L A R A
Eu não sei o que aconteceu, mas o fato da Lavínia estar tentando ser minha terapeuta mostra o quanto eu estou péssima.
Os concelhos dela sempre foram bem malucos! Do tipo: se você estiver em uma rua sem saída, pule o muro porque é mais fácil do que voltar novamente pro mesmo lugar.
Talvez faça um pouco do sentido, mas e se o muro foi muito alto? Você cai, bate a cabeça e morre quando poderia estar vivo, voltando lá pro início da rua.
— Agora, cara jovem livre e triste— ela se ajeita na cadeira ao meu lado, ajeitando o óculos sem grau que fez questão de colocar— eu sei que tô sexy assim, mas por favor não me encare muito.
— Na verdade eu só tô pensando que merda você tá fazendo e onde achou esse jaleco. Terapeutas nem usam jaleco, Lavínia.
— Ah, eu peguei emprestado com minha ficante número oito.
— Você tá ficando com quem agora? Uma médica.
— Farmacêutica.
— Entendi...
— Ela tem uns peitões— morde a tampa da caneta— e uma bundona também.
— Ok, me poupe dos detalhes.
— O armário está aberto, pula pra fora dele e venha ser feliz colando velcro.
— Puta merda, Lavínia!— me jogo pra trás, deitando na cama e colocando uma almofada no meu rosto. Mó vontade apertar pra ver como é ficar sem ar até morrer.
— Vamos lá, se ajeite que vamos falar sério agora— da um chute na minha perna e eu me sento novamente, ajeitando minha postura— nome, idade e quantos centímetros tem o pau do cara que tá te deixando assim?
— Pelo amor de Deus, Lavínia!
— Amiga, eu quero te ajudar.
— Mas assim não vai conseguir!
— Eu nunca fiz terapia e não sei como funciona.
— Isso explica MUITA coisa.
— Ué, não entendi— se faz de sonsa.
— Oi, vadias, cheguei— o Igor invade meu quarto, jogando a mochila em cima da cama e se sentando do meu lado.
Tá, qual a dificuldade que eu tenho em fazer amigos normais?
— Você acabou de invadir uma sessão de terapia!— a Lavínia chuta a canela dele— bicha invasiva!
— Não me xinga, peste— chuta ela também— mas quem é a terapeuta, você?— olha todo debochado pra ela.
— A Lara tá sofrendo por homem e eu aposto todas as minhas fichas que é I Gabriel.
— Mas é ele mesmo, aquele gostoso, nossa, ele poderia me trair e eu pediria desculpas.
— Se você não tem amor próprio, eu tenho, tá?— digo e ele finge joga pro lado um cabelo que nem existe.
— Amiga, sério mesmo, o que ele fez?
— Sim, eu ia fazer essa pergunta agora, o que ele fez?— a Lavínia repete a pergunta do Igor.
— Ele me levou pra São Paulo, curtimos alguns show juntos, fomos pro Guarujá, conheci os pais dele e... E aí ele disse que tudo tinha que terminar porque estava confuso— conto a verdade e observo os dois de boca aberta.
— Confuso com exatamente o que?— o Lucas pergunta.
— Com o que tava sentindo por mim, ele teve um relacionamento mega conturbado e parece que ficou traumatizado.
— Ah sim, com a irmã do Neymar, eu sei porque pesquisei e eles realmente eram um casal ioiô, mas... Faz um tempo que já acabou de vez, mas é justificável ele estar com medo de se envolver novamente porque quando a gente tem algum relacionamento traumatizante parece que todos os outros vão ser iguais.
— Nossa, cê falou bonito agora— a Lavínia diz.
— Eu mando bem sempre.
— Mas assim, ele deu um pé na bunda da Lara, da LARA, o que esse cara tem na cabeça?
— Cifres— o Igor diz— aproveita que o natal tá chegando e se junta a ele, Larinha, vocês juntos podem decorar as galhas que tem na cabeça.
Eu juro que não queria rir, mas fica praticamente impossível depois dessa.
— Cês são otários demais, cara.
— Mas o lance é, ele tentou entrar em contato com você depois que tudo aconteceu?— a Lavínia pergunta.
— Muitas vezes e eu ignorei.
— Você gosta dele?
— Gosto, mas tô com ódio.
— Sente saudades?
Porra, mais do que deveria sentir.
— Sim.
— Então, caralho, vocês são dois adultos, você também é confusa, assim como ele, dá uma oportunidade pra ele falar.
— Ela tem razão, Lara— o Igor diz— dá uma chance pra ele falar tudo que sente, colocar pra fora todos os sentimentos e pergunta o que realmente sente por você.
— E se ele não sentir nada?
— Se ele não sentisse nada não estaria tentando entrar em contato contigo.
— Mas... Cacete, é complicado— me deito— eu gosto dele mas sinto que se a gente voltar a ficar, a qualquer momento ele pode me dar um pé na bunda de novo.
— Aí você também dá um pé na bundona dele, gata— ele diz— tá cheio de homem bonito e gostoso por Arraial, ok que ele é inesquecível, mas você supera.
— E tem mulheres também— a Lavínia diz.
— Para de tentar puxar a Lara pra esse mundo xerecudo, ela sabe que o que é bom começa com a letra P.
— E o que mais dá dor de cabeça também, olha eu aqui, não sofro por ninguém.
— Você que faz as pessoas sofrerem, bicha má.
— Vou fazer o que se sou incrível e gostosa?
— Ok, vocês tem razão— me sento novamente.
— Em que exatamente?
— De dar uma chance pra ele explicar tudo, Igor.
— Isso aí, mas primeiro transa porque pode ser a última vez dependendo do rumo que a conversa tomar.
— Na verdade acho melhor não— a Lavínia diz— primeiro conversa e se ele merecer, você transa.
— Imagina se esse homem tá tão na fossa a ponto de não ter ficado mais com ninguém? Ai que delícia, Brasil, você tá muito ferrada, Lara.
— Eu já tô toda ferrada mesmo— dou de ombros— no sexo vai ser o de menos.
— Misericórdia, você não era assim antes.
De repente a porta é aberta pelo Rodrigo e Mateus, dois amigos. Ambos estão de cabelo descolorido.
— Qual a onda de invadirem meu quarto assim do nada?— pergunto.
— A porta tava aberta e também falaram que tava tendo confraternização— o Rodrigo diz, vindo me dar um abraço— oi, gata.
— Oi, cabeça de manga chupada.
— Mano, uma cota no salão, a cabeça toda pinicando pra no final tu me chamar assim?— me olha todo puto e eu caio na gargalhada, dando um abraço no Mateus.
— Mas tá parecendo mesmo— a Lavínia diz— tava querendo fazer no meu também.
— Nem fodendo que vai— digo— teu cabelo é lindo, não faz isso.
— Então me dá um beijo.
— Ela não desiste, né? Incrível— o Mateus ri, se deitando no chão.
Se eles soubessem o que já rolou... As vezes eu tenho a sensação que foi um sonho, não da pra acreditar que eu realmente fiz aquilo.
— Mas qual é o papo?— o Rodrigo se joga na minha cama e eu aproveito pra deitar a cabeça em sua barriga.
— Gabigol— o Igor joga na roda.
— Parou de vir pra cá, né? Moleque mó gente boa, pena que joga no Flamengo.
— Qualé, Gabigol é foda— o Mateus diz— não tá mais com ele, Lara?— pergunta e eu nego com a cabeça.
— Ih caralho, chegou a minha hora— o Rodrigo brinca— vai virar o Vasco, hein.
— Deixa de ser otário— dou um tapa na mão dele.
— Só uma chance pra eu te mostrar que posso sim ser o amor da sua vida.
— Eiiiiita porra— o Igor começa a rir.
— EU TÔ MALUCO— meu irmão entra no quarto do nada.
Caralho, eu tenho que começar a fechar a porta da minha casa.
— EU TÔ PIRANDO— ele começa a correr de um lado pro outro e vai lá pra varanda— EU TÔ MILIONÁRIOOOOOOOOOO E FAMOSO.
Tanto eu quanto meus amigos estamos com um grande ponto de interrogação bem no meio da cara nesse exato momento.
— Que porra é essa?— o Igor me olha.
— Sei lá, cara— me sento no colchão e observo meu irmão correndo com os dois braços pra trás e voltando pro quarto, subindo em cima da cama e começando a pular.
— MEU. VÍDEO. BATEU. DEZ. MILHÕES.— diz pausadamente— DEZ MILHÕES.
— CARACA— o Igor se levanta e começa a pular junto com ele— que vídeo?— para a animação.
— Um vídeo de amizade com o Gabriel, sabe aquele vídeo que o ovo começa a rolar pelo telhado e na hora de cair aparece uma foto? Pois então, coloquei uma foto minha com o Gabi, é bem de melhores amigos e tals.
Calma aí, eu acabei de ouvir isso mesmo?
Pego meu celular na hora, entro no perfil dele e clico no último video postado no perfil, vendo que é exatamente desse jeitinho que ele falou.
Em dois dias já tem mais de dez milhões de visualizações e uns vinte mil comentários, fora as curtidas.
Mostro pro resto do pessoal e eles ficam de boca aberta assim como eu.
— Que tipo de geração que estamos vivendo? Um vídeo com esses feios bater tudo isso de visualizações?— fico desacreditada.
— É o poder, respeita porque dói menos— meu irmão cantarola— o Gabi compartilhou no story dele, riu muito.
— Fred, posta uma foto comigo no story e me marca— o Igor fala.
— Dez conto e eu faço isso.
— Cinco.
— Quinze ou nada.
— Seu ladrão, mas tudo bem, tira aí porque eu preciso ser visto e você por enquanto é o único famoso que eu tô tendo contato.
Aí eles realmente tiram a foto e o Fred marca o perfil do Igor.
Ninguém bate bem nessa casa, me incluo nisso.
Paro pra ler alguns comentários, os pais do Gabriel, amigos, um pessoal que parece ser jogadores do Flamengo e até o próprio Gabriel deixaram um comentário lá.
Eu tô passada, chocada e... Meu irmão tá famoso.
Não é por nada não, mas o próximo capítulo, MEUS AMORES!!!!! Tem SURTO, tá???? Preparem-se que vem aí.