As Pontes Invisíveis

By castellox

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"Se as pessoas soubessem tudo sobre você, será que você ainda teria amigos?" Esse é o drama vivido por Charle... More

As Pontes Invisíveis
Regresso
Imersão
Transição
Negação
Raiva
Medo
Resistencia
Súbito
Inércia
Loucura
Malicia
Vulnerabilidade
Insanidade
Paciência
Silêncio
Susto
Nostalgia
Solidão
Sete
Solidão pt. II
Surpresa
Partida
Retorno
Adrenalina
Alivio
Culpa
Aceitação
Epílogo
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AOS LEITORES

Se7e

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By castellox

Muito antes de ser o misterioso Sete de sobretudo preto andando pelas ruas a noite e brigando com pessoas muito maiores que ele, ele era já havia sido apenas um garoto nascido e criado em Londres. Ethan teve a sua vida marcada por comédias e tragédias.

Ethan morava com a família na região de Brixton, em Londres. Ele tinha cerca de onze anos, seu pai era um advogado de sucesso e sua mãe, Monica Crow uma notável dona de casa, não que ela não pudesse trabalhar, mas o marido Ethan James Crow II – o qual ela chamava de James, ganhava muito dinheiro e ela não via necessidade nenhuma de trabalhar. Além disso Ethan tinha uma irmã mais nova chamada Erica Crow.

Ethan não tinha muito amigos, era o típico solitário da escola. Em casa, ficava o tempo todo em seu quarto, não costumava sorrir muito. Ethan se lembra até hoje daquela tarde de nevasca em que sua mãe atendeu o telefone.

- Olá? – disse ela. –Sim. Sou eu. Sim. O que tem ele? Como assim? Não. Não. Não pode ser. Não. Mentira. Adeus. NÃO LIGUE NOVAMENTE – ela gritava ao telefone.

Ethan James Crow II, pai de Sete, havia sofrido um acidente de carro devido a neve na pista, o carro que ele estava com dois clientes havia colidido com um caminhão em uma curva – sem sobreviventes. A mãe do pequeno Ethan não soube lidar com a perda do marido, o bar de bebidas da sala que antes era somente mais uma parte da decoração da casa transformou-se na mobília principal. Sua mãe começava a beber e só parava quando desmaiava em algum lugar da casa, geralmente levantava-se apenas para vomitar, outras vezes, vomitava onde estivesse mesmo. Ethan cuidava de Erica de apenas quatro anos enquanto sua mãe se matava aos poucos dia após dia.

Cerca de oito meses depois, quando Ethan já havia completado doze anos, um dia chegou em casa e encontrou Erica sozinha, Charlie soube na hora que sua mãe havia partido em uma viagem sem volta. A policia bateu na porta deles no dia seguinte, o corpo dela – ou uma parte. – Havia sido achado na linha do trem. Ela havia cometido suicídio.

Foi nessa época que Ethan foi separado de sua irmã, Erica. Ethan foi mandado para o orfanato Saint Mary, enquanto Erica foi adotada por um casal, ela jovem e loira, uma menina branca e perfeitamente normal, quem não a adotaria? Ethan já era mais velho, havia sido afetado diretamente pela perda dos pais e nunca mais seria o mesmo, nunca seria adotado.

Foi nesse mesmo orfanato, Saint Mary, que Ethan conheceu Marcus Croat. Ele era um ano mais velho e pelo menos duas vezes mais esperto, ele foi como um irmão mais velho para Ethan.

- Novo aqui, cabeludo? – foram as primeiras palavras de muitas que eles trocariam. – Vou te ensinar como viver a vida.

Marcus era do tipo que tinha lábia e mesmo com treze anos já saia se virar sozinho. Toda noite ele fugia do orfanato pela janela e saia na rua em busca de boas almas que ele pudesse tirar um trocado ou dois.

- Não sei cadê meu pai, pode me dar uma moeda pra eu pegar o ônibus? – dizia Marcus que nunca nem havia conhecido seu pai verdadeiro.

- Claro filho, tome aqui – dizia um homem de chapéu dando uma nota que Marcus usaria para comprar um hambúrguer bem grande, refrigerante e se sobrasse, alguns cigarros.

- Você tem que ser esperto, Ethan – disse Marcus. – Aliás, na rua não devemos usar nossos nomes verdadeiros, me chame de Bartolomeu – disse Marcus.

- Que nome idiota – disse Ethan. – Então me chame de Marty.

- Olha quem fala – os dois riram.

Marcus ensinou Ethan os melhores golpes para conseguir dinheiro de forma rápida e sem chamar atenção. Conforme foram envelhecendo os golpes foram se tornando mais arquitetados e pensados, quando Marcus fez dezoito anos e saiu do orfanato sumiu durante alguns meses. Ethan pensou que ele havia ido embora, que nunca mais o veria, mas quando chegou a sua vez de sair de lá, Marcus o esperava na porta, vestindo aquele longo sobretudo preto.

- Ganhou na loteria? – perguntouSete. – Andei trabalhando, se é que me entende. -Entendo – os dois riram. -Desculpe a ausência, amigo Marty – Marcus riu. – Ethan, Estive arrumando ascoisas para um novo tipo de golpe, e vai ser hoje. -Não tenho ideia do que seja, mas estamos juntos. Osdois seguiram até o cemitério, observaram de longe um funeral que acontecia aluz do dia, meia dúzia de pessoas se amontoavam e rezavam juntas. O dia estavafrio e as primeiras gotas de chuva começaram a cair, Marcus e Ethan seescondiam atrás de um mausoléu.


- Fique aqui – disse Marcus para Ethan. – Vou coletar informações, já volto.

- Coletar informações? – questionou Ethan, mas Marcus já havia saído do esconderijo, andava com passos firmes e uma expressão séria. Era determinado e acima de tudo esperto.

- Eu não acredito – disse Marcus ao se juntar com as outras pessoas. – Eu não acreditei quando me disseram, meu Deus – seu discurso era bem convincente.

- Ele era um bom garoto – disse uma senhora de cabelos brancos a Marcus. – de onde você o conhecia?

- Eu estudava com ele – mentiu Marcus. – Me chamo Arthur.

- Que pena que nos conhecemos em uma hora tão ruim, Arthur – disse a mulher de cabelos brancos. – Tenho certeza que meu filho Walter gostava muito de você.

- Meus pêsames senhora, ele falava muito de você – dizia Marcus. – Mas a verdade é que não tinha contato com ele já fazia um tempo, onde ele estava estudando?

- Estava fazendo faculdade de direito – disse outra senhora, um pouco mais velha. – Ele queria ser um homem de leis.

- É verdade – disse um senhor. – Mas sua paixão era a arte, escrevia lindos poemas, você já leu algum deles?

- Não tive o prazer – disse Marcus. – Ele nunca deixou.

- Era lindo – disse sua mãe. Marcus deu a volta no pequeno circulo de pessoas, procurou alguém que não fosse tão próximo, notou uma garota de aproximadamente dezesseis ou dezessete anos, tinha a pele escura e cabelos enrolados. Marcus não sabia se tinha ido falar com ela por achar que ela poderia dar alguma informação ou apenas por ter achado que ela era bonita.

- Olá – disse Marcus a garota. – Sou Arthur.

- Malina – disse ela com um olhar triste.

- Desculpe me intrometer, eu estudei com o Walter, não falava com ele a um tempo, a noticia da morte me pegou de surpresa. Vim assim que pode, mas não fiquei sabendo, como ele morreu?

- Ah, eu não gosto de falar disso – disse Malina. – Mas foi um assalto. Ele estava trabalhando de caixa do mercado do meu pai e também tio dele Dorian. Um assaltante mascarado entrou, Walter deu todo dinheiro mas ele atirou mesmo assim, pobre Walter, tinha a vida toda pela frente.

- É uma pena – disse Marcus. – Ele tinha o dom pra poesia, você sabia?

- Sim, ele sempre recitava para mim.

- E qual sua preferida? – perguntou Marcus.

- Tem uma muito bonita, é mais ou menos assim: Em outra vida vim como abelha para semear o pólen de uma flor. Nessa vida como menino, para amenizar tua dor. Minha próxima vida é incerta, só sei que irei semear o amor.

- Realmente – disse Marcus. – Essa é uma das mais belas.

- Tudo que ele fazia era semear o amor.

Marcus deu a volta na roda e avistou um homem de cabelos brancos, parecia ser tio ou talvez até o pai, Marcus não tinha certeza.

- Com licença, eu iria pedir para a senhora, mas não quis ser indelicado. Será que o senhor pode me dar o endereço da senhora mãe do Walter, para que eu possa mandar flores?

- Claro – disse o homem. – Fica na rua spott número 16.

- Muito obrigado senhor – Disse Marcus antes de se dirigir a mãe de Walter. – Infelizmente tenho que ir senhora, lhe desejo força nessa sua luta – a mulher lhe deu um sorriso.

Marcus saiu de perto da multidão e voltou para onde estava Ethan, que o observava de longe sem ter ideia do que ele falava com aquelas pessoas ou quem elas eram.

- Vamos Ethan, pra minha casa passar suas falas.

- Você já tem casa?

Marcus tinha um apartamento que alugara com o dinheiro dos golpes que cometeu nesses meses desde que tinha saído do orfanato. Não era grande e nem bonito, cheirava a coco de rato e os vizinhos viviam brigando, mas era o que eles podiam pagar.

- Que apartamento incrível – disse Ethan. Pra quem vivera metade da infância e o resto da adolescência em um orfanato dividindo o quarto com outros vinte garotos, aquilo era o paraiso.

- E vai melhorar, amigo Ethan – disse Marcus sorrindo. – O mundo será nosso.

No dia seguinte os dois seguiram para a casa da mãe de Walter, Ethan tinha suas falas decoradas, era tão bom quanto Marcus, isso era inegável. Cada um fazia aquilo no qual era bom, os dois eram bom em enganar as pessoas e era isso que ele faziam.

- Tem certeza que tá tudo certo ai nessa sua cabecinha oca? – perguntou Marcus. – Fiquei um tempão planejando isso, se tu estragar tudo eu juro que te vendo pra pagar o aluguel.

- Relaxa – disse Ethan.

- Então vai logo – gritou Marcus. O jovem Ethan atravessou a rua, vestia uma roupa branca e um gorro igualmente branco que ele havia roubado de uma loja perto do apartamento de Marcus, estava confiante, preparou sua melhor cara de malvado e tocou a campainha.

- Olá? – disse a mãe de Walter ao abrir a porta.

- Senhora, você não me conhece, mas eu lhe conheço – disse Ethan. – Me chamo Zakuf, sou mestre indu e portal das almas de luz – Ethan nem sabia se indu era uma religião.

- Vai embora daqui – a mulher tentou fechar a porta mas Ethan a impediu.

- Trago uma mensagem de seu filho – os olhos da mulher brilharam, esse era o ponto de entrada do plano todo, a necessidade de acreditar em algo.

- Entre – disse a mulher. Ethan entrou com os braços cruzados e murmurando uma espécie de mantra baixinho, parecia algo poético, mas na verdade era apenas "Pizzapizzapizzapizzapizza" ele sentou-se no sofá e cruzou as pernas como se estivesse meditando, levou seus dois braços ao ar e fechou os olhos.

- O que é isso? – perguntou a mulher.

- Me traga um espelho – disse Ethan.

- Um espelho? Por que?

- Espelhos são janelas para o mundo dos mortos – explicou Ethan. A mulher obedeceu e colocou um espelho em sua frente. – A senhora deve estar ciente de que pedirei um preço pelos meus serviços, afinal, me conectar com o outro mundo é extremamente difícil e me mata um pouco mais a cada vez.

- Quanto você quer? – perguntou ela.

- Mil libras.

- Certo – disse a mulher, se ele soubesse que ela iria aceitar tão facilmente teria pedido mais.

- Seu filho está falando comigo – disse Ethan. – Sim – seus olhos estavam fechados. – Ele diz: Em outra vida eu vim como uma abelha para semear o pólen de uma flor, na outra vim como um menino e tentei, juro que tentei tirar um pouco da tua dor. Na próxima não sei como virei, mas só vou semear o amor – Ethan abriu os olhos ao terminar de falar essas palavras e encontrou a mãe de Walter em lágrimas, parte dele se sentiu mal por estar enganando uma pessoa que já estava sofrendo tanto.

- É ele. Essa era uma das suas poesias, está um pouco diferente mas eu sei que é ele. – ela havia acreditado, e como não acreditaria? Sempre acreditamos no que queremos que seja verdade.

- Ele pediu para dizer que não quer que tu chore, que está em um lugar bonito e cheio de flores. Quer que tu viva tua vida e quando o dia chegar, vocês se reencontrarão no paraíso. A vida é bela, a vida é bela.

- Obrigada – disse a mãe de Walter, ela se levantou do sofá que estava e foi na que o Ethan estava sentado e o abraçou. – Obrigada.

Ethan saiu de lá com um sentimento meio ruim, mas havia cumprido sua missão. Marcus esperava no outro lado da rua, ria como uma hiena e chegou a ter que sentar no chão.

- Como foi? – ele riu. – Você disse que quem matou foi o tio?

- Não, quer envolver policia nisso tudo?

- Tem razão, tem razão.

Os dois repetiram esse e mais outros golpes durante dois anos, era como irmãos inseparáveis. De dia eles engavam as pessoas, a noite bebiam e se divertiam nos bares de Londres. Era tudo perfeito, até acontecer.

- É infalível – disse Marcus, estava no banco do motorista. – É só seguir o plano.

- Certo – disse Ethan. – E se ele não acreditar?

- A gente corre.

Marcus saiu do carro, ajeitou a gravata e começou a atravessar a rua. Ethan fez a mesma coisa, os dois estavam confiantes, afinal, eram profissionais no assunto. Marcus passou pela porta e um pequeno sino acima dela balançou, Ethan passou logo atrás.

- No que posso ajudar? – perguntou o homem gordo do outro lado do balcão do pequeno mercado de bairro, tinha a camisa suja de comida e uma cara de poucos amigos.

- Boa noite – disse Marcus. – Sou Craig Johnson, vigilância sanitária.

- Aham – o homem gordo mantinha a cara séria.

- Recebemos algumas denuncias do seu estabelecimento – disse Marcus olhando entre as prateiras, de fato era um lugar precário. Viu um rato desfilando entre os alimentos. – E acho que a denuncia procede.

- Vamos ter que interditar – disse Ethan.

- A não ser que você regularize a situação – disse Marcus. – A multa é de cinco mil, então, você nos paga três e não apresentamos o formulário, o que acha?

- Você acha que eu sou imbecil? – perguntou o homem gordo.

- Tem cara – disse Marcus com um sorriso.

- Acho melhor os dois saírem daqui agora antes que eu acabe com vocês.

- Escuta aqui seu elefante, tu vai me dar os três mil ou esse lugar vai fechar pra sempre, entendeu? Abre essa caixa registradora ai.

- Não – sussurrou Ethan. – Deixa pra lá.

- Cala a boca – disse Marcus para Ethan. – E tu cara, cadê o meu dinheiro.

- Eu já vou pegar – disse o homem abrindo a maquina registradora.

- Viu? É assim que se faz – disse Marcus olhando para Ethan com um sorriso, o homem no caixa puxou um revolver que ficava escondido dentro da caixa registradora. Ele disparou apenas uma vez, um tiro que acertou o ouvido esquerdo de Marcus e saiu um pouco mais acima da orelha do outro lado.

- NÃO – Gritou Ethan. O homem apontou a arma para Ethan, mas ele estava perto da porta e pulou para trás. O segundo tiro passou de raspão e acertou a porta. Ele começou a correr, deixou o carro para trás, deixou o corpo de seu único amigo no chão e só correu. Começava a chover e as lágrimas que escorriam no rosto de Ethan se misturavam com as gotas de chuva.

Ethan se sentiu órfão pela segunda vez na vida. Estava sozinho, o apartamento que dividia com o amigo havia se tornado um lugar triste com um cheiro insuportável, ele não tinha mais vontade e nem capacidade para dar golpe em ninguém, estava sem dinheiro, falido sozinho, tudo que ele tinha na vida era o sobretudo que Marcus havia deixado, costumava sempre usa-lo, disse uma vez que fora presente de seu pai. Agora era a o símbolo de uma amizade que iria além da vida, desde a morte de seu amigo, aquele sobretudo tornou-se praticamente um uniforme para Ethan.

Costumava andar sozinho pela noite, entrava sem pagar em bares e baladas e lá dentro roubava carteiras e cartões de crédito, era a única coisa que sabia fazer com maestria.
Foi em uma dessas noites sem sentido, depois de dois copos de cerveja que Ethan viu aquela garota pela primeira vez.

Ela usava uma calça preta apertada e um coturno que ia quase até seu joelho, uma camisa branca que deixava amostra seu umbigo e uma jaqueta de couro com pequenas pontas de ferro nos ombros, ela era linda.

Ethan se aproximou, ela estava sentada em uma mureta de um bar que tocava musica eletrônica até o amanhecer, ela fumava um cigarro em uma área em que era proibido, seus cabelos mal chegavam no ombro e eram brancos como o gelo. Sua pele era pálida e seus lábios não tinham cor, aparentava no máximo vinte anos.

- O que uma garota como você faz aqui sozinha? – perguntou Ethan. Ela tirou os fones de ouvido, sim estava usando fones de ouvido em um bar com música eletrônica.

- Olha só, não sabia que o Neo do matrix gostasse de música eletrônica – disse ela, zombando do sobretudo.

- O sobretudo do Neo é de couro, esse é tecido – disse Ethan parecendo um idiota.

- Informação útil – ela riu.

- Quer beber alguma coisa? – perguntou ele.

Foi assim que Ethan conheceu Marina Moon, a garota que mudaria sua vida para sempre. Ela era irlandesa e tinha um jeito especial de lidar com o mundo. Vivia em um pequeno apartamento e trabalhava como fotógrafa, mas se aventurava a pintar quadros durante a noite. Tinha um jeito diferente de capturar as pessoas e os animais que Ethan era apaixonado.

Ethan foi morar com ela, não aguentava o velho apartamento e nem tinha direito para paga-lo. Com o passar dos meses foi virando um cidadão normal, deixou a vida de crimes para trás, sem seu melhor amigo ele não tinha mais vontade de enganar os outros.

Começou a trabalhar como garçom fazia pouco dinheiro mas ajudava em casa. Marina trabalhava em um estúdio, mas sua paixão era tirar fotos da natureza, pelos parques de Londres, jardins e flores.

Lembrava-se de terminar o expediente e sair do restaurante que trabalhava por volta da meia noite e meia. Sempre colocava o sobretudo antes de encarar a madrugada fria de Londres até o apartamento de Marina, dessa forma sempre sentia que Marcus o protegia. Se lembrava de chegar em casa e encontrar a porta entreaberta, Marina pintava um quadro florido, estava toda suja de tinta e não usava nada mais do que um avental.

- Qual a graça dessas plantas? - Perguntou Ethan.

- São puras – disse ela com um sorriso. - São a mais pura forma da natureza se manifestar. Apesar de sua beleza, são frágeis. E de certa forma é uma lição de vida. Se você passar todo dia por uma roseira, todo dia vai ver as rosas saudáveis, mas se tentar levar uma rosa pra casa, ela vai murchar e morrer. Algumas coisas são feitas para serem apenas observadas sem serem possuídas.

Mas o dinheiro estava curto, Ethan se sentia inútil, foi quando ele achou aquele pequeno anuncio no rodapé do jornal, o pequeno anuncio que mudaria sua vida.

"Grupa Magma procura jovens saudáveis – ganhos de até cinco mil por período"

Ethan ligou e marcou um horário, não contou a Marina, queria lhe fazer uma surpresa. O projeto do qual ele participava se chamaria "Postrum", ele leu todo o contrato e estava feliz, ele seria como um super-herói. Após a operação ele começou a sentir os efeitos de sua decisão, ouviu duas pessoas conversando.

- É muito perigoso – disse o homem. – Precisa ser destruído.

- Eu sei, uma coisa como essa pode destruir toda a empresa.

- Além do mais, é um vagabundo. Um criminoso, alguém assim nunca deveria ter tanto poder nas mãos.

Ethan estava no quarto, mas podia ouvir eles conversando do corredor, sua audição estava melhor, ele se sentia ótimo como nunca havia sentido antes.


Ethan saiu da cama ainda vestindo uma roupa de hospital que era aberta na parte de trás. Assim que ele saiu pela porta um dos homens apontou uma arma para ele, Ethan fechou os olhos e estava deitado novamente na cama, entendeu na hora que tratava de uma visão – era tão real. Ele tinha que aprender a separar as visões que teria dos fatos que aconteceriam.

Saiu da cama – agora de verdade. E esperou até os dois homens deixassem o corredor, saiu por ele e procurou o lugar onde ficavam as escadas, mas não encontrou. Pegou o elevador, estava vazio. Apertou o botão que levava até o saguão.

Teve uma visão: o elevador havia parado no meio do caminho e um homem tentaria entrar e segura-lo. Já estava aprendendo como aquilo funcionava.

Assim que a porta do elevador abriu Ethan chutou a barriga do homem que caiu para trás, a porta do elevador se fechou novamente, ele apertou o botão do elevador que indicava que ele estava cheio. Tinha visto em um blog da internet que se fizesse isso o elevador não pararia até o destino que ele havia escolhido.

Ethan sabia que que quando as portas de abrissem no saguão todo mundo que estivesse lá tentaria pega-lo. Precisava ser rápido e ágil, já se preparava para correr. Assim que as portas abriram Ethan começou a correr feito um gato naquele chão liso a escorregadio, tinha sido fácil, antes que pudesse perceber estava na rua e então...


- Onde eu estou? – perguntou Ethan para si mesmo na frente do Magma Tower, havia esquecido totalmente onde estava, culpa do filtro de percepção a toda potencia nele.

Ethan se viu novamente dentro do elevador, estava quase no saguão.

- Eu vou esquecer – disse ele sozinho.

Agora ele sabia que iria esquecer tudo quando saísse dali, precisou dar meia volta e correr até o balcão, um homem de cinza quase o segurou, o fez perder um pouco o equilíbrio mas ele ainda estava de pé, correu até o balcão e pegou uma caneta, escreveu em sua mão: Sete minutos, grupo magma, experiência, póstrum, CORRA.

Tornou a correr para sair do prédio, um homem conseguiu lhe agarrar e o jogar no chão. Ethan bateu com seu pé descalço no rosto do homem, o que machucou um pouco o pé de Ethan, mas o deu tempo para se levantar e correr. Outros tentaram segura-lo mas sem sucesso, assim que saiu do edifício havia se esquecido de tudo.

Olhou para sua mão e não entendeu, mas prestou atenção na ultima palavra "CORRA", olhou para trás e vários homens vinham em sua direção, ele se pôs a correr pela rua escura, machucava seus pés mas não parava, os homens estavam cada vez mais perto, Ethan começou a se sentir cansado, não conseguiria correr por muito tempo. Voltou a olhar para trás durante dois segundos, contou quatro homens de cinza.

- Será que eu consigo brigar com quatro? – Perguntou ele para si mesmo.

Voltou a olhar para trás e viu que eles estavam armados, porém eram armas estranhas, de cores vibrantes parecendo plástico. Ficou na dúvida se as armas eram reais ou não, mas decidiu não arriscar.

- Quem são vocês? – Gritou Ethan enquanto corria sem uma direção certa. – Se eu roubei alguma coisa, eu devolvo!

Não houve resposta alguma. Ethan corria fazendo o máximo de esforço que podia, estava exausto e não sabia quanto tempo aguentaria. Viu uma viela a sua esquerda e entrou nela, tentou subir nas latas de lixo que o mais rápido que podia para passar por cima da cerca de ferro que havia no meio da viela, talvez ele devesse ir mais rápido, assim que aterrissou no chão gelado com os pés descalços ele já conseguiu ouvir o barulho dos homens escalando a cerca. Não olhou para trás, voltou a correr o mais rápido que conseguia, estava no seu limite. A viela se dividia em duas e ele virou para a direita, havia uma lixeira grande de plástico e ele sem nem pensar pulou dentro dela.

Ele ouviu dois homens passarem direto pela lixeira. Estava deitado em meio a papéis sujos e restos de comida, mas estava grato por ter parado de correr. Ele respirava fundo e soltava o ar com dificuldade, mas sem fazer barulho, ainda ouvia passos não muito longe dali.

- Esquece ele – disse uma voz longe. – Ele vai vir até nós.

Ninguém procurou na lixeira que ele estava, porém ele decidiu ficar um tempo lá ainda. Tinha medo eles estivessem esperando ele sair do seu esconderijo. Quando saiu, entretanto, não havia ninguém. A viela escura e fria estava deserta. Ethan se pôs a andar pela rua com a roupa de hospital suja de lixo e com aquele perfume de peixe podre. Sua cabeça ainda era uma bagunça, sentia-se forte, porém dolorido.

- Vai tomar um banho – disse um homem na rua para Ethan.

Ele precisou de controlar para não atacar o homem e quebrar cada osso de seu corpo, afinal ele tinha problemas maiores para se preocupar. Caminhou sozinho até chegar ao aparamento onde vivia com Marina Moon.

Subiu as escadas em silêncio, a porta não estava trancada, porém isso não era novidade vindo de Marina. Ele entrou e foi direto para o banheiro, seu rosto inchado e dolorido, seus olhos fundos e sem expressão. Entrou na ducha quente e deixou a agua lhe guiar por alguns segundos, não tomou realmente um banho, só ficou ali deixando que a agua escorresse pelo seu corpo.

Saiu de toalha procurando por Marina para lhe contar do estranho acontecimento que havia lhe ocorrido, porém não a achou.

- Marina? – Perguntou Charlie. – Amor?

O apartamento estava mergulhado no silêncio, sua voz ecoou pela casa e Ethan sentiu um calafrio que viajou por seu corpo todo. Olhou para sua mão, leu novamente as palavras que havia escrito antes de perder a memória.

"Sete minutos, grupo magma, experiência, póstrum, CORRA."

Estava meio apagado por causa do banho, mas era possível ler. E ele leu mais uma vez, e outra, e mais uma. Na sexta vez aquelas palavras ganharam vida na sua mente como se fossem pedaços de um quebra cabeça que estavam perdidos. Sua mente se acendeu em um segundo, estava sentado no sofá ainda de toalha, deu um pulo.

- Magma – repetiu ele.

Ele andou até a cozinha, sua cabeça doía bem mais agora. Foi nesse momento que notou o bilhete na geladeira.

"Estamos com ela. Saudações do grupo Magma e a Sociedade do Tempo."

O ódio tomou conta de Ethan, pegou um copo da pia e jogou com toda força na parede. Ele sabia que se fosse até eles os dois seriam mortos. Foi nesse momento que Ethan Crow The Third se tornou Sete.

- Não usamos nossos nomes verdadeiros na rua – lembrou de Marcus falando.

Sete abriu o guarda-roupas e pegou o velho sobretudo de Marcus. Em poucas horas havia traçado um plano plano. Iria invadir a Magma Tower.

Uma semana depois Ethan havia se estabelecido na Magma Tower II. Observava de longe e anotava tudo. Aproveitou de sua nova habilidade para passar novos golpes e juntar dinheiro. Dias depois ele invadiu o Magma tower abusando do póstrum. Invadiu a rede de arquivos online e foi nesse momento que ficou sabendo de Charlie, um novo plano surgiu.

Sete usaria a habilidade Charlie contra Leon, ficaria sabendo de todos seus segredos e assim descobriria onde estava Marina e como resgata-la. Era um chute no escuro, mas era sua única chance. Começou a ligar para Charlie e pedir para que ele se afastasse das pessoas que ele ama, afinal não queria que acontecesse a mesma coisa que aconteceu com ele. Sete se juntou aos Smokers para roubar o banco, pretendia fugir com Marina depois de resgata-la, talvez para algum país bem longe onde ninguém pudesse encontra-los.

Quando Charlie voltou trazendo as memórias de Leon e não havia nada sobre Marina lá, os planos mudaram. Sete explodiu por dentro, tinha raiva, e por isso decidiu tirar do Leon a coisa mais importante que ele tinha.

Aquele relógio.


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