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By dayligzt

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By dayligzt

Azriel tinha deixado Kenneth pela manhã para começar sua busca por Dastan.

Seus espiões descobriram que o macho ainda estava na Corte Primaveril, mantendo os soldados de Tamlin ocupados para defender o território, para que não pudessem se unir á guerra de Beron e Theodosia.

Theo tinha deixado bem claro que mataria Dastan quando a oportunidade chegasse. E Azriel precisava impedir que ela tivesse tal chance.

Azriel não podia se envolver explicitamente no conflito da Corte Primaveril, mas fazia o que era possível para ajudar os soldados de Tamlin contra os de Beron. Usava as sombras para desnortear algumas dúzias de machos e facilitar os ataques da corta da primavera enquanto vigiava Dastan de uma distância segura.

Azriel precisava se certificar que, quando a hora chegasse, Dastan estaria ao seu alcance. E observar o irmão gêmeo de sua parceira era a melhor forma de descobrir como ele agia e o que pretendia fazer a seguir.

Dastan não era nem metade de Theodosia. Não tinha coragem nenhuma, apenas usava a superioridade fingida para tentar esconder sua fraqueza. Ele não teria chances contra a irmã gêmea, se ela o quisesse morto.

Azriel só voltou para Kenneth na manhã do dia seguinte. Estava exausto e faminto, e tinha que admitir que o que mais desejava era voltar para o quarto e se jogar na cama. Mas a cena a frente da mansão do Lorde Nuriel foi o bastante para o despertar.

Todos os pretendentes estavam a frente da mansão, no jardim, aguardando suas carruagens. As bagagens próximas a eles e suas respectivas comitivas.

Todos os pretendentes, menos um.

Azriel seguiu em passos largos para dentro da mansão, os corredores estavam sendo iluminados pelos raios suaves do sol e os criados estavam agitados, correndo de um lado para o outro.

— Aqueles machos se sentiram tão ofendidos pela rejeição da princesa que nem quiseram que ela os acompanhasse até a saída — um criado cochichou para outro.

— Chega de conversa fiada! A jarra de leite está vazia na mesa! Lorde Reyes está reclamando!

— Tenho que falar com a costureira agora mesmo!

— Quem vai ao Templo de Aletha para chamar a Grã-Sacerdotisa?

Não.

Azriel passou pelos feéricos, praticamente disparando pelo corredor para chegar ao pátio onde o desjejum estava sendo servido.

E ali estava Theodosia, usando um belo vestido amarelo claro, uma tiara de flores douradas acima de sua cabeça, com fitas da mesma cor enroladas nas mechas onduladas de seu cabelo.

Ela estava sentada entre Lucien e o Rei Tysonalus Saori, que estava sorrindo abertamente para algum comentário que Eris, a frente dele, tinha feito.

Os olhos de Theodosia dispararam para ele, na entrada. Os lábios formaram uma linha fina e tensa.

Azriel sustentou o olhar dela, se recusou a desviar a atenção daqueles olhos. Queria acreditar que aquilo era um engano, que não era o que parecia.

O illyriano continuou com os olhos sobre Theodosia, esperando que as orbes azuis mostrassem-o que ele tinha se enganado.

Mas Theo desviou os olhos.

E, lentamente, Azriel deu as costas para a mesa e deixou o pátio.

[...]

Theodosia e Tysonalus se casariam em dois dias.

Seria uma cerimônia grande, na Catedral de Brasas Douradas, em uma cidade que ficava há alguns dias de onde eles estavam, mas como todos atravessariam até lá, não havia problema.

Azriel tinha se oferecido para ajudar na segurança da cerimônia. Dividir os guardas em seus postos o mantinha ocupado.

— Sabem onde Feyre está? — Amren perguntou, se aproximando de Azriel e Cassian, que treinavam juntos no acampamento da Corte Noturna.

Azriel estava prestes a dar um soco no rosto suado de Cassian quando a Imediata da Corte Noturna chegou.

— Provavelmente na mansão do Lorde Nuriel, ela estava ajudando Theo com os preparativos para o... — Cassian se interrompeu, olhando de soslaio para Azriel.

Azriel suspirou.

— Pode falar, Cassian.

— O casamento — Cass murmurou com uma tosse fingida, como se ouvir aquela palavra pudesse desmontar o Encantador de Sombras.

E talvez pudesse mesmo.

— Bom, um de vocês tem que chamá-la — Amren respondeu, apoiando as mãos pequenas nos quadris. — Vamos ter uma reunião com nossos lordes de guerra e Rhysand está ocupado cuidando dos assuntos de Velaris agora. Um dos dois tem que ir comigo.

— Eu vou buscá-la — Azriel se prontificou, apesar de não estar entusiasmado com a tarefa. Cassian deu um passo a frente.

— Tem certeza? — o General o olhava com um misto de desconfiança e preocupação nos olhos. Azriel assentiu.

Antes de atravessar, foi até uma das tendas para lavar o rosto e beber água, e então as sombras o envolveram e o levaram para a frente da mansão do Lorde Nuriel.

Azriel seguiu pelos corredores agitados, com criados passando para lá e para cá com louças chiques e toalhas de mesas finas bordadas, para prepararem o almoço dos noivos.

"Noivos", outra palavra que embrulhava o estômago do Mestre Espião.

As sombras revelaram que Theodosia, Feyre e Elain estavam sentadas na sala de estar da mansão. Ele devia ter anunciado sua chegada rapidamente, mas uma fala o fez parar ás sombras do corredor.

— Não vou poder cantar durante a cerimônia — Theo revelou para as fêmeas.

Azriel congelou no lugar ao ouvir. Não se orgulhava de ficar ali, espiando, mas realmente queria saber mais.

— Você queria cantar? — Elain quis saber, a voz suave e curiosa.

— Bem, eu estava decidida a me esforçar para que toda essa situação fosse... fosse boa — Theo se explicou, as palavras saindo rápidas de sua boca. — Se tenho que me casar, gostaria que fosse uma cerimônia bonita e que me rendesse boas memórias.

— Isso é bom, Theo — Feyre disse, e Azriel sentiu o sorriso no tom da Grã-Senhora. — Que bom que ficou animada com as questões do casamento.

— É, bem, estava animada para cantar no lugar dos votos, já que não conheço Tyson tão bem quanto uma noiva devia conhecer o futuro marido — ela bufou. — Mas Clark disse que Saori é muito rígido quanto ao casamento tradicional: apenas os votos, a troca de alianças e as orações, algo a mais que isso não seria bem visto pela comitiva do rei.

— Mas não é só sobre Saori — Elain parecia levemente aborrecida. — É uma união entre sua corte e reino do Rei Tysonalus. Devia representar ambos.

— Clark está irredutível quanto a cerimônia e sinceramente... não estou afim de brigar por isso. Tyson o convenceu de me deixar no comando de todo o resto. E vou dar o meu melhor para as comidas servidas na festa serem apenas as que Clark odeia — Theodosia respondeu com um misto de raiva e diversão na voz.

— E o vestido? — Feyre soou esperançosa. — Você já devia ter começado a escolher, não?

— O provei pela manhã. Outra coisa que Clark se intrometeu. Será o vestido passado de geração em geração pela família Saori. Bufante feito um bolo e muito... muito dourado.

Feyre e Elain ficaram em silêncio por um instante.

— Pelo menos, Clark não vai comer nada na festa — Elain tentou soar positiva.

— Apesar das intromissões dele, estou tentando ficar animada com a cerimônia — Azriel sentiu o sorriso na voz de Theo. — Ainda é meu casamento, certo? Tenho que aproveitar pelo menos um pouco.

Era o casamento de Theo.

Ela se casaria, com alguém que não era Azriel.

— Vai ser uma noite maravilhosa — Feyre falou com entusiasmo. — O dia em que me casei com Rhys... foi um dos melhores da minha vida.

— Talvez porque tenha se casado com o seu parceiro — Theodosia murmurou, a voz tão baixa que Azriel quase não ouviu, estando no corredor um pouco distante do sofá em que elas estavam sentadas.

— Ah, Theo, eu sinto muito... — Feyre parecia culpada.

— Não se preocupe com isso — Theodosia interrompeu. — Eu falei sem querer. Eu...

Theo ficou em silêncio, como se pensasse se devia ou não compartilhar o que estava em sua cabeça.

— Pode dizer — Elain incentivou de forma gentil.

Theo respirou profundamente.

— Eu digo que estou me esforçando para aproveitar o dia do meu casamento. E estou mesmo. Mas também quero me esforçar para... o depois dele. Para o resto da minha vida, considerando que saiamos vitoriosos da guerra.

As fêmeas esperaram que ela continuasse.

— Eu pensei muito sobre isso, nos últimos dias. Minha felicidade não é uma prioridade, está longe de ser. Se esse casamento dará certo ou não é a menor das minhas preocupações, contanto que a Corte Outonal fique finalmente livre.

Ouvir Theo fazer tão pouco do próprio bem-estar embrulhava o estômago de Azriel, o fazia sentir vontade de cruzar aquele cômodo para estar com ela, para dizer que a felicidade dela sempre seria a prioridade dele.

— Mas se... ou melhor, quando tudo estiver bem, gostaria de tentar isso. O casamento e todas essas baboseiras. — Theo soltou um riso triste. — Tyson é um bom macho, e se tenho que me casar com ele, se tenho que passar o resto dos meus dias com ele, gostaria de... amá-lo. Um dia.

Theodosia parecia profundamente perturbada. Como se parecesse uma tarefa difícil, convencer a si mesma de amar alguém.

— Talvez você o ame, com o tempo — Feyre disse.

— Talvez — Theodosia repetiu, mais para si mesma do que para as outras fêmeas. — Mas não como amo...

A frase morreu na garganta de Theodosia, e Azriel sentiu mais do que ouviu ela engolir em seco, como se para enterrar as emoções que a machucavam no momento.

— Bem — Theo soltou um riso nervoso antes de coçar a garganta —, Tyson e eu somos amigos, ao menos. Já é um ótimo começo.

— Não sei se tão ótimo assim — Eris se intrometeu conforme passava pelo corredor. Ele olhou para Azriel ao passar pelo illyriano. — Ah, oi.

Theo finalmente se voltou para o corredor, os olhos se arregalando ao reconhecer a presença dele, mas não tão surpresa assim. Como se, no fundo, sentisse a presença dele, mas tivesse tentado negar a sensação para si mesma.

— O que quer dizer? — Elain quem perguntou, curiosa.

Agora que Eris havia revelado seu esconderijo, Azriel finalmente entrou na sala, balançando a cabeça em cumprimento para as fêmeas que ainda não sabiam que ele estava ali.

— Eu e Clark finalizamos o contrato ontem a noite. E ele estava muito razoável, como relatei a você hoje mais cedo. Mas eu estava revisando o contrato do casamento agora, já que você e o rei iriam assiná-lo mais tarde — Eris abriu um sorrisinho irônico —, e para a minha surpresa, havia algo diferente nele.

Eris ergueu as folhas em suas mãos e as entregou para Theodosia.

— Durante a madrugada, trocaram as folhas e adicionaram mais uma condição ao contrato — Eris explicou, apontando para as linhas que queria que Theo lesse. — Pelo visto, após se casarem, e considerando que a magia escolha você como Grã-Senhora, o Rei Tysonalus quer que a autoridade seja passada para ele.

— O que? — Theodosia murmurou, as sobrancelhas se franzindo cada vez mais conforme lia as folhas em suas mãos.

— O Rei Tysonalus será o verdadeiro Grão-Senhor e você... apenas Senhora. Sem nenhuma autoridade — Eris concluiu, sua emoção morrendo conforme terminava de falar. O rosto mostrando sua irritação.

Theodosia leu e releu as palavras a sua frente. Azriel não controlou a si mesmo, ele foi puxado para atrás de onde ela estava sentada, os olhos disparando para as folhas nas mãos dela e começando a ler.

Eris tinha razão. Se Theo se casasse, não seria mais do que a esposa do Grão-Senhor da Corte Outonal e rei de Saori.

Theodosia começou a ficar vermelha. Não aquela vermelhidão suave que indicava que ela estava envergonhada, ou aquela fria que mostrava sua angústia.

Theo parecia estar pegando fogo por baixo da pele.

— Posso resolver isso — Eris respirou fundo de forma dramática —, posso encontrar o irmão do rei e...

— Eu posso resolver — Azriel interrompeu, os olhos concentrados demais em Theo para notar o franzir de sobrancelhas de Eris.

— E como você poderia ajudar? — o ruivo quis saber.

— Fazendo o que quer que Theo queira que eu faça— respondeu o Encantador de Sombras, se curvando para ficar mais próximo da fêmea sentada de costas para ele, no sofá. Com a voz séria, firme e um tanto sombria, ele perguntou: — o que quer que eu faça, Theo? Como posso ajudar você?

Theodosia se voltou lentamente para ele, o rosto a centímetros de distância provocando a pele de Azriel com sua respiração. E aqueles olhos azuis se apaziguaram por um curto segundo.

Por um curto segundo, Theo respirou fundo, os olhos concentrados nos do illyriano. Mas ela segurou as folhas em suas mãos com tanta força que o papel se amassou em seus dedos.

Ela ficou mais vermelha.

Quando Theodosia se levantou, deixou a sala em passos largos e pesados. Azriel e os outros mal tiveram tempo de raciocinar antes de começarem a segui-la.

— Theodosia — Azriel chamou, mas a fêmea ignorou.

Theo segurou os papéis com uma das mãos, e usou a outra para arrancar o elmo da armadura de bronze que estava de pé no canto da parede direita de forma decorativa.

Ela continuou seguindo pelos corredores até chegar ao pátio onde a comitiva de Saori estava, jogando cartas á mesa montada abaixo da tenda.

— Ah, aí está ela! — Tysonalus abriu um sorriso largo ao se levantar da mesa assim que viu Theo chegar ao pátio.

O rei deu a volta pela mesa, querendo se aproximar de Theodosia, que também seguiu em passos firmes e furiosos.

— Aí está, minha bela futura espo... — Tysonalus não teve tempo de responder, porque Theodosia o interrompeu bruscamente.

— Seu mentiroso do caralho — Theodosia murmurou antes de erguer o elmo em sua mão e atingir o rosto do rei de Saori, a força havia sido tanta que fez-o quase cair para trás, cambaleando uns três ou quatro passos.

Antes mesmo que Tysonalus levasse a mão ao rosto, choque arregalando seus olhos ao ver o sangue que havia ali devido ao corte profundo em sua bochecha, as espadas de seus guardas já estavam sendo desembainhadas e apontadas para Theodosia.

Azriel se colocou ao lado de Theo no mesmo instante, as sombras chicoteando o ar ao redor dela, desafiando-os a se aproximarem. A Reveladora da Verdade em suas mãos, pronta para ser arremessada.

— Dê um único maldito passo e farei seu coração parar de bater — o Encantador de Sombras avisou o guarda de Saori que estava mais próximo de Theodosia.

Eris se juntou a ele, fazendo fogo surgir em suas mãos.

Nuriel e os outros lordes já estavam correndo para ver o motivo dos criados próximos ao pátio estarem tão assustados.

— Mas que porra... — Lorde Dunne começou, alguns metros atrás de Theodosia, mas ela o ignorou.

— Não pode ser meu aliado e Grão-Senhor da Corte Outonal ao mesmo tempo — Theodosia cuspiu, atirando os papéis na direção do rei. — Quero você e seus soldadinhos de merda fora das minhas terras agora.

Tysonalus permanecia chocado, o sangue escorrendo do corte feio em sua bochecha quando ele se curvou para pegar as folhas que haviam sido atiradas com tanta grosseria em sua direção. Ele deu uma rápida lida antes de franzir o cenho.

— Theodosia, eu...

— Se não sair da minha frente agora, juro por Aletha... Juro pela Mãe que vou queimar... — Theodosia ameaçou mostrando os dentes, os olhos pegando fogo na direção do rei. Ele estendeu as mãos.

— Eu não concordei com isso — Tysonalus respondeu, tentando soar calmo. — Li os papéis essa manhã e não havia absolutamente nada sobre tomar o trono de você. Não sei quem poderia...

Ele se calou, sua garganta oscilando por um momento, e sua mandíbula ficou tensa quando olhou para trás, onde Clark estava parado, a espada também voltada para Theodosia.

Mesmo sem que Tysonalus tenha dito algo, Clark deu alguns passos a frente, o rosto indiferente.

— Eu alterei o contrato logo após Eris deixar a sala — Clark admitiu e, voltando-se para Theo, continuou: — Tyson não sabia disso. Mas eu precisava me certificar que ele estaria em segurança ao se casar com você e ter que passar a cuidar dos caipiras que são os moradores dessa corte — ele inclinou a cabeça antes de dizer:—, sem ofensas.

Theodosia apertou o elmo em sua mão, começando a se aproximar de Clark, quando Tysonalus se colocou no caminho, ainda com as mãos estendidas.

— Podemos conversar á sos? — o rei pediu. Theodosia continuava olhando para Clark, os olhos mostrando que ela estava pensando em todas as punições que ele merecia. Tysonalus respirou fundo. — Por favor, Theodosia.

Theo se voltou para o rei. Levou alguns segundos analisando-o antes de dar um passo para trás e, sem dizer nada, seguir para dentro da mansão, passando por Feyre e Elain com tanta pressa que quase as levou consigo.

— Talvez eu devesse ir com você... — Clark deu um passo a frente, mas Tysonalus o fez ficar parado com somente um olhar enfurecido.

— Você fica. Conversamos depois — Tysonalus cobriu os olhos com as mãos, dando uma respiração profunda para conseguir se acalmar. — Todos vocês ficarão aqui.

Os soldados assentiram, e o rei finalmente seguiu Theodosia para dentro da mansão.


— Me dê um bom motivo para não incendiar o seu irmão — Theodosia disse assim que Tysonalus passou pela porta da sala de reuniões. Ela fechou a porta e cruzou os braços.

— Ótimo golpe — Tyson murmurou, ainda limpando sangue do queixo. Seu ferimento ainda estava aberto, o corte havia sido tão profundo que estava levando tempo para a magia curar. — Mas confesso que estou preocupado de acabar tendo uma cicatriz tão perto do nosso casamento.

Theodosia bufou, aproximando-se. Jogou o elmo no chão e ergueu a mão, passando os dedos delicadamente pela ferida aberta na maçã do rosto de Tysonalus. Ela curou seu ferimento e passou a mão pela túnica dele, limpando o sangue de seus dedos.

— Não ouvi o motivo — Theo relembrou —, isso significa que posso pôr fogo nele?

— Calma, estou pensando em um bom motivo. Mas é difícil depois que quase ter tido o maxilar fraturado por uma armadura.

— Tysonalus — Theodosia suspirou, pedindo seriedade. Ele balançou a cabeça, se desculpando.

— Eu jamais pediria para que Clark fizesse o que fez. Ele foi completamente estúpido — Tysonalus disse,
passando a mão pelo cabelo loiro, arrumando-o. — Mas...

— "Mas"? Eu poderia ter perdido meu trono! — Theodosia esbravejou.

— Fui coroado rei dois anos atrás, quando meu pai e minha mãe foram mortos — Tyson explicou, as palavras escapulindo de seus lábios antes que pudesse deter a si mesmo. — Eles estavam na linha de frente, contra as criaturas que te contei. Quando os soldados os alcançaram, mal havia carne para levar á um caixão.

Theodosia notou como Tyson empalideceu devido as memórias. Ele deu alguns passos para trás, puxando uma cadeira para se sentar.

— Eu e Clark estávamos lutando em outra região. Recebemos a notícia três dias depois. E minha coroação foi rápida, porque ainda estávamos tentando expulsar as criaturas de nossas fronteiras — Tyson engoliu em seco, apoiando um braço por cima da mesa. — O líder do conselho precisou gritar a oração para que sua voz fosse ouvida apesar de todas as explosões.

Theo não disse nada, mas se aproximou e sentou ao lado dele, esperando que ele voltasse a falar quando estivesse pronto.

— Clark e eu somos tudo o que restou da nossa família. Os últimos Saori — Tyson olhava para o nada. — Se morrermos, nossa linguagem morre também.

— Lamento por seus pais — Theodosia conseguiu murmurar.

Não podia se imaginar sofrendo pela morte de Beron. Na verdade, talvez não houvesse nada no mundo que a deixasse mais feliz do que isso. Mas imaginar a morte de Nalu, que foi mais pai de Theo do que aquele que tinha a criado...

— Realmente sinto muito — Theodosia repetiu, e Tyson deu um pequeno sorriso triste em agradecimento.

— Clark é tudo que eu tenho. E eu sou tudo o que ele tem. Como irmão mais novo do rei, é o dever dele me proteger. E carregar essa responsabilidade deve ser exaustivo, se levarmos em consideração que ele não pode se divertir muito...

— E por que não? — Theo franziu levemente o cenho.

— Gosto de me divertir, Theodosia. Me acompanhar em minhas aventuras deve ser um tanto desafiador — Tyson deu de ombros com um sorriso esperto brincando nos lábios rosados.

— Em outras palavras: ser sua babá é exaustivo.

— Totalmente exaustivo — Tyson assentiu. — E Clark não quer me proteger só por ser sua obrigação, mas porque me ama tanto quanto eu o amo. Por isso preciso pedir, Theodosia...

Tysonalus respirou fundo, finalmente olhando-a nos olhos.

— Essa é a primeira vez que quero gastar meus privilégios como rei. Quero te pedir para ser razoável com ele.

Theodosia o observou por um instante.

— O que ele fez foi muito grave. Eu devia executá-lo. Exilá-lo da Corte Outonal e de Saori, no mínimo...

Tysonalus engoliu em seco, mas concordou com ela.

— Mas não quero ter uma história tão trágica como essa com meu futuro cunhado — Theo disse, finalmente. — Ele deve se desculpar comigo a frente dos lordes da Corte Outonal. E você deve encarregar outra pessoa de sua comitiva para se responsabilizar por nosso contrato.

Tyson soltou o ar dos pulmões com tanto alívio que seus olhos verdes se iluminaram. Ele assentiu repetidamente, pegando uma das mãos de Theo e cobrindo-a com as próprias. Um sorriso grande no rosto.

— Muito, muito obrigado, Theodosia...

— Sabe que ele não pode estar mais envolvido com o casamento depois disso de forma alguma...

— Entendo perfeitamente. Ele também entenderá. Vou colocá-lo de castigo — Tyson garantiu, o sorriso se tornando divertido nos lábios. — Peço perdão pelo jeito rabugento dele. Antes de virmos para Saori, Clark descobriu que o namorado estava... bem, namorando muitos outros machos além dele.

— Que droga — Theo fez uma careta. — Poderia tentar apresentá-lo a um dos meus pretendentes, mas você os viu e já deve saber que Clark certamente está melhor sem qualquer um deles...

— Te livrei de uma saia bem justa, então — Tyson arqueou as sobrancelhas com diversão, apertando a mão dela entre as próprias.

— Está convencido demais para alguém que acabou de ter o rosto rasgado — Theodosia pontuou, e Tyson gargalhou.

— Confesso que fiquei apavorado na hora, mas agora, posso dizer que você fica encantadora quando está raivosa — Tysonalus deu-lhe uma piscadela. Theo riu, revirando os olhos.

Os dois se levantaram, e Tyson se apressou para abrir a porta. Quando Theo estava prestes a sair, o macho segurou cuidadosamente o cotovelo dela.

— Obrigado por ser razoável com Clark — a voz do loiro soou doce e verdadeiramente agradecida. — Estou em dívida com você.

Theo bufou com a menção ao macho que a deixou tão puta.

— Certamente está — resmungou ela, mas sorriu ao deixar a sala. — Está liberado para voltar ao jogo de cartas.

— Gostaria de me acompanhar? — perguntou o rei, saindo da sala.

— Obrigada, mas vou aproveitar meu tempo livre para descansar um pouco. Tenho coisas a fazer mais tarde — Theo respondeu educadamente.

— Então, nos vemos na hora do almoço, Theodosia — Tyson se despediu com uma leve reverência.

— Até mais — Theo retribuiu com outra reverência singela e se virou, seguindo para o próprio quarto.

Theodosia estava alcançando o corredor em que o quarto ficava quando começou a se sentir sufocada, quando começou a sentir as paredes se fechando ao seu redor, esmagando-a.

Ela podia ter perdido o trono. Podia realmente ter perdido o trono.

Ela teria lido o contrato antes de assinar, certamente encontraria aquela falha. Mas e se pulasse aquele parágrafo por acidente? E se ela se casasse com Tysonalus e o tornasse Grão-Senhor por conta daquela armação?

Já precisava se preocupar tanto com Beron, e se tivesse que começar a duvidar das pessoas que estavam dentro de Kenneth, acabaria perdendo a cabeça.

Theodosia precisava de um tempo sozinha para respirar. Umas horas longe de Kenneth e de reuniões e reis e irmãos de reis traiçoeiros...

Antes que mudasse de ideia, ela fechou os olhos, respirou findo e atravessou. Para fora de Kenneth, mas ainda na Corte Outonal.

Quando abriu os olhos novamente, estava no lago secreto.

Um sorriso cresceu em seu rosto conforme observava as flores ao seu redor, exatamente como ela se lembrava. A água levemente brilhante devido aos calcários dourados no fundo do lago. A luz do sol iluminando aquela abertura imensa na rocha que dava vida para aquele lugar tão bonito.

Theodosia se concentrou em ouvir, em ter certeza que não havia algum feérico por perto, acima da abertura. E então, após alguns longos segundos de total atenção, começou a desatar as amarras de seu vestido.

Depois de tirar todas as vestes e largar os sapatos pela grama, Theodosia correu até a margem do lago e pulou.

Ela mergulhou, deixando todo o corpo imerso na água fresca. Com os olhos fechados, se concentrou em sentir o cabelo comprido se movendo lentamente ao seu redor, na sensação das pedras pequenas por baixo de seus pés, e ficou assim por alguns segundos, enquanto foi capaz de segurar a respiração.

Quando finalmente subiu o rosto para a superfície, puxou ar para os pulmões, e quando soltou, algo a mais deixou seu corpo junto, deixando-a mais leve, mais calma como não estivera em muito tempo.

Sentia tanta falta de aproveitar aqueles lugares tão lindos da Corte Outonal.

Theodosia boiou por algum tempo, depois nadou em círculos, mergulhou sozinha até se cansar. E só então voltou para a margem.

Controlando seu calor, foi capaz de secar seu corpo em segundos. Vestida com apenas o vestido branco que ficava por baixo do vestido formal, ela calçou os sapatos e atravessou para a floresta acima do lago.

Checou ao seu redor novamente, e continuava sozinha.

Ela devia voltar para Kenneth. Em breve o almoço seria servido e sentiriam a falta dela, no entanto...

Theodosia viu uma raposa. E mais um sorriso se abriu em seu rosto.

Ela não podia voltar, não agora.

Agora, ela caminharia em paz pela floresta. Agora, ela deixaria seu noivado de lado, suas obrigações de lado. Soava egoísta. Mas era tão ruim assim querer algumas poucas horas para si mesma?

Depois de mais algum tempo andando sem rumo pela floresta, Theodosia começou a sentir fome. Usou sua magia de fogo para matar um pássaro, da melhor forma que podia para não causá-lo tanta dor.

Sabia que estava em um território perigoso. Guardas de Beron podiam estar perto, podiam estar a procura dela naquele exato momento.

Mas então, ela viu a cabana.

A cabana dela. A cabana dos Vanserras.

Lágrimas começaram a rolar pelo rosto de Theo sem que ela se desse conta, lembranças da última vez que estivera ali invadindo sua mente sem consentimento.

Sem conseguir controlar seus passos, Theodosia se aproximou da cabana e abriu a porta. Estava exatamente igual da última vez que estivera ali, mas muito mais empoeirada e desgastada, como se ela tivesse sido a última a usar aquele lugar.

Ela passou perto do sofá, torcendo o nariz para o mofo que quase o cobria por inteiro. Mais alguns poucos passos, e estava perto do piano.

Será que ele funcionaria, mesmo depois de tantos anos?

Certamente estava velho demais para estar em perfeito estado, mas Theodosia se sentou no banquinho mesmo assim e o observou com atenção, soltando um suspiro.

Quando aquela guerra acabasse, não importava se ela seria ou não Grã-Senhora, ela voltaria para aquela cabana e a reformaria.

Trocaria o piso, os móveis, as paredes que pareciam querer desmoronar a qualquer momento. Mas se esforçaria para deixar tudo bastante parecido, para que aquele lugar que fora seu refúgio por tanto tempo não perdesse a essência.

Theodosia não ousou ir para o quarto. Sabia que se fosse, lembraria de momentos em que estava ali com um illyriano e isso... isso partiria ainda mais seu coração.

Lembrar de Azriel a fez querer chorar de novo.

Duzentos anos sem ele. Duzentos anos sofrendo pela ausência dele. E, quando finalmente podiam ter uma segunda chance... Theodosia precisava seguir por outro caminho.

Um caminho que a deixava cada vez mais distante dele.

O que deviam ser só algumas horas fora de Kenneth se tornou o dia inteiro. O sol já tinha se posto quando Theodosia finalmente saiu da cabana dos Vanserras.

Ela estava prestes a atravessar quando sentiu que havia alguém ali, observando-a.

Theodosia se virou lentamente para onde Azriel estava parado. E ele parecia tão partido, tão desolado quanto ela. Talvez mais.

O illyriano estava um pouco mais magro, a barba por fazer e olheiras escuras emoldurando seu olhar tão perdido.

Ela sabia que Azriel devia estar exausto pelo treinamento com os illyrianos e seus trabalhos em campo para resgatar feéricos das outras regiões da Corte Outonal.

— Todos estão a sua procura — ele disse, a voz alta o suficiente para que a fêmea pudesse ouvir apesar daqueles metros de distância.

Theodosia reprimiu os lábios em uma linha fina, observando-o dar um passo inseguro na direção dela.

— Eu disse que te levaria de volta, que sabia onde você estava — explicou ele.

As sombras rodeavam o topo das asas de Azriel muito discretamente, como se não quisessem se intrometer naquele momento.

— Eu precisava ficar um pouco sozinha — ela respondeu.

— É perigoso, você está perto demais da Casa na Floresta — Azriel comentou, e Theodosia assentiu.

— Sim — concordou ela. — Não vou fazer isso de novo.

Azriel não assentiu. Parecia que ver Theodosia apenas concordando ao invés de discutir o deixava ainda mais desapontado e atordoado.

— Já vou atravessar e...

— Theo — Azriel deu mais um passo vacilante na direção dela —, não se case com ele.

Theodosia engoliu em seco, sentindo aquela ardência atrás dos olhos mais uma vez. Ela apertou os lábios para não dizer nada.

— Theo — Azriel chamou mais uma vez, com uma urgência maior ao dar mais um passo para a frente. Ela deu um passo para trás.

Vê-la se afastar fez Azriel congelar no lugar, os olhos mostrando a mágoa que aquele mero movimento dela causou. Ele engoliu em seco.

— Por favor, não se case com ele.

— Pare — ela pediu, a voz saindo quase como um soluço. Theo deu um passo muito, muito pequeno pra frente, como se seu corpo implorasse para se aproximar dele. — Não percebe que você está deixando tudo isso ainda pior?

E Theodosia sentiu que seu coração ia implodir dentro do peito, porque ver Azriel a pedir para não se casar era demais para ela.

Ele não percebia que Theodosia estava gastando todas as suas forças para não procurá-lo?

Azriel não percebia que ela tinha que usar tudo de si para não correr até ele?

O macho piscou, como se notasse a luta interna que Theo estava enfrentando naquele instante. Estava prestes a dar mais um passo, mas ela estendeu a mão, mandando-o parar.

— Você não entende que eu preciso de todas as minhas forças para ficar longe de você? E isso está me matando, Azriel. — Theodosia confessou.

— Então não fique longe de mim — o illyriano respondeu, ainda parado. — Fique comigo. Porque essa distância também está me matando, Theodosia. Eu... eu não consigo mais saber o que você está pensando.

Azriel se mexeu no lugar, tentando organizar seus pensamentos.

— Sempre fui bom em ler as pessoas, isso é parte do meu trabalho. Mas acima de tudo, sempre fui bom em ler você — ele explicou. — E quando te vejo com ele, tento me convencer de que você não está seguindo em frente.

— Azriel...

— E ás vezes, quando você evita me olhar durante as reuniões, quando passa correndo pelo corredor para não ter que me cumprimentar, penso que você me odeia — a garganta do macho ondulou. — Qual das minhas suposições está correta?

— Nenhuma delas, Azriel. É óbvio que não odeio você. E eu... eu nem acho que sou capaz de superar você — Theodosia soluçou agora, abraçando o próprio corpo.

Ela ainda resistia para não deixar as lágrimas escaparem de seus olhos.

— Eu evito falar com você porque não suporto a ideia de que um dia vou ter que me despedir de forma definitiva — admitiu Theodosia. — Não sei o que me aguarda no futuro, Azriel. Se a magia não me escolher, se eu não for Grã-Senhora, terei que viver em Saori.

— Não se case — ele pediu mais uma vez. — Não case com ele.

— Azriel...

— Case comigo.

Theodosia piscou, acreditando ter ouvido errado. Mas ele deu um passo a frente ao repetir: — case comigo.

— Você só está fazendo isso para que eu não tenha que me casar com outro... — Theo conseguiu responder, mas se calou ao vê-lo balançar a cabeça.

— Estou fazendo isso porque preciso de você. E sim, imaginar você casando com outra pessoa me enlouquece, mas não é o motivo principal.

— Então, qual o motivo principal? — Theo sentiu que tinha apenas sussurrado, mas Azriel pareceu ter ouvido.

— Eu amo você — ele respondeu.

Theodosia não conseguiu conter as lágrimas de escorrerem por seu rosto. Azriel deu outro passo a frente, e ela deu dois para trás.

— Eu amo você, Theo...

— Por favor — ela respondeu, tentando ignorar o nó
em sua garganta. — Por favor, não diga isso.

— Eu amo você — Azriel repetiu, um misto de angústia e raiva em seu tom. — Sempre amei, desde a primeira vez que vi você naquele baile. E nos últimos duzentos anos, fiz de tudo para esquecer você.

Azriel deu outro passo para frente, Theo deu mais três para trás.

— Estou cansado disso. Estou cansado de negar o quanto amo você. Eu faria qualquer coisa por você, Theodosia. Qualquer coisa. — Ele soltou uma risada sem humor ao completar: — Só a Mãe sabe o quão longe eu vou por você.

— Como assim? — Theo franziu levemente o cenho. Azriel balançou a cabeça, dispensando a pergunta.

— Nós dois pegamos um caminho difícil até aqui — Azriel admitiu. — Mas podemos resolver isso. Juntos.

Theodosia não conseguiu responder. A garganta de Azriel ondulou.

— Theo, eu quero passar os últimos dias da minha vida casado com você. Por favor, case comigo — ele pediu.

Azriel falou como se soubesse que a o própria vida estivesse chegando ao fim, e uma sensação horrível ocupou o estômago de Theodosia com tal pensamento.

Theodosia queria dizer "sim".

Queria dizer o quanto pensava em Azriel, o quanto o amava.

Queria dizer que quando sonhava com ele, Azriel segurava seu rosto e a perguntava se ela queria recomeçar. Se eles poderiam recomeçar juntos.

E ela queria tanto aceitar. Ela quase aceitava.

— Eu não posso — Theodosia conseguiu responder. — Eu não posso, Az.

Azriel finalmente deu um passo para trás, e ela se sentiu tentada a se aproximar, mas se conteve.

— Eu queria que pudesse ser diferente — Theo sussurrou, não se dando ao trabalho se limpar as lágrimas que molhavam suas maçãs do rosto.

Azriel engoliu em seco, desviando os olhos sem brilho para o chão. As sombras ondulavam ao redor dele, como se tentassem protegê-lo das palavras de Theodosia.

— Eu amo você, Theodosia — Azriel disse, tão baixo que ela quase não conseguiu ouvir devido à distância.

Theo deu um sorriso triste.

— Você vai superar — Theodosia respondeu. — Superou da primeira vez.

A mandíbula de Azriel ficou tensa, a veia em seu pescoço destacada quando falou: — não, eu não superei.

Theodosia quase se aproximou.

Quase o abraçou.

Quase o beijou.

Quase aceitou casar com ele. Quase o pediu em casamento.

Mas ela permaneceu parada no lugar, e atravessou.


‧₊˚ Esse é o capítulo de hoje! O que acharam?

‧₊˚ Peço desculpas por qualquer erro, não tive muito tempo para revisar.

‧₊˚ Por hoje, é isso! Até logo! <3

——— F. 18 de fevereiro de 2024.

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