Paixão em Jogo (Livro...

By rrbeatrice

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PROIBIDO PARA MENORES DE 18 ANOS! Livro cinco da Série da Paixão. More

Sinopse
Prólogo
Cap. 1 - O jogador
Cap. 2 - A aposta
Cap. 3 - O primeiro passo
Cap. 4 - As jogadas de um jogador
Recados
Cap. 5 - Abuso
Cap. 6 - Apenas amigos
Cap. 7 - O jantar
Cap. 8 - Ano Novo
Cap. 9 - Nate
Cap. 10 - A virada
Cap. 11 - Encontros e reencontros
Cap. 12 - Te amo
Cap. 13 - Te amo mais
Cap. 14 - Super Bowl
Cap. 15 - Fotos
Cap. 16 - A primeira vez
BÔNUS
Cap. 17 - O começo do fim
Cap. 19 - Ordem de restrição
Cap. 20 - Desastre estampado no jornal.
Recado importante
Cap. 21 - Correndo contra o tempo
Cap. 22 - Indo para casa
Cap. 23 - A queda
Cap. 24 - Perdão
Cap. 25 - Festa de aniversário
Cap. 26 - Beijo
Cap. 27 - Quero você de volta
Epílogo
Agradecimentos
Playlist

Cap. 18 - Um ombro amigo

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By rrbeatrice

Fecho a porta atrás de mim e escorrego por ela até o chão. Meu coração está completamente quebrado em milhões de pedacinhos irreparáveis.

A sensação é de que eu entrei no meu pior pesadelo e não consigo acordar.

Foi tudo mentira!

Todos os beijos, todos os carinhos, todos os sorrisos...tudo uma mentira.

Encolho as pernas e as envolvo com meus braços, apoio a testa em meus joelhos e choro.

Meu peito dói. Sinto-me uma idiota, uma idiota que não conseguiu ver além do sorriso bonito e caiu direitinho na armadilha.

Eu o amo. Eu o odeio. Nunca mais quero vê-lo na minha vida.

Quero feri-lo, mas não posso. Quero esquece-lo, mas não consigo. Será que algum dia conseguirei?

Eu o amo de uma maneira quase insustentável, o que só me faz ter certeza que tira-lo de minha mente e do meu coração será quase impossível.

— Desgraçado! Eu te odeio, te odeio! — Meus dentes rangem com a força que eu os pressiono.

Estou com tanta raiva, tanto ódio. Levanto-me em um rompante de fúria que nunca tive antes e corro para meu quarto.

O Scooby de pelúcia que ele me deu aquele dia em Dallas repousa em minha cama. O pego em minhas mãos trêmulas e puxo com força, as costuras reclamam e sedem.

Continuo puxando e rasgando, o enchimento salta para fora.

— Maldito cachorro! — Grito e largo no chão o resto do que um dia foi um cachorro de pelúcia, do que um dia representou algo que na verdade nunca existiu.

Vou até o mural em cima da minha mesa e arranco todas as fotos dele, rasgando-as e jogando-as no chão.

Tudo. Absolutamente tudo o que ele me deu ou o que me lembra dele é destruído.

Puxo a colcha e os lençóis da cama para fora e os jogo longe. Foram nesses lençóis que ele conseguiu o que queria, que ele conseguiu ganhar a sua maldita aposta.

Procuro por uma tesoura na gaveta da minha cômoda e começo a retalhar o maldito lençol. Depois de terminar com ele é a vez dos travesseiros receberem um pouco da minha ira.

Na minha estúpida tentativa de aliviar a raiva, acabo cortando o dedo com a tesoura. Amaldiçoo e a jogo na parede.

Deito-me na cama, em um quarto todo destruído. Encolho-me, sentindo toda a minha insignificância, a minha pequeneza.

Trago minha mão machucada para perto do coração, que sangra assim como ela. Choro, deixando que a dor da realidade me consuma.

VINCE

As portas do elevador mal se abrem e eu já estou me projetando para fora. Furioso. Perigoso. Incontrolável.

Esmurro a porta até que ela se abre. Elliot não tem tempo de fazer nenhum dos seus típicos comentários sarcásticos, pois acerto seu rosto com um soco. Sua cabeça vai violentamente para trás, ele cambaleia, mas não cai.

— Que porra! — Ele tenta parar o sangramento no nariz, mas o sangue escorre por entre seus dedos, sujando sua camisa.

Minha mão está doendo, mas estou longe de ter terminado.

— Você merece muito mais, e é isso que você vai ter hoje, seu desgraçado. — Cuspo as palavras, com nojo desse verme que um dia eu considerei um amigo.

— Você está maluco, idiota?

— Você sabia que isso aconteceria, ou você achou que você me faria perder a mulher que eu amo e eu não faria nada? — Agarro-o pela camisa, sinto minhas têmporas pulsando com o ódio mortal que estou sentindo.

— Do que você está falando, idiota?

— Do que estou falando? — O filho da puta ainda tem coragem de se fazer de inocente. — Estou falando do envelope que você enviou para Ella, o envelope com todas as mensagens que a gente trocou sobre a aposta, desgraçado, é disso que estou falando. — Jogo-o para trás, Elliot se desequilibra e cai sentado no chão.

— Não sei do que você está falando, eu não enviei envelope nenhum.

— Mentiroso do caralho, eu sei que foi você! — Grito, o ar entra com dificuldade em meus pulmões, estou tão cego de ódio que poderia espanca-lo até deixa-lo inconsciente.

— Não seja idiota, como eu poderia ter feito isso?

— Você foi até o hotel e deixou lá, você sabe muito bem como foi. Pare de fingir que não sabe do que estou falando.

— Como eu poderia saber que vocês estavam em um hotel? — Ele se levanta com alguma dificuldade e fica parado na minha frente.

— Como eu poderia saber que vocês estavam no Four Seasons Hotel para um evento de caridade ontem à noite? — Vejo um brilho diferente em seu olhar, um pequeno sorriso surgindo em seus lábios. — Como eu poderia saber que vocês decidiram passar a noite lá ao invés de irem para casa? Como eu poderia saber que vocês ficaram na suíte 5.102?

O sorriso que Elliot sustenta é deleite, de triunfo. Ele me arruinou e sabe disso, e está aproveitando cada segundo.

— Você nos seguiu, seu filho da mãe? — Pergunto e ele começa a rir.

— Ah não, não, eu sou conhecido demais. Mandei que seguissem vocês, assim como não fui eu quem entregou o envelope na recepção do hotel, mas sim o homem que estava lá e que havia seguido a sua feiosa a semana inteira.

— Você tem ideia do que você fez?

— Eu não fiz nada, isso tudo é sua culpa. Se você amasse a feiosa como diz que ama, você mesmo teria contado da aposta para ela. Foi você quem fez o meu plano dar certo.

— Você me tirou a coisa mais preciosa, você arruinou a melhor coisa que aconteceu comigo.

— Você fez o mesmo comigo! — Ele grita.

— Do eu você está falando?

— O Giants não ganhavam um Super Bowl há anos, era para eu ter sido o herói deles, eu e não você, um insignificante que entrou no time agora. Eu tenho anos de carreira no futebol e você? Você está aqui há dois anos, porra! O bônus no seu salário, a fama, o assédio, as palmas...você foi colocado em um pedestal depois daquela vitória e era para ser tudo meu!

— Seu desgraçado, seu filho da mãe, você fez tudo isso por causa de um título idiota? Você fez com que eu machucasse a pessoa que eu mais amo por causa de um troféu? Você vai se arrepender por ter feito o que fez, eu juro que você vai se arrepender, e vai ser aqui e agora.

Então parto para cima dele. Desfiro um soco em seu rosto e logo outro em seguida, ele cai no chão e eu pulo em cima dele. Agarro sua camisa com uma mão e com a outra, em punho, bato com toda a minha força em seu rosto.

— Isso é por Ella, seu desgraçado! — Grito. — Se ela não me perdoar, eu te mato!

— Pa-pare! Pare! — Ele se engasga com o próprio sangue. — Socorro! Socorro!

Elliot começa a gritar como o covarde que é, e eu continuo a espanca-lo, com toda a força e raiva que consigo sentir.

— Alguém me ajude! — Ele grita. — Chamem a policia! Socorro!

Desfiro mais alguns socos até que a cabeça de Elliot cai inconsciente. Largo sua camisa e olho para minhas mãos, elas estão tremendo e minha mão direita está suja com o sangue de Elliot. Os nós dos meus dedos estão machucados, meu sangue se misturando ao sangue dele.

Ella tinha razão, você é um monstro! Uma vozinha dentro da minha cabeça me acusa.

— Não, não, eu não sou um monstro, ele merecia, ele merecia isso.

— Se afaste do Sr. Manning! — Olho para trás e vejo o enorme segurança vindo para cima de mim, ele me arranca de cima de Elliot e me joga no chão, torcendo meu braço para trás das minhas costas e pressionando minha cara no chão.

— Chamem uma ambulância agora! — O homem grita.

Não tento me soltar do seu aperto, apenas respiro fundo e tento controlar minha respiração. O que eu vim fazer aqui já está feito, e eu vou aceitar as consequências disso.

***

O sol já se pôs há muito tempo e eu ainda estou aqui, no Departamento de Policia de Nova York.

Passei o dia todo sob custódia da policia, dando meu depoimento e sendo fichado por agressão. Eles me algemaram a uma cadeira e agora estão me ignorando, como se eu não existisse.

Encaro o chão, me concentrado em uma poeira que rodopia cada vez que alguém passa perto o suficiente.

Minha mão ainda está doendo, mas aposto que a cara de Elliot deve estar mais.

Sapatos pretos de marca param na minha frente, levanto os olhos e dou de cara com Edward Thorn, o advogado do Giants.

— No que você foi se meter agora, garoto? — Ele me lança seu olhar reprovador.

— O que você está fazendo aqui? Não te liguei.

— Eu sei, mas é meu trabalho tira-lo de qualquer problema e garantir que a sua imagem e a de todo o time não seja manchada. Sendo assim, aqui estou eu.

— Quando eles vão me deixar ir? — Pergunto.

— Agora mesmo. — Edward se vira e faz sinal para um policial. — O desalgeme, por favor.

O policial vem até mim, pega sua chave e tira a algema. Esfrego o pulso e levanto-me.

— Não vai me perguntar como ele está? — Edward pergunta.

— Não me importo. — Respondo e ando em direção à saída.

— Não por aí, um carro está nos esperando nos fundos. — Paro e viro-me para ele. — Eu disse que meu trabalho é garantir que sua imagem não seja manchada.

— Tanto faz. — Respondo e passo por ele.

— Elliot ainda está no hospital, terá que passar a noite lá. Você fez um belo de um estrago.

— Bom. — Digo apenas.

Saímos pela porta dos fundos do One Police Plaza, a sede da policia aqui em Manhattan, e como Edward disse, um carro nos aguarda.

Ambos nos sentamos nos bancos traseiros enquanto um homem que não conheço segue dirigindo. Não vi nenhum fotografo ou o pessoal da TV.

— Consegui te livrar de ir para cadeia, mas não posso garantir que isso foi uma boa coisa.

— Como assim? — Olho para ele confuso.

— Tom quer falar com você, e ele não está no melhor dos humores.

***

— Me diga o que diabos você estava pensando?

— Tom...

— Eu te digo, você não estava! Não estava pensando nem um pouco!

Engulo minhas explicações, quando se trata de um Tom nervoso, é melhor permanecer quieto e falar apenas quando ele te dá permissão.

— Quero saber exatamente o porquê você colocou um companheiro de time no hospital, e é melhor que seja uma porra de uma boa explicação. — Tom senta-se na sua cadeira, atrás da sua mesa pequena. Seu rosto está vermelho e uma veia salta de sua testa.

— Elliot contou para a minha namorada que o nosso relacionamento começou a partir de uma aposta que fizemos, uma aposta de que eu conseguiria leva-la para cama. Ele sabia que se ele contasse, ela terminaria comigo e me odiaria. Ele fez isso porque ainda guarda rancor por eu ter jogado no seu lugar no Super Bowl.

— Deixe-me ver se eu entendi isso direito, você espancou seu colega até ele ser levado inconsciente para o hospital por causa de uma mulher?

— Não, não por causa de uma mulher. Por causa da mulher da minha vida, que agora me odeia e não quer me ver nem pintado de ouro.

— Meu Deus! — Tom passa a mão pelos cabelos grisalhos. — Você é mais idiota do que eu imaginava. Mulheres têm aos montes por aí, principalmente para um cara como você, elas se jogam aos seus pés, elas te idolatram e você não precisa nem mover um dedo.

— Eu a amo, com certeza se algum dia da sua vida você já amou alguém, sabe que nem todas as mulheres do mundo poderiam substituir aquela que se ama.

— Garoto estúpido. — Tom balança a cabeça e esfrega o rosto, cansado e frustrado.

— Não me arrependo do que fiz. — Digo.

— Claro que não. — Tom bufa e se recosta em sua cadeira. — A imprensa já descobriu sobre Elliot e está cercando o hospital, por sorte eles ainda não sabem que foi você quem o atacou e vamos tomar providências para que eles nunca descubram. Quanto a você, não posso te deixar sair impune disso.

— O que você vai fazer comigo?

— Você está suspenso. Mas para sua sorte, como Elliot está machucado e não pode jogar, e como eu não posso me dar ao luxo de ficar sem você e ele, você ficará fora apenas por um mês. Mas eu ainda quero você aqui treinando com o resto do time todo santo dia, entendeu?

— Sim.

— Não me importa que você seja um bom jogador, se você fizer mais alguma coisa, por menor que seja, as consequências serão sérias e irreversíveis. Entendeu?

— Sim, eu entendi.

ELLA

Meu corpo parece ter vida própria, é como se ele e a música fossem um só organismo. Meu coração parece acompanhar as batidas da música e eu juro que posso senti-la escorregando por entre meus dedos.

As luzes piscam sem parar, formas estranhas surgem no teto, prendendo minha atenção. As cores são vivas, alegres, é como se eu tivesse de repente caído em um mundo colorido e maravilhoso. Surreal.

Cada esbarrão, cada toque das outras pessoas, por mais breve que seja, me provoca arrepios como se alguém tivesse acabado de sussurrar em minha orelha.

Não quero parar, estou feliz e em harmonia com o ambiente a minha volta pela primeira vez depois de vários dias sombrios.

Poderia dançar a noite inteira, e é isso que eu pretendo fazer. Dançar até esquecer. Dançar até o amanhecer. Dançar até cair.

Meu corpo está febril, eletrizado. Estou quente, eufórica, excitada.

Mexo meu corpo sem reservas, de repente tudo parece desacelerar e se mover em câmera lenta, e então freneticamente.

Uma sombra surge, braços fortes me seguram. Olho para o rosto do homem a minha frente, o brilho em seus olhos sugere que ele está no mesmo estado de felicidade absoluta que eu.

Seu toque me deixa em chamas, envolvo seu pescoço com meus braços e junto nossos corpos. Ele esconde o rosto em meu pescoço, me dando um beijo que provoca um gemido necessitado em mim.

Nossos corpos se mexem em sincronia, movimentos sensuais, porém espontâneos. Sinto suas mãos deslizando pelo meu corpo, deixando para trás um rastro que queima.

Estou com tanto calor, tanto tesão, que acho que estou prestes a entrar em combustão.

Puxo a boca do meu companheiro de dança até a minha e o beijo, nossas línguas se acariciam enquanto nossas mãos viajam pelo corpo um do outro.

Está tão bom, quero mais. Muito mais do que isso. Estou pronta para perguntar se ele quer ir comigo até o banheiro quando de repente sinto outros braços fortes me puxando por trás.

Olho por cima do ombro e vejo o rosto de Chris parcialmente encoberto pela escuridão. Sua expressão é indecifrável, ele me olha com dureza, com raiva, e eu não consigo fazer outra coisa a não ser rir de sua seriedade.

— Ella! — Não ouço sua voz, mas consigo ler meu nome em seus lábios. Chris segura meu braço com força e começa a me puxar para fora da pista de dança

Tropeço e esbarro em outras pessoas tentando acompanhar seu ritmo, quando ele finalmente para estamos em um canto onde a música é abafada e a iluminação mais clara. Ele segura em ambos os meus braços e me encosta contra a parede, depois sobe as mãos e segura meu rosto, me fazendo olhar para seus olhos verdes.

— O que está acontecendo com você? — Ele pergunta, sua expressão séria e preocupada, mas não consigo me concentrar em suas palavras, minha atenção é desviada para a porta atrás dele.

— Aquela porta está dançando. — Digo apontando com o dedo.

— O que? — Ele faz uma careta.

— Ela está pulsando com a música, você não consegue ver?

— Ella...Ella, olhe para mim. Olhe para mim! — Ele segura meu rosto com força e me faz encara-lo.

— Tem cores saindo dela. — Digo, querendo virar o pescoço e ver o show de cores que está saindo pela porta, mas Chris não me deixa.

— Quanto você bebeu?

— Você está sentindo isso? — Pergunto cheirando o ar.

— O que?

— Amarelo, eu sinto cheiro de amarelo. — Começo a rir.

— Cheiro de...mas do que você está falando, que merda você tomou?

— Você sabe, alguns shots de tequila.

— Só isso?

— Não. Sua cara está engraçada. — Rio.

— Ella, me diga, você aceitou algo de algum estranho, você usou algum tipo de droga? — Ele pergunta com a voz urgente, me apertando ainda mais.

— Porque você está parecendo tão preocupado?

— Porque eu estou, merda! Me diga, o que mais você tomou?

— Eu...ann, eu tomei...tomei uma bala.

— Bala? Que tipo de bala? Quem que te deu?

— Um cara, ele se aproximou e disse que tinha algo que iria me fazer sentir muito bem, que iria me fazer esquecer de tudo o que eu não quisesse lembrar.

— Porra! — Chris xinga e dá um soco na parede, me fazendo dar um pulo ao mesmo tempo que solto um soluço, o que me faz rir.

— Não precisa se preocupar, tinha uma carinha feliz na bala igual a minha cara agora, vê? — Digo sorrindo.

Chris solta um suspiro e se afasta um pouco. Ele parece preocupado e irritado.

— Você tomou um comprimido de Ecstasy, Ella, não tem nada de engraçado nisso. Venha, vou te levar para casa.

— Não! Eu quero voltar lá e dançar mais, estava me divertindo muito.

— Nem morto eu vou deixar você voltar lá para dentro. — Ele diz com uma ferocidade que me assusta. — Essa não é você...tomando drogas, beijando estranhos, se vestindo desse jeito!

— O que tem de errado com a minha roupa? — Pergunto olhando para o meu vestido.

— O problema é que isso aí não pode ser considerado roupa, você está quase nua, Ella!

— Não exagere, Chris.

— Uma semana. — Ele se aproxima feroz, me fazendo recuar. — Esse é o tempo que você sumiu. Sua família, seus amigos, eu, todos estávamos preocupados com você! Ada me ligou e disse que você não estava indo para as aulas, não estava atendendo ao telefone e ninguém tinha permissão de subir no seu apartamento. Você acha mesmo que estou exagerando?

Ele deve ter percebido meu olhar assustado, pois se afasta e suaviza a expressão furiosa. Olho para baixo, me sentindo mal.

— Como você sabia que eu estava aqui?

— Eu fui até seu prédio, o porteiro me disse que você tinha chamado um taxi e tinha saído. Liguei para a companhia de taxi e os obriguei a me dizerem onde você tinha ido.

— Eles não podem fazer isso! — Digo indignada.

— Não, não podem, mas graças a Deus fizeram ou quem sabe o que poderia acontecer com você nesse estado.

— Eu só preciso dançar, me divertir, você não entende. — Meu corpo começa a tremer, não de frio, mas de vontade de se mover, de voltar para aquela pista de dança e me perder a noite inteira.

— Você bebeu demais e ainda por cima está drogada, você vai para casa e eu vou garantir que você fique bem, é isso que importa agora. — Chris me puxa debaixo do seu braço e me ajuda a caminhar para a saída.

Assim que saímos pela porta o vento gelado bate contra minha pele, me fazendo me encolher de frio apesar do meu corpo estar quente.

— Você deve estar morrendo de frio, fique com meu casaco. — Chris me solta para poder tirar o seu casaco, mas sem ele para me apoiar sinto-me tonta e acabo caindo no chão.

— Ai! — Solto um grito quando meu corpo se encontra com o chão sujo e duro.

— Ella! — Chris vem imediatamente até mim, se ajoelhando ao meu lado. — Se machucou?

Olho para minhas mãos e para meus joelhos que estão ralados e ardem.

— Droga! Desculpe, não deveria ter te soltado. Venha, levante. — Ele me oferece a mão, seguro-a e me preparo para levantar quando ouço risadinhas. Ambos olhamos na direção dos cochichos e vemos um grupo de jovens, homens e mulheres, me encarando e rindo, um deles está com o celular na mão tirando fotos minhas.

— A filhinha do senador com certeza sabe como festejar! — O cara segurando o celular debocha e eu viro o rosto, envergonhada.

— Deixa-a em paz! — Chris vocifera.

— Por quê? Ela merece isso, olhe o estado dela!

Chris avança para cima do cara, pegando-o pela roupa e fazendo as mulheres recuarem e os homens se posicionarem em defesa do amigo.

— Ela não merece nada disso, entendeu?

— Me solte!

— Apague as fotos dela agora. — Chris ordena em um tom de voz que somente um idiota não obedeceria.

— E se eu não quiser? — O cara pergunta, com certeza se sentindo muito corajoso com seus amigos por perto.

Apoio-me em minhas mãos machucadas e com dificuldade me levanto.

— Chris, vamos embora. — Peço com a voz fraca.

— Só um momento, querida. — Chris responde, distraído demais para perceber que me chamou como costumava fazer quando namorávamos.

O que acontece a seguir é uma sequência de movimentos rápidos. Chris arranca o celular das mãos do cara e o empurra para trás com força, antes que ele ou seus amigos possam reagir, Chris joga o celular no chão e pisa nele, quebrando o aparelho com o pé. Ele só para quando o celular está completamente arruinado, os pedaços espalhados pela calçada da boate.

— Que porra, cara? Meu celular!

— Compre um novo e vê se aprende a respeitar as mulheres, imbecil. — Chris diz tirando da carteira algumas notas de cem e jogando para o cara.

Então ele se vira e volta para mim. Sei que parece bobo, mas sinto como se a palavra 'herói' fosse apropriada a esse momento. Sorrio aliviada por saber que fotos minhas não estarão estampando os jornais amanhã.

— Venha, vamos para casa. — Chris retira seu casaco e me cobre. Ele me acompanha até seu carro, que está estacionado não muito longe dali.

— Obrigada. — Digo assim que ele entra no carro.

— Não me agradeça ainda, estou a um triz de te dar uma bronca daquelas. Tudo, simplesmente tudo que você fez hoje foi tão irresponsável que eu não sei nem por onde começar. — Ele diz colocando as mãos no volante. Cubro a boca e tento esconder uma risadinha.

— Não vejo o motivo da graça, Ella.

— Sinto muito.

— Vou te levar para casa, você inda está completamente bêbada e chapada.

— Tudo bem. — Repouso minha cabeça no banco.

— Ou talvez seja melhor te levar a um hospital.

— Não! Hospital não, por favor. — Peço.

— Tudo bem, então. Vamos para sua casa. — Chris liga o motor do carro e seguimos pelas ruas de Manhattan.

As luzes, os semáforos e os letreiros apenas estimulam minha visão, vejo as cores como nunca havia as enxergado antes. Vejo algo no céu também, algumas sombras flutuantes em formatos engraçados.

— O que foi agora, porque está rindo? — Chris pergunta.

— Não é nada. — Responde me sentindo meio grogue, acho que o efeito da bala está passando. Isso me deixa triste.

Chris estaciona em frente ao meu prédio e me ajuda a sair do carro, ele me ajuda a subir até meu andar e a abrir a porta. No momento em que dou o primeiro passo para dentro começo a me sentir estranha, mas não de um jeito bom como foi na boate.

— Muito bem, vamos cuidar desses arranhões, devem estar doendo. — Ele me leva até o sofá e eu caio meio que deitada nele.

Chris some na direção do banheiro e logo volta carregando um paninho e um frasco.

— Não, vai arder. — Reclamo.

— Desde quando você virou uma bebezinha, hein? — Ele pergunta sentando-se na mesinha a minha frente.

— Eu não sou uma bebezinha. — Respondo.

— Então não reclame e me deixe cuidar de você.

— Tudo bem. — Ajeito-me e estendo as mãos, com as palmas arranhadas para cima.

Chris abre o frasco e joga um pouco do liquido no pano, um pouco hesitante segura minhas mãos na sua e começa a limpar meus arranhões. Arde, mas não digo nada, não gostei quando ele disse que sou uma bebezinha.

— Muito bem, agora os joelhos. Posso? — Ele pergunta apontando para minhas pernas. Concordo com a cabeça e ele segura minha perna. No momento em que sinto seus dedos em mim, um arrepio percorre meu corpo, ascendendo novamente aquele calor que senti na boate.

Merda, porque estou com tanto tesão?

Chris desliza seus dedos por meu pé, tirando meu sapato de salto e colocando-o no chão, então faz com meu joelho o mesmo que fez com minhas mãos, e depois faz o mesmo em minha outra perna.

Mesmo depois de terminar de limpar meus machucados, suas mãos permanecem em minhas pernas. Ele levanta o rosto e nossos olhos se encontram.

— Ella... — Ele sussurra meu nome e é o que basta para que eu perca o resto das minhas reservas. Agarro sua camisa e puxo-o para mim, Chris vem tão faminto quanto eu e me beija com desejo. Deixo meu corpo cair no sofá e ele se deita sob mim, me pressionando com seu corpo forte e rígido.

— Senti tanta falta de beijar você.

— Faça amor comigo, Chris. — Suspiro em seus lábios e deslizo minha mão até a frente da sua calça.

— Não. — Ele segura minha mão, me parando. — Sinto muito, por mais que eu queira, não podemos.

— Por quê? — Pergunto choramingando quando ele se afasta.

— Porque você está fora de si, vulnerável, e eu não posso me aproveitar de você.

— Mas é exatamente isso que eu quero que você faça, se aproveite de mim.

— Você sabe qual é um dos efeitos da droga que você tomou hoje? Ela faz você ficar extremamente sensível, com tanto tesão que você quase que transaria com qualquer um que aparecesse na sua frente. Você não me quer, Ella, é a droga que te faz achar que sim.

Penso no que ele disse e lembro-me de como estava pronta para transar com aquele cara na boate. Eu não o conhecia, nem sequer sabia seu nome, mas eu sei que se Chris não tivesse aparecido, nós teríamos feito. Eu simplesmente queria demais.

Só de pensar no que eu poderia ter feito, me sinto doente.

— Ah droga! — Apoio a cabeça em meus joelhos e solto um gemido.

— Você está bem?

— Não, acho que vou passar mal. — Assim que termino de dizer essas palavras sinto a ânsia, então saio correndo em direção ao banheiro com as mãos na boca.

Só tenho tempo de me jogar no chão e levantar a tampa e começo a vomitar tudo o que está em meu estômago, ou seja, tequila.

Minha garganta arde como se eu tivesse tomado fogo, o gosto é horrível e meu corpo todo treme em espasmos enquanto não consigo parar de vomitar.

Sinto quanto Chris segura meus cabelos e acaricia minhas costas carinhosamente.

— Vá embora, não quero que me veja assim.

— Eu vou ficar. — Ele diz simplesmente, estou pronta para insistir que ele vá quando começo a vomitar novamente.

Chris permanece ao meu lado o tempo todo, segurando meu cabelo e me dizendo que tudo vai ficar bem.

Depois de vomitar até o que eu não tinha em meu estômago, Chris me alcança a toalha e eu limpo a boca. Levanto-me com sua ajuda, fecho a tampa e aperto o botão da descarga.

— Você está bem? Quer algo? — Ele pergunta e faço que não com a cabeça.

— Tudo bem, então que tal você ir se deitar? Você está pálida.

— Na verdade tem algo que eu quero, preciso tomar um banho. — Digo me sentindo fraca.

— Tudo bem, vou te esperar lá fora e...

— Não sei se consigo ficar em pé, estou me sentindo muito fraca. Será que você pode me ajudar?

— Ohh! Bem, eu...hum, acho que tudo bem.

Os próximos minutos são constrangedores, mais para Chris do que para mim, estou me sentindo tão cansada e tão inútil que não tenho mais espaço para sentir vergonha. Mas ele parece realmente incomodado enquanto me ajuda a tirar minha roupa.

Ele tira seus sapatos e dobra as barras da calça, entramos ambos no chuveiro – eu somente de calcinha e sutiã e ele totalmente vestido – e tenho que me apoiar o tempo todo ou em Chris ou na parede.

Entro embaixo d'água e molho meus cabelos e meu corpo, deixo a água cair por um momento enquanto fico parada tentando me livrar dessa sensação de náusea e fraqueza.

Chris é muito gentil comigo, ele lava meus cabelos enquanto me apoio com ambas às mãos na parede a minha frente, ele os enxágua e me alcança o sabonete para que eu lave meu corpo. Ele pacientemente me sustenta enquanto me lavo e me enxaguo, depois quando termino o banho, ele me alcança uma toalha, ajuda a secar meus cabelos e a enrola em volta do meu corpo antes de sair do banheiro para que eu termine sozinha.

Ele fecha a porta atrás de si quando passa por ela, retiro minha calcinha e sutiã molhados e jogo em um canto do chuveiro e termino de me secar.

— Pode entrar. — Digo ao ouvir a batida na porta.

— Suas roupas, consegue se vestir sozinha?

— Acho que sim, obrigada. — Ele me entrega meu pijama e fecha a porta.

Visto-me e então saio do banheiro, Chris me espera logo do lado de fora da porta e me acompanha até a cama.

Deito-me confortavelmente e Chris se senta ao meu lado.

— Está se sentindo melhor?

— Um pouco.

— Não se preocupe, vou passar a noite aqui caso você precise de mim. — Ele diz. Sinto meus olhos pesados e um pequeno sorriso escapar pelo canto dos meus lábios.

— Obrigada, por tudo.

— De nada. Agora tente dormir, você precisa descansar, pequena.

Abro os olhos em alerta e levanto-me tão rápido que o enjoo volta.

— Do que você me chamou?

— De princesa. — Ele responde sem entender minha reação. Não digo nada, apenas deito-me e fecho os olhos.

Pequena.

Ele me chamava de pequena, e agora eu estou ficando louca porque estou ouvindo coisas.

Ainda de olhos fechados, sonolenta, quase entrando no mundo dos sonhos, sinto Chris acariciar meus cabelos e então beijar minha testa.

Sinto o colchão balançar quando ele se levanta e antes que eu caia completamente na escuridão, posso jurar que o ouvi dizer:

— Te amo.

***

Acordo de um pesadelo no meio da madrugada. Assustada e com suor molhando minha testa. Minha boca está seca e preciso desesperadamente de um copo d'água.

Levanto-me e sinto-me tonta, levo a mão até a testa e fecho os olhos, esperando a tontura ir embora.

Levanto-me e caminho lentamente até a porta, percorro o pequeno corredor até chegar à sala, onde vejo Chris deitado em meu sofá, ainda acordado e com uma expressão pensativa.

Ele deve perceber minha presença, pois vira o rosto e olha diretamente para mim.

— Ella... — Ele se levanta e vem até mim, preocupação estampada em seu rosto. — Está tudo bem? Como está se sentindo?

— Como lixo. — Respondo com um gemido nauseado.

— Está precisando de algo?

— Só vim buscar um copo d'água.

— Volte para cama e eu te levo a água e talvez alguns comprimidos para enjoo, que tal? — Ele estende a mão e acaricia meu braço, seu toque é quente e reconfortante.

— Acho que devo ter alguns comprimidos na gaveta do banheiro.

— Tudo bem, vou pega-los e já te levo.

Volto para meu quarto e para o conforto da minha cama. Quando Chris aparece, está carregando o meu copo d'água e um frasco de comprimidos.

— Aqui está. — Ele senta-se na cama ao meu lado. Bebo a água e tomo dois comprimidos para enjoo.

— Não estava conseguindo dormir? — Pergunto colocando o copo na cômoda.

— Não, tem muita coisa na minha cabeça agora, não consegui desligar e dormir.

— Eu imagino, com o seu trabalho no hotel e agora a sua candidatura...

— Não, não estou falando do meu trabalho, Ella. Estou falando de você, estou preocupado com você. — Ele diz e eu desvio o olhar com vergonha.

— Estou bem. — Minto.

— Eu achei que você e o Vince estivessem namorando... — Me encolho e estremeço, só de ouvir seu nome dói. — Mas então eu vejo você beijando aquele cara na boate. O que aconteceu?

— Não quero falar sobre isso.

— Vocês terminaram?

— Por favor, não insista.

— Ella, olhe para mim. — Ele segura meu queixo e tenta virar meu rosto, mas não permito.

— Olhe para mim. — Ele repete, com mais autoridade dessa vez, e eu o olho. — Aquele cara te fez algo? É por isso que você está agindo assim? É por isso que você não tem assistido às aulas e está se comportando como se não fosse você?

Encaro os olhos verdes e preocupados de Chris, ver o quanto ele se importa comigo só me faz sentir pior sobre o modo que tenho agido.

— Não quero falar sobre isso. — Digo, minha voz se quebrando. Sinto meus olhos se enxerem d'água rapidamente.

— Ella, por favor, se aquele cara te faz algo, me diga. Não posso permitir que ninguém te machuque.

— Eu não...não consigo, sinto muito. — Digo e então não consigo mais me controlar e começo a chorar.

Chris prontamente vem ficar ao meu lado e me envolve com seus braços, me puxando para si. Deito a cabeça em seu peito e deixo que ele me conforte enquanto choro.

Seus braços são tão familiares e parecem tão seguros, mas nem isso serve para me acalmar enquanto choro compulsivamente.

— Sinto muito.

— Não sinta, Ella, eu estou aqui por você. Deus, a próxima vez que eu vê-lo juro que vou...

— Você nem sabe o que ele fez.

— Não importa, ele obviamente fez algo que te machucou, só por isso ele merece sofrer.

Respiro fundo e me preparo para lhe contar o que aconteceu. Sinto que vou explodir e que preciso compartilhar isso com alguém, e Chris tem sido tão atencioso comigo, ele só quer o meu bem. Ele vai me escutar e vai ficar aqui por mim.

— Foi uma aposta. Ele apostou com os amigos que conseguiria me levar para cama. — Digo baixinho.

— Ele o que? — Chris quase grita, sinto seu corpo ficando tenso. Com a cabeça em seu peito, escuto quando seu coração começa a bater mais rápido com a raiva.

— Tudo o que ele me disse ou fez foi mentira, tudo fazia parte do seu plano. Ele nunca me amou ou pelo menos gostou de mim. Eu descobri a verdade quando recebi um envelope com as mensagens que ele trocou com os amigos, Chris...ele disse coisas horríveis de mim, ele me xingou e me humilhou. — Choro, manchando toda sua camisa com as minhas lágrimas.

— Desgraçado! Vou mata-lo! — Chris diz furioso.

— O pior é que tudo foi mentira para ele, mas para mim não. Eu me apaixonei por ele.

— Shhh, vai ficar tudo bem. — Chris me abraça apertado e acaricia meus cabelos.

— Eu o amo com todo o meu coração. — Sussurro. As lágrimas não param de cair e meu coração não para de doer. A decepção, a magoa e a tristeza são quase enormes demais para se aguentar.

— Eu entendo que deve estar sendo doloroso demais, que você só queira esquecer, mas você não pode se afastar daqueles que te amam, você não pode jogar fora o seu futuro e agir como você fez hoje, usando drogas e bebendo até cair.

— Eu sei.

— Você tem que seguir em frente, porque se você continuar sofrendo, se você continuar se destruindo desse jeito...você estará deixando que aquele cara te transforme em uma vítima, e você não é uma, Ella. Você é muito mais forte do que isso, eu sei que é.

— Está doendo muito. — Agarro sua camisa e escondo meu rosto em seu peito, abafando os soluços constantes e o choro.

— Eu sei, mas vai passar, eu prometo. Chore tudo o que você tiver para chorar hoje, amanhã será um novo dia e eu estarei aqui com você.

Faço o que ele me diz. Choro pela próxima hora sem parar, choro até meus olhos doerem e eu não possuir mais lágrimas para derramar. Chris me segura em seus braços o tempo todo, repetindo com a voz mansa:

— Estou aqui, estou aqui por você.

Me apego as suas palavras com desespero. Vou chorar hoje, mas amanhã será um novo dia, e eu não vou mais deixar que Vincent me destrua.

Eu vou varrê-lo da minha mente para sempre e vou seguir em frente.

VINCE

Bato a porta do carro com força e caminho determinado até a entrada do prédio. Hoje vão me deixar subir ou eu juro que vou quebrar tudo o que ver na minha frente, isso inclui a cara do maldito porteiro que me barrou na entrada todas as centenas de vezes que eu tentei falar com Ella.

Procurei-a em suas aulas, mas ela não estava lá, não tive coragem de abordar Ada ou seu outro amigo, Theo. É obvio que eles nunca levariam um recado meu até ela.

Procurei-a em seu apartamento, mas em nenhuma das vezes tive permissão para subir, eles nem sequer ligaram para ela, apenas disseram que Ella tinha dado ordens para não deixar absolutamente ninguém subir e nem incomoda-la pelo interfone.

Esperei no lado de fora durante horas quase todos os dias, mas ela nunca saiu do apartamento, pelo menos não quando eu estava lá.

Mas hoje não vou aceitar um não como resposta.

Sinto que estou enlouquecendo aos poucos, cada dia, cada minuto sem ela é como se um pequeno pedaço do meu coração fosse sendo arrancado de mim, caindo como a pétala de uma flor que está morrendo.

Assim que entro no prédio e o cara atrás do balcão da recepção me vê, ele faz uma careta e solta um suspiro impaciente.

— Você de novo não.

— Sim, eu de novo. E saiba que dessa vez eu não vou embora até que eu possa subir e falar com a minha namorada. — Digo com veemência.

— A Srta. Henderson deu ordens muito claras de que não queria ser incomodada, como ela ainda não retirou essa ordem, não há nada que eu possa fazer pelo senhor.

— Você poderia pelo menos ligar para ela, já se passou uma maldita semana, ela pode ter mudado de ideia.

— Se ela tivesse mudado, ela teria falado alguma coisa.

— Olhe, eu não vou embora daqui até que você me deixe subir, entendeu?

— Então terei que chamar a segurança.

— E eu farei um escândalo. É isso o que você quer, um escândalo? Porque se você quiser, eu faço um, pode apostar que eu faço. — Digo irritado e dou um soco no balcão.

— Vou chamar a policia, será por para o senhor. — Ele diz pegando o telefone.

— Porque você não aproveita que está com o telefone em mãos e liga para ela, hum? Por favor, eu estou ficando louco, estou preocupado e preciso falar com a Ella agora.

— Isso pode me complicar, ela deu ordens diretas para que...

— Eu sei, eu sei. Pode colocar a culpa em mim, diga que eu fiquei vindo aqui todos os dias e você ligou porque não me aguenta mais. — Vejo a indecisão em seus olhos, ele está tomando uma decisão, pensando quais seriam as consequências de desobedecer ordens daquela que ajuda a pagar seu salário.

— Tudo bem, eu ligo. Mas se ela disser que não quer que o senhor suba, então o senhor terá que ir embora sem fazer nenhum escândalo.

— Tudo bem, combinado.

Observo nervoso enquanto ele espera que Ella atenda a chamada, e quando ela atende meu coração dá um salto.

— Bom dia! O senhor...

— Price. Vincent Price. — Digo.

— Vincent Price está aqui embaixo e gostaria de subir...aham, entendo. Muito bem, então. — Ele desliga e se vira para mim.

— Pode subir, senhor. — Ele diz e eu quase grito de alivio.

Saio correndo em direção aos elevadores e aperto o botão do andar de Ella. Mal posso acreditar que ela aceitou me ver, talvez ela esteja mais calma e disposta a ouvir o que tenho a dizer.

Meu Deus, agora é a minha chance, tenho que provar que estou falando a verdade.

— Droga, deveria ter comprado flores! — Falo sozinho, mal conseguindo conter a ansiedade e o nervosismo.

Preciso fazê-la acreditar em mim, preciso tê-la de volta ou não sei o que vou fazer.

Ensaio o que quero falar para ela em minha cabeça, assim que ela abrir a porta vou dizer tudo o que quero dizer, não posso dar oportunidade para que Ella mude de ideia e me mande embora.

O elevador para e as portas se abrem. Saio para fora e caminho até sua porta. Levanto a mão, pronto para bater, mas a porta se abre antes que eu tenha a oportunidade.

— Ella, eu... — Começo, mas me calo, chocado com a visão de Chris parado no batente da porta como se fosse dono do lugar. — O que você está fazendo aqui?

— O que você, seu bastardo, está fazendo aqui? — Ele pergunta.

— Onde está Ella? — Pergunto tentando olhar para dentro do apartamento, mas ele dá um passo para frente e fecha a porta atrás de si.

— Dormindo. — Ele diz cruzando os braços.

Não! Não, não pode ser. Ella não pode ter feito isso, ela não pode ter transado com Chris. Eles não podem ter voltado. Não, porra!

— Dormindo, como assim dormindo? Você passou a noite aqui?

— Não vejo como isso seja da sua conta, mas sim, passei.

— Com Ella? — Fecho os punhos com força, uma fúria até então desconhecida ameaça romper de dentro de mim.

— Sim, com a Ella.

— Filho da puta! — Desfiro um soco em sua direção, com força e puro ódio. Só de imagina-lo tocando-a...

Chris é ágil, mais ágil do que eu poderia ter imaginado. Ele não simplesmente desvia do meu soco, ele segura meu punho antes que acerte sua cara e o aperta com força, esmagando meus dedos.

— A única razão para que eu o tenha deixado subir, é para que eu pudesse olhar nos seus olhos e dizer o que tenho para te dizer, babaca.

— Me solte, idiota! — Ele larga meu punho, mas suas mãos empurram meu peito, me fazendo dar alguns passos para trás.

— Nunca mais, e eu disse nunca mais ouse procurar por ela. Se eu souber que você tentou entrar em contato com Ella, eu vou fazer o que deveria ter feito no momento em que abri aquela porta, que é acabar com você pelo que você fez com ela.

— Você não me diz o que fazer, eu não vou parar de procura-la e sabe o porquê? Porque eu a amo.

— Não acredito em você.

— Não é você quem tem que acreditar em mim, é Ella.

— Ella também não acredita em você.

— Ela vai, assim que eu conseguir explicar como tudo aconteceu.

— Você não vai, você não vai chegar perto dela, eu não vou permitir que você chegue perto dela. Você nunca mais irá vê-la, entendeu?

Suas palavras me dão medo, muito medo. Mesmo sabendo que ele não tem esse poder, ainda sinto meu corpo tremer de terror só de imaginar nunca mais poder ver ou falar com a minha pequena.

— Eu a amo e nem você nem ninguém irá me impedir de tentar tê-la de volta.

— Você tem noção do quanto a machucou? Do quanto a quebrou?

— Eu sei que...

— Não, você não sabe! Você a destruiu, você roubou a sua inocência, o seu brilho. Ela não é mais a mesma e é tudo sua culpa. Vá embora daqui agora ou eu juro por Deus que irei mata-lo! — Sua voz carrega a promessa de que ele não está brincando, seus olhos são ameaçadores e seu rosto está vermelho de ira.

— Eu vou, mas não vou desistir. — Viro-me e caminho para longe. Meu orgulho ferido, mas acima de tudo, meu coração foi ferido nessa tentativa frustrada de tentar falar com Ella.

Ella deixou Chris entrar novamente na sua vida e isso machuca pra caralho. Não quero pensar nisso, mas imagens dos dois juntos me vêm à mente mesmo com todo o esforço que faço para não pensar nos dois juntos.

Não posso suportar a ideia dela com outro homem tanto quanto não posso suportar a ideia de viver sem ela.

As ameaças de Chris não vão me intimidar, não vou desistir.

Abro a porta de casa. O quieto e vazio apartamento que eu chamo de lar. Tudo parece sem graça, tudo parece errado. A minha vida parece errada agora que Ella não me quer mais.

Estou me sentindo tão perdido, tão assustado. E se eu não conseguir fazer com que ela acredite em mim?

Ver Chris no apartamento de Ella só serviu para aumentar meu desespero, meu medo de que ela nunca me perdoe.

Sinto que estou muito perto de deixar o desespero tomar conta de mim. Preciso dela. Preciso ver seus olhos, ouvir sua risada, sentir seu cheiro e tocar seu corpo. Preciso dela mais do que qualquer coisa.

Vou até meu quarto, paro ao lado da cama e pego a foto na cômoda que Ella me deu no Natal.

— Te amo tanto, pequena, tanto. — Levo a foto até meu coração, como se isso fosse fazer com que ela sentisse todo o meu amor e fosse voltar para mim.

Sinto uma lágrima solitária escorrer por meu rosto. Sento-me na cama e observo a foto, o seu sorriso doce, o brilho que Chris disse que eu apaguei.

Tenho medo de vê-la agora, não sei qual seria o efeito em mim se eu a visse mudada, tão machucada e infeliz, sabendo que é por minha maldita causa.

Levo um pequeno susto ao sentir meu celular vibrando no bolso. Olho o nome que pisca no visor. É como se ela soubesse que eu preciso dela agora.

Mamãe chamando...

— Alô, mãe?

— Oi, querido! Como você está?

— Ah, mãe, que bom que a senhora ligou!

— Porque, aconteceu algo?

— Sim. — Minha voz treme e mais lágrimas deslizam por meu rosto, algumas caindo no vidro do porta retrato em meu colo.

— O que foi, querido? Você está chorando?

— É a Ella, mamãe.

— Oh meu Deus, aconteceu algo com ela? — Mamãe pergunta preocupada

— Não, quer dizer, nada como um acidente ou algo do tipo.

— Então o que é, menino? Estou ficando preocupada.

— Ela terminou comigo. — Limpo meu rosto, mas não adianta, as lágrimas teimosas continuam caindo.

— Mas...mas porque? Não entendo, vocês estavam tão bem.

— Eu fui um idiota, mãe. Eu a magoei.

— Como assim, o que você fez?

— Eu fiz uma maldita de uma aposta. Antes de conhecê-la melhor e de me apaixonar, eu apostei com alguns caras do meu time que eu conseguiria leva-la para cama. Mas eu me apaixonei de verdade por ela e desisti desse joguinho idiota, só que ela descobriu alguns dias atrás e agora me odeia.

— Eu...eu não sei o que dizer. Estou tão decepcionada com você, filho.

— Eu sei. — Fecho os olhos e choro mais, sempre quis que minha mãe tivesse orgulho de mim, ouvir suas palavras machucam, mesmo que eu as mereça.

— Você já disse que a ama de verdade, que a aposta foi no começo e...

— Sim, sim, eu disse. Mas ela não acredita em mim, ela me odeia, me disse que sou um monstro e que não consegue nem ficar perto de mim.

— Há quanto tempo foi isso? Talvez você só precise lhe dar algum tempo, o que você fez foi muito errado e tenho certeza que a magoou profundamente, mas com o tempo, se ela te ama, ela vai te perdoar.

Lembro-me do modo que Ella me olhou quando descobriu a verdade e digo:

— Ela não vai me perdoar.

— Como você sabe disso?

— Porque nem eu consigo me perdoar.

— Isso quer dizer que você vai parar de tentar? — Mamãe pergunta.

— Nunca. — Sussurro.

— Esse é o meu garoto. — Ela diz e quase posso sentir o sorriso em sua voz.

Nunca. Penso. Nunca. 

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