um segundo e então deu o abraço.

— Está tudo bem. Eu não sei ainda em quê estamos metidos, mas estamos juntos. Você vai me conhecer melhor e conhecer o Higino também. Vai se divertir com a gente. Não posso dizer o mesmo da Norah – eles riram.

— E o outro menino? Rafaelo o nome dele, né?

Ian fez uma pausa.

— É... não sei o que ele fazia lá. Não sei mesmo. Nunca nos demos bem e da última vez que nos vimos nós brigamos.

— Ele não parecia te odiar lá no vale.

Ian não soube o que responder.

— E ele ainda te salvou de uma das lâminas.

— Não exagera!

— É verdade. Mesmo se você não admitir, ele te ajudou.

Enquanto conversavam, os dois atravessaram a entrada da vila e caminharam até a esquina. Ian sentou em um dos pilares baixos de concreto e Mabel ficou de pé, esperando os outros chegarem. Higino e Norah apareceram logo depois e Rafaelo se apresentou por último.

— Bandeira do Japão, fofa? – perguntou Norah fazendo cara de desdém.

— Nooossa, você conhece algo que não gira em torno de si mesma? Estou chocada – rebateu Mabel.

Norah deu uma risada debochada. Mabel a ignorou.

— Vocês duas! – Ian se meteu. – já não estamos em encrenca demais? Coisas que nem sabemos ainda quais são?

Higino e Rafaelo concordaram com a cabeça. As duas meninas não responderam. Ian prosseguiu:

— Onde está seu pai, Higino?

— Eu não sei se ele vem – respondeu o amigo.

— Como assim não sabe se ele vem? – perguntou Rafaelo.

Higino tentou ignorá-lo. Não estava entendendo como ele, Ian e Rafaelo de repente estavam no mesmo lugar, no mesmo grupo e conversando sobre o mesmo assunto. Ele e Ian não eram amigos de Rafaelo. Nunca foram.

— É, Higino, como assim? – Ian reforçou.

Higino hesitou na resposta.

— Ele está um pouco resistente com essa história toda. Ele nos ajudou aquele dia no vale, mas realmente não gostaria que estivéssemos metidos em nada disso.

— Nada disso o quê? – perguntou Mabel.

— Eu também não sei – respondeu, ajeitando os óculos remendados.

— Conta logo para eles – interrompeu Norah.

Todos olharam para ela, assustados e depois para Higino, esperando uma resposta convincente. Norah continuou:

— Meu pai só deixou a gente vir porque segundo ele, precisávamos vir. Por ele continuaríamos em casa de castigo. Eu não sei ao certo o que é, mas tem algo estranho acontecendo...

— Algo estranho? – perguntou Ian.

— Algo estranho desde que nascemos – interrompeu Higino. – pelo menos comigo e com a minha irmã.

Norah mordeu o lábio sutilmente, sem que ninguém percebesse. Mexia nervosamente no bracelete de escamas dourado. O irmão continuou:

— Quando nascemos... eu e minha irmã trouxemos algumas características de nascença... coisas que não são comuns nesse mundo.

Todos ouviam atentos. Higino fez uma pausa e olhou para Rafaelo:

— Podemos confiar mesmo em você? – perguntou o garoto, sério e descrente.

— Eu estava lá no vale, não estava? – respondeu o garoto de um metro e oitenta.

— Isso não quer dizer nada. Nem sabemos como você chegou lá.

— Ele me ajudou, Higino – disse Mabel.

Ela olhou para Ian, esperando um suporte. Ele relutou, mas acabou reforçando:

— Ele também me ajudou, Higino.

Rafaelo ficou surpreso com a declaração de Ian, assim como Higino e Norah. A irmã de Higino precisou disfarçar a careta de desdém.

— Continua logo – disse a garota, impaciente.

— Nós dois nascemos com algum tipo de herança sobrenatural, mística, mágica, sei lá. Desde pequenos a gente tem esses poderes... habilidades... tanto faz.

— Meu pai nunca contou direito para a gente o porquê – Norah interrompeu mais uma vez. – ele nunca gostou disso porque achava que um dia esses dons nos causariam problemas. Minha mãe ainda conversava mais com a gente sobre isso.

— Dons? – perguntou Mabel.

— Era como a minha mãe chamava – respondeu Higino. Ele continuou a contar. – eu tenho uma guelra atrás de cada orelha. São muito pequenas e parecem um furo. O cabelo esconde praticamente tudo. Com isso consigo respirar embaixo d'água. Também posso ouvir normalmente se estiver submerso.

Todos estavam fascinados e intrigados com a novidade.

— Não esqueça de que você também canta – disse Norah, com ar de deboche.

Ian não pôde evitar uma risadinha.

— Você canta, Higino? Está aí uma coisa que eu nunca iria sonhar! Hahaha. Quem diria! – riu o amigo.

— Mas o meu canto não hipnotiza, como o da Norah. Ele faz as pessoas adormecerem.

— Você poderia ter usado ele no vale, não? – perguntou Mabel com uma ponta de amargura na voz.

Norah chegou dando um corte:

— Eu tentei cantar e você viu o que aconteceu. Não teria sido diferente com ele.

Mabel concordou e deixou que Higino terminasse.

— E há alguns dias meu corpo resfriou e comecei a congelar tudo que estava ao meu redor. Isso nunca tinha me acontecido, mas não durou muito.

— Você não me contou isso – disse a irmã.

— Ia contar, mas com todas essas coisas acontecendo não consegui.

Norah mexeu no longo cabelo liso, que estava brilhando com a incidência da luz solar. Enquanto enrolava uma mecha e olhava com desprezo para todos, começou a falar:

— Como vocês já sabem, eu posso hipnotizar pelo canto. Mas não dura mais do que dois minutos. E consigo direcionar para quem eu quiser afetar, por isso no vale vocês não foram atingidos. Isso é tudo.

Ela ficou tensa. Mexia constantemente no bracelete e olhava para Higino. Uma gota de suor escorreu pela testa, mas ninguém notou.

— A Norah também pode manipular a água no estado líquido – disse o irmão.

— Só fiz isso uma vez na piscina lá da nossa casa e foi sem querer – ela concluiu.

— Nossa! Que coisa mais doida – disse Rafaelo. – depois do que aconteceu naquele vale não existe mais nada a duvidar.

— Você não respira embaixo d'água como o seu irmão? – perguntou Ian.

Norah ficou apreensiva. Tamborilava os dedos no bracelete como se ele pudesse escorregar sozinho do pulso.

— Eu disse que isso é tudo – respondeu friamente, lançando um olhar fulminante para o garoto.

— Eu também tenho um dom desde pequena, como vocês dois – anunciou Mabel.

Ian olhou espantado para ela. Nunca iria imaginar que uma menina como aquela teria algum segredo dessa natureza.

— Meu cabelo natural é verde. Meio cor de musgo. Mas não parece musgo e nem fede, tá? – ela se precipitou em avisar. – só tem a cor mesmo. E eu tenho que pintar frequentemente para disfarçar. Meu pai sempre soube disso, mas nunca falou nada que pudesse me fazer questionar qualquer coisa. E a verdade é que até dias atrás, nada de anormal tinha acontecido na minha vida.

— E você nunca questionou? – perguntou Ian.

— Nunca – ela respondeu. – seria o óbvio, né? – continuou, um pouco desapontada com si mesma, pensando em como nunca tinha perguntado nada ao pai.

Mabel continuou relatando os últimos acontecimentos, desde a abordagem de Marcus até Isla, Sete-Vidas, a Casa da Costa e o que aconteceu com a semente que ganhou naquele dia.

— É para lá que nós vamos? – perguntou Higino.

— É, sim. Fica a poucos quarteirões daqui.

Em um lampejo de entendimento, Rafaelo se apressou a falar:

— Eu te vi entrar lá outro dia. No dia que você foi perseguida. Eu estava descansando na sombra de uma árvore do outro lado da rua com meus amigos.

Todos voltaram sua atenção para o garoto. Ele continuou:

— Saí dali logo depois que você sumiu atrás daquela porta velha. Não deu tempo de ver Marcus pela vizinhança.

— Porta? – perguntou Mabel. – que porta?

— Aquela porta velha e abandonada no meio daquele terreno baldio cheio de mato.

— É isso que você vê naquele lugar?

— Como assim? O que mais tem ali além de um terreno velho e largado?

Mabel parou por um instante. Parecia perdida em pensamentos.

— Aquele terreno não é vazio e muito menos abandonado. Como você não enxergou uma casa daquele tamanho? – perguntou incrédula.

Rafaelo estava confuso.

— Que casa? Não sei do que você está falando.

— Enquanto eu fugia do Marcus, passei em frente àquele lugar. Lá tem uma casa toda de pedra, grande, com dois andares. Eu passei pelo jardim e entrei – ela contou.

— Então não deve ser o mesmo lugar. Eu teria visto uma casa dessas. O que eu não entendo é que... era você lá.

— É estranho mesmo – disse Ian. – mas não tão estranho a ponto de não acreditarmos. Depois dos últimos dias a gente está de acordo que tudo é possível, certo?

Todos concordaram, exceto Norah que preferiu ignorar a pergunta.

— Acho que a coisa está feia – disse Mabel. – Marcus disse que queria me matar. Mas por quê? Até vocês seriam alvo para ele. Todos nós estamos correndo risco de morrer.

Ao ouvir isso, Norah sentiu uma onda de pânico. Lembrou do bilhete e em reflexo olhou em volta. A rua estava tranquila como de costume na vizinhança de Vila dos Anjos. Algumas pessoas passeavam com seus cachorros, outras andavam de bicicleta e algumas apenas caminhavam rumo aos seus compromissos.

Ninguém parecia se importar com cinco adolescentes discutindo sobre como suas vidas estavam em risco. Mabel percebeu o nervosismo da menina e perguntou, engolindo o orgulho:

— Norah, está tudo bem? Você ficou agitada de repente...

— Aconteceu alguma coisa? – perguntou Higino.

A menina hesitou. Não sabia se era uma boa ideia contar o que aconteceu na saída da galeria. Poderia ser apenas uma brincadeira de mau gosto, mas em seu coração ela sentia o contrário. Quase foi retaliada no vale, não fosse pelo seu amado bracelete.

Mabel também tinha sido ameaçada, apesar deles saberem por quem. No fim, Norah estava mais inclinada a achar que realmente estava em perigo, embora fosse difícil para ela admitir algo assim. Parecia algo que só acontecia em filmes.

— Eu... tenho mais uma coisa para dizer – sua voz tremia de leve. – na saída da galeria onde eu estava almoçando me acertaram um ursinho de brinquedo pequeno com um bilhete. Faz alguns dias.

Todos olharam para ela como se uma louca estivesse diante deles. Ela continuou:

— Estava escrito à mão.

Ela contou o que estava escrito e de sua desconfiança em ser uma brincadeira. Ian, Mabel e Rafaelo estavam quietos, ouvindo atentos. Higino estava de olhos arregalados e boquiaberto.

— Sinceramente, depois do que passei, não me parece brincadeira – disse Mabel.

— Por que você não me falou? Ou para o papai? – perguntou o irmão, desnorteado com a história.

— Para quê? Você é um perdedor! E meu pai só quer saber do casamento dele com aquela vaca.

— Eu sou seu irmão! E me preocupo com você! Mesmo você sendo essa metida insuportável!

Norah se calou. Um silêncio constrangedor pairou no local. Ela sentiu o rosto quente, corando de vergonha.

— Eu ainda não terminei – ela disse.

Contando desde o momento em que chegaram na galeria e esbarraram em Marieta, Benício e Gabriel, Norah contou tudo. Estava absolutamente confortável ao relatar que tinha beijado o garoto na frente de Marieta e mostrava até uma ponta de orgulho por isso.

— Não acredito que você fez uma coisa dessas! – disse o irmão. – e ainda usou a sua hipnose!

— Você é doida. Mas não sabia que seria tanto! – disse Ian.

— Hahaha, isso não me surpreende – disse Rafaelo, lançando um olhar sarcástico para a garota, que sorriu de volta com uma ponta de maldade.

— Eu não sei se esse bilhete tem a ver com essa história maluca em que a gente está metida, mas tenho certeza de uma coisa – disse Mabel. – que biscate você é, hein, garota!

— Como é que é? – perguntou Norah jogando o cabelo para trás com força, usando as costas da mão.

A irmã de Higino se aproximou lentamente de Mabel, que mesmo com apenas um metro e sessenta e sete não se intimidou e fez o mesmo. Não que Norah fosse muito mais alta. A irmã gêmea de Higino tinha um metro e setenta. Os três meninos se colocaram no meio. A fúria irradiava dos olhos azuis de Norah e era perfeitamente correspondida pelos olhos verdes de Mabel.

— Vou arrancar esses cabelos verdes de uma vez só – disse a loira, se alterando.

— Só se for com muita hipnose, branquela – respondeu Mabel, aumentando o tom de voz.

— Ei, vocês duas, parem! – Ian tentava apartar a confusão, enquanto Higino segurava a irmã e Rafaelo, Mabel.

Foram necessários alguns minutos até que as duas se acalmassem.

— Vamos continuar nossa conversa. Vocês duas não vão se atracar enquanto isso, certo? – perguntou Ian olhando para as duas esperando ouvir apenas um sim, que foi correspondido.

O garoto continuou:

— Algo estranho também aconteceu comigo esses dias. E tem a ver com a Julliette – ele disse ao olhar para Higino e Norah.

Mabel e Rafaelo não entenderam.

— Sabia que aquela família era estranha – disse o magricela.

Ian continuou contando, sem deixar escapar nenhum detalhe. Os outros ouviram intrigados, especialmente a parte da caverna.

— Quer dizer que a nossa vizinha é mãe da futura madrasta de vocês? – perguntou Mabel, olhando para Higino.

Norah a ignorou.

— É sim – respondeu o garoto.

— Que mundo pequeno – ela disse.

— Pequeno demais – ele respondeu.

— É mais um motivo para não gostarmos da Emília – disse Norah fazendo bico.

— Não podemos deixar que meu pai se case com ela. Diante de tudo que está acontecendo, acho que ele vai entender e cancelar tudo – disse Higino.

— Será mesmo? – perguntou Mabel.

— Vai ser uma decepção para ele – disse Ian.

— Ele supera – retrucou Norah.

— Ian... – disse Rafaelo – você não lembra de mais nada antes de desmaiar na caverna?

— Nada. No dia seguinte eu acordei em casa, sem dor e salvo.

— Essa parte eu acho que posso explicar – disse o menino.

Ian o olhou com surpresa. Os outros também.

— Naquela noite, de madrugada, acordei com uma luz que se mexia pelo ar. Parecia um vagalume. Foram surgindo outras luzes e acabei sendo guiado por elas até a caverna onde você estava. Lá eu descobri que elas saíam do meu corpo. Não sei porquê elas apareceram ou porquê cheguei até você. Mas quando as luzes tocaram seu corpo você desapareceu e em seguida eu também. O ferimento que eu tinha no rosto, da nossa briga... – ele parou por um instante, parecendo contrariado. – também sumiu quando acordei no dia seguinte.

— Você não viu Julliette ou a pessoa que apareceu depois? – Ian perguntou, a esperança percorrendo cada palavra.

— Não, você estava sozinho quando cheguei. Desmaiado.

Ian relutou por um breve instante e em seguida estendeu a mão para Rafaelo, sorrindo com dificuldade.

— Obrigado – disse com a voz vacilante.

— Não precisa agradecer – respondeu o garoto, sem jeito. – na verdade eu fui atrás de vocês no Parque Botânico porque achei que você pudesse me dizer o que tinha acontecido.

— Estou tão perdido quanto qualquer um aqui – respondeu Ian.

Higino olhava fixamente para Rafaelo. Não estava acreditando naquela cena bem diante de seus olhos. Ian e Rafaelo apertando as mãos. Ian agradecendo a Rafaelo. Agradecendo.

— Não entendo – começou a dizer. – de repente você está aqui, conversando com a gente como se nada tivesse acontecido? Como se os últimos anos tivessem sido apagados? E ainda vem bancar o herói?

Rafaelo já se preparava para responder, mas o irmão de Norah não deixou, continuando seu comentário ácido:

— Me desculpe, mas eu não acho que você tenha alguma coisa a ver com a gente e nem com essa história, seja lá qual for. Nem sei se acredito nessa tua história de luzes e vagalumes aí.

— Por que eu mentiria? E por que raios eu mentiria contando uma história tão doida como essa? – a voz estava se alterando, até que gritou de repente, irritado. – e eu não quero ser herói de nada!

Mabel se meteu:

— Além disso, Ian confirma que acordou na casa dele, são e salvo no dia seguinte.

Ian assentiu com a cabeça. Norah deu uma risada de deboche. Estava adorando ver o circo pegar fogo. Era seu passatempo preferido. Higino ficou sem resposta.

— Sei que não somos amigos, Higino...

— Não mesmo – o garoto cortou.

— ... e principalmente por isso não estaria aqui se não tivesse um motivo... esse motivo – concluiu Rafaelo.

— E que tal se a gente fosse andando para a Casa da Costa? – perguntou Mabel, tentando esfriar a situação ao abrir um sorriso sem mostrar os dentes.

Todos concordaram, exceto Norah que fazia questão de olhar para o lado oposto de onde Mabel estava. Os cinco andaram a passos lentos tendo a morena sardenta como guia. Ela foi na frente enquanto Higino e a irmã estavam de um lado e Ian e Rafaelo do outro.

Norah mexia no cabelo olhando para as pessoas na rua. Embora estivesse curiosa pelos últimos acontecimentos também sentia aversão por todos que estavam ali. Mesmo Rafaelo, que até o episódio do vale era o único que estava dentro do seu conceito de não-fracassado, não escapou.

Ian notou que Higino o lançava alguns olhares frios e reprovadores. O irmão de Norah mal olhava para Rafaelo. Mabel percebeu o clima tenso e o silêncio incômodo que estava se instalando. Tentou puxar algum assunto, sem muito resultado.

Vistos de fora, pareciam cinco amigos passeando juntos, mas na realidade o desconforto reinava absoluto entre eles. Por um momento nenhum deles quis estar ali, na presença do outro.

Não muito tempo depois, caminhando alguns quarteirões, eles dobraram uma esquina e lá estava, bem diante de seus olhos, a grande construção de pedra e o jardim bem cuidado. Deram alguns passos até pararem na frente da Casa da Costa. Rafaelo estava incrédulo.

— Foi aqui mesmo que eu vi você entrar, Mabel! Mas isso não estava aí no outro dia! – disse ao apontar para a construção e olhar para todos, como se quisesse confirmar que os outros quatro estavam vendo o mesmo que ele.

— O que foi mesmo que você viu? – perguntou Norah.

— Um matagal, uma porta velha, tudo abandonado.

— Tem certeza? – ela insistiu.

— Mas é claro, Norah. É fácil de notar uma diferença dessas, né? – ele rebateu.

— Mais um mistério para a gente colocar na cesta – disse Ian com azedume.

— Ela é linda – disse Higino, admirando espantado as paredes de pedra.

— Achei um pouco ultrapassada – resmungou Norah.

— É incrível um lugar como esse aqui, no meio desse bairro. Destoa tanto das outras casas... – Ian continuou.

— Parece que ninguém nota, a não ser a gente. Olhem – disse Rafaelo, apontando para algumas pessoas que passavam do outro lado.

Todas caminhavam sem mover um músculo na direção dos adolescentes. Não reparavam a enorme construção de pedra no meio da rua.

— Será que eles não estão vendo mesmo? – perguntou Mabel.

— Talvez só vejam um terreno baldio como o Rafaelo viu antes – Ian respondeu.

— Faz sentido – disse Mabel.

— Prontos para entrar? – perguntou Higino.

Todos se animaram. Queriam ver como era a casa por dentro. Mesmo Mabel, que já conhecia o interior, estava um pouco eufórica por retornar. Tinha perguntas a fazer e queria ver a reação de todos ao perceberem o cenário de praia que existia lá dentro. Eles passaram pela placa de boas vindas, mas não chegaram até a porta. Uma voz os chamou da calçada e todos viraram para ver.

— Ora, ora! Se não são os descendentes batendo na minha porta! – era Isla, com seu tranquilo e amoroso sorriso.







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