A menina dos cabelos de neve

By DidiVeloso

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Aneline, uma órfã de 15 anos, vive em um mundo onde a realidade é cinzenta, mas sua imaginação é um jardim de... More

Capítulo I - Chegada a Verzin
Capítulo II - Nova família
Capítulo III - Uma Inimizade.
Capítulo IV - Dia de igreja
capítulo V - Admirador secreto
Capítulo VI - Um dia de escola
Capítulo VIII - A festa

Capítulo VII - Encantador Salvador

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By DidiVeloso


A lua surgia majestosa no céu, que já estava desprovido de nuvens e iluminava suavemente as ruas de Paradise. A adulta preparava o jantar com alegria, pois tinha decidido fazer um jantar especial - por ser o primeiro dia de escola da jovem de cabelos brancos-.

Ao percorrer os mercados da feira em busca dos ingredientes perfeitos, Rose imaginava a reação da filha ao provar a refeição que ela preparava com tanto amor. Os seus olhos brilhavam de alegria, antecipando o momento em que Aneline chegaria em casa, provavelmente acompanhada por Henry. Rose procurou comprar os ingredientes que iriam agradar o paladar da filha. Na esperança de ver a jovem a entrar pela porta, com um sorriso largo nos lábios enquanto expressava-se de forma literária o tão "esplêndido dia" que tivera. Pela janela, conseguia ter a visão do exterior e cada vez mais a ansiedade tomava-lhe conta do corpo. À medida que o jantar tomava forma na mesa, Rose esbanjou um grande sorriso quando ouviu a voz do marido e a porta de casa foi aberta. Assim que os olhos dela encontraram os de Henry e não os avelã, a sua afeição se desfez.

— Henry, onde está a Aneline?

Henry teve uma reação de surpresa e uma sobrancelha arqueada em sinal de confusão, com a pergunta da esposa.

— Como assim? Era suposto ela estar aqui?!

A família Benetton reunia-se para o jantar, desfrutando de um momento tranquilo em convívio após o primeiro dia de aulas de Gabe e Christian. Glory Benetton e Ben, conversam e questionam o filho loiro, já que tinha sido o único a descer até a sala e juntar-se a eles. Christian pousou o lenço sobre o colo imitando o pai.

— Como foi o primeiro dia, filho?

O loiro o respondeu:

— Foi muito bom meu pai. Fizemos apresentação e conhecemos um pouco um dos outros colegas. A professora Clark falou discursos politicamente corretos e de bom aproveitamento. Agradou-me imenso.

Ben sorriu orgulhoso pela atenção do filho em relação aos estudos.

— Conhecimento é sempre bom. Futuramente, poderás o passar para este velho. — brincou.

— Os quarenta, não são uma idade tão má. Eu sinto-me uma jovem e estou perto deles. — comentou Glory — O meu loirinho só me deixa orgulhosa, mas, me diga filho, hoje era o primeiro dia de escola de Aneline, alguém a intimidou?

— Não, a dama Hudson foi bem rececionada por Damian e Lucas. Ela também é amiga de Tess Spencer e pude ver no intervalo que ela fez mais amizades.

Glory soltou um suspirou de alívio.

— E o seu irmão?

— Ele estava a tomar banho, não me abriu a porta do quarto, mas parece que correu muito bem. Nós acompanhamos a dama Penélope Wilson até casa por educação e ela pediu um auxílio a Gabe.

— Gabe avisou-me. Fez muito bem. Os Wilson são grandes investidores dos negócios dos Benetton. Devemos adoçar-lhes o bico.

Essa era uma das expressões que Ben Benetton usava. Quanto mais agradava aos olhos dos investidores, sócios e clientes, mais sucesso teria.

— Não gosto do comportamento dessa jovem, pois foi mal-educada na igreja com a senhora Spencer. Se fosse comigo, eu não seguraria a minha mão.

— É apenas uma jovem adolescente, Glory.

— Uma adolescente com a língua muito afiada.

— É muito bonita. — elogiou Christian. — uma dama com uma beleza notável. Penélope Wilson parece ter uma forte amizade pela família Benetton. Durante o caminho, ela não parava de falar o quanto se inspira em si minha mãe, em mulheres importantes da nossa sociedade de Verzin.

— Uma jovem muito bonita e culta. — Concordou senhor Benetton. — O senhor Wilson é um homem de grande porte e que poderá trazer grandes benefícios para os Benetton futuramente. A tratem bem e a cuidem. Devemos respeito e consideração aos Wilson.

A atmosfera, foi abruptamente perturbada pelo som insistente das batidas na porta, que ecoou pela sala de estar - anunciando a inesperada visita de Rose Hudson -. Pela expressão marcada por inquietação na sua cara, denunciava um estado de preocupação agoniante.

Glory Benetton, assim que encontrou o olhar da amiga, levantou-se e foi até a mesma. Rose não era o tipo de pessoa que faria uma visita inesperada á hora do jantar. Rose prezava pela boa educação e respeito pelos momentos em família.

— Rose, está tudo bem? — essa foi a pergunta que fez assim que a amiga observou cada canto daquele espaço com os olhos, como se estivesse à procura de algo, ou alguém, e então disse voltando toda a atenção para Glory;

— Glory, por acaso Aneline, está aqui? — As mãos trêmulas denunciavam o nervosismo que emanava por cada poro da sua pele. — Henry disse que a menina tinha ficado de voltar da escola com a família Benetton.

Christian falou.

— A madame Aneline não veio com nós. Ela foi embora primeiro. Pensei que teria regressado com Lucas Spencer. Nós fomos os últimos alunos a sair da escola.

Aquela resposta foi o suficiente para Rose se segurar no ombro de Glory e perder subitamente as forças. Glory segurou a amiga com força e Ben veio a socorrer, ajudando a guiar a senhora Hudson até ao sofá mais próximo. Glory pediu para que Christian fosse buscar um copo de água com açúcar.

O loiro saiu quase a tropeçar nos próprios pés pela tensão no ar.

Sem hesitar, Rose quebrou o silêncio tenso ao comunicar, com a voz trêmula, que Aneline, a filha mais nova da família, ainda não havia retornado para casa. O impacto dessa notícia reverberou pelo ambiente.

— Aneline não chegou a casa. Sabes o que isso significa Glory? Significa que a menina pode estar em perigo. Eu não aguentaria se algo lhe acontecesse e tudo por minha culpa, por não a ter ido esperar. É claro que a menina iria se perder, ela mal conhece o vilarejo, como eu pude ser tão irresponsável? — falava já entre o desespero e as lágrimas que teimam em cair silenciosamente.

— Rose, minha querida amiga, mantenha a calma. — pediu, a sentir que também entraria em colapso. Ela gritou por Christian, que chegou com o copo de água e entregou nas mãos dela. — bebe, vai te fazer bem.

Ben ajudou a esposa a incentivar a senhora Hudson a beber.

— Ben, vai chamar o Henry e por favor, avisem as famílias de Verzin para ajudar a procurar Aneline, enquanto eu e Rose iremos procurar pelas ruas de Paradise. — o marido apenas afirmou. — Christian, vai chamar o teu irmão Gabe! Rápido filho. — disse a última palavra quase a implorar.

O loiro saiu mais uma vez a correr, para acatar a ordem da mãe.

— Está a ficar tão tarde. A menina deve estar cheia de medo Glory. Estou tão preocupada.

— Calma Rose, iremos encontrar a tua filha. — Glory segurou a mão da amiga como nos velhos tempos, para lhe passar esperança e apoio.

Pelo som dos passos que foram ficando cada vez mais presentes e duros, Glory concluiu serem os filhos. Christian surgiu um tanto ofegante e tirou o lenço de pano do bolso para limpar o suor.

— Minha mãe, Gabe, não me respondeu, nem sequer permitiu-me entrar.

A senhora Benetton ficara incrédula e sentiu a irritação a invadir. Não suportou tal resposta do filho mais novo.

— Deixa-o. Eu entendo — murmurou Rose.

— Não existe nada para entender em uma atitude tão infantil. — falou frustrada e chateada.

Quando deu por si, ela já subia para o segundo andar da casa, com os nervos aflorados. Entrou no quarto do filho sem avisar e encontrou-o a ajustar o colete no corpo enquanto olhava-se ao espelho.

— Como podes ser tão indiferente a um assunto tão sério Gabe Benetton?

O rapaz a olhou com uma expressão inerte e séria. Como se já esperasse aquela pergunta.

— Não estou indiferente em relação à senhorita. Ela será encontrada rapidamente. Quando Samantha se perdeu ninguém a procu...

— CALA-TE! — Gritou, explodindo de raiva. — Rose está desesperada pela filha que chegou há pouco tempo ao vilarejo, imagino o desespero da menina, principalmente a esta hora da noite. Com fome, com frio. Não tens compaixão?

— Isso não vem em questão, porém não poderei ajudar na procura já que terei de cumprir um compromisso.

— Tal compromisso é importante?

— Quando fui levar Penélope Wilson a casa, ela fez um pedido.

— Senhor Wilson é tão rico e não tem um mordomo para ir buscar a sua filha? — indagou.

— Senhor Wilson é um homem muito ocupado. Já conversei com o pai e ele disse-me que não poderia recusar. A senhora Wilson pediu para que a levasse ao teatro esta noite, pois vai passar uma peça estrangeira que só vem ao Vilarejo uma vez por ano. Eu não posso falhar com a minha palavra. Gostaria de ajudar a encontrar Aneline, mas não posso.

Glory fez sinal de negação.

Ele engoliu em seco perante o olhar penetrante da mãe.

— Faz como quiseres, não irei interferir já que envolve a palavra do seu pai, porém, estou lhe dando a liberdade de recusar.

Glory deixou o filho sozinho após sair.

Naquela noite, deram início a uma busca frenética pela menina desaparecida. Assim que Henry Hudson e Ben Benetton espalharam o pedido de ajuda por Verzin, grande parte das famílias do vilarejo enviou os filhos ou parentes próximos para partirem à procura da jovem. Glory e Rose vasculharam as ruas, investigando cada beco e cada esquina para tentar encontrar qualquer pista que pudesse levá-las até a menina desaparecida. Enquanto o som das vozes misturava-se ao silêncio da noite, a esperança de encontrá-la sã e salva tornava-se o motor que impulsionava cada passo dado naquela missão de resgate. Cada segundo que passava sem notícias da jovem a tensão no ar aumentava, mas a união da comunidade e a solidariedade entre todos os envolvidos mantinham viva a chama da esperança de que, em breve, Aneline seria encontrada.

Esperança essa que a jovem perdida também sentia.

Aneline respirou fundo enquanto olhava para as árvores altas que pareciam fechar-se sobre ela na escuridão da floresta. O som dos animais noturnos ecoava ao longe, criando uma trilha sonora sinistra para a sua situação. Ela tentou se acalmar, lembrando-se de conselhos de sobrevivência que ouvira antes. Sabia que era importante manter a calma, pois o medo poderia nublar o seu raciocínio.

Enquanto o céu escurecia ainda mais, Aneline tentava manter a esperança viva, confiando na sua capacidade de superar esse desafio, pois o seu ar já saia com dificuldade derivada da brisa gélida noturna que passava diretamente para os seus pulmões como lâminas afiadas. Depois de chorar tudo o que tinha para chorar, com receio de se perder ainda mais, apenas encostou-se a uma das árvores após perder o fôlego e as forças para continuar na busca de uma saída. O melhor seria esperar amanhecer. Não era como se ela não tivesse passado por circunstâncias piores, pois o sótão do orfanato tornava-se num cenário muito mais assustador do que aquela floresta. Pelo menos, tinha a luz da lua para admirar e imaginar que era uma princesa que fugira de um lindo castelo, depois do rei não a permitir casar com o amor da sua vida, e como suposta alternativa, a princesa fugiu pelos bosques encantados e perdeu-se, agora aguardava ansiosamente a chegada do seu príncipe encantado que a salvaria e fugiriam juntos para bem longe.

Ela deu um sorriso e fechou os olhos, devido ao corpo trêmulo.

Até que depois de tanto tempo, ouviu passos e uma voz desesperada.

— SENHORITA!

Ela levantou-se rápido.

— EU ESTOU AQUI! — gritou de volta e iniciou passos cegos com o coração quase a sair pela boca.

Ela estava com muito medo.

Finalmente, entre alguns arbustos pude ver a luz vibrante que quase a cegou assim que encontrou a sua cara repentinamente.

— Aneline? — a voz perguntou. — És tu Aneline. Finalmente eu te encontrei.

No impulso do momento, ela o abraçou.

Abraçou com tanta força, como se o medo de que aquilo fosse apenas fruto da sua imaginação, a invadisse.

Ela afundou a cabeça no estômago do jovem rapaz e sentiu os braços dele retribuir o abraço.

— Eu estava com tanto medo, eu juro. Eu poderia especificamente ficar aqui a admirar a lua e falar sobre o quanto a natureza é belíssima e espantosamente incrível, mas o frio me corrói e, a solidão leva-me a um profundo abismo de pensamentos negativos de abandono e tristeza. Oh meu encantador salvador. — Ela falava rapidamente e deu um pulo de surpresa quando levantou a cabeça. — Gabe Benetton — murmurou.

A pessoa pareceu se surpreender com as palavras deferidas, mas estava demasiado ansioso pela extrema preocupação com ela, que apenas ignorou para envolver o corpo dela com o seu casaco. A poucos metros, estava parado Gabe Benetton, enquanto segurava uma vela e observava aquele momento entre Lucas e Aneline, com uma feição de quem tinha corrido uma maratona e tentava recuperar o fôlego. Os olhos verdes-musgos encontraram o castanho avelã por poucos segundos e isso, foi o suficiente para virar as costas e seguir o caminho oposto.

Aneline observava em silêncio o corpo do jovem Benetton desaparecer.

...

Não conseguia parar de pensar, mesmo depois de tantas voltas dadas na cama, ela esperava descansar para "olhar de frente" o dia de escola que viria. Aneline, agradeceu profundamente a Lucas por ter sido o seu salvador. Ela dedicou-lhe tal apelido, e Lucas Spencer não parou de gabar-se com ele em frente aos amigos. Naquela terrível noite em que se perdeu, alguns dias atrás, Aneline regressou a casa e descobriu que parte das famílias do vilarejo, tinham ajudado a procurá-la. Aquela informação a deixou feliz, e pela primeira vez sentiu-se acolhida. Rose a abraçou com tanta força, assim que Lucas a levou até casa sã e salva. Um abraço que transmitiu muitos sentimentos, como um aconchego de uma manta quentinha e o aroma de chocolate quente num dia de inverno. Ela descreveu assim tal sentimento. Devido à brisa noturna e gélida, acabou por apanhar um resfriado, e ficou em repouso até se recuperar. Ela não gostava de ficar doente, mas quando acontecia, dona Flora preparava um dos seus ensopados milagrosos, que curam até mesmo por um momento, as tristezas da alma. Rose e Glory a cuidaram durante aquele tempo, a deliciando com ensopados tão deliciosos quanto os de dona Flora.

Na manhã seguinte, lá estava ela, a caminho para a escola, sobre a carroça de Henry. Sentia-se envergonhada por ter sido irresponsável e ter preocupado os Hudson. Fora todo o caminho em silêncio.

Henry estranhou, pois Aneline é tão tagarela, mas naquela manhã além de ter falado poucas palavras durante o pequeno-almoço, comeu mal.

Aneline despediu-se de Henry, saiu da carroça quase a correr assim que parou em frente à escola de Verzin, mas conseguiu o ouvir a avisar para ela esperar em frente ao portão por ele na hora de saída. Ela foi o centro das atenções, mais uma vez.

Aneline tapou a cara com os livros e continuou a andar em direção ao interior do edifício, com a intenção de não chamar muito a atenção, mas não esperava bater contra um corpo alto e deixar os livros caírem e estenderem-se pelo chão.

Abaixou-se rapidamente para os recolher, mas sentiu uma mão sobre a sua após tentar tocar um dos livros.

Elevou o olhar até encontrar os olhos que ela desejava não encontrar tão cedo. Ela revirou os olhos, pelas noites mal dormidas - devido aos pensamentos intrusivos que o envolviam -.

Aneline recolheu todos os livros com rapidez e tentou passar reto por ele após levantar-se.

— O peso da irresponsabilidade não vai desaparecer, mesmo que a senhorita tenha a ridícula ideia de esconder a cara atrás dos livros. A culpa reside na imaturidade.

A voz, que naquela manhã parecia irritante aos ouvidos da jovem, ecoou.

Aneline engoliu a saliva com dificuldade e respirou fundo, antes de tomar a iniciativa e o risco de o olhar.

— Ouça aqui, senhor Benetton. Eu sei que não agi bem e deveria...

A interrompeu;

— Não, senhorita, ouça-me atenciosamente, mesmo que não sejamos amigos, direi isto pelos laços com a família Hudson. Evite que as pessoas se preocupem com a senhorita! Todos temos preocupações maiores, além de uma jovem imatura que não pensa antes de agir e acaba por desgastar a saúde física e mental dos que a rodeiam.

Ela mordeu o lábio inferior com força e não conteve as lágrimas cálidas que insistiram em cair, pela irritação que sentia.

Porque era tão transparente?

— Eu o odeio. Odeio por ser tão áspero e frio como um dia de inverno. — Cuspiu as palavras subitamente na cara dele e saiu a correr até a sala.

Sentou-se no lugar dela e abriu um dos livros para passar o tempo até ao início das aulas. Até que ao olhar para o lado, pude ver Gabe Benetton sentado na mesa ao lado, perto o suficiente. Ela afastou-se o máximo que conseguiu e empinou o nariz, ele abriu um dos seus livros da aula e acabou por fazer o mesmo.

Perdida no seu universo literário, pouco tempo depois, os colegas foram ocupando a sala gradualmente.

Pietra deu um leve sorriso e começou a falar sobre o livro que estava a ler atualmente.

Lucas Spencer entrou e chamou a atenção sentando-se entre Aneline e Gabe, e os cumprimentou com educação.

Ele abraçou de lado o amigo.

— O que estás a fazer? — perguntou e riu-se.

— Estudar a matéria que iremos dar na aula. — Deu de ombros.

Lucas continuou a rir-se.

— O livro está ao contrário. — avisou.

O jovem Benetton assim que se apercebeu desse "pequeno" detalhe, o virou rapidamente um tanto desajeitado.

— A minha prima? — perguntou Carpossi ao entrar na sala desesperado com um cesto cheio de frutas.

O que captou a atenção de todos à volta.

— Menino Carpossi, porque trouxe para a sala um cesto de frutas?

— A senhora, quer uma banana? — ofereceu à professora e arrancou risadas dos colegas. — Também tenho leite de banana se preferir.

— Menino Carpossi! Sente-se!

Ele sorriu de canto e assim que viu Aneline, pousou o cesto de frutas em cima da mesa dela, a surpreendendo.

— Eu trouxe frutas, para que fiques saudável para o meu primo. Também tem uns repolhos e alhos para espantar as más energias.

Ele olhou para onde estava Penélope Wilson com uma expressão nada boa.

Damian piscou o olho para Aneline e foi para o lugar dele. Tess o olhava com ironia.

—" Eu trouxe frutas" — imitou a voz dele.— Que ser humano traz um cesto de frutas para a escola?

Damian espreguiçou-se e disse;

— Tens inveja, abóbora?

— Abóbora? — rangeu.

— Ai que medo, a abóbora vai me morder. — provocou. — Morde. Eu gosto.

Tess ameaçou o fazer, mas Damian desviou o braço.

— Idiota. Cara de cavalo.

— Cara de cavalo? Eu sou lindo. — defendeu-se — que invejosa.

— O casal pode parar de discutir? — pediu Lucas.

A ruiva olhou para o irmão abismada.

— Nós não somos um casal. Que nojo. — fingiu ânsia de vômito.

— Eu preferia namorar a senhora Ana Courtney ou as solteironas de plantão.

— Senhora Courtney agradeceria. — falou John Clark, o melhor amigo de Carpossi, que fora repreendido pela mãe.

— A minha mãe disse que o sentimento mais perto do ódio seria o amor. — Ariana Park, comentou baixinho.

— Existem pessoas que fingem e criam a ilusão de uma imagem de gentileza, como um príncipe acabado de sair de um conto de fadas, mas na verdade não são.

Aneline falou alto, atingindo a pessoa que a respondeu.

— Deveremos dar gentileza ou ouvidos a uma pessoa que não tem consciência dos seus atos? Dar atenção aos inconscientes, é o mesmo que dar ouvidos aos ignorantes.

— Lucas, diga ao senhor Benetton que a gentileza vem do caráter pessoal.

— Eu estou aqui. Pode falar diretamente comigo senhorita. Se algo não lhe agrada, apenas aceite as opiniões distintas.

A jovem Hudson empinou o nariz.

— Oh, não perderei o meu esplêndido tempo com Gabe Benetton. — murmurou para si mesma e olhou pela janela ao lado, que lhe dava a visão da natureza. Melhor seria observar as árvores esbeltas e o céu azul de beleza incondicional.

No intervalo, quando ela estava a deliciar-se do lanche e das frutas que decidiu dividir com as novas amigas, Tess começou a fazer-lhe perguntas repentinas e quase queria bater-lhe por a ter feito chorar.

— Nunca mais me dês um susto daqueles Aneline Hudson.

— Todos ficaram muito preocupados. O meu pai também ajudou na procura. — falou a meninas de cabelos loiros curtos. — Também fiquei preocupada.

— Eu não imaginava que iria deixar tantas pessoas preocupadas, na verdade, não pensei que fosse perder-me no meio da natureza. Pensei que seria fácil chegar até Paradise. Teria muitos benefícios em explorar os atalhos.

— E porque decidiste ir pelos atalhos? O senhor Hudson não veio te buscar à escola?

A jovem suspirou antes de fechar os olhos e desabafar;

— Eu senti um enfadar tão grande e depois daquele dia na igreja em que ele recusou ser meu amigo, isso só me fez acreditar que ele não me quer por perto, e eu sou tão orgulhosa e profundamente incapaz de pedir para que ele me levasse a casa. Então decidi ter autonomia e seguir a minha intuição.

— A quem te referes? — perguntou Julie Gomes um tanto confusa.

— Ao ser ilusório, que fez-me acreditar que aqui eu poderia construir laços de felicidade e profundas conexões de amizade, que as poderia levar para a vida toda, regando a semente com a água mais pura e límpida existente na alma, até brotar uma flor com raízes fortes que poderiam criar um lindo jardim florido. Usei das palavras mais lindas e esvoaçantes para expor a sinceridade do meu ser. — Ela suspirou novamente meio abobalhada com a sua própria interpretação. — Eu cheguei a sentir que seríamos espíritos amigos, mas a frieza insistente e incógnita, faz-me pisar o jardim e não regar a semente. — ela soltou um longo suspiro. — Enfim.

Embora confusas por não conseguirem interpretar de imediato as palavras de Aneline, ficaram impressionadas com o fôlego da jovem, que não falhou em uma só palavra.

— Deverias ser jardineira. — disse Julie.

— Eu pegaria em uma pá e arrancava a semente. Não é preciso complicar, a não ser que tu não a queiras arrancar e insistes em regar. — deu de ombros a ruiva.

— Ou talvez estejas a apaixonar-te e sentes-te rejeitada. — falou Pietra.

— Apaixonar-me? Como acontece nos lindos livros de romance? — disse e sorriu fraco. — Claro que não, com a minha mais profunda sinceridade estaria fora de questão tal coisa. As histórias de romance nasceram para jovens de belezas inalcançáveis, são tão claras e diretas quanto ao amor existente nelas. É completamente e improvavelmente impossível a hipótese de me permitir conhecer tais sentimentos. Não sou tão digna de sonhar tão alto, porém poderei ficar na plateia a assistir as pessoas que eu gosto a terem esse privilégio.

— Não é como se fosse uma coisa de outro mundo, é normal nos apaixonarmos e é tão bom estar apaixonada. Eu já tive um namorado, e a minha irmã Julie vive apaixonada por John Clark.

Elas abriram a boca surpresas.

— O filho da professora? Ele é tão bonito e engraçado.

— Eu gosto de rapazes engraçados. — admitiu Julie um tanto vermelha.

— Estou a gostar das fofocas, estão mais interessantes que a conversa sobre futebol dos rapazes. — falou uma voz masculina.

Elas olharam para o lado e viram Damian Carpossi com um sorriso curioso, porém Aneline assustou-se quando viu ao lado dele Gabe Benetton e Lucas.

— CARPOSSI SEU IDIOTA! A QUANTO TEMPO ESTÃO AQUI! — Tess gritou e ameaçou lhe bater.

— A uns bons minutos. — deu uma mordida na fruta que segurava e degustava agora com prazer. — Queres? — aproximou a banana de Tess e a ruiva deu uma bofetada na mão dele fazendo a fruta voar e cair no chão. — A minha deliciosa bananinha.

— Para a próxima será uma bofetada na tua cara.

— Eu só fui educado. Abóbora azeda. — Deitou a língua de fora e saiu a correr quando Tess ameaçou fazer o mesmo, mas para pouca sorte dele acabou por escorregar e cair de costas no chão. O que arrancou gargalhadas altas das pessoas em volta. — Maldita bananinha.

Ele tinha pisado na fruta que estava no chão. Em meio àquele ambiente, sentiu-se observada e pela sua visão periférica, sabia quem era. Será que ele tinha ouvido toda a conversa delas? Aquela dúvida martelou na sua cabeça o restante do dia.

Até durante a aula, ela foi chamada a atenção pela falta de concentração.

...

Em frente à escola, ela esperava ansiosamente por Henry enquanto segurava os livros entre os braços. Até que uma carruagem toda detalhada em dourado a encantou. Parecia que tinha acabado de sair de um conto de princesas. Penélope Wilson passou ao lado de Aneline e não hesitou em bater o ombro contra o dela. Os livros que ela segurava espalharam-se pela segunda vez no chão. A jovem abaixou-se para o recolher, porém sentiu um pé pisar a sua mão com força, o que a fez grunhir pela dor. Ela ergueu o olhar e pude ver Penélope Wilson com uma expressão séria.

— Não ouses entrar no meu caminho ou eu terei de te pisar como um carrapato. — pressionou mais o pé ouvindo outro grunhir da jovem, mas isso pareceu lhe dar mais adrenalina.

— Porque estás a magoar-me? Eu não fiz nada.

— Por tua culpa, a família Wilson e Benetton cortaram laços. Órfã imunda e estranha. — Ela fez uma careta e cuspiu na cara de Aneline antes de continuar o seu caminho.

Aneline sentiu a cabeça latejar pelas memórias repentinas que a atormentaram.

"Órfã Imunda."

"Não chores, ou levarás mais chicotadas".

Ela levou as mãos à cabeça e a voz de Penélope misturava-se com a voz de arrepiar até os ossos, da diretora do orfanato. Quando deu por si, chorava compulsivamente sem se importar se estavam a vê-la naquele estado.

Doíam-lhe os dedos, que estavam um pouco vermelhos;

O peito.

A alma.

Não sabia quanto tempo ficou naquela posição

— Criança. — Ela reconheceu a voz do pai adotivo.

Ela o olhou.

— Oh Henry. — o abraçou com força. — Eu sou tão triste. Sou chorona, não passo de uma órfã imunda, irresponsável e imatura.

— Ora, quem disse tal disparate. Não és mais uma órfã, tu agora tens uma família criança, és a filha dos Hudson.

Ele falou tão espontaneamente, que Aneline deixou escapar um sorriso em meio às lágrimas. Ouvir tais palavras aqueceram-lhe o coração e curou a dor que sentia na alma.

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