Antologia Poética - Cecília M...

By YasmineSarah102947

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A Global Editora acaba de lançar a Antologia poética Cecília Meireles, coletânea publicada pela primeira vez... More

Sumário
Nota à 1ª Edição
01 - Motivo
02 - Noite
03 - Anunciação
04 - Retrato
05 - Canção
06 - Aceitação
07 - Som
08 - Guitarra
09 - Epigrama Nº 5
10 - Pausa
11 - Cantar
12 - Destino
13 - Epigrama Nº 12
14 - Metamorfose
01 - Epitáfio da Navegadora
02 - Mar em Redor
03 - Canção da Menina Antiga
04 - Canção Excêntrica
05 - A Doce Canção
06 - Canção de Alta Noite
07 - Campos Verdes
08 - Para uma Cigarra
09 - Encomenda
10 - Confissão
11 - Naufrágio Antigo
12 - Explicação
13 - Canção do Deserto
14 - Canção Para Remar
15 - Monólogo
16 - Fantasma
17 - Eco
18 - Despedida
19 - Amém
20 - A Amiga Deixada
01 - Noturno
02 - Sugestão
03 - Irrealidade
04 - 1º Motivo da Rosa
05 - Desejo de Regresso
06 - 2º Motivo da Rosa
07 - Realização da Vida
08 - Leveza
09 - Desenho
10 - 4º Motivo da Rosa
11 - Transeunte
12 - 5º Motivo da Rosa
13 - Noite
14 - Dia de Chuva
15 - Voz do Profeta eLivros
16 - Elegia 1933-1937
01 - Ar Livre
02 - Apresentação
03 - Cantarão os Galos
04 - Elegia a uma Pequena Borboleta
05 - Vigília
06 - Balada das Dez Bailarinas do Cassino
07 - Serenata
08 - Emigrantes
09 - Pássaro
10 - Canção
11 - Canção Póstuma
12 - Fui Mirar-me
13 - Improviso do Amor-Perfeito
14 - Canção
15 - Transformação do Dançarino
16 - Canção do Amor-Perfeito
17 - O Afogado
18 - Se eu Fosse Apenas...
19 - Fragilidade
20 - Desenho Leve
21 - O Cavalo Morto
01 - I
02 - II
03 - III
04 - IV
05 - VI
01 - Três
02 - Dez
03 - Doze
01 - Um
02 - Três
03 - Quatro
04 - Sete
05 - Oito
06 - Dez
07 - Onze
01 - Cenário
02 - Romance IV ou Da Donzela Assassinada
04 - Romance VII ou Do Negro nas Catas
05 - Romance XI ou Do Punhal e da Flor
06 - Romance XII ou De Nossa Senhora da Ajuda
07 - Romance XIV ou Da Chica da Silva
08 - Romance XXI ou Das Ideias
09 - Romance XXIV ou Da Bandeira da Inconfidência
10 - Romance XXXI ou De Mais Tropeiros
11 - Romance XXXVIII ou Do Embuçado
12 - Romance XLVI ou Do Caixeiro Vicente
13 - Romance LIII ou Das Palavras Aéreas
14 - Romance LVI ou Da Arrematação dos Bens do Alferes
15 - Romance LVIII ou Da Grande Madrugada
16 - Romance LIX ou Da Reflexão dos Justos
17 - Romance LX ou Do Caminho da Forca
18 - Romance LXI ou Dos Domingos do Alferes

03 - Romance V ou Da Destruição de Ouro Podre

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By YasmineSarah102947

Dorme, meu menino, dorme,
que o mundo vai se acabar.
Vieram cavalos de fogo:
são do Conde de Assumar.
Pelo Arraial de Ouro Podre,
começa o incêndio a lavrar.

O Conde jurou no Carmo
não fazer mal a ninguém.
(Vede agora pelo morro
que palavra o Conde tem!
Casas, muros, gente aflita
no fogo rolando vêm!)

D. Pedro, de uma varanda,
viu desfazer-se o arraial.
Grande vilania, Conde,
cometes, para teu mal.
Mas o que aguenta as coroas
é sempre a espada brutal.

Riqueza grande da terra,
quantos por ti morrerão!
(Vede as sombras dos soldados
entre pólvora e alcatrão!
Valha-nos Santa Ifigênia!
– E isto é ser povo cristão!)

Dorme, meu menino, dorme...
Dorme e não queiras sonhar.
Morreu Felipe dos Santos
e, por castigo exemplar,
depois de morto na forca,
mandaram-no esquartejar!

Cavalos a que o prenderam,
estremeciam de dó,
por arrastarem seu corpo
ensanguentado, no pó.
Há multidões para os vivos:
porém quem morre vai só.

Dentro do tempo há mais tempo,
e, na roca da ambição,
vai-se preparando a teia
dos castigos que virão:
há mais forcas, mais suplícios
para os netos da traição.

Embaixo e em cima da terra,
o ouro um dia vai secar.
Toda vez que um justo grita,
um carrasco o vem calar.
Quem não presta, fica vivo:
quem é bom, mandam matar.

          Dorme, meu menino, dorme...
          Fogo vai, fumaça vem...
          Um vento de cinzas negras
          levou tudo para além...
          Dizem que o Conde se ria!
          Mas, quem ri, chora também.

Quando um dia fores grande,
e passares por ali,
dirás: "Morro da Queimada,
como foste, nunca vi:
mas, só de te ver agora,
ponho-me a chorar por ti:

por tuas casas caídas,
pelos teus negros quintais,
pelos corações queimados
em labaredas fatais,
– por essa cobiça de ouro
que ardeu nas minas gerais".

Foi numa noite medonha,
numa noite sem perdão.
Dissera o Conde: "Estais livres".
E deu ordem de prisão.
Isso, Dom Pedro de Almeida,
é o que faz qualquer vilão.

          Dorme, meu menino, dorme...
          Que fumo subiu pelo ar!
          As ruas se misturaram,
          tudo perdeu seu lugar.
          Quem vos deu poder tamanho,
          Senhor Conde de Assumar?

          "Jurisdição para tanto
          não tinha, Senhor, bem sei..."

          (Vede os pequenos tiranos
          que mandam mais do que o Rei!
          Onde a fonte do ouro corre,
          apodrece a flor da Lei!)

Dorme, meu menino, dorme,
– que Deus te ensine a lição
dos que sofrem neste mundo
violência e perseguição.
Morreu Felipe dos Santos:
outros, porém, nascerão.

          Não há Conde, não há forca,
          não há coroa real
          mais seguros que estas casas,
          que estas pedras do arraial,
          deste Arraial do Ouro Podre
          que foi de Mestre Pascoal.

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