Enzo acaba de subir o palco e instantaneamente toda a atenção do público é dirigida a ele. Cumprimenta o homem de cabelos grisalhos, o que lhe pediu para lá subir, e aproxima-se do microfone colocado no centro do palco.
O meu olhar percorre todas as salas, visualizando as pessoas que estão sentadas nas mesas ao lado da minha. Certamente, Enzo não tem só amigos de negócios ali dentro, mas, também, da máfia se é que se possa chamar assim.
Era nítida a inveja nos olhares de algumas pessoas ali dentro. Também não era muito difícil de invejar um homem de tanto sucesso como o meu noivo. É tão estranho dizer ou pensar que tenho um noivo. Não só por ter apenas dezoito anos, como também por ser tudo uma fachada de interesses. Eu gosto de estar no meu lugar? Alguma vez irei gostar? Alguém iria gostar?
O mais difícil de tudo isto, para além de ter que suportar todos estes problemas psicológicos que estou a arranjar dentro de mim, é conseguir viver uma vida normal ao lado de um homem que não conheço. Enzo é do tipo bipolar, o olhar dele é sempre sério e misterioso, está sempre maldisposto. Mas, do nada, já poderia, até, considera-lo um homem simpático e respeitoso. Duvido que alguma vez terei uma conversa normal com ele.
A única informação de que tenho a certeza acerca da família do meu noivo é que o seu pai é um suposto assassino e está preso. Também descobri que a sua família é italiana. Agora, se me perguntarem a idade do meu noivo, os seus gostos, o que ele adora fazer, sem ser intimidar-me, ou o que ele mais adora comer, eu não saberia responder. Mas, uma coisa é certa, Enzo adora ter o controle de tudo. Isto não é difícil de descobrir, já que só com um pequeno diálogo as pessoas conseguem reparar em quem quer ser o líder. Eu nunca planeei isto na minha vida, eu nem amigos tenho para desabafar ou mesmo chorar no ombro e ouvir: " Vai ficar tudo bem ". Nunca fui a miúda social, nunca consegui manter uma amizade por mais de um ou dois anos. Acho que nem amizade posso chamar ao que tive, pois nunca considerei os meus colegas de escola como amigos de verdade. Dos quais eu poderia ter uma boa conversa ou desabafar sobre alguns problemas. Talvez por eu ter sido sempre uma rapariga muito fechada. Talvez por ter medo de afastar mais as pessoas do que já estavam.
Por isto, eu estou com receio do que será o meu futuro daqui para a frente, a partir do momento em que Enzo me apresentar, oficialmente, como noiva dele. Não tenho medo do que possam dizer, na verdade. Só não quero apaixonar-me pelo meu noivo e depois desiludir-me com o que eu venha a descobrir futuramente.
Suspirando, pego no meu copo com água, que estava sobre a mesa do jantar, e dou um bom gole, na tentativa de desviar todos aqueles pensamentos na minha mente.
- Está tudo bem Lia? – Ouço a voz preocupada de Kate e olho-a logo de seguida, quase assustada, assentindo sem dizer nada. – Estás pálida! – Arregala ligeiramente os olhos.
- Não te preocupes, deve ser do nervosismo. Não gosto de ser o centro das atenções. – Dou uma pequena desculpa, apesar de que, pelo menos um por cento ter um pingo de verdade.
- Oh! Tem calma! – Murmura espantada e sorri levemente.
Assim que ouço a voz masculina o meu olhar cai sobre o meu noivo, que começara a falar com o olhar dirigido para toda a sala.
- Boa noite a todos! – Começa. – Quero-vos agradecer por comparecerem a abertura deste tão novo hotel. É muito importante, não só para mim, mas também para as pessoas que cá trabalharão. Já tinha este grande projeto em mente há algum tempo e saberia que iria conseguir ter êxito depois de ter contratado uma boa construtora com pessoas qualificadas de alto nível! – Aponta para um grupo de pessoas numa parte da sala. – Uma salva de palmas para todos os profissionais que me ajudaram a concretizar este desejo. – Murmura e logo a sala é preenchida com o som das palmas. Assim que as mesmas sessam, Enzo volta a falar. – Hoje não é um dia especial apenas por inaugurar o hotel, mas também porque quero fazer-vos um pequeno comunicado e apresentar-vos uma pessoa muito especial na minha vida. – Olho-o atentamente. Especial? Talvez esteja a fazer uma pequena careta, já que o seu olhar caiu sério em mim. Okay, Lia, tens que fazer-te apaixonada! – Quero que conheçam a Lia! – Logo visualizei um pequeno sorriso a rasgar aqueles lábios perfeitos. Todos estavam a espera que subisse ao palco, pelos vistos, já que estão todos com o olhar sobre mim. Arregalei os olhos e olhei a Kate e o David que estavam a incentivar-me para subir ao palco.
Levantei-me da cadeira muito lentamente, porque os meus nervos poderiam causar uma catástrofe no meio da grande sala, e caminho para as escadas do palco, subindo-as uma a uma e com o meu olha pregado em cada degrau que eu calcava. Respiro fundo e logo estava ao lado dele. Enzo segura a minha mão, assim que a alcança e o meu olhar percorre toda a sala. Apenas fiquei estática ao ver a imensidão de gente que ali estava. Quando estamos fora do palco podemos saber que está muita gente, mas, depois,. Quando vemos a sala de cima a imagem muda totalmente, pois temos uma visão mais ampla daquele local, consequentemente, temos uma melhor visão.
Sinto os lábios de Enzo nas costas da minha mão e o meu olhar cai nele, não estando nada à espera do seu ato.
- Eu e Lia estamos noivos! – Assim que Enzo acaba ade falar, logo as palmas fazem-se ouvir. Já eu fiquei estática, mais uma vez, mas, desta vez, a olhar para o homem que segurava confortavelmente a minha mão.
Era estranho ouvir da boca dele que estávamos noivos, até porque nem nos conhecemos e muito menos nos amamos.
Minutos depois, tiramos algumas fotos, talvez para aparecer em alguma revista de fofoca que eu não perderia o meu tempo a ler, e voltamos para a nossa mesa.
Sento-me, já mais descansada, na minha cadeira e volto a beber um grande gole do meu copo de água.
- Afinal, não foi muito difícil, foi? – Kate fala assim que ficamos sozinhas enquanto Enzo e David conversavam com alguns convidados.
- Acho que não direi que foi porque fiquei estática em cima do palco. – Murmuro e sorrio nervosa.
- Bom, estiveste bem. – Ela fala e continua a olhar-me. Suspiro baixo.
- Podes perguntar... Eu sei que queres perguntar-me alguma coisa, Kate. – Murmuro. Até porque os seus olhos não enganavam ninguém.
- Bom... - Ela olha para as suas mãos por um ou dois segundos e volta a dirigir o seu olhar a mim. – Como estás com toda esta situação? – Pergunta e eu dou de ombros, pensando na maneira mais fácil de lhe dizer o que eu sinto, já que a só conheci hoje e tenciono dar-me bem com ela.
- Eu não sei o que dizer. Simplesmente, é estranho.
- Eu entendo. – Murmura. – Mas o Enzo pode ser boa pessoa. Ele não é aquele homem tão sério e intimidante como deves estar a pensar que é. Aquilo é como uma máscara para se proteger.
Olho-a. Como é que pode ter tanta certeza? Okay, uma coisa é certa, ela conhece o Enzo há muito mais tempo que eu, de certeza. E, se não conhecesse há muito tempo, é casada com o melhor amigo do meu noivo, o que já conta bastante.
- Eu só quero que tenhas razão. – Suspiro. – Contigo foi a mesma coisa?
- Não. – Sorriu – Eu conheci David numa festa de aniversário. Ele tem uma irmã que foi da mesma turma que eu no secundário. Quando fez anos, num dos anos do secundário, ela organizou uma grande festa e foi lá que conheci o meu marido. Imagina, eu com dezassete anos e ele com vinte e três. – Sorriu com os olhos cheios de brilho, mostrando o quão feliz ela estava ao lado de David.
- Vê-se o quanto estás bem ao lado dele. Isso é ótimo! – Murmuro, sorrindo. - E eu tenho dezoito anos e o Enzo deve ter trinta e poucos. – Murmurei – Uma grande diferença, sou uma criança ao lado dele...
- Ele tem trinta, tal como David. – Kate interrompe-me. – Eu sei que pode ser estranho, mas a idade, por vezes, não é de todo importante num relacionamento.
- Conta a partir do momento em que estamos juntos por causa de um contrato e não por amor. – Falo.
- Eu acredito em vocês dois. – Sorriu e eu dei de ombros. Não é a minha intenção ser rude com ela, mas estou mesmo cansada de falar sobre a minha relação com o Enzo.
Logo as pessoas começaram a ir embora quando deu uma da manhã. Enzo por fim veio ter comigo.
- Vamos embora. – Olhou-me e segurou a minha mão calmamente.
- Oka.y – Disse apenas e caminhei ao seu lado para fora do hotel, depois de termos cumprimentado o David e a Kate.
Caminhamos até ao carro e uma brisa fresca passou por nós fazendo-me arrepiar de frio. Levo as minhas mãos aos meus braços, tendo que largar, assim, a mão de Enzo, e tento contrariar o frio. Enzo acaba por reparar e retira o seu blazer, colocando-o sobre os meus ombros.
- Obrigada! – Aconcheguei-me no mesmo e olhei para Enzo por uns momentos.
- Para a próxima não te esqueças de trazer um casaco. – Murmurou.