A noite está fascinante, e embora minha vontade seja de ficar em casa me empanturrando de pizza e sorvete, Kate tem toda razão. Eu não posso ficar sofrendo em casa sozinha, depois de ter sido tão humilhada por alguém que amei tanto. Ainda é muito recente, e porisso decidi que vou me divertir, conhecer pessoas novas e quem sabe assim eu consigo esquecer de vez o ocorrido.
O vestido que Kate me deu é bem ousado. Preto coladinho cheio de brilho, uns dois palmos á cima do joelho, e com um decote um tanto exagerado nas costas. Para completar o look, um salto alto da stiletto sexy girls e os cabelos soltos por insistência dela, claro.
- Kate, você ainda não me falou aonde vamos. - digo me jogando na cama.
-É surpresa querida, levanta dessa cama agora, nós ja vamos ir - ordena me puxando forte pelos braços.
-Ta , ta... ja levantei. Como estou?
-Voce esta um a-rra-zo! - afirma ela me olhando da cabeça aos pés.
-Voce também esta maravilhosa Kate. - digo. - To achando que tem algum cara na parada.
Ela solta uma gargalhada e fica vermelha
-É, pode ser que sim.
-Hummm e quem é o cara?
-Conheci ele ontem. Vou te apresentar - diz ela subindo a alça de sua bolsa ao ombro - Vamos, o taxi já chegou.
*******
Fiquei um pouco incomodada quando o taxi parou em frente a tal boate nova. Assim que chegamos me lembrei de que foi aqui a festa de despedida do Dereck. Deslizamos para dentro e mil olhares se vira em direção a nós. Minha vontade é de sair correndo sem que Kate perceba, mas já é tarde. Ela se vira para mim notando o espanto em minha cara.
-Relaxa Anna, ele não vai estar aqui.
Suspiro fundo.
-Espero mesmo.
-Se anima amiga, viemos para nos divertir. - ela cola as mãos em mim e parti para o bar.
A boate esta mais lotada do que nunca, quase nem dá pra transitar sem esbarrar em alguém. O som ta bombando, e parece que as pessoas estão mesmo se divertindo. Puxa vida. Fico entusiasmada em me jogar no meio deles e dançar até não querer mais. Nem me lembro quando foi a última vez que fiz isso. Viro para o bar e me deparo com uma a figura atrás do balcão me olhando confuso. Desvio o olhar e procuro por Kate que ja sumiu. É bem a cara dela fazer isso. Olho de soslaio e o barman continua me encarando.
-A srta quer beber alguma coisa? - pergunta ele se inclinando para frente e apoiando os braços no balcão.
-Ah.. s-sim. Acho que sim.
-Tô vendo que precisa de algo um pouco forte. - ele solta um riso malicioso e se vira para pegar a bebida.
-Ta, pode ser. - me sento no banco de frente á ele. E enquanto está de costas começo a observá-lo. Seu corpo másculo e bunda grande, ta mais para um modelo do que para barman. Ele se vira com uma dose de tequila, junto com limão e sal.
-Toda sua. - ele ri deslizando a dose para mim.
-Ótimo, obrigada.
Depois de sentir o alcool em minhas veias olho novamente para ele e noto que aquele riso malicioso ainda esta exposto em seu rosto.
-Segunda dose? - pergunta ele ja advinhando o que eu ia falar.
-Por favor.
Ele se vira agora com mais duas doses e estica para mim.
-Primeira vez aqui na boate?
-Sim.
-Parece confusa. Meio perdida, talvez.
-É, estou. - digo virando mais uma dose da tequila.
-E porque?
-Só vim por minha amiga, que me deixou aqui sozinha. Por acaso voce viu pra onde ela foi?
-Eu acho que ela foi por ali. - ele aponta para um corredor onde tem uma escada que dá até a área vip da boate. - Se quizer pode entrar lá também.
-Não, tudo bem. Daqui a pouco já vou para casa.
-Ah, não vá. Você acabou de chegar. - ele vira para preparar outra dose.
-Olha, acho que já chega de tequilas por hoje.
-Relaxa, fica por conta da casa, é.. desculpa. Qual é o seu nome?
-Anna.
-Ashley. Prazer. - estica sua mão para me comprimentar.
-Ashley? - sem me dar conta solto uma gargalhada alta. - Desculpa, é que.. - continuo rindo sem parar.
-Não, tudo bem. - ele ri mais alto que eu. - Já estou acostumado com essa reação.
-Desculpa, desculpa... não sei o que deu em mim. - ainda rindo com a mão na boca para disfarçar.
-Tudo bem.
-Não, sério me desculpa mesmo. - me sinto culpada. - Já bebi demais.
-Como? Ainda nem começou. - ele estica outra dose para mim. - Vamos, eu te acompanho.
Olho para ele que acaba de virar uma dose e por um momento esqueci completamente onde estou. Reparo em cada detalhe daquele sorriso malicioso que ele insiste em deixar esculpido em seu rosto. Mas é bem excitante, o jeito que ele me olha. Chego a ficar até vermelha de vergonha. Desvio o olhar e entorno a tequila para dentro, dessa vez sem misturar limão ou sal.
-Ual! Já está ficando mais animada. - diz ele pegando o copo do balcão. - Melhor ir com calma agora.
-Estou bem, ainda nem começei.
Estico a mão e pego o copo devolta. Aproveito e eu mesma me sirvo já que a garrafa está ao meu alcance. Ele me olha um pouco cismado. Sem pensar duas vezes viro e num gole só sinto o alcool queimando minha garganta e então faço uma careta.
-Acho melhor eu colocar essa garrafa bem longe de você por enquanto. - ele ri, pegando a garrafa da minha mão gentilmente.
-Tá, só por enquanto pode ser.
Olho para o lado e vejo uma sombra conhecida. Parece com o Tom. Num impulso levanto rapidamente do banco, digo para Ashley que já venho sem ao menos o olhar e avanço para o meio da pista atrás do homem. Não me virei para ver se ele me entendeu, mas eu preciso ver se é o Tom mesmo.
É quase impossível caminhar no meio de tanta gente se movimentando. Passo expremida no meio delas seguindo o homem que já sumiu da minha vista. Só consigo ver pessoas rindo como loucas, bebendo, se beijando e dançando. Um cara sussurra algo no meu ouvido, mas eu não entendo o que ele diz, só sinto o cheiro do bafo de alcool saindo da boca dele. Tento encontrar Tom ficando na ponta dos pés, o que é muito difícil de fazer usando esses saltos altos. As luzes de neon circulam por todo o salão e então bem lá na frente consigo avistar a sombra dele de costas. Apressando meus passos continuo avançando no meio das pessoas, e chego até ele. Coloco uma mão em sem ombro para que ele me veja e o cutuco.
-Tom?
O homem se vira e fico pasmada ao ver que não é o Tom. Que raiva! Não sei se me sinto aliviada ou desapontada.
-Desculpa, pensei que fosse um amigo, mas me enganei.
Ele parece confuso, mas não perde a oportunidade e logo noto malicia em sua expressão.
-Boa noite boneca. - ele da um passo para perto de mim e coloca sua mão em minha cintura.
-Tira as mãos de mim. - digo me afastando.
Será que todos os homens são assim hoje em dia? Faz tempo que não entro em uma boate, e já tinha me esquecido desses tipo de cara pervetido que não pode ver um rabo de saia. E infelizmente é o que mais se encontra nesses lugares.
Assim que me viro esbarro com outro homem parado no meu caminho. Olho para cima e quase nem acredito, mas é Tom. Parado me olhando surpreso.
-Eu estava te procurando. - digo ás pressas.
-Anna? O que está fazendo aqui?
-Me divertindo. Porque? Algum problema? - as palavras saltam da minha boca sem que eu perceba.
-N-Não, nenhum. É que..
-É que você estava acostumado a me ver apenas em casa cozinhando para o seu amigo. Eu entendo.. - interrompo.
-Não é isso.
-Ah, tudo bem. Anda vamos até uma mesa. Eu quero falar com você.
Sem a chance de responder, eu o puxo pelo braço e caminho devolta para o meio da pista.
Assim que encontrei uma mesa vazia apressei os passos antes que outra pessoa chegue primeiro. Com as pernas bambas e sem conseguir me equilibrar nos saltos me arrasto até conseguir me sentar. Que alivio.
-Esses saltos estão me matando. - reclamo olhando para os meus pés inchados.
Tom se senta na minha frente e apenas observa. Ainda surpreso com a minha presença.
-Você está bem? - pergunto.
-Estou. E vejo que você está melhor do que nunca.
-Sim, estou ótima.
-Olha, Anna.. Eu queria me desculpar por não ter te contado antes.
-Esquece isso, não me importo mais.
-É sério, eu nunca quiz te esconder nada.
-Nossa Tom, tinha me esquecido de como você é incessante e chato. - minha voz soa agressiva e ele me olha alarmado.
-Voce bebeu?
-Não importa, eu quero falar com você sobre outra coisa.
-Sobre o que?
-Você vai me contar tudo o que sabe sobre a amante do Dereck.
-E-eu não sei de nada.
Dá pra ver nos olhos dele que está mentindo. Tom é o tipo de cara transparente e acomodado. Não importa o assunto que seja, quando ele está mentindo até cego consegue perceber.
-Não adianta mentir, eu sei que você sabe muita coisa sobre ela.
Ele suspira, e percebendo que não tem escapatória decide falar.
-Tá, eu sei algumas coisas. Mas só o que Dereck contava. Eu nunca tive contato com ela.
-Continua. - digo impaciente.
-Mas o que você quer saber Anna? Eles tinham um caso e é isso que eu sei.
-Já falei, quero saber tudo o que você sabe. - apoio os cotovelos na mesa. - Onde ela mora? Desde quando estão juntos? Tudo. Anda.. desembucha.
Minha vontade é de voar no pescoço dele por ter sido tão estúpido e falso por tanto tempo. Me escondendo uma coisa dessas. Por mais que Dereck seje amigo dele, ele devia ter me contado. Isso é imperdoável.
Ele abaixa a cabeça, constrangido.
-Bom... Eles se conheceram um ano depois de você e ele começarem a namorar. No começo Dereck não queria ser infiél com você, mas sabe. Pro homem é difícil manter a palavra quando tem outra mulher o seduzindo.
-Ah claro, essa é a desculpa mais plausível que vocês dão quando são infiéis? - digo soltando um riso sarcástico.
-Calma, não precisa ser grossa.
-Foi mal, ta. Continua.
Aceno para um garçon que estava passando com uma bandeja e ele me serve com mais duas doses de tequila.
Estendo uma para Tom.
-Ah, estou bem. Obrigado. - ele levanta sua mão e mostra que está tomando uma garrafa de cerveja.
-Ok.
Sem pensar duas vezes apanho as doses e volto a beber, uma de cada vez. Tom me olha com um certo embaraço.
-Acho melhor ir devagar, Anna.
Ignoro completamente.
-Ela sabia que ele estava comigo?
-Não, ela pensava que ele estava viajando a trabalho quando não estava com ela.
-Como assim? Então quando ele dizia que ia viajar a trabalho na verdade ia se encontrar com ela?
-S-sim.
Filho da mãe!
Isso me deixou mais irritada. Eu queria matar o Dereck por tudo que ele me fez passar. Como eu sou idiota de não ter percebido isso antes. Burra! Mas ele vai me pagar!
-Como ela descobriu sobre meu casamento com ele?
-Isso eu não sei Anna. Ela apareceu aqui na despedida sem avisar, e Dereck mandou ela embora. Mas alguém deve ter contado sobre o casamento. E eu não faço idéia de quem seja.
-E eles ainda estão juntos? pergunto torcendo para ouvir um não.
-Desculpa Anna, eu não sei. Dereck não quer falar comigo. Não atende minhas ligações nem responde minhas mensagens. Ele acha que foi eu que convidei aquela mulher.
-Hum. Que bom pra você. É melhor ficar longe dele mesmo, você já viu que ele não presta!
-Estou dando um tempo para ele. Tenho certeza que ele não está assim tão bem quanto você. Deve estar sofrendo muito, mas uma hora ele caí na real.
-Talvez não caía. Mas eu vou fazer ele sofrer muito mais. E você vai me ajudar!
-Olha, eu não quero me meter nesse assunto Anna. Me deixa fora disso.
-Tarde demais Tom. Se não quizer fazer isso por mim, faça por ele. Depois de tudo o que ele fez, vai ser bom para ele aprender e nunca mais fazer outra mulher passar pelo o que eu passei.
Ele suspira, e assenti com a cabeça.
-Ta, ta. Mas o que você vai fazer?
Avisto a Kate conversando com o Ashley, parecem estar me procurando. Ela não pode me ver falando com Tom senão capaz de armar um barraco aqui dentro. Me levanto num salto.
-Conversamos depois Tom, eu preciso ir.
Me viro e corro pro banheiro antes que Kate me veja.