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Π’Ρ–Π΄ dayligzt

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β€§β‚ŠΛš β€§β‚ŠΛš π€πœπ­ 𝐎𝐧𝐞 ˚ β€§β‚ŠΛš β€§β‚ŠΛš
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De volta a Kenneth, Theodosia seguiu em passos largos pelos corredores da mansão de Nuriel. Já era tarde e o jantar tinha sido servido há um bom tempo, todos já estavam em seus devidos quartos, prontos para dormir.

Era bom saber que estava só pelo caminho e que ninguém estava por perto para ver o rastro de lágrimas em seu rosto. Ainda usava aquele vestido fino e branco, e se alguém a visse daquele jeito, descabelada, apenas de camisola e chorando... que impressão terrível passaria?

Ela bateu na porta algumas vezes, suavemente. Sua respiração estava ofegante, mas Theo tentava segurar o choro, mantendo os lábios trêmulos fechados.

— Theo? — Eris franziu levemente o cenho ao abrir a porta de seu quarto. Estava vestindo uma camisa de linho aberta e amassada, como se só a tivesse vestido para poder atender quem estava do lado de fora, e um calção de dormir marrom escuro.

Só então que Theodosi ouviu o choro do bebê que vinha do quarto. Seus olhos tremeluziram um pouco, os cílios ainda molhados.

— Theo — Eris chamou mais uma vez, preocupado. — O que aconteceu? Onde Lucien está? Ele é melhor que eu para...

— Não. Preciso de você agora — Theodosia soluçou, sua voz saindo esganiçada e um pouco alta demais. — Você sabe que preciso fazer o que tem que ser feito, sabe que tenho que cumprir com as minhas obrigações. Então, me diga que estou fazendo a coisa certa. Me diga que tudo isso que estou sentindo vai passar e que eu estou fazendo a coisa certa...

Parecia que o choro de Theo tinha incomodado o pequeno Perseu, que começou a chorar ainda mais alto, como se fosse uma competição.

Eris abriu um pouco mais a porta, se virando de frente para Selene, que estava dentro do quarto, balançando Perseu em seu colo de um lado para o outro, perto do berço do bebê.

O Vanserra olhou do filho para Theodosia por um instante, e então, decidiu: — Por que não damos um passeio?

— O que? — Theodosia conseguiu perguntar em meio ao choro.

— O balanço do carrinho ajuda Perseu a pegar no sono — explicou o irmão ao pegar o carrinho de bebê perto da porta e se aproximar da esposa.

Eris colocou o filho no carrinho, cobrindo o corpinho com uma mantinha antes de pegar um par de calças escuras de uma gaveta e vestir. Jogou uma túnica escura por cima da camisa antes de puxar uma capa do cabideiro.

Ele fez o carrinho passar pela porta e prendeu a capa pelos ombros de Theodosia, fazendo-a franzir o cenho.

— Não sinto frio, Eris.

— É, mas uma princesa que vai se casar em dois dias não pode vagabundear por aí usando camisola — reclamou ele, já seguindo pelo corredor, empurrando o carrinho.

Perseu parava de chorar aos poucos, se divertindo com o balançar, mas voltou a chorar quando Eris o tirou do carrinho para que pudessem descer as escadas.

Poucos minutos depois, os Vanserras estavam no jardim da frente da mansão, sentados em um banco de mármore. Eris balançava para frente e para trás suavemente o carrinho de bebê, e Theodosia mantinha os olhos focados no céu.

— Fiz a coisa certa, não fiz? Estou noiva do macho que está nos dando a melhor chance de vencer essa guerra — ela murmurava, baixinho para não incomodar Perseu.

Eris não respondeu, mas voltou o rosto para ela, seu olhar mostrando sua preocupação pela irmã.

— Se estou fazendo a coisa certa, por que dói tanto? — Theo se virou para o irmão, os olhos azuis brilhando com mais lágrimas que ela tentava segurar.

A alguns metros, haviam guardas patrulhando a frente da mansão, mas a distância era tanta que não podiam ouvir a conversa. E Theo não se importaria se ouvissem.

— Não é porque uma coisa é necessária, que é agradável de se fazer — Eris respondeu baixinho. — Se queremos ser governantes, precisamos carregar fardos para cuidar do nosso povo.

Theo assentiu, reprimindo os lábios em uma linha fina. Eris soltou um suspiro pesado.

— Theo, eu não sei o que dizer... não sei como posso fazê-la se sentir melhor com o que está acontecendo. Talvez Lucien tivesse sido uma opção melhor para te aconselhar, ou Nalu.

— E Kai? — ela arqueou levemente as sobrancelhas.

— Gosto dele, mas acho que Kai tem menos tato para esse tipo de conversa do que eu — Eris abriu um sorrisinho ao ouvir o riso fraco da irmã.

— Você não é tão ruim assim. E não te procurei para ser reconfortada. Te procurei porque você sempre foi o mais pragmático de todos os nossos irmãos. Lucien me diria para não me casar, e que tentaríamos encontrar outra solução. Mas você sabe que não temos tempo para isso, você sabe que se uma coisa tem que ser feita, não podemos hesitar.

Eris assentiu levemente, os olhos voltados para o filho adormecido.

— Beron sempre foi mais rígido com a minha criação, por ser seu filho mais velho. E ele pode ter ensinado muitas coisas horríveis, mas sempre fez o preciso para alcançar o que queria — Eris respondeu.

— É, como torturar seus filhos em experimentos para que virassem armas — Theodosia resmungou.

— Não estou dizendo que os métodos dele eram corretos — Eris explicou rapidamente. — O que quero dizer é que ele fazia o que era preciso. E infelizmente... não temos solução melhor para conseguir essa aliança que não seja pelo casamento.

Theodosia suspirou, puxando a capa contra si, agarrando-se ao tecido.

— Sabe que nunca obrigaria você a se casar, não sabe? — Eris a olhou com culpa. — Nunca quis passar essa impressão, Theo. Você pedia a minha opinião e eu respondia, aconselhava você a fazer o que eu faria no seu lugar, mas nunca...

— Eu sei — ela o interrompeu. — Eu sei disso, Eris. E ninguém precisaria me obrigar para que esse casamento acontecesse. É necessário.

Eris relaxou os ombros, um alívio momentâneo tomando conta de si por saber que a irmã não se sentia pressionada por ele.

— Azriel me pediu em casamento — Theodosia confessou.

Eris arregalou os olhos.

— O que você respondeu? — a voz de Eris soou cuidadosa.

— Continuo noiva de Tysonalus, não continuo? — Theodosia o olhou de soslaio. — Eu disse que não podia, que não podia me casar com ele.

— Deve ter sido difícil.

— Foi a coisa mais difícil que já tive que fazer — respondeu ela.

— Se essa guerra não existisse, se nada impedisse você — Eris se virou um pouco mais, a voz ficando uma oitava mais baixa ao perguntar: —, você aceitaria?

— Sem pensar duas vezes — Theodosia abriu um sorriso triste, se voltando para o irmão. — Me casaria com ele no mesmo dia se fosse possível.

Eris assentii, com um sorriso pequeno. Theo respirou fundo, tentando se recompor.

— Mas a guerra existe, e está se aproximando — ela coçou a garganta, arrumando a postura e limpando o rosto com as mãos. — E sairemos vitoriosos dela. Talvez eu vire Grã-Senhora, ou você Grão-Senhor, e de um jeito ou de outro eu terei um bando de filhos metade saorianos para cuidar de Saori depois que eu já estiver morta.

Eris franziu o cenho.

— Que vidinha tediosa te espera, já que eu serei o Grão-Senhor.

— Estou pensando em exilar você, quando me tornar Grã-Senhora — Theo zombou. Eris revirou os olhos, empurrando-a levemente com o ombro.

— Se você realmente ter esse bando de filhos metade soarianos...

— Saorianos — Theo corrigiu. Eris dispensou com a mão e um estalar de língua.

— Se tiver esses filhos, espera que seja porque os quer, e não por dever — Eris a olhou sério dessa vez.

— Tysonalus não é como Beron, não sou obrigada a nada — Theodosia deu de ombros. — E se até você consegue ser bom nessa coisa de cuidar de uma criança, não deve ser difícil para mim.

Eris bufou uma risada.

— É difícil para caralho, certo? Se acha ruim limpar ferimentos em batalha, é porque nunca teve que trocar uma fralda — Eris rebateu.

Eris voltou o olhar para Perseu mais uma vez, um sorriso bobo nos lábios.

— Tinha medo de ser como Beron. De ser incapaz de amar ou ser amado — ele engoliu em seco. — Mas não há nada que eu não faria por Perseu e Sel, Theo. Nada.

— Eu sei — Theodosia sorriu. — É bom ver que um dos Vanserras acabou se tornando alguém decente.

— Se eu sou o decente dos Vanserras, algo deu muito errado com você e Lucien, maninha — Eris zombou, se aproximando da irmã para passar o braço ao redor de seus ombros, abraçando-a de lado.

— Algo deu muito errado com todos nós — ela deu de ombros. — E por algum motivo, ainda estamos aqui, de pé. Talvez sejamos muito sortudos.

— Acho que só somos muito bons juntos — Eris respondeu. — Mesmo que Lucien seja um porre e não admita.

Theo bufou, soltando um risinho.

— Obrigada por estar comigo agora — ela sorriu para ele. — Não precisava ter deixado o quarto para ficar comigo.

— Não, não precisava — Eris abriu um sorriso presunçoso. — Mas eu amo você.

[...]

— Bom dia, Princesinha das Chamas — Feyre cantarolou ao invadir o quarto de Theodosia.

Theo resmungou alguma coisa contra o travesseiro, mas a Grã-Senhora ignorou, abrindo as cortinas para deixar a luz natural entrar.

— Vamos, levante — Feyre bateu palmas. — Ouvi que dispensou as criadas que a vestiriam para o café da manhã que, por sinal, já aconteceu.

— Não estou com fome — Theo murmurou, ainda enrolada nos lençóis.

— Já estão vindo aqui terminar as provas do vestido, Theo — Feyre se aproximou da cama. — Você tem tanta coisa para fazer durante o dia, e ainda terá a festa a noite...

— Festa? O casamento é amanhã — Theo finalmente abriu os olhos, franzindo o cenho para a amiga.

— Sim, mas o Lorde Nuriel decidiu fazer uma celebração hoje para animar os cidadãos. As coisas estão tensas por aqui nos últimos tempos e, já que eles não participarão da sua cerimônia de casamento, vão comemorar hoje a noite.

— Eu não estou no clima para festas — Theodosia se virou para o outro lado.

— Estão comemorando a você, Theo! — Feyre exclamou, dando a volta pela cama para ficar de frente para a ruiva de novo. — Terá bebida, música, dança... Vai ser ótimo para te distrair um pouco. Uma típica festa da Corte Outonal.

— Certo, vou na festa. Agora posso voltar a dormir?

Feyre bufou alto, e por um longo tempo, ficou em silêncio.

Theodosia pensou que a fêmea tinha finalmente desistido quando sentiu o colchão afundar aos seus pés com o peso de Feyre, que tinha acabado de subir na cama.

— Sua maluca! — Theo esbravejou com os olhos arregalados quando Feyre arrancou seu travesseiro e começou a atingi-la repetidamente. — Qual o seu problema?!

— Você é o meu problema, sua rabugenta! — Feyre jogou o travesseiro longe antes de se jogar na cama, ficando ajoelhada ao lado de Theodosia. — Escute, ultimamente as coisas estão difíceis para todos nós, Theo.

Feyre respirou fundo, a sombra da tristeza manchando sua expressão.

— Meu marido teve que se esconder por dias. Vi meu filho ameaçar a amiguinha que ele tanto ama, Theodosia. E tudo o que está acontecendo na Corte Outonal... Pela Mãe, são tantas angústias que mal sei por onde começar.

Aos poucos, Theodosia se sentou na cama, os olhos focados na Grã-Senhora.

— Todas essas pessoas estão tão desoladas, e Nuriel realmente se preocupa com isso, ele realmente quer que todos tenham uma noite agradável em meio a tanta tristeza. E eu estou dando o meu melhor para buscar a felicidade hoje e fazer o mesmo pela minha família.

Feyre deu um sorriso triste ao segurar as mãos de Theodosia.

— Por favor, Theo. Vamos tentar ter um dia bom em meio a tantos dias aterrorizantes.

A Vanserra engoliu em seco, segurando com força as mãos da Archeron contra as dela. Respirou fundo antes de pedir: — me ajuda a me vestir, então?

Feyre abriu um sorriso agradecido ao se levantar da cama.

— Vamos fazer de você a futura Grã-Senhora mais linda que Prythian já viu — Feyre abriu um sorriso. — Podemos pedir para Mor fazer sua maquiagem mais tarde, o que acha?

E então, Feyre teve dezenas de ideias sobre como Theodosia podia se vestir para a festa que aconteceria a noite. Apenas quando as criadas que fariam a prova do vestido de noiva chegaram, que a fêmea finalmente se afastou para deixar o quarto.

— Fey — Theo chamou quando a viu abrir a porta —, obrigada por vir me ver. Obrigada por estar aqui.

Feyre deu uma piscadela.

— Grã-Senhoras precisam se unir — disse ao sair, fechando a porta atrás de si.

Theodosia passou um longo tempo provando o vestido de noiva dourado, cheio de ondulações duras que causavam relevo no vestido, tanto nas saias quanto no corpete — que por sinal, era tão justo que ela sentia que se comesse um único pedaço de bolo, toda a roupa explodiria.

O dia foi cansativo. Muitas reuniões, tanto sobre a guerra quanto sobre a união entre Saori e a Corte Outonal.

— Theodosia — Cassian chamou da porta do escritório onde Theo estava se reunindo com os lordes da Corte Outonal.

— Oi, Cassian — ela abriu um pequeno sorriso, mas então se preocupou. — Está tudo bem?

— Sim, está tudo bem — ele assentiu rapidamente, abrindo um sorriso tranquilizador. — Mas Azriel está com um grupo de refugiados nas fronteiras de Kenneth. Precisamos que abra a muralha.

— Ah, é claro — Theo concordou, levantando-se. — Acabamos aqui? Gostaria de receber os refugiados — ela se voltou para os lordes.

— Acabamos — Dunne se levantou —, é uma boa ideia recebê-los. Se sentirão mais seguros em sua presença.

Theodosia assentiu, despedindo-se, mas assim que se virou para Cassian, franziu as sobrancelhas, confusão em seu rosto. O illyriano abriu um sorriso grande, tentando segurar a risada.

— Lorde Dunne acabou de me dizer algo gentil? — Theo perguntou aos cochichos, seguindo pelo corredor ao lado do General da Corte Noturna.

— Acho que sim — o macho murmurou de volta para ela. — E ele não diz coisas gentis para qualquer um. Deve se sentir orgulhosa.

— Quem diria que ele sabe falar mais do que xingamentos e comentários desagradáveis — Theodosia deu de ombros, deixando a mansão. Sorriu ao ouvir a risada estrondosa de Cassian.

A fêmea segurou no cotovelo dele, atravessando aos dois para perto das fronteiras de Kenneth. Quando chegaram, já haviam soldados — das Cortes Outonal e Noturna —, esperando por eles.

Theodosia abriu uma brecha na muralha, expondo as figuras que estavam do lado de fora. Risadas chegaram aos ouvidos dela, risadas que, de alguma forma, ela reconhecia.

Seus olhos se arregalaram ao ver Azriel com um sorriso pequeno, mas gentil, sendo acompanhado por uma fêmea ainda gargalhando, que estava de braço dado com ele.

Assim que a fêmea percebeu a fresta na muralha, seus olhos encontraram os de Theodosia, e a risada se tornou um sorriso enorme que chegava aos grandes olhos verdes.

Theo se viu sorrindo também, andando na direção dela em passos largos.

— Rebeca? — Theodosia soltou uma gargalhada quando a fêmea correu até ela, os cachos compridos balançando no ar antes dela se chocar contra a ruiva. — Eu não acredito!

— Pensei que nunca veria você de novo, Theo! — A risada de Rebeca de repente se tornou um soluço. — Você desapareceu na noite em que disseram que os humanos haviam incendiado a Casa na Floresta... Muitos pensaram que você tinha morrido naquela noite.

Ela se afastou um pouco de Theodosia, segurando as mãos dela firmemente, os olhos inundados de emoção.

— Mas eu sempre soube, eu sempre senti que você estava viva. E agora, todos sabemos que foi você quem incendiou aquele lugar. E sabemos que vai nos libertar desse inferno — Rebeca falou, ainda com um grande sorriso. — Nossa Princesinha das Chamas, enfim, de volta.

— Que sorte a nossa, agora temos uma cantora para a festa de hoje — Theodosia abriu um sorriso divertido. Rebeca se animou.

— Festa? — A pele escura brilhava pelas chamas que as cercavam. Rebeca se virou para trás, gesticulando. — Que bom que temos uma banda inteira. Venham, rapazes!

Quatro machos deixaram o grupo e seguiram em passos largos até as duas fêmeas. Eles pareciam tão chocados quanto felizes, como se não acreditassem que realmente estavam vendo Theo.

— Princesa — um deles se ajoelhou, o macho de cabelos um pouco compridos e castanhos. Ele ergueu a mão na direção dela, a cabeça baixa. — É uma honra vê-la de novo. Todos pensamos...

— É uma honra rever vocês — Theodosia respondeu, segurando a mão dele com firmeza. Ela olhou para o restante do grupo, em torno de setenta feéricos. — É uma honra rever todos vocês. Hoje, vamos comemorar. E logo, recuperaremos nosso lar.

Todos se aproximaram em passos largos, confiantes e esperançosos, esperando poder finalmente conversar com a Princesinha das Chamas, aquela que pensaram ter perdido dois séculos atrás, e que finalmente tinha voltado para casa.

E em meio a todos aqueles feéricos que queriam abraçar e conversar com ela, havia um illyriano que observava a tudo aquilo com um grande sorriso orgulhoso, o qual Theo foi incapaz de não retribuir.

[...]

Faltando duas horas para o sol se pôr, Theodosia Vanserra estava em seu quarto, retirando os vestidos do baú a procura de uma roupa para usar na festa.

Não era um baile chique ou um jantar elegante, era apenas... uma festa de rua. E não qualquer festa de rua, uma festa de rua da Corte Outonal.

E a Corte Outonal era a melhor corte de Prythian para ir caso queira dançar músicas animadas e beber a noite toda. Era isso o que mais amava naquele lugar, a simplicidade e a alegria contagiante, a amizade e o amor que os moradores tinham uns pelos outros.

Theodosia estava prestes a se despir quando os guardas bateram na porta, falando que a Grã-Senhora da Corte Noturna e Morrigan queriam entrar.

E quando Feyre abriu a porta com um sorriso enorme, Theodosia tentou disfarçar o próprio sorriso, arqueando as sobrancelhas com ar de desconfiança.

Sem dizer nada, Morrigan entrou carregando um vestido, coberto por um protetor escuro. Depois de colocá-lo na cama, abriu a capa, expondo o traje.

— Pela Mãe — Theodosia conseguiu sussurrar, os olhos brilhando para o vestido.

— Queríamos achar uma coisa que fosse a sua cara — explicou Morrigan, com um grande sorriso para Theo.

O vestido era leve e comprido, em um tom de branco perolado. O corpete acima do tecido era feito de pedrarias brancas que desciam entre os seios e repousavam abaixo das costelas, além de mais pedras de diversos tons de azuis que cobriam os seios. Haviam conchas laranjas nos ombros, formando as alças do vestido, além de pedaços de lã marrom trançados que desciam pelo flanco direito, parecidos com uma rede de pesca. Já nas saias, haviam aberturas na camada branca que deixavam a saia laranja de baixo exposta se Theodosia rodopiasse.

— E o que é mais a sua cara que o mar e o fogo, Theo? — Feyre perguntou com um sorriso, segurando nos ombros da amiga por trás.

— É lindo demais, meninas — Theodosia disse, olhando de uma para a outra. — Onde o encontraram?

— Minha namorada tem uma loja de roupas. Conhece mais sobre a moda illyriana, mas a convencemos a tentar explorar mais o estilo da Corte Outonal — Morrigan explicou, um sorriso meio bobo se formando em seus lábios ao mencionar a fêmea.

— Eu nem sei o que dizer — Theo murmurou, os olhos vidrados na explosão de cores acima da cama.

— Diga que vai se vestir agora! — Feyre esbravejou, entusiasmada. — Vou trazer o meu vestido para o seu quarto. Enquanto isso, comece a se arrumar.

Morrigan ajudou Theodosia a prender algumas contas peroladas em algumas mechas e tranças finas por seu cabelo ruivo.

Feyre voltou com o vestido em mãos, e Mor se despediu, dizendo que tinha prometido que se arrumaria com a namorada — Ems, foi como a prima de Rhysand a chamou.

Feyre usava um vestido preto e cintilante, com um decote que descia até um pouco abaixo dos seios. Havia uma capa fina em seus ombros, também escura, mas com bordados tão brilhantes que pareciam ser feitos de pó estelar.

Quando as duas ficaram prontas, já tinha anoitecido e a festa, começado. Theodosia saiu apressada da mansão, seu coração transbordando de felicidade ao se deparar com aquelas ruas cheias de feéricos, mesas de comidas, barris para todos os cantos e Rebeca já no palco, cantando as músicas mais famosas da Corte Outonal com sua banda.

Theo podia chorar de tanto amor que sentia batendo no peito.

— Mamãe, você está linda! — Nyx voava desajeitadamente até Feyre. A fêmea gargalhou ao agarrar o filho pelos ombros e abraçá-lo.

— A mais linda de todas — Rhysand abriu um sorriso amoroso para Feyre, deixando um beijo no topo do cabelo dela.

Sem perceber, Theodosia estava sorrindo para tudo aquilo. Não perdeu tempo para encontrar alguém para dançar. Não perdeu tempo para começar a comer todas aquelas delícias e beber mais canecas de cerveja do que podia contar.

— Como estou indo? — Marisol perguntou com a voz embargada, mas um sorriso animado no rosto. Ela dançava desengonçada a frente de Kai, que disse que tentaria ensiná-la alguns passos naquela noite.

— Não precisa requebrar tanto, peixinha — ele gargalhou, passando um dos braços ao redor da cintura da ninfa para guiá-la de acordo com o ritmo animado.

Theodosia riu da cena, girando ao redor de Nalu, que era seu parceiro de dança da vez. Em um determinado momento do giro, notou que uma fêmea de cabelos escuros e rosto sardento estava olhando muito para o Capitão do Demônio do Mar.

— Acho que você ganhou uma admiradora — Theo disse de forma zombeteira para Nalu, que soltou um riso suave, mas não olhou para trás. — Não quer nem saber quem é? Sua noite não seria melhor se dançasse com uma fêmea bonita ao invés da filha?

— E o que pode ser melhor do que dançar com a futura Grã-Senhora? — Nalu rebateu de forma divertida. — Não estou interessado em dançar com nenhuma outra dama essa noite.

Theodosia sorriu, rodopiando mais uma vez de acordo com o ritmo animado.

— Acho que nos duzentos anos que conheço você, nunca o vi com alguém — Theo comentou. Nalu soltou um suspiro leve ao dar de ombros.

— Tenho vontades como qualquer um, Theo...

— Argh, me poupe dos detalhes.

— Mas gosto de ser discreto — ele completou, revirando os olhos para a careta da ruiva. — Não tenho vontade de buscar por algum romance.

— E por que não? — Theo se viu perguntando, ainda dançando de um lado para o outro.

— Só amei uma fêmea em minha vida — ele se referiu a mãe de Kai. — E ao longo dos anos até tentei me apaixonar de novo, mas...

— Nenhuma delas era sua parceira — Theodosia completou em um sussurro, os olhos brilhando de compreensão. — Entendo o que quer dizer.

Nalu deu um sorriso triste, antes de segurar as mãos de Theo para trazê-la para mais perto.

— Não é porque me sinto assim que você vá sentir isso também, Theo — Nalu disse de forma gentil, guiando-a de um lado para o outro.

E mesmo sem olhar, ela sentiu a presença do illyriano, observando-a a alguns metros de distância.

— Acho que já me sinto assim — Theodosia engoliu em seco, parando de dançar. Ela soltou as mãos das de Nalu. — Quer beber alguma coisa?

— Não, obrigado — Nalu agradeceu, mas Theo já estava dando as costas e seguindo em passos largos para longe.

— Theo — Azriel a chamou assim que a viu passar, mas ela não parou, apenas continuou passando por aquela multidão dançante para alcançar um beco vazio.

Ela apoiou as costas contra a parede, respirando fundo. Estava bem. Só precisava tomar um pouco de ar antes de voltar para a festa...

— Tenho que admitir, suas festas são mais animadas que as de Saori.

Theo se virou para a entrada do beco, forçando um pequeno sorriso para Tyson, que se aproximava em passos lentos.

— É uma de nossas especialidades — respondeu ela, tentando soar bem-humorada.

Tysonalus assentiu com um sorriso suave, aproximando-se mais dela. Quando estavam a poucos centímetros de distância, disse: — sei que não quer se casar comigo, Theodosia.

Ela engoliu em seco.

— O que? É claro que...

— Você precisa se casar comigo, mas não quer — ele explicou. — E está tudo bem.

Theodosia soltou um suspiro, apoiando a cabeça contra a parede, a música da festa mais baixa por conta da distância.

— Você e o Mestre Espião da Corte Noturna... — o sorriso de Tyson se tornou zombeteiro.

— Temos um passado — ela respondeu.

— Parece que têm mais do que isso. Um laço, imagino — Tysonalus disse de forma sugestiva.

— Somos parceiros, sim — admitiu ela. — Mas não importa agora. Sou sua noiva, não dele.

Tysou encolheu os ombros, e Theodosia se afastou da parede, aproximando-se dele.

— Me desculpe se soei...

— Vamos nos casar amanhã, Theodosia — Tyson suspirou.

— Sim, eu sei — ela assentiu.

— E nosso contrato só vale a partir de amanhã — ele relembrou. — Estou certo?

— Está...? — Theodosia franziu levemente o cenho.

— O que significa que, enquanto não estivermos nos beijando na igreja, não somos nada um para o outro — ele explicou calmamente.

Theo arregalou os olhos, balançando a cabeça em negação.

— Tyson, você é muito gentil, mas...

— Você não me ama, Theodosia. E, sem ofensas, mas também não estou apaixonado por você... ainda — Tyson deu um pequeno sorriso.

Ele se aproximou mais, ignorando a expressão confusa no rosto de Theo e levando a mão ao rosto dela, acariciando sua bochecha com o polegar, delicadamente.

— Sinto que, com o tempo, será muito fácil me apaixonar por você, Theodosia. E garanto que vou me esforçar para fazê-la sentir o mesmo, para que possamos ser felizes juntos.

Tyson usou a mão livre para pegar a dela e levar aos lábios, deixando um beijo lento e atencioso.

— Não quero começar o resto de nossas vidas sabendo que está tão infeliz comigo — Tysonalus admitiu. — Quero que nos dê uma chance verdadeira. Mas vamos começar a tratar disso a partir de amanhã.

— Tyson — Theodosia engoliu em seco vendo-o abrir um grande e gentil sorriso.

Ele deixou um beijo na testa dela antes de soltá-la e começar a se afastar.

— Estou muito cansado, acho que vou me deitar agora — comentou ele, dando mais e mais passos para fora do beco. — Clark está no acampamento junto com nossa comitiva, vou ficar lá essa noite. Espero que aproveite a noite, Theo.

Ele não havia pedido permissão para chamá-la pelo apelido, mas Theodosia não reclamaria a respeito, não vendo-o mandar uma piscadela para ela antes de ir embora da festa.

Theo respirou fundo, um sorriso crescendo em seus lábios.

Ela queria aproveitar a noite.

Com o coração disparado, Theodosia deixou o beco, voltando para a festa em passos largos e decididos, procurando por uma única pessoa.

Azriel estava parado no mesmo lugar de antes, olhando para as pessoas ao redor. As sombras espiralavam de um lado para o outro no ritmo da música. Antes mesmo de ouvi-la chegando, o macho se voltou de frente para ela.

— Theodosia...

— As coisas estão ficando cada vez mais difíceis aqui. A guerra está cada vez mais próxima. E eu quero aproveitar a noite — Theodosia o interrompeu, falando rápido demais. — Quero aproveitar a noite com você.

Azriel engoliu em seco, surpresa e alívio iluminando seu olhar, as asas se arquearam levemente em suas costas. A garganta dele oscilou, como se o macho não conseguisse responder.

— Dança comigo? — Theo perguntou, vermelho subindo por seu colo e rosto, um tanto nervosa e envergonhada como se tivesse dezenove anos de novo e convidando-o para dançar pela primeira vez.

Ela estendeu a mão um pouco avermelhada na direção dele. Azriel a analisou por um instante.

E então, quando Theodosia estava prestes a sair correndo e enfiar uma cabeça dentro de um barril tamanha a vergonha, Azriel abriu um sorriso grande, uma risada alegre escapulindo entre seus lábios antes dele segurar a mão dela com firmeza.

— A noite inteira, se você quiser — respondeu ele, com um sorriso brilhante que chegava aos olhos.

Theodosia sorriu de volta, relaxando os ombros com alívio. Ela usou a mão livre para tirar os sapatos, arrancando uma risada de Azriel.

Agora descalça, Theo o puxou para aquele mar de feéricos, já começando a rodopiar ao redor do Encantador de Sombras de acordo com o ritmo animado.

Ela perdeu a conta de quantas músicas dançou com ele, sempre gargalhando e zombando quando Azriel errava algum passo. As sombras dançavam ao redor deles, às vezes se embolando no cabelo dela e fazendo cócegas em seus tornozelos.

Quando a canção chegou ao fim e todos aplaudiram, Theo e Azriel se voltaram para o palco a alguns metros de distância, onde Rebeca e sua banda estavam tocando.

A fêmea usava um vestido vermelho estampado com dourado e marrom, os cachos escuros soltos emoldurando seu rosto lindo. Ela fazia uma reverência para o público com um grande sorriso no rosto.

— É sempre um prazer cantar para vocês, meus amigos — Rebeca disse, levando a mão ao coração. — Teremos muitas festas como essa no futuro, quando estivermos finalmente livres!

Todos aplaudiram e gritaram em comemoração, e Theo não fez diferente. Atrás dela, Azriel se aproximava, pegando a mão da fêmea e afagando-a com o polegar. Ela sorriu, apertando a mão dele de volta.

— Está sendo ótimo cantar para vocês, mas seria ainda melhor se eu tivesse mais alguém no palco, nos fazendo companhia, não é, rapazes? — ela se voltou brevemente para a banda, que assentiu, sorrindo.

Os olhos de Rebeca, espertos, se voltaram para Theodosia quando a cantora apontou na direção da ruiva.

— Senhoras e senhores, por favor, saúdam minha querida amiga, nossa princesa e futura Grã-Senhora! — Rebeca gritou, ganhando centenas de aplausos.

Theo ouviu um resmungo de Eris, de algum lugar não tão distante dela.

— Princesinha das Chamas, venha cantar com a gente. Essa música não será a mesma sem você no palco comigo — Rebeca pediu, a mão ainda estendida para Theo, a muitos metros de distância.

Todos ainda aplaudiam e pediam para Theodosia ir até lá. Ela sorria de orelha a orelha quando se voltou para Azriel atrás de si.

Azriel também sorria. Aplaudindo junto com os demais, ele indicou o palco com a cabeça, incentivando-a.

Theodosia soltou um risinho ao assentir, e rendida, seguiu em direção ao palco.

Já próxima do palco, um dos machos estendeu a mão para ela, ajudando-a subir. Rebeca foi rápida ao colar o apetrecho encantado em sua garganta.

— Nossa Princesa das Chamas, de volta! — Rebeca comemorou, ganhando mais aplausos e gritos. Theo sorriu, fazendo uma reverência para o público.


Azriel ouviu os machos começarem a tocar atrás de Theo, os alaúdes e tambores soando pelas ruas da cidade.

Um dos machos, aquele de cabelo castanho comprido e ondulado se aproximou de Theodosia com um grande sorriso no rosto. E juntos, começaram a cantar.

"Eu poderia jurar que o caminho era esse
Me diga novamente, por que permanecemos
Em uma estrada tão solitária, solitária, solitária?"

Theodosia segurou nas saias do vestido, andando perto da beirada do palco para olhar os feéricos que estavam no chão, admirando-a. Ela sorriu para eles antes de voltar a ficar ao lado do macho mais uma vez, e cantar com ele.

"Você nunca iria adivinhar, eu nunca iria saber
Estamos do mesmo lado e vai ser
Uma estrada solitária, solitária, solitária."

E, como duzentos anos atrás, Azriel se viu seguindo em passos largos para ficar o mais perto do palco quanto fosse possível, um sorriso no rosto ao ver Theodosia dançar e cantar.

Rebeca ficou a frente dos dois, o corpo curvado um pouco para a frente antes da fêmea começar a cantar sozinha: — Se eu te seguir até o rio. Enviar minha tristeza para o mar. Você ficará comigo para sempre?
Você me perseguirá nos meus sonhos?

A voz de Rebeca era um pouco mais grave que a de Theodosia, mas ainda assim muito bonita. Era nítido o talento dela conforme continuava a cantar o refrão da canção: — Se eu jogar tudo no rio. E deixar o ritmo liderar. Ele ficará com você sempre que você me deixar?

Theodosia sorriu para ela, girando lentamente no lugar. Ela se juntou ao macho outra vez.

"Você teve uma escolha, eu não consegui
E essa é a última volta que você dá
Em uma estrada solitária, solitária, solitária."

Theo encontrou o olhar de Azriel, um sorriso esperto crescendo em seu rosto ao ir na direção dele, ainda em cima do palco, e estender a mão.

— Me dê a sua mão, aqui está meu coração — ela cantou para ele, fazendo-o soltar uma risada. Satisfeita, arrumou a postura, arqueando as sobrancelhas ao perguntar: — Onde ela termina? Quando começamos? Em uma estrada solitária, solitária, solitária...

O ritmo era tão animado que todos dançavam apesar da letra triste sobre solidão. Azriel só conseguia olhar para a ruiva, como se estivesse hipnotizado, como se estivesse enfeitiçado.

Rebeca voltou para a frente do palco, dançando no ritmo tocado pelos machos antes de cantar:

"Se eu te seguir até o rio
Enviar minha tristeza para o mar
Você ficará comigo para sempre?
Você me perseguirá nos meus sonhos?"

Theodosia se aproximou dela, passando o braço pelos ombros da fêmea, abraçando-a de lado antes de cantar com ela: — Se eu jogar tudo no rio, e deixar o ritmo liderar, ele ficará com você sempre que você me deixar?

Olhando brevemente ao redor, Azriel viu Rhysand e Feyre observando o show, com sorrisos largos. O Grão-Senhor estava abraçando a parceira por trás, descansando o queixo no ombro dela enquanto os dois se moviam levemente de um lado para o outro no ritmo da canção.

Mais atrás, Nalu estava sentado, ninando Perseu enquanto Selene e Eris dançavam animados, o Vanserra se curvando para ficar menor que a esposa, cantando terrivelmente de braços abertos e a fazendo gargalhar.

Uma risada chamou a atenção do Encantador de Sombras, que encontrou Cassian dançando para Nestha sentada em uma das mesas bebericando uma caneca de cerveja.

Mas um sorriso grande estampou o rosto do Encantador de Sombras ao ver Nyx gargalhando, com um sorriso que tomava todo o seu rosto enquanto dançava com Elain.

Elain se balançava de um lado para o outro com o sobrinho, tendo que se abaixar bastante para ser capaz de ser girada por ele.

A música chegava ao seu ápice quando Azriel percebeu que não era o único que observava a cena. Lucien estava a alguns passos de distância, a caneca de cerveja esquecida em sua mão, olhando para Elain com os olhos iluminados de carinho.

O illyriano se voltou para o palco novamente ao ouvir Theodosia cantar.

"Sou um eco em sua sombra
E suas sombras, estou nas profundezas
No rio, seu reflexo
É uma promessa que você não poderia manter."

Ela se curvou para a frente, a mão sob o coração quando continuou: — Eu sei, eu sei, eu sei que te perdi aqui. Eu sei, eu sei, eu sei que te trouxe aqui.

Rebeca se juntou a ela, e as duas continuarem, uma de frente para a outra: — Eu sei, eu sei, eu sei que te perdi aqui. Eu sei, eu sei, eu sei que isso é justo.

A música se acalmou um pouco, o som dos tambores soando mais alto que o dos alaúdes enquanto o macho se aproximava de Theodosia. Ela abriu um sorriso esperto para ele, vendo-o se curvar um pouco na direção dela.

— Se eu te seguir até o rio... — o macho cantarolou, a voz calma e grave, se aproximando um pouco mais dela.

A banda parou de tocar os instrumentos por um instante, todos os olhos voltados para Theodosia e o macho que ainda segurava o alaúde.

Theo sorriu, mandando-o uma piscadela antes de empurra-lo pelo ombro, fazendo-o gargalhar e ganhando risadas de todos do público também.

A batida voltou a soar alta, forte e animada, e Theodosia começou a pular e rodopiar pelo palco, segurando as saias e fazendo-as dançar consigo, se tornando uma sombra de branco e laranja, cheia de vida e fogo selvagem.

Theo e Rebeca dançavam animadas pelo palco ao ritmo da música quando Azriel notou de soslaio que Elain estava congelada no lugar, parecendo paralisada de repente.

Se voltando para a cena, percebeu que a fêmea olhava para Lucien. Ele retribuía o olhar, a garganta oscilando.

E então, Elain seguiu em passos largos na direção dele, puxando-o pelo colarinho da túnica e beijando-o.

Choque arregalou os olhos de Lucien por um curto segundo antes dele jogar a caneca de cerveja no chão e envolver a cintura de Elain com os braços, colocando os corpos dos dois.

Elain piscou um pouco, os olhos estranhando a luz repentina antes de perceber que o cabelo de Lucien brilhava fortemente, iluminando todo seu rosto.

Ela descolou os lábios dos dele por um instante, e Lucien pareceu receoso, começando a desenlaçar a cintura dela. Mas Elain abriu o maior sorriso que Azriel já vira nela nos últimos anos.

Elain segurou na nuca de Lucien, embolando os dedos entre as mechas ruivas brilhantes antes de puxá-lo mais uma vez para um beijo. O macho sorriu contra os lábios dela, segurando em seu rosto com uma das mãos.

Azriel sorriu, genuinamente feliz por Elain, antes de se voltar para o palco novamente.

— Se eu te seguir até o rio — Theodosia continuava a cantar. Ela se colocou de costas para o macho ao seu lado, se escorando contra as costas dele ao continuar: —, e suas sombras, elas correm tão profundamente...

As batidas do coração de Azriel pareciam retumbar por todo o corpo, observando Theodosia tão alegre e livre naquele palco.

— No rio, seu reflexo é uma promessa que não pude manter — ela cantou, se afastando do macho para se aproximar de Rebeca novamente.

Com os olhos fechados e curvada para frente novamente, Theodosia continuou cantando, a canção chegando ao fim:

"Eu sei, eu sei, eu sei que te perdi aqui
Se eu te seguir até o rio
Se eu te seguir até o rio
No rio, seu reflexo
É uma promessa que você não poderia manter
Eu sei, eu sei, eu sei te perdi aqui..."

Ainda com os olhos fechados, as mãos voltadas para o coração quando Theodosia finalizou, a voz cheia de vontade e paixão:

— Eu sei, eu sei, eu sei, eu sei, eu sei te perdi aqui — cantou ela. — Eu sei, eu sei, eu sei que te amo agora.

A banda parou de tocar, e todos aplaudiram. Todos gritando e jogando flores no palco. Theodosia tinha um sorriso grande no rosto ao abraçar fortemente Rebeca. Ela também abraçou os machos da banca, parabenizando por tamanho talento.

Theo riu, dispensando as reverências ao ver a banda se curvar diante dela. Rebeca sorriu para a amiga, também fazendo uma reverência profunda.

Sorrindo para eles, Theodosia também se curvou, ganhando ainda mais aplausos quando fez uma reverência para o público.

Ela pulou do palco, agradecendo os elogios dos feéricos a sua volta conforme caminhava na direção de Azriel, os olhos focados no illyriano durante todo o percurso.

— Para onde estamos indo? — Azriel arqueou as sobrancelhas, sorrindo quando Theo puxou-o pela mão.

— A banda vai fazer um intervalo de dez minutos. Temos dez minutos para encher a cara — ela parou de andar, voltando-se para o macho. — Está comigo nessa, corvinho?

Azriel se viu abrindo um grande sorriso ao segurar com mais firmeza a mão de Theodosia.

— Sempre, passarinho de fogo.

Theo abriu um sorriso genuíno antes de assentir e voltar a guiá-lo na direção do barril mais próximo.

Os dois passaram a noite toda juntos dançando, bebendo e comendo, rindo tanto que em um momento Theodosia gargalhou tanto que saiu cerveja de seu nariz.

— Ah, estou começando a sentir enjoo — Theo reclamou, parando de dançar. Ela passou a mão pela barriga, acariciando-a.

Azriel a lançou um olhar preocupado, se aproximando da fêmea.

— Acho que você bebeu demais. Melhor se sentar um pouco — Azriel sugeriu, guiando-a para uma das mesas vazias a alguns passos de distância.

— Não estou bêbada, acho que estou cheia — explicou ela, fazendo uma careta. — Acho que comi demais...

Theodosia começou a ficar pálida, e a mente de Azriel entrou em estado de alerta.

— Theo! — o Encantador de Sombras a chamou assim que a fêmea o deu as costas e começou a seguir em passos largos e cambaleantes para longe dos outros feéricos.

Azriel a seguiu de perto, vendo-a se escorar contra a parede de uma loja. Antes que ele pudesse reagir, ela já estava se curvando e vomitando no chão.

— Ah, merda — reclamou ela, ofegante, vendo que tinha sujado o corpete do vestido. — Merda...

Theodosia voltou a vomitar, e Azriel ficou atrás dela, segurando seu cabelo para evitar mais sujeira. A fêmea ficou um bom tempo ali, e ele se ocupou em afagar suas costas e fazê-la companhia.

— Você pode se trocar e voltar para a festa — o macho sugeriu quando ela finalmente deixou a pobre parede em paz.

— Acho melhor voltar para a mansão e ficar lá. Não sinto mais meus pés — murmurou ela.

— Eu atravesso nós dois — Azriel assentiu, segurando-a cuidadosamente pelos ombros antes das sombras os envolverem.

Em um piscar de olhos, os dois estavam dentro da mansão do Lorde Nuriel. O local estava extremamente silencioso, todos estavam na festa, com exceção de meia dúzia de guardas que guardavam os arredores da mansão.

Os dois seguiram em passos lentos pelos corredores, em silêncio.

Azriel tentou andar o mais devagar que podia, não querendo chegar ao quarto dela tão cedo.

Não querendo se despedir.

Todas as noites com Theodosia eram as melhores da vida de Azriel, e aquela não fora diferente. Estar com ela sempre era perfeito e memorável e enchia o coração do illyriano de incontáveis sentimentos.

Mas a volta para o quarto dela estava sendo dolorosa.

— Obrigada por me acompanhar — Theodosia murmurou quando chegaram a porta do quarto. — Agora vou... tomar um bom banho e cair na cama.

— Acho que farei o mesmo — ele conseguiu responder em um tom baixo. Theo assentiu, reprimindo os lábios em uma linha tensa.

— Bom — ela sorriu, parecendo desanimada. Os olhos azuis se voltaram para ele, e a fêmea engoliu em seco. —, boa noite, Az.

Theodosia ficou parada por um instante, esperando o Encantador de Sombras responder. Mas ele não conseguia.

Como poderia se despedir? Ele não queria.

Azriel queria dizer que não partiria, que na verdade, entraria no quarto com ela.

Queria dizer que iria preparar o banho dela e fazê-la relaxar depois daquela noite tão longa, e que depois, deitaria ao lado dela, a colocaria sobre si e afagaria suas costas até que pegasse no sono.

Queria dizer que ficaria com ela, que cuidaria dela.

Sem ter uma resposta, Theo deu um sorriso triste e se virou, abrindo a porta.

— Theo. — Azriel chamou, o tom de urgência. Ela se virou rapidamente, os olhos inundados de expectativa.

Ele não podia dizer nada do que queria, podia?

Engolindo em seco, murmurou: — tenha uma boa noite.

Ela assentiu, parecendo desapontada, e entrou no quarto. Fechou a porta.

Azriel ficou parado ali, encarando a porta por alguns segundos, até finalmente partir.



Theodosia ficou ali, encarando a porta alguns segundos, esperando que Azriel batesse e pedisse para entrar. Esperando que ele dissesse alguma coisa. Qualquer coisa.

Ela ouviu os passos dele se afastando, e soltou um suspiro pesado.

Theodosia preparou um banho e descartou o vestido sujo. Ficou alguns longos minutos na banheira até finalmente terminar e se secar, colocando uma camisola branca e sedosa de alças ficas que terminava na altura das coxas.

Ela sentou a frente da penteadeira, escovando o cabelo por alguns minutos, tentando ocupar sua mente com qualquer coisa.

Theo não estava cansada, não mais. Estava com o coração apertado.

Queria que Azriel tivesse ficado. Queria ter pedido para ele ficar.

Ela engoliu em seco, colocando a escova por cima da penteadeira, sentindo seu peito se comprimir ao redor do coração.

Precisava de Azriel ali, com ela. Precisava estar com ele tanto quanto precisava de ar para respirar.

Não podia pensar muito, se o fizesse, saberia que estava cometendo uma loucura. Decidindo não pensar no que estava fazendo, Theodosia se levantou do banquinho da penteadeira, pegou a capa escura que estava pendurada no cabideiro e passou pelos ombros de forma desajeitada.

Ela seguiu apressada até a porta e abriu, saindo de uma vez.

Descuidada do jeito que estava, não havia notado que havia alguém na frente até esbarrar com o peito contra o dele.

— Azriel — Theo arfou, ofegante. — O que está fazendo aqui...

Antes que pudesse terminar de perguntar, Azriel se aproximou, fazendo-a voltar para dentro do quarto. Ele fechou a porta antes de segurar o rosto de Theodosia com as duas mãos.

‧₊˚ Esse foi o capítulo de hoje! O que vocês acharam?

‧₊˚ Demorei a postar porque o meu dia foi muuuito corrido, mas não esqueci de vocês, tá??

‧₊˚ Estou tão ansiosa para o que vem aí...👀

——— F. 25 de fevereiro de 2023.

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