A espreita da
felicidade, reside
o medo.
Ī
Durante a construção dos impérios e do sangue azul, regras foram lapidadas junto as coroas; reis seguiam a risca cada imposição "divina", para que a sua linhagem se mantive-se impecável, e alinhada ao trono.
A primeira regra era mais importante:
Um rei sem uma rainha para lhe dar um herdeiro, não era digno da sua coroa.
Por este motivo o Cortejo nasceu.
E por ele que naquela manhã, Hoseok foi convocado a Câmara de audiências. Diferente dos seus dias comuns, não haviam peticionários ou súditos, apenas o Conselho real constituído por anciãos, e todos os emissários. Yori, o antigo tutor do Rei, voltou para a província a pedido dos deles. Tinham a esperança vã de ter Yori como uma luz para Hoseok, que aos olhos dos nobres, estava perdido.
O jovem rei atravessou a Câmara com uma postura invejável, a face fechada e o ressoar dos seus pés contra o porcelanato, fez toda a conversa cessar.
ㅡ Vida longa ao Rei! ㅡ gritaram em uníssono.
ㅡ Vossa Majestade, perdoe-nos pela indelicadeza, não queríamos lhe causar nenhum desconforto. Mas, precisamos tratar de assuntos urgentes!
ㅡ Diga, Duque Hans. O que é tão importante para atrapalhar os meus compromissos?
ㅡ Bom...ㅡ começou Yori, que até o momento, não havia se feito perceber. Curvou-se para o Rei, e tomou a frente. ㅡ A princesa So Hee retornou ao reino de Jeju, senhor. Saiu com toda a sua tropa, levando um mensageiro em nosso nome! Ela está enfurecida pelo Cortejo, disse que se sentiu enganada.
ㅡ E por quê? ㅡ antes que pudessem responder, Dawon apareceu. Seu vestido era de um azul cobalto impecável, cheio de contas que enfeitavam sua cintura e busto; cabelo solto de modo a emoldurar a face da monarca. Angelical. Novamente, todos os presentes se curvaram, e ela tomou seu lugar ao lado de Hoseok.
ㅡ Você sumiu no baile, não escolheu ninguém!
ㅡ Estão errados! Eu escolhi sim. Não viram a dança?
ㅡ Um general não conta! Ele tem sangue nas mãos, não tem títulos e muito menos o poder de te dar herdeiros.
ㅡ Que história mais absurda é essa?!
ㅡ Senhor, precisa de uma rainha! Presumimos que tudo o que tenha acontecido entre vocês, não passou de uma aventura! Reis fazem isso, certo? ㅡ um emissário disse, sendo seguido por outros. ㅡ Mas agora a brincadeira acabou! Um rei sem uma rainha, não é rei.
ㅡ Um rei sem a sua liberdade não é rei! ㅡ voiciferou irritado, erguendo o corpo do trono de modo a encarar os nobres de cima, irado. ㅡ Não toquem mais nesse assunto ridículo.
ㅡ Se não nos der uma esperança, Majestade. Nós usurparemos a sua coroa! Não há nada mais vergonhoso do que um Rei sujo. ㅡ o preconceito escorria pelos lábios nojentos.
E pela primeira vez em todo seu reinado, Hoseok considerou a forca. Sua destra foi rápida ao sacar da espada, esta que está sempre embainhada na lateral do seu corpo. A ponta afiada da arma de prata, tocou o pescoço do emissário que tremeu sobre a própria vergonha. Então, todos na sala ficaram em silêncio, temerosos e surpresos demais para reagir.
Os guardas que vigiavam a Câmara se colocaram em posição de ataque, todos a favor do seu rei. E prontos para cumprir quaisquer que fosse a ordem.
ㅡ Está exonerado do seu cargo como emissário nesta Câmara, não quero um homem tão imundo pisando no meu palácio. ㅡ desceu a ponta da espada para o coração do homem, pressionando-a ali. ㅡ Retirem esse rato daqui. E o próximo a ameaçar a coroa, terá o mesmo destino desse crápula, ou talvez, eu não seja tão piedoso.
ㅡ Ouviram seu rei, tirem este lixo daqui! ㅡ Dawon deixou ser ouvida; não estava tão diferente do seu irmão. E por pouco não enfiou seu báculo na barriga do emissário. Quando a sala esvaziou, Hoseok sentou sobre o trono, encarando um horizonte borrado e sem perspectiva, sentia-se frustrado. ㅡEssa é a minha deixa, estarei nos arredores se precisar de mim, irmão.
ㅡ Não saia, preciso de você.
ㅡ Não precisa não, JungKook cuidará de você melhor que eu! ㅡ Hoseok não havia notado a presença do comandante, estava tão alheio em seus problemas que não viu o momento em que ele chegou. Ao encarar a porta, sorriu aliviado e por um momento se permitiu esquecer o peso que estava sobre as suas costas.
Jungkook atravessou a Câmara imponente como sempre, tal como um Rei poderoso e ciente disso. Curvou-se diante de Dawon que apenas sorriu amistosa, dispensando tal formalidade ao despedir-se dos outros dois e seguir para o salão; tinha um dia cheio organizando e acalmando as princesas que ainda permaneciam no castelo com a esperança de ter a mão do Jung.
ㅡ Não vai se curvar a mim também? ㅡ brincou ao ajeitar a postura no trono, suavizando o olhar que outrora era duro e irritadiço.
ㅡ Posso me curvar e até mesmo ficar de joelhos, Hoseok. Mas não vai ser pra te reverenciar.ㅡ parou frente ao monarca e sorriu, apoiando as mãos nas coxas fartas e inclinando o corpo, roubando um selar carinhoso dos lábios dele. ㅡ O quê nublou o seu olhar, meu raio de sol?
ㅡ Que pervertido! ㅡ Riu desacreditado, relaxando sobre a própria postura. Mostrava-se exausto. ㅡ Estão tentando me tirar a posição de governante. ㅡ disse por fim.
ㅡ Quem? ㅡ o Rei suspirou extasiado com a mudança rápida do outro, que agora, sustentava uma face enraivecida.
ㅡ Não é sobre quem, mas sobre o que eu vou fazer agora. ㅡ encostou a testa na dele e fechou os olhos, sentindo o momento exato em que Lúcifer relaxou. ㅡ Se eu te escolher, perco a coroa e abandono o meu legado. Mas se eu escolher a coroa, perderei o único lugar, a única pessoa a quem eu pertenço verdadeiramente.
ㅡ Não quero que abandone tudo por mim, não é justo com você.
ㅡ Te deixar ir que não seria justo, nem comigo e nem com você.
A porta da Câmara foi aberta novamente, mas Jungkook sequer de mexeu. Apenas virou o olhar na direção do barulho, tentando entender quem os perturbava. O que viu, não lhe agradou muito; Jimin sustentava uma face calma mas seus olhos estavam agitados, e Lúcifer entendeu que aquilo não era um bom sinal.
ㅡ Eu preciso falar com você, é urgente. ㅡ a voz vacilou, e Hoseok que apenas observava a interação, mostrou-se curioso.
ㅡ Posso ajudar, Jimin?
ㅡ Não, Majestade! ㅡ curvou-se desajeitado como se nem tivesse reparado na presença do Rei. ㅡ Não roubarei muito do tempo do Jungkook, prometo.
ㅡ Que seja. ㅡ declarou o anjo caído que, sem se importar com a presença do irmão, beijou rapidamente os lábios do Rei e sorriu terno em sua direção. ㅡ Me espere no quarto, lá nós conversaremos melhor sobre o que aconteceu hoje. Tudo bem?
ㅡ Sim...não demore.
•
ㅡ Que porra aconteceu? ㅡ Lúcifer andava a passos rapidos, Leviatã tampouco estava atrás. Mexia nas próprias mãos inquieto, e a sua energia demoníaca estava tomando conta do Palácio. As pessoas sem perceber, sentiam-se exaustas e cabisbaixas. ㅡ Controle-se, e me conta!
ㅡ Não consigo por em palavras, você vai ver. ㅡ e foi quando o pecado abriu a porta do seu quarto, que Lúcifer pôde ver que um dos seus guardas estava no chão. A asa preta cortada em um só lado, enxofre vazava do ferimento aberto, enquanto toda a face feminina demoníaca estava suja de sangue e machucados. Preocupado, o anjo caído se colocou ao lado dela, passando com cuidado as mãos no rosto ferido.
ㅡ Quem fez isso com você? ㅡ A voz era firme, mas cheia de preocupação. Mesmo sendo O diabo, Lúcifer nunca fez o tipo ruim. E aqueles que decidiram lhe seguir no inferno, tinham uma porcentagem da sua gratidão.ㅡ Lamia, diga-me...quem fez isso com você?!
ㅡ Mestre, perdoe-me. Falhei ao te proteger! Miguel me pegou de surpresa enquanto eu estava rondando a região...ㅡ fechou os olhos totalmente brancos, tentando a todo custo respirar em meio a dificuldade. ㅡ Queria ter certeza da sua segurança, e também, tentei saber sobre como o céu está se movimentando.
Lúcifer tocou a testa do demônio, deixando que uma luz azul saísse de seus dedos, e a energia passasse a curá-la.ㅡ Recuperare.
ㅡ Deveria ter me deixado morrer, não lhe servi bem.
ㅡ Lamia...Law, não diga isso. Apenas preciso que me conte em detalhes o que aconteceu, Miguel agora foi longe demais.
Jimin observava tudo em silêncio, esperando ansioso para que Lúcifer entendesse as entrelinhas. Não era só mais um demônio morrendo, era um aviso.
ㅡ Subi para verificar a sua segurança, e também te contar que o inferno está inquieto e os portões parecem frágeis. Quando me aproximei desse território, fui surpreendida por Miguel e ele não estava só.
ㅡ Sei que meus irmãos estão ao lado dele, nunca foi uma surpresa.
ㅡ Mestre, você não entendeu? Era um pecado original. Beliel, a Ira! Por isso fiquei tão machucada.
ㅡ Foi uma emboscada. ㅡ concluiu Lúcifer, que ao perceber os planos de Miguel, sentiu toda a sua força esvair. Caiu mais uma vez. ㅡ Você só chegou viva porque eles precisavam passar o recado.
ㅡ Mestre? Do que está falando?
ㅡ Eles vão destruir tudo o que eu estimo...ㅡ bagunçou os cabelos nervoso, andando de um lado para o outro. ㅡ Volte para o inferno, Lamia. Sele-o! E você, Leviatã, vá atrás de Taehyung. A guerra já começou.
ㅡ Trago ele pra cá?
ㅡ Sim, ele ficará mais seguro aqui.
E quando Jimin sumiu junto a Lamia, que JungKook se permitiu buscar por conforto, mesmo que uma última vez.
•
Procurava por Hoseok, ao chegar no seu quarto, viu o vazio do cômodo e internamente, se desesperou. Assustado com a ideia do arcanjo já ter dado mais um passo, e ter levado o Rei consigo. Mas percebeu seu exagero ao notar o governante brincando com crianças no exterior do Palácio; filhos das cozinheiras e copeiras que trabalhavam ali, e que graças ao bom reinado do Jung, elas não precisavam ficar longe das suas crianças, e os pequenos ainda ganhavam a presença ilustre do nobre em diversas brincadeiras.
O findar de uma partida desengonçada de esgrima se deu ao que Hoseok caiu no chão, fingindo ter sido atingido de forma fatal, enquanto a criança responsável pelo 'ataque' comemorava vitoriosa.
ㅡ Tudo bem, vocês venceram nessa! Mas amanhã, eu quero revanche.
ㅡ Até reis perdem as vezes, tio. ㅡ uma menina que aparentava ser a mais velha disse, totalmente alheia ao cargo importante que o "tio" exercia.
ㅡ Certíssima! Prometo aceitar melhor da próxima vez, vocês vão me ajudar, certo?
ㅡ Sim! ㅡ gritaram todos, que passaram a correr no momento em que o Rei saiu dali.
JungKook observava tudo de longe, odiando que seus olhos dissessem mais do que sua boca poderia. Afinal, nunca foi bom em se expressar, mesmo que ao lado daquele Rei, as palavras saíssem de forma espontânea dos seus lábios; ainda sim, não fazia parte das suas habilidades. Mas suas íris o denunciavam por completo.
Estava amando.
E o amor o assustava, a felicidade também. Nunca se sentiu merecedor, e diante de tamanho conflito com os céus, tinha medo de perder a única coisa que sentia ser sua verdadeiramente. Não era por servidão ou medo, Hoseok o enxergou por trás de tudo, e amou a sua melhor versão. E mesmo amedrontado com a ideia de revelar a verdade sobre a sua origem, Lúcifer acreditava que nada do que fosse ou dissesse, o afastaria dos braços Reais.
Exceto Miguel. Este sim detinha do poder de minar a sua felicidade.
ㅡ Está me olhando demais, General.
ㅡ Não posso evitar, é como me expresso por você. ㅡ alheio aos olhos curiosos, JungKook moveu a ponta do nariz contra a dele, acariciando aquela região.
ㅡ Não tem medo do que os outros podem pensar?
ㅡ Não, Hoseok. Meu único medo nesse momento, é o de perder você.