A menina dos cabelos de neve

Von DidiVeloso

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Aneline, uma órfã de 15 anos, vive em um mundo onde a realidade é cinzenta, mas sua imaginação é um jardim de... Mehr

Capítulo I - Chegada a Verzin
Capítulo II - Nova família
Capítulo IV - Dia de igreja
capítulo V - Admirador secreto
Capítulo VI - Um dia de escola
Capítulo VII - Encantador Salvador
Capítulo VIII - A festa

Capítulo III - Uma Inimizade.

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Von DidiVeloso

"Se não temos a sensibilidade de sentir a culpa pelos nossos erros, não teremos a capacidade para aprender com eles"

Assim como os dias de sol, os dias de chuva aparecem. Entre fios brancos e lágrimas ela perdia-se em soluços altos. Era o que dava ser uma pessoa intensa! Aneline escondia a cabeça entre as pernas enquanto chorava, mas, de vez em quando a levantava e olhava para a paisagem em frente - como se isso fosse amenizar a sua dor.

— Que árvores incríveis. — Murmurava tentando amenizar o sentimento de culpa, mas, voltou a chorar novamente. — Eu sou uma péssima pessoa.

Ali estava ele, o mesmo sentimento que ela teve quando cortaram os lindos cachos de Stacy, ou então quando a diretora queimou o seu presente de Natal que Dona Flora tinha comprado especialmente para ela.

Era angustiante.

Um sentimento de culpa, que a corruíra ferozmente por dentro.

Sentada sobre o telhado, refletia sobre o que tinha feito. Após o acidente, que levou Gabe Benetton para o centro médico da cidade mais próxima, ela só teve a reação de fugir e se fechar no seu quarto. Sentia que era o desastre em pessoa e os pensamentos negativos a consumiam como um vampiro sugava o sangue de um humano até findar os últimos suspiros.

Era uma estranha comparação, mas muito idêntica.

Assim que todos da casa surgiram ali um tanto desesperados pelos gritos que ela deu, não conseguiu olhar nos olhos de senhora Glory, pois, acabara de quebrar um quadro que parecia valioso e isso magoou o filho dela.

Era incrível a capacidade que ela tinha de arruinar a possibilidade de criar boa impressão aos outros. Ela se recusava a sair daquele quarto, ia comendo os pratos de comida que Rose deixava à porta, mas ela sentia uma vergonha tamanha que preferia ficar ali dando escopo à sua imaginação e pensar nos cenários mais terríveis possíveis.

— A menina não vai sair daquele quarto? — Perguntou Henry arrumando o seu jornal entre os dedos e notando a falta de Aneline à mesa pelo quarto dia. Rose soltou um longo e demorado suspiro. Já tinha tentado diversas formas de fazer com que aquela situação se amenizasse, porém, nenhuma delas tinha resultado. Ela também sentia a necessidade de respeitar o espaço de Aneline, não queria ser intrusa.

— Acho que não sou tão boa com palavras, a menina se sente culpada pelo acidente na casa dos Benetton e isso também é responsabilidade minha, pois Aneline é como uma criança e eu não tive prudência, ou cuidado de a vigiar. Fui irresponsável. Ela está envergonhada pelo acontecimento. Já lhe expliquei que Glory não está chateada e não a quer ver triste, mas ela insiste em ficar a chorar noite e dia naquele quarto. Não sei mais o que fazer.

— Como está Gabe Benetton? Já se recuperou?

Perguntou seriamente virando a folha do jornal.

— Pelo que parece, o quadro acertou-lhe a cabeça e deslocou-lhe um dos ombros. Está a recuperar, mas não poderá fazer grandes esforços.

— Ele é um jovem forte, isso é um pequeno acidente. Não é preciso tanto drama! Quando ele tiver de segurar uma arma entre os braços para lutar pela sobrevivência, como acontece em alguns países, aí eu terei pena. — Senhor Henry voltou a ler o seu jornal tranquilamente, mas antes terminou o seu diálogo — Fala com a criança para ir até a casa dos Benetton se desculpar e tudo estará resolvido. — Senhor Henry é uma pessoa prática. — Ou irei tomar posse do problema e o resolverei à minha maneira.

— Estou preocupada. — desabafou.

— A preocupação não resolve problemas. — Fechou o jornal e o pousou sobre a mesa. — Quanto à conversa que tivemos há uns dias, eu vou procurar um bom ajudante para induzir Aneline a estudar e com isso resolvemos esse pequeno problema. Concordo que deve tentar entrar na classe dos jovens da idade dela. Só o facto de ser uma órfã já abaixa as possibilidades dela na sociedade, atrasar um ano seria um caos.

Rose deu um sorriso radiante, como se aquela notícia tivesse trazido um pouco de paz ao seu dia. Tinha conversado seriamente com o marido sobre a educação e as oportunidades que queria para a filha adotiva. Embora Henry ainda não estivesse adaptado às escolhas de Rose - ele não deixava de concordar com a esposa -.

Após pensar nas palavras do marido, tentaria tirar Aneline daquele quarto.

Para isso iria recorrer à sua última alternativa. Não queria a intimidar, mas, pediria ajuda diretamente a uma amiga. Ela arrumou os cabelos, os deixando perfeitamente alinhados e segurou a sua bolsa entre os dedos antes de sair. Após chegar à moradia pretendida, bateu duas vezes à porta. A casa ficava a poucas milhas da sua, mas a rua já não pertencia a Paradise.

Pude ver pela janela a senhora já com vestígios de idade idosa abrir a cortina para verificar quem estava do lado de fora.

Alguns segundos depois...

A porta foi aberta e a senhora Parker apareceu no campo de visão de Rose. Os lábios curvados em um sorriso forçado com as rugas de expressão perfeitamente marcadas, que Rose conhecia muito bem. Lindsay Parker era a sua única tia viva. Ela estava viúva há vários anos e morava sozinha em Verzin. Senhora Lindsay não gostava de sociedades ou comunidades. Três dos seus filhos já haviam falecido e os restantes Rose não tinha sequer notícias do paradeiro, nunca fora chegada aos primos, apenas Jacinta que era mais ou menos da sua idade e ambas brincavam muito na juventude. Jacinta vivia na Irlanda, tinha casado com um marinheiro.

— O que lhe traz aqui, mister Hudson.

— Necessito fazer um pedido à senhora.

— Pois diga. — Mandou prosseguir. — Não tenho tempo de sobra Roselinda!

A senhora Parker, era mãe de 5 filhos e quem melhor para a ajudar naquele problema? Assim que o pedido foi feito, a senhora Lindsay não iria recusar ajudar a própria sobrinha.

— O que devo fazer, tia Parker?

Disse depois de ter falado tudo o que queria. Inicialmente ficou surpresa pela sobrinha ter adotado uma criança, mas ficou feliz pela escolha dela, pois sabia o quanto Rose se sentia vazia e sem amor depois da dolorosa peça que lhe pregou a vida.

— Verei o que posso fazer. Onde está a jovem? — Questionou curiosa assim que pisou na casa dos Hudson.

Rose indicou o caminho até ao andar de cima um tanto receosa, ela iria dar um passo para seguir sua tia, porém a idosa a travou com a voz rígida.

— Fique aqui! Se for lhe dar calor, ela nunca vai sair daquele quarto. São apenas birras eternas de uma criança.

Com o coração na mão, senhora Hudson deixou a sua tia cruzar o corredor sozinha, na esperança de que na volta, Aneline a viesse a acompanhar. Enquanto esperava, decidiu preparar um lanche para a sua menina.

Alguns minutos depois, conseguiu ouvir os passos firmes vindos das escadas, passos esses que foram ficando cada vez mais audíveis.

Os olhos azuis fixaram na jovem que estava agora com uma expressão mais leve: Serena.

Ela sorriu espontaneamente.

— Como conseguiu a tirar do quarto? — perguntou surpresa pela habilidade de Parker com crianças.

Senhora Parker trocou olhares com a jovem e ambas deram um sorriso cúmplice uma para a outra.

— É o nosso segredo, agora Aneline tem algo a fazer.

— Eu voltarei já Rose. — Foram as últimas palavras dialogadas antes de sair quase a correr da casa.

Rose iria falar, mas Parker a interrompeu.

— A deixe ir. Ela vai fazer a coisa certa.

Rose levou as mãos à cintura e olhou para a sua tia.

— Tem de me revelar esse segredo.

— Não foi atoa que criei tantos filhos. Não seja tão séria, era um assunto muito fácil de resolver, Roselinda.

Aneline cruzou o chão do Património dos Benetton com um fio de esperança depois da conversa agradável que tivera com uma mente realmente espantosa. Ela estava no profundo poço da solidão e da tristeza. Ela não sabia o que fazer para sair dele, até que a senhora Parker lhe deu um caminho.

Ela agora sabia o certo a ser feito, queria ter encontrado uma pessoa como a senhora Parker, nos tempos que vivia no orfanato.

Com uma pontada de coragem, bateu à porta da casa da família Benetton. Esfregou as mãos pálidas uma na outra e esperou ansiosamente enquanto treinava mentalmente o que iria falar.

Ela se sentiu envergonhada por ter sido a causa do acidente de Gabe Benetton, mas chorar não iria resolver nada.

A Senhora Parker a fez chegar a essa conclusão.

"Quero pedir as minhas mais sinceras desculpas, venho-me afundar na tristeza por tal erro cometido..."

Não!

Não era isso que ela queria falar.

"Quero que saiba que estou muito arrependida."

Para Aneline! É só falar.

Ela inspirou o ar com força e o soltou lentamente entre os lábios.

Quando a porta fora aberta, uma figura masculina a olhava fixamente. Cabelos castanhos, pele morena, olhos verdes e uma estatura alta. Ela só conseguiu prestar atenção a esses mínimos detalhes antes de tirar o envelope que escondia e o entregar nas mãos do rapaz em frente. Ouviu a voz da senhora Glory e não conteve a vergonha, saiu a correr antes que a encontrasse ali.

Durante o jantar, Aneline comia em silêncio enquanto se perdia em pensamentos. Senhor Henry lia por vezes o seu jornal e Rose falava sobre agricultura e o quanto no decorrer daquela semana eles tinham vendido os seus produtos biológicos. A família Hudson tinha um negócio bastante hábil na agricultura.

— Amanhã, depois da igreja, a criança irá estudar para entrar na escola. — falou Henry. — Encontrei um ajudante para lhe ensinar. Seja educada.

Aneline apenas assentiu sem prestar muita atenção à conversa.

— Vai ser tão bom querida, vais estudar. — Rose a olhou e sentiu-a distraída com o garfo e com o prato de comida quase intocável. — Querida? — A chamou.

Aneline sacudiu levemente a cabeça para sair dos devaneios, quando sentiu os olhares dos pais adotivos sobre ela. A realidade é que aqueles dias ela andava com a cabeça na lua, ou, a aguardar uma resposta à sua carta.

Aneline tinha um defeito; quando existia algo que a deixava ansiosa, ela não conseguia se concentrar direito.

Ficava mais distraída que o comum. Isso foi percetível quando quase se queimou com a chaleira de água quente para fazer um chá a Rose, já que ela estava a sentir dores de cabeça. Por sorte, Rose a avisou a tempo.

Aneline desceu o seu olhar até ver que em vez de despejar água a ferver na chávena, despejava no chão.

— Tenha cuidado, querida! — a advertiu preocupada e tirou a chaleira das mãos da jovem.

— Desculpe-me Rose. Oh! ROSE! — Parece que tinha entendido a gravidade da sua distração. — Me perdoe, eu quase me queimei por distração, mas é que a minha cabeça faz viagens longas e nesse estado de espírito apenas o meu corpo fica conspirante à realidade.

— Apenas tenha cuidado Aneline. Venha aqui. — Pediu se sentando frente à mesa da cozinha.

Aneline atendeu ao seu pedido e sentou-se ao seu lado.

— Eu sei que eu errei, mas eu fiz o que a senhora Parker me falou. Será que irei obter uma resposta? Ai a minha triste e profunda incerteza. — Exteriorizou em voz alta.

Rose arqueou a sobrancelha com a curiosidade à porta.

— O que a minha tia Parker lhe falou?

— A senhora Tia Parker disse-me que, errar é humano e termos a sensibilidade de sentir culpa é um grande passo para aprendermos com os nossos erros. Se passarmos essa sensibilidade com sinceridade, podemos corrigir estes erros e começar de novo, então eu acreditei naquelas palavras que pareciam ter sido tiradas de um livro impressionante. Me deu borboletas na barriga e até me emocionei. As palavras são tão incríveis Rose, se a usarmos para falar da beleza e do esplendor que é poder o fazer, eu acho que escreveria um livro se fosse detalhar a beleza do que o universo nos proporciona. Eu segurei uma caneta e escrevi tudo o que me sensibilizou com a culpa.

— Escreveste o quê?

Ela mordeu o lábio nervosa antes de responder.

— Uma carta Rose, eu escrevi uma carta com lindas palavras, lembro detalhadamente de cada traço especialmente elaborado para uma caligrafia legível e excecional.

— Uma carta? Para quem? Para Gabe Benetton?

— Sim. Eu fui sincera e pedi para que fossemos amigos, eu não tenho amigos aqui, seria incrível ter um amigo, mas também se ele não quiser ser meu amigo eu aceito. Eu sou muito decidida, se eu colocar na cabeça que nunca poderei ser amiga de Gabe Benetton eu entenderei assim. Cresci a aprender a aceitar a realidade Rose, embora eu goste mais de viver nos meus devaneios. Eu prometi que se amanhã Gabe Benetton não se pronunciar, nunca mais tentarei ser amiga dele. Eu prometi às forças mais divinas e esplêndidas da natureza que se quebrar essa promessa eu nunca mais na vida uso chapéu para esconder meu cabelo feio. Eu nunca quebro uma promessa. Eu iria sofrer muito se vissem o meu cabelo branco.

— Quando eu era bem jovem, eu também fazia muitas promessas, somos tão inocentes. — soltou uma breve risada como se tivesse uma boa lembrança. — Eu prometi a um menino que nunca mais brincaria com ele, depois dele me pisar o pé.

— E cumpriste essa promessa?

— Acho que é melhor irmos nos deitar, querida. Amanhã é Domingo, dia de ir à igreja. Temos de levantar bem cedo. Amanhã de manhã Glory virá trazer um vestido e algumas roupas. Ela não parava de falar sobre isso quando esteve aqui esta tarde, ela queria muito a ver. Amanhã seja educada e gentil, Glory é uma mulher com bom coração e ela gosta muito de si.


06:30 AM

Os galos cantavam sobre o telhado da casa dos Hudson e com eles Henry e Glory se levantavam em meio às presas para se vestirem. Os domingos eram assim no Vilarejo de Verzin. Aneline Levantava-se empolgada com a curiosidade de conhecer uma Igreja pela primeira vez. Tinha pensado sobre isso na noite passada, e esquecera a resposta que esperava de Gabe. Pela janela conseguia ter a esplêndida visão do nascer do dia - era tão bom ver a natureza no seu percurso natural -. Ela sorriu e fechou os olhos quando sentiu a leve brisa do vento bater na pele. Ela desceu ao telhado e sentou-se entre as telhas para apreciar melhor a paisagem. Analisando melhor os detalhes em volta, conseguia ter a visão periférica de uma árvore de tronco grosso que vinha do outro lado do terreno dos Benetton e se interligava quase à casa dos Hudson. Como ela naqueles dias em que se encontrava ali, nunca tinha reparado? A árvore ficava mais na parte traseira da direção em que ficava o seu quarto. subir a ela por ali, era extremamente perigoso, mas não impossível.

A árvore era maior do que ela pensava, pois estava toda coberta por folhas e parecia ter uma estrutura se subisse a ela. Ela afastou esses pensamentos no exato momento que a janela da lateral da casa do lado abriu e por ela uma cabeça se expôs. Era um jovem rapaz, o rapaz que lhe tinha aberto a porta naquele dia. Ele pareceu se assustar quando a viu perto da ponta do telhado. Ele do nada começou a fazer gestos que Aneline não conseguia entender, mas tinha uma expressão estranhamente de preocupação.

— Não te mates moça. Ó deus! Tem uma moça que se quer suicidar! — Falava meio ao desespero, mas teve uma ideia impulsiva.

A janela fechou-se e Aneline apenas deu de ombros, não conseguia entender nada do que ele falava, então continuou a análise pela paisagem.

Senhora Glory entrou na casa dos Hudson carregando nas mãos um vestido azul comprido, com alguns bordados dourados espalhados por todo o tecido, na saia de cetim existiam alguns babados e na gola do vestido que ia até ao meio do pescoço tapando todo o colo, tinha espalhadas algumas pérolas muito bonitas. Senhora Benetton vinha acompanhada com os dois filhos e o marido Ben que fora logo cumprimentar Henry, assim que Rose abriu-lhe a porta.

Christian deu um doce sorriso para senhora Hudson.

— Que prazer ver madame Rose. — Fez uma vénia.

Christiana tinha cabelos loiros, olhos azuis, pele morena, lábios volumosos e a cor deles pareciam a cor doce de uma cereja, tal como o seu sorriso doce e gentil.

Christian era um total oposto de Gabe, mesmo sendo o irmão mais novo pela diferença de apenas um ano, Christian tinha uma estatura alta e até mais forte que Gabe Benetton.

— Sempre tão galanteador este teu filho mais novo Glory. — Comentou com a amiga. — Como foram as férias na casa dos seus avós paternos em Cambridge?

— Muito boas, Cambridge é uma cidade muito encantadora, eu trouxe algumas lembranças para a madame Rose, as trarei depois.

Gabe estava a analisar com afinco em volta e sentiu Glory atirar em sua direção o vestido que carregava consigo para ele o segurar por um momento.

— Eu trouxe o vestido para Aneline, me diverti tanto a comprar roupa para menina, espero que ela goste. Levei dois homens para me dar uma opinião. — Senhor Henry soltou uma risada imaginando os filhos de Ben nas compras com a mãe. Conhecendo Glory, eles deveriam ter se sentido um tanto envergonhados— Terei de ir mais cedo porque sou representante do coro, mas Gabe os levará na carruagem reserva dos Benetton. É mais aconchegante para fazer viagens, principalmente para a Aneline.

— Mas Gabe se acidentou recentemente e pode não ser boa ideia ele conduzir a carruagem. — respondeu Rose.

Gabe lançou um olhar confuso à sua mãe, como se não estivesse nos planos ser ele a levar, mas quando ela fez um sinal como se fosse uma ameaça ele apenas assentiu.

— Ele já está totalmente recuperado, já tivemos o último diagnóstico do médico.

— Ó meu querido, está mesmo melhor Gabe?

— Obrigado, senhora Hudson, pela preocupação, mas, estou melhor e obrigado pelas maçãs que tem deixado em casa. São muito doces.

— É o mínimo, já que a culpa de estar...

— Não se preocupe, eu estou bem, a senhora não tem culpa. — sorriu levemente sem mostrar os dentes.

— Onde está a famosa Aneline? — Senhor Benetton pergunta. — Glory não parava de falar nela. Parece muito carismática.

— Perdida nos devaneios, é uma menina com um espírito muito jovem — brincou Rose. — Eu vou a chamar.

Glory a impediu e tocou o ombro da amiga com o seu.

— Deixa o Gabe ir, tenho a certeza de que ainda não fizeste o pequeno-almoço. — "Pode ser que assim, eles fiquem amigos", murmurou baixinho apenas para a amiga ouvir.

Glory fitou o filho mais velho e lhe fez um gesto para ele ir. Gabe apenas acatou a ordem da mãe.

— Com respeito e permissão. — Disse antes de sair.

Cruzar o corredor depois de tantos anos evitando ir frequentemente à casa da família Hudson, o fez sentir uma súbita tristeza. Ele conhecia aquela casa de uma ponta à outra e ver que continuava do mesmo jeito, lhe trazia uma nostalgia dos velhos tempos. Ele tocou com as pontas dos dedos o corrimão de madeira - exatamente o mesmo hábito que ele tinha a uns anos atrás -. Assim que cruzou o segundo corredor do andar de cima, os seus olhos passearam pelo espaço. Ele iniciou passos na direção do quarto ao final do corredor. Após ficar frente a frente na porta do quarto de Aneline, ele ficou um pouco nervoso - nem sabia a razão -. Deu duas batidas. Não teve resposta.

— Senhorita Aneline? — disse dando mais algumas batidas.

E mais uma vez..., não teve resposta.

Ele hesitou um pouco com o que iria fazer, mas levou rapidamente a mão à maçaneta e girou. Primeiro, olhou para uma fresta da porta, mas não conseguia ter a visão da jovem. Foi então que empurrou a madeira com as costas da mão e abriu a porta completamente.

De fato ela não estava no quarto. Ele entrou no cômodo em passos lentos e observou cada canto, até que, os seus olhos fitaram a cama que já estava arrumada.

"É melhor apenas deixar o vestido e voltar à cozinha", pensou para si.

Gabe aproximou-se da cama e então com todo o cuidado possível deixou o vestido sobre a mesma. Concluindo a sua tarefa, ele virou as costas para sair, porém, a voz feminina fez o seu coração dar um salto súbito e parou de mover-se.

— Oh!? Gabe Benetton? — o semblante de surpresa estava presente em cada sílaba da sua voz.

Ele travou o maxilar antes de se virar para Aneline e responder.

— Desculpe-me a intromissão, eu vim apenas chamá-la e trazer o vestido que a minha mãe pediu, mas como eu a chamei e a senhorita não me respondeu, eu entrei.

Aneline subiu a janela e pulou para o interior.

— Ah, eu estava complementando os meus olhos com as paisagens verdes e o ar puro de Paradise. A vista de cima é muito boa, as árvores são impressionantes vistas do telhado. Já viu como a natureza nos proporciona boas visões?

— Se me permite, eu irei sair. — disse educadamente e se dirigiu à porta.

Ela aproveitou que estavam sozinhos e passou as mãos pálidas pelas vestes.

— Gabe Benetton, não tem uma resposta... para mim? — perguntou num pingo de coragem.

Será que ele aceitaria ser o seu primeiro amigo em Verzin?

— Não existem respostas que eu lhe deva, senhorita Hudson. Tenha um bom dia.

Ela mordeu com força o lábio inferior e abaixou a cabeça.

Ele nem sequer mencionou a sua carta, ele simplesmente ignorou todas as palavras que ela escreveu com toda a sinceridade.

Um misto de deceção e tristeza lhe bateram e subitamente com ela, um fervor no estômago, que subiu até a garganta. Era o sentimento que ela sentia quando a diretora chicoteava Stacy. Dor, angústia e raiva. -

— Sai...do...meu...quarto. — falou entre pausas. Ela moveu-se em passos firmes na direção de Gabe, que recuou para trás com a proximidade e estava um tanto espantado por tais palavras e mudança de humor. O castanho avelã dos olhos dela estavam mais vivos que nunca e as suas bochechas mais vermelhas que o normal, do seu nariz só faltava sair fumaça, pois a expressão de Aneline não estava nem um pouco pacífica. — Eu estou muito irritada e tenho de expressar tal ingratidão que recebi, quando apenas usei a sinceridade para abrir portas que poderiam dar acesso a lindos jardins de flores, mas as pisaram, pisaram como se elas nunca estivessem lá, eu não vou permitir perder o tempo a regar uma terra sem semente. Eu o odeio, odeio por me fazer sentir insignificante neste momento Gabe Benetton! Não seremos amigos, seremos inimigos! — Ela pisou com força no pé direito do rapaz e sem esperar mais respostas, - pois agora ela não as necessitava mais -, fechou a porta na cara dele, acabando por acertar-lhe o nariz. 




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