Guerra e Dragão

By AmandaCunado

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🥉Colocado no Concurso Nove Caldas / Categoria Fantasia 🥉 Colocado no Concurso Nove Caldas / Categoria Espec... More

PREMIAÇÕES
02 ESCOLHAS
03 A LENDA
04 DECEPÇÃO
05 GUERRA
06 TRAIÇÃO
07 REVELAÇÃO
08 CONVÊNIO
09 RECONQUISTA
10 ARREPENDIMENTO
11 AMOR
12 CIÚMES
13 ALIADOS
14 TESOURO
15 CURA
16 CHÁ
17 SURPRESA
18 AGONIA
19 EGOÍSMO
20 SANIDADE
21 REENCONTRO
FIM
BÔNUS
AVENTURA EM AÇÃO: PERSONAGEM
AVENTURA EM AÇÃO: Quem de nós?

01 A VERDADE

96 15 178
By AmandaCunado

Todos os diretos reservados a Amorim Cuñado. É proibida a reprodução sem autorização por escrito da autora. Termo aparado sobre a LEI Nº 9.610, DE 19 DE FEVEREIRO DE 1998. Conforme Politica de Proteção e Segurança do Wattpad e DMCA (Digital Millennium Copyright Act)

~ ~ ~

Imagens inspiradas nas obras de Joseph Zbukvic.

Dedico a meus pais. Seus nomes eternizados como casal.

★ ✧✦ ✧ ✦ ✧ ★

"Enquanto a lua cheia banhava minha couraça de prata fria, resolvi olhar aqueles humanos em meu território. Há poucos anos chegaram ali, mas já se multiplicavam como formigas."

As asas do dragão cortavam uma nuvem ao meio com sua envergadura de vinte metros. Ele amava voar, sentir o vento morno da noite agitar a camada fria de névoa que emanava de seu corpo com poder de gelo.

O vale entre rios abaixo possuía uma cidade tímida, protegida por montanhas e uma muralha cercadas de vários guardas sonolentos. Um deles, muito jovem com a armadura maior que seu copo, bocejava até levar um cascudo no elmo.

— Fique alerta fedelho!

— Sim Senhor! Mas... O que é aquilo no céu? — alarmado desembainhou a espada fitando a sombra dar um rasante ao redor da torre, em construção, na lateral de uma das montanhas.

— Não se preocupe é só o dragão Merak vindo pegar seus espólios desse ano. Assaph está segura enquanto o rei mantiver o acordo. — o discurso saiu num tom apreensivo, não tendo o efeito de acalmar o jovem que olhou aflito, embora guardasse sua espada.

~ ~ ~

Um palácio rudimentar, construído em pedras amarelas tiradas das montanhas pálidas do local e telhado de madeira coberto por telhas de terracota vermelha, do barro fértil das margens dos rios. 

O dragão de prata pousou elegante com suas assa se fechando enquanto trotava até próximo de uma mesa de pau-ferro com colunas de argola elegantemente esculpidas e vincos que se assemelhavam a garras nos pés da mesa. Por cima um amontoado de livros com capas de couro e rolos de tecido fino, seda e brocados delicadamente bordados.

"O covarde Ziusundra chegou naquela banheira de madeira horrenda e novamente não vem me receber. A filha dele cresceu ao longo desses anos, agora cheira a fêmea madura. Não sei porque aquela formiguinha me desperta tanta ternura."

— Estamos muito felizes com sua visita Merak. Espero que esses presentes sejam do seu agrado — disse a frágil dama de vestido de seda azul se curvando enquanto era vigiada por cinco guardas a dois passos atrás.

O monstro não se importou com aquelas palavras e com sua garra enorme envolveu a mesa com todo o conteúdo, se virando para alçar voo.

— Espere! — implorou a mocinha dando passos corajosos em direção ao dragão e logo sentido o vento frio, que vinha da criatura, bagunçar as mechas loiras que tinha amarrado em trança. — Deve saber que Carkemis declarou guerra ao nosso reino. Aquele velho sádico ousa jogar até mesmo nossas crianças na fornalha...

— O próprio rei não vai a frente defender se povo? — a voz do monstro ecoou tempestuosa enquanto fitava uma janela do palácio, em que a cortina se fechou bruscamente.

Um dos guardas se aproximou da princesa tentando impedi-la de continuar o avanço. Todos receberam um olhar de desprezo do monstro antes dele virar e abrir as asas novamente.

— Nos vamos pagá-lo! — gritou a voz feminina — Eu Cintia Luham, princesa de Meradomum ofereço ao nobre dragão prateado Merak esses adornos de linda seda em meu corpo, as presilhas e tiara de ouro em minha cabeça, minhas faces limpas, meu corpo jovem imaculado e todos os meus talentos para te entreter.

— HAHAHA!!! O que vou fazer com uma formiguinha?! — a criatura sorriu com pena da humana corajosa — Volte para seu castelo pequenina, não gosto de distrações barulhentas.

— Então ficarei quieta. — surpreendeu correndo e se abraçando a uma garra daquela enorme pata, quase fazendo os guardas terem um infarto — Mas salve meu povo, principalmente as crianças que são ainda menores que eu.

Estacas de gelo brotaram do chão impedido que os homens arrancassem a mocinha dali. O dragão moveu aquela garra com gentileza levantando o queixo da princesinha de dezesseis anos, olhos de lápis-lazúli e bochechas de candura.

— Não vai sobreviver em meu covil gelado e não me darei o trabalho de trazer seus restos para os rituais de luto humano.

— Que se faça assim. Por todos os pequeninos humanos de Meradomum. — respondeu com determinação abrasada nos olhos.

As entranhas do dragão se expandiram com ternura pela coragem da princesinha minúscula. Virou aquela pata convidando-a a sentar-se.

"Com um sorriso radiante ela aceitou aquele destino cruel. Como eu poderia ignorar aquela formiguinha corajosa? O covarde Ziusundra tinha uma veia boa afinal."

~ ~ ~

Cintia não viu aonde estava indo coberta pela enorme pata do monstro. Mas quando as garras se abriram não havia muita luz para sentir a mudança de ambiente. Embora a temperatura tenha caído ainda mais dentro daquela caverna com metade do chão coberto de mármore.

O piso arenoso do túnel escuro de onde, provavelmente, entrou. Dera lugar as placas de mármore, um presente antigo entregue ao dragão. Eles apenas estavam deitados sobre o chão, sem qualquer argamassa.

A criatura de prata colocou a mesa ao lado de poltronas, estofadas por linho tingido de azul. Cercadas por prateleiras improvisadas cavadas nas paredes, com vários livros empoeirados e rolos de tecidos. Aparentavam nunca terem sido tocados.

Assoprando palavras magicas o gigante acendeu uma tímida chama em uma lâmpada a óleo de latão polido. Essa estava descansando sobre um alto piano coberto por tecidos caídos como cachoeiras.

— Vá, pegue para se aquecer. — recomendou o dragão arranhando o mármore e indo se deitar no chão de terra batida como uma cobra se enrolando — Comece a me entreter com seus talentos pequenina.

A jovem abraçou aquela pequena chama, tremendo de frio, com névoa saindo de sua respiração.

— Não é suficiente. Mas te farei contente. Mesmo que minha vida o frio vá levar. Nunca irei recuar. As vidas de meu povo. Te peço dragão honroso. Esses versos são meu dom. Que te entrego em bom tom. Uma promessa viva. Eu pagarei essa dívida. Meu querido de prata. Seus olhos vermelhos escondem uma bondade inata. Em poema e trova ir...

— Não pare. Nunca ouvi algo assim. — mas vendo a humana tremer e se encolher, sabia que aqueles lábios roxos estavam prestes a ceder — Continue esse som melódico.

— Se chamam rimas, querido herói. — puxou tecidos para tentar se aquecer revelando o piano que não tinha percebido.

— Não me chame assim, farei por puro capricho.

— Todos os heróis são caprichosos. Dando suas vidas por futuros incertos ou cedendo a pedidos honrosos. — a mocinha enrolada em um pano, puxou o banco e preparou o piano — Se não conhece rimas, talvez músicas...

Com a chama balançando gentil sobre o instrumento, Cintia dedilhou sobre as teclas, fazendo o gigante levantar a cabeça surpreso e curioso. A melodia encheu o ambiente como fogos de artificio no céu noturno. Mas logo interrompeu tremendo e tentando aquecer seus dedos.

O som da prata arranhando o mármore chamou sua atenção. O monstro parou diante de prateleiras altas, talvez cinco ou seis metros. A criatura alcançou com palavras mágicas, fazendo um livro flutuar, movendo as páginas como um fantasma invisível. Logo sessou o movimento para ler atentamente.

Um encantamento transformou o gigante em humano coberto por um brocado de prata com bordados de flocos de neve azuis, delicados. Um belo homem de olhos vermelhos e longos cabelos prateados. Por um instante ele parou observando as próprias mãos com admiração, antes de coçar a fina barbicha que possuía no queixo.

Sorrindo foi até a humana fazendo sinal para que ela se afastasse. Sentando no mesmo banco que a princesa, tentou dedilhar como ela, mas errou miseravelmente.

— Me ensine a fazer isso. — disse firme olhando de tão perto que ela só conseguiu fitar aqueles lábios finos hipnotizada por um instante.

As aulas eram interrompidas pela necessidade de assoprar as próprias mãos. Na ultima vez que fez esse movimento a forma humana segurou aqueles pequenos dedos e trazendo para si também assoprou.

— Parece que essa transformação me permite produzir calor internamente. — refletiu o dragão analisando o toque suave que a pele humana proporcionava — autorizo que se aproxime, é provável esse corpo te aqueça mais que essa lâmpada.

Encantada pelo convite, Cintia ousadamente passou os braços por dentro do tecido tocando a derme da criatura. Merak não conseguiu esconder o sobressalto do coração quando além do contato com a pele a jovem deitou o rosto em seu peito nu, após ela mesma afastar os tecidos que cobriam o homem.

"Ao menos morrerei nos braços de um belo homem... Aproveitarei cada segundo que tenho." tramou fechando os olhos embalada por aquelas batidas de coração.

Relutante a forma humana retribuiu o abraço, sentindo um calor que nunca imaginou. Vendo os lábios da princesa voltarem a se tornar rosados, alisou-os com seu novo polegar humano. Cintia não deixou aquela provocação por barato. Levantou a face determinada a morrer realizando algo que a morte não permitiria.

Beijou aqueles lábios finos, fazendo os olhos vermelhos do homem saltarem. Mas logo as pálpebras se acalmaram e a criatura começou a explorar curiosa aquele toque e cada sensação nova que o corpo humano proporcionava.

O tempo correu lentamente com a dança gentil da chama. O dragão voltou a assumir sua forma reclamando que a transformação o deixava cansado.

— Obrigada Merak, ao menos poderei partir tendo realizado algo tinha direito nessa vida.

— Ainda há tempo para mais algum desejo. — sugeriu o gigante de olhar bondoso.

— Eu... Gostaria de ler todos esses livros que coleciona, aprender magias como essas que me mostrou e... Me vigar do velho sádico que... que... — as lágrimas a princesa confundiram o coração do monstro, mas ele esperou paciente a mocinha se acalmar e continuar — O orfanato que fundei em Bristol foi destruído e nunca perdoarei Carkemis pelo que fez as crianças. Queria eu mesma atravessar aquele coração maldoso com uma lâmina.

— É esse o seu maior desejo? — Merak analisou cada micro expressão na face da princesa quando ela disse um sonoro sim.

O dragão aprumou a postura e moveu a pata até o peito. De onde arrancou uma pesada escama. Com aquela placa de prata em suas garras sussurrou um encantamento longo. À medida que as palavras eram ditas o metal se contorcia e dobrava. Adquirindo a forma de uma espada de guarda mão delicado e lâmina decorada com arabescos de cristais de gelo.

A linda espada flutuou liberando um brilho azul até pousar nas mãos da princesa. Por fim Merak novamente ofereceu a palma direita, convidando para que partissem.

~ ~ ~

Liberada da proteção das garras a princesa vê a cidade de Bristol arrasada. Com uma das mãos cobre a boca horrorizada com a cena impactante. Caminha lentamente até a borda da montanha em chapada, com seu pico tão plano como uma mesa.

— Ainda quer continuar?

Cintia olha a lâmina na outra mão e acena que sim determinada a vingar toda aquela destruição. Cada casa queimada, cada pedra da muralha que foi derrubada e cada vida inocente brutalmente tomada.

Agarrada pelo monstro mergulha no abismo e plana para o centro do acampamento. Uma rajada de sopro paralisante é derramada pela criatura, como névoa branca espessa. Os soldados tentam se levantar para a luta, mas caem atordoados como migalhas imóveis no chão de paralelepípedos amarelos.

Batendo as asas para manter a altura, planam mais uma vez. Aterrissam na frente do portão que restou do palácio. Um grupo de arqueiros e soldados se perfilam na escadaria e janelas.

— Vamos, agite a lâmina de sua espada. — ordena Merak e Cintia faz desajeitadamente. Porém o poder fulminante do artefato atravessa o chão em estacas de gelo e derruba nos guardas da escadaria.

Os arqueiros atiram suas flechas contra a princesa. Mas o dragão estende sua asa de prata como escudo. O tilintar das flechas no metal é interrompido pela voz brava do monstro.

— Apareça Carkemis! A princesa Cintia Luham veio desafia-lo para um combate de espadas.

O silêncio causado por aquele desafio é quebrado pelo som covarde de cavalos correndo para longe.

— Se concentre Cintia. Aponte sua espada naquela direção. Projete a magia para lá! — ensinou o gigante assistindo sua protegida descarregar uma rajada congelante equivalente a ao sopro de um dragão.

Os três cavalos que fugiam se tornaram pedras com seus passageiros e caíram no chão em pedaços.

— Me vinguei... — sussurrou a mocinha exausta com os lábio e dedos roxos suspirando névoa enquanto desmaiava.

~ ~ ~

Quando os olhos da princesa se abriram estava em sua cama rodeada por cortinas de seda. O seu quarto estava exatamente como sempre e seu corpo vestia o pijama de todas as noites.

— Finalmente acordou alteza! — comemorou sua serva de mãos calejadas e olhar gentil — preciso trocá-la para que se alimente. O dragão de prata virá essa noite!

— Lúcia, tive um sonho profético... Foi tão real. Se algo assim acontecer pode ser que eu salve nosso reino dessa guerra.

— Você já salvou! — interrompeu a voz de seu pai sentado próximo a lareira apagada. — Merak trouxe você quase morta e negociou seus cuidados revogando os espólios anuais.

— Negociou? Eu sou sua própria filha! Não precisa de trocas para salvar minha vida! Se não foi um sonho, o velho sádico foi eliminado, devia está feliz que eu retornei!

— Cale-se! A vida de Carkemis custou o dragão tê-la levado. Retornar para que a salvássemos me dava o direito de barganhar!

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