🎨 | Boa leitura!
📄 VINNIE HACKER
Olive está me fazendo questionar muitas coisas. Já li uns bons trinta por cento do livro e estou me perguntando se todas as mulheres se fazem de cegas desse jeito. É óbvio que o Adam está apaixonado por ela, mas ela não percebe o que está na frente dos seus olhos. É preciso ser direto e dizer com todas as palavras?
Eu gosto de deixar tudo às claras, mas só para não haver qualquer confusão de interpretações. Não é como se algumas coisas não pudessem ser notadas com base nos comportamentos. O que a Olive pensa que o Adam está fazendo quando ele é gentil com ela e grosseiro com o resto do mundo? É óbvio que ele está apaixonado, por que ela está se enganando tanto?
Insegurança.
Ela acha que um homem como ele não se interessaria por alguém como ela, então ela não enxerga esse interesse e justifica que seja qualquer outra coisa menos isso. Olive está se autosabotando. E eu também.
Eu vi como a Seren olhou para mim quando eu a beijei mais cedo. Vi como ela me olhou na primeira vez em que nos beijamos. É o mesmo jeito que me olha quando eu faço qualquer coisa gentil por ela, quando eu a elogio ou a apoio quando ela menos espera. E eu atribuindo isso a como ela é só uma pessoa boa. Ela não olha para mais ninguém assim.
Mas eu não quero fazer isso de novo. Acabei de sair de um relacionamento com um término terrível que me amargurou por muito tempo e me fez desacreditar da beleza do amor. Se no final eu vou me sentir como se tivesse saltado de um penhasco direto em pedras pontudas, eu prefiro nem me aventurar. Mas ainda assim, o que eu faço com isso que tem crescido dentro de mim? Já percebi que não dá pra simplesmente escolher deixar isso adormecido. Eu vou continuar sentindo cada vez que ver a Seren.
E pela primeira vez desde que me mudei para cá, cogito ceder e ir embora. Eu deveria ir, dizer que ela venceu e que eu não posso mais morar com uma mulher que me faz pensar em viver todo o drama de relacionamento de novo. Não posso dar esse poder a mais ninguém, eu não suportaria. E seria ainda pior com a Seren, porque o sentimento que está começando é mais descontrolado do que os sentimentos que já tive por qualquer outra mulher. Se acabar mal, vai ser dez vezes pior.
[•••]
Quando volto da academia, vou até a varanda dar uma olhada no Cheddar. Ele está bem, começando a sair da caixa e tentar voar. Consegue levantar alguns poucos metros e depois pousa perto de uma das plantas da Seren. O ferimento já está totalmente curado, ele só precisa aquecer as asas de novo e nós poderemos deixá-lo livre.
Estranhamente, me sinto um pouco pra baixo ao pensar que teremos que soltá-lo eventualmente. É claro que eu nunca quis fazer isso e só ajudei a cuidar do passarinho por causa da Seren, mas eu me apeguei um pouco a essa pequena criatura. Sento na rede da varanda e observo o pássaro bem curioso, bicando as folhas de uma plantinha. Deve ser mais fácil cuidar de um passarinho do que de qualquer outro bicho, por isso foi interessante. E saber que ele só está vivo por causa do que fizemos me dá uma satisfação.
A porta da sala se abre e eu olho para trás, vendo Seren entrar sozinha no apartamento. Ela vem até a varanda e para apoiada contra a grade de frente para mim e de costas para a vista da cidade. Nada é dito inicialmente, ela só vira o rosto quando o vento passa e balança os seus cabelos, fazendo uma pequena bagunça de fios na frente do seu rosto. Acompanho com os olhos o movimento de sua mão quando ela afasta o cabelo para trás da orelha.
Isso é tão difícil. Eu quero muito ela, mas eu não quero fazer isso comigo de novo. Não quero me arriscar e confiar em outra pessoa que parece ser a melhor só para descobrir que não é bem assim. É claro que não parece que a Seren vai me decepcionar, mas também não parecia que a Norah faria isso. Tenho medo de não saber o que esperar.
Seren olha para mim e eu vejo o cansaço em suas expressões. Ela também está pensativa e eu espero que ela seja a primeira a iniciar uma conversa.
— Sua mãe quer me escolher. — fala sem a animação que eu esperei que ela tivesse com uma notícia dessas.
— E isso não é bom?
— Ela está me oferecendo mais do que eu esperava, na verdade. — suspira. — Disse que eu poderia me tornar uma artista efetiva do museu, que posso lançar minhas próximas coleções lá.
— E qual é a parte ruim disso? Achei que esse museu fosse o hall da fama pra você.
— Eu teria que morar em Nova York.
— E o que... — paro quando começo a entender. — Claro. — bufo aborrecido. — Ela quer que eu volte para Nova York e acha que você é a única coisa que me prende em Houston.
— Eu estava tão feliz até ela dizer "Vinnie e você podem morar comigo até acharem um apartamento". — desvia o olhar, mas consigo vê-los marejarem. — Não quero conseguir as coisas por outra razão que não seja unicamente o meu trabalho. Estou sendo idiota por pensar assim?
— Claro que não. — chego um pouco para o lado na rede e faço sinal para que ela sente comigo.
— Eu falei com a Nailea, ela acha que eu deveria agarrar todas as oportunidades, independente de onde elas venham. — se acomoda ao meu lado, seu corpo colado ao meu.
— Se você aceitar e chegar a ter uma grande exposição exclusiva no museu, vai sentir que é mérito seu?
Ela balança a cabeça negativamente e seus olhos brilham ainda mais quando mais lágrimas ameaçam se derramar. Uma delas escapa, rolando por seu rosto silenciosa. Não resisto e ergo o meu polegar para capturar a lágrima, passando meu dedo por sua pele enquanto observo os seus olhos que parecem pedir por amparo.
— Não faça nada que vai te fazer sentir menos merecedora do que você é. É claro que você merece chegar o mais longe possível com a sua arte, mas não precisa ter pressa e entrar em acordos duvidosos. Não é fácil conquistar as coisas de forma totalmente honesta nesse mundo, mas só você sabe o que faz quando deita a sua cabeça no travesseiro à noite e carrega o peso das suas próprias ações.
Seren não diz nada, mas me pega de surpresa ao passar seus braços por minha cintura e me abraçar, encostando a cabeça em meu peito. A envolvo com os meus braços e apoio meu queixo no topo de sua cabeça. Ela me aperta com bastante força, o que é incrível para alguém pequena que não faz nenhum exercício físico. Espero até que seja o bastante e ela se afaste de novo. Agora ela está sorrindo, e esse sorriso faz coisas comigo.
— Abraço de urso, uh? — arqueio a sobrancelha.
— O mais apertado. — diz com orgulho.
— E onde está a mamãe monstro? — pergunto com bom humor, arrancando uma risadinha dela.
— Ela queria fazer compras no shopping e eu disse que estava cansada demais pra isso. Fiz mal? Ela nunca veio à cidade.
— Infelizmente, ela sabe pedir um Uber e vai voltar.
— Você é cruel. — ri de novo, me empurrando de leve com o ombro.
— Que tal sairmos hoje à noite? — sugiro, mas decido reformular quando ela me olha surpresa. — Com os seus irmãos e a Avani. Vamos sair para beber, desestressar um pouco.
— Ah! — desvia o olhar.
Ela achou que eu a estava chamando para um encontro? E está desapontada por que eu corrigi? Interessante.
— Sua mãe... — começa, mas eu a interrompo.
— Pare de se importar tanto com ela, Seren. Acredite, passar as noites comigo nunca foi o melhor passatempo dela.
— Espero que você tenha feito terapia. — fala um pouco mais séria do que antes.
— Por que você acha que eu comecei a fumar escondido? — ela está com cara de quem quer continuar a falar sobre isso, então eu me adianto. — Ligue para os seus irmãos, eu ligo para a Avani.
— Ok. — sorri fraco.
[•••]
No final, apenas Avani e Nailea puderam sair com a gente. Escolhemos um barzinho no centro e eu fiquei esperando a Seren na porta do apartamento, evitando sentar no sofá com a minha mãe, só para que ela não ache que estou aberto a alguma conversa. Ainda preciso encontrar as palavras certas para dizer a ela que não pode usar a Seren para me fazer voltar para Nova York.
— Oh, minha nossa! — ouço minha mãe exclamar em um tom baixo e surpreso.
Ergo meus olhos que estavam no celular e vejo Seren com um vestido verde musgo de seda com decote em V e saia que se solta depois de uma faixa logo abaixo dos seios. Está usando uma sandália de salto preta, os cabelos soltos e quase nenhuma maquiagem. Os lábios rosados estão cobertos por gloss e não tem nada em seus olhos. Prefiro assim, consigo ver o castanho deles melhor. Um castanho que se acentua por causa da cor do vestido.
— Onde você comprou esse vestido? — minha mãe pergunta.
— Eu vi no Pinterest e a minha avó fez. — Seren sorri.
— É muito bonito.
— Obrigada! — Seren sorri mais abertamente diante do elogio inesperado.
E eu poderia ficar chocado com o fato de a minha mãe estar elogiando alguém abertamente, mas estou ocupado ficando chocado com a mulher linda na minha frente.
— Essa cor lhe cai bem. — digo.
— Couro lhe cai bem. — ela caminha até mim e puxa as laterais da jaqueta preta que estou usando.
Não evito e olho para os lábios dela. Quando ela olha para os meus, aproveito e a puxo pela cintura. A beijo sem me preocupar no depois. Estamos fingindo que somos um casal para a minha mãe, posso usar isso como desculpa e evitar tornar esse momento tenso.
O gloss dela tem gosto de doce de morango e eu puxo seu lábio inferior entre os meus, chupando para provar um pouco mais disso.
— Acho que vou ganhar netos antes do que esperava. — Maria resmunga.
Odeio que ela atrapalhe esses momentos e odeio só poder fazer isso na frente de quem atrapalha.
Me atrevo a continuar beijando a Seren mais um pouco, a segurando pela nuca e aprofundando minha boca na dela quando ela tenta se afastar. Só a deixo quando me sinto parcialmente saciado. Ela me encara com os olhos enormes que podem estar admirados ou irritados, difícil dizer. Causar as duas emoções nela me satisfaz.
— Vamos, amor? — pergunto com um sorriso de canto.
— Sim. — assente ainda um pouco inerte.
Seguro a mão dela e saímos juntos do apartamento. Mesmo longe dos olhos da minha mãe, não a solto. Seguramos a mão um do outro até chegarmos à garagem do prédio, e só nos separamos quando precisamos entrar no meu carro.
— Acha que ela elogiou o meu vestido por estar tentando me agradar? — Seren pergunta com um ar de insegurança.
— Pare de se importar com o que ela diz.
— É fácil falar. — suspira.
— Você está linda. — afirmo. — Ela seria idiota se não achasse isso.
Olho para ela de relance e a vejo sorrir para mim. Esses sorrisos me derretem. São sorrisos perigosos.
Chegamos ao barzinho em pouco tempo. Quando entramos, procuramos por Nailea e Avani, que avisaram por mensagem já ter chegado. Elas estão em uma mesa perto do palco, onde uma banda toca música ao vivo.
— Oi, casal! — Avani sorri divertida.
— Lá vem... — resmungo ao rolar os olhos.
— O engraçado é que vocês realmente parecem um casal. — Nailea diz antes de dar um abraço apertado na irmã. — Você está uma gata, ursinha! — elogia.
— Realmente! — Avani a olha de cima a baixo e eu me sinto incomodado pela breve segunda intenção que noto no olhar da minha amiga. — Onde estava escondendo tudo isso, garota?
As duas se abraçam enquanto Seren ri da piadinha. Eu cruzo os braços e encaro Avani, que pisca para mim com o queixo apoiado no ombro da Seren.
— Obrigada, meninas, vocês também estão maravilhosas. — Seren fala antes de tomar o seu lugar numa das cadeiras vagas da mesa.
— Por que estamos tão perto do palco? — pergunto depois de sentar ao lado dela.
— Porque o vocalista é um gostoso e ele vai ganhar uma gorjeta especial hoje. — Nailea diz olhando diretamente para o cantor, que sorri para ela como se estivesse flertando de volta.
— Garota, eu te amo. — Avani diz para ela. — Seren também está disposta a encontrar alguém hoje? — há uma insinuação implícita ali.
Ela está fazendo de propósito, Avani ama me deixar incomodado. Mas como ela sabe que isso me deixa incomodado? Maldita observadora.
— Não. Estou tranquila.
— E está com o Nick. — Nailea completa. — Não é? — a olha de relance.
— É. — Seren responde depressa demais. — E você com o Jaden? — pergunta para a Avani.
— Pois é. — me meto na conversa. — Soube que andam tendo um lance esquisito. Como é isso?
— Com certeza nada parecido com o lance esquisito de vocês. — ela retruca de forma ácida.
Seren e eu nos entreolhamos brevemente enquanto Nailea solta uma risada.
— Eu tenho que discordar. — a irmã de Seren fala ainda rindo. — É bem parecido.
— Ah, pelo amor de Deus! — minha amiga se aborrece.
— Quer beber algo? — pergunto perto do ouvido de Seren enquanto as outras duas entram numa discussão sobre o Jaden.
— Uma cerveja seria bom.
— Vou pegar. — me retiro e vou até o bar.
Está um pouco cheio, provavelmente por causa do show ao vivo, então o bar está meio lotado e demora alguns minutos para eu ser atendido. Até lá, olho algumas vezes para a mesa onde as deixei, só para ver se estão bem, nada demais.
Compro duas cervejas, uma normal para a Seren e uma zero álcool para mim, já que vou dirigir depois. Retorno para onde elas estão e nós seguimos conversando sobre banalidades, rindo bastante e tomando algumas bebidas. Após duas horas, começo a notar a animação das meninas bem maior. As bochechas vermelhas da Seren são um sinal do álcool começando a agir no corpo dela. Estou totalmente sóbrio, então fico atento para fazê-las parar quando achar que estão no limite.
— Vou usar o banheiro. — aviso ao levantar.
— Demora um pouquinho lá. — Avani diz. — Vamos aproveitar e falar de coisas de garotas. — ri.
— É a noite das garotas... e do Vinnie! — Nailea gargalha, sendo acompanhada por Seren e Avani.
Me esquivo para falar com a Seren.
— Você é a mais sóbria, não deixe elas pedirem mais nada até eu voltar. — peço.
— Tudo bem. — ela concorda assentindo.
Depois de usar o banheiro, volto pelo caminho que fiz quando saí da mesa. Quando estou perto, ouço elas citarem o meu nome como se fosse um segredo, então me escondo atrás de uma pilastra próxima à mesa. Se estão falando de mim, não tem problema eu espionar, certo?
— Eu acho isso uma completa bobagem. — Avani fala. — Você ficou com ciúmes de mim naquele dia do jogo, não foi? Por isso quase me engoliu quando eu pulei no colo dele.
— Desculpa por aquilo, não sei o que deu em mim. — Seren pede um pouco constrangida.
Sorrio fraco ao ouvir isso. Ciúmes? De mim? Muito interessante.
— Eu sei. — Nailea declara. — E pelo visto o Nick também.
— Ainda vai sair com ele? — Avani pergunta. — Você disse que ele não sabe chupar.
Aperto meus lábios um no outro para conter uma risada. Adoro como Avani não tem filtro nenhum.
— Isso não é um problema. — Seren diz. — Nunca saí com ninguém que soubesse, de qualquer forma. — dá de ombros.
— Espera, o quê!? — Nailea pisca. — Nunca gozou num oral?
Seren balança a cabeça negativamente e parece ainda mais tímida com o rumo que a conversa está tomando.
— Isso é inaceitável! — Avani diz indignada. — Quantos caras medíocres estiveram perto da sua vagina?
— Não muitos, mas todos com quem já saí. — Seren conta antes de dar um gole em sua cerveja. — Acho que nenhum homem sabe fazer isso.
— Não, querida, você só saiu com os caras errados. — minha amiga ainda parece indignada. — Você já teve algum orgasmo na vida?
— Se a resposta for "não", eu vou decepar o pênis do Nicolas, porque eu apostei muito nele. — Nailea fala.
— Não decepe o pênis do Nicolas. — Seren ri. — Sim, eu já tive orgasmos, mas não com outras pessoas. Apenas... sozinha.
— Que tragédia! — Avani dramatiza. — Se estiver aberta a novas experiências, eu te faço ter um.
As três dão risada depois disso e a descontração retorna entre elas. Logo Avani começa a falar sobre como mulheres são melhores na cama do que os homens e elas esquecem do fato de a Seren nunca ter tido um orgasmo com ninguém. Mas eu não esqueci. Na verdade, pensei nessa conversa pelo resto da noite depois de voltar para a mesa e também no caminho para casa quando Seren pegou no sono no banco do carona.
Uma mulher como ela não deveria sair com homens medíocres. E com certeza não deveria passar por essa vida sem ser devidamente adorada entre as pernas.
🎨 | E o que ele vai fazer sobre isso, hein?