02 - II

1 1 0
                                    

Do teu nome não sabia,
mas buscava tua face.
E, algum dia,
se de ti me aproximasse,
Leonoreta, fin'roseta,
"Leonoreta!" –
exclamaria.

Meus olhos, ricos de amor,
sofriam de indiferença.
De que estrela,
ou que mundo, ou que planeta,
Leonoreta,
é nascida a branca flor
em que, antes de a amar, se pensa,
mesmo sem precisar vê-la...?

Das varandas da alta lua,
recordo o estremecimento:
era a tua
voz que me trazia o vento.
Fin'roseta!
Esta, que apenas flutua,
mais leve que borboleta;
que, longe, nada insinua...
– esta é a voz de Leonoreta!

Podia morrer de pena.
E comecei a cantar-te.
Amor é arte.
Mas a vida é tão pequena,
bela sobre toda flor!
– tão pequena para amar-te...
E em toda parte
causa espanto o meu amor.

Se como te ouvi me ouviras,
mais feliz não me fizeras.
Sei que é tanto
meu amor que, noutras eras,
Leonoreta,
viverás por esse encanto.
Mas é tão de outras esferas,
fin'roseta,
que não se ama, por enquanto...

Nem de ti desejo nada
senão saber que exististe.
A adorada
ausência não me põe triste.
Nem te meta
en gran coita, Leonoreta,
se te vi mas não me viste:
que foste a mais derrotada...

Pois, se vi que me não queres,
tu não viste como te amo...
Leonoreta,
só terei do que me deres,
que, por mim, nada reclamo.
Meu amor é flor sem ramo,
fin'roseta!
Por alheia não me feres:
sei teu nome e não te chamo.

Leonoreta, que doçura,
andar por onde estiveste!
A mais pura
imagem do amor celeste,
Leonoreta,
é minha humana aventura.
Sem fogo que o lírio creste,
sem que o sangue comprometa
o sonho, pela criatura...

Ai, Leonoreta, quem eras,
Leonoreta, fin'roseta,
entre esfinges e quimeras,
branca sobre toda flor?
Teu semblante choraria
de alegria,
se te visses debuxada
pelo meu poder de amor.
Tu, que me não deste nada!
Que nem viste quem te via!

Leonoreta,
não te meta
en gran coita a minha dor:
se te amava, não sofria...

Antologia Poética - Cecília MeirelesOnde as histórias ganham vida. Descobre agora