Círculo Vicioso {jikook}

By Yumashihara

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Park Jimin é um adulto solitário que desistiu de aprender a viver e que foge de seus demônios com a ajuda da... More

Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26

Capítulo 8

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By Yumashihara

Pensou em desistir daquele encontro de casais por diversas vezes, um efeito colateral de sua ansiedade que o fazia pensar demais de forma constante. Fazer Taehyung conhecer Jungkook não lhe parecia uma boa ideia, visto que o médico poderia, a qualquer momento, sair da sua vida sem mais nem menos. E não iria gostar de ficar se justificando.

Entretanto, não era como se tivesse forças para ir contra o furacão que era o amigo, que de repente estava prostrado na porta de seu apartamento esperando que abrisse a porta. Já era noite, e provavelmente o médico chegaria dentro de alguns minutos para buscá-los - Taehyung havia se convidado, já que assim economizaria com a viagem de ida.

Quando deixou o amigo entrar, sentiu os pulsos serem agarrados e então foi arrastado para dentro de seu próprio apartamento.

— Você não está pensando em sair desse jeito, está?

Apesar do raciocínio estar um pouco lento pela mistura de bebidas daquele dia - havia bebido duas doses de gin quando chegou da casa do Kim -, rapidamente devolveu o questionamento com uma careta.

— O que tem de errado comigo? — Jimin perguntou, por breves momentos, olhando para as próprias roupas.

Não era nada fora do seu look habitual: Jeans largos, camisa de mangas largas e sapatênis. Taehyung, no entanto, rolou os olhos com aquele questionamento, arrastando Park Jimin pelo pequeno corredor até seu quarto.

— Se você quiser impressionar o boy vai ter que se esforçar mais do que isso! A sua sorte é que eu sou uma pessoa muito paciente com você. — O outro devolveu, sentando Jimin em sua própria cama antes de ir até o armário do rapaz, abrindo as portas e encarando as opções de roupas que tinha ali.

Enquanto esperava, Park Jimin ficou encarando o amigo - que estava de costas - e nas roupas que usava. Kim Taehyung tinha estilo e sabia como usar as roupas de forma que destacasse o que tinha de melhor e que conseguisse expressar sua personalidade. Usava jeans justos e escuros e uma camisa de botões que parecia ser uma réplica da Gucci - ou talvez fosse original, vindo de Taehyung, não esperaria menos -, de mangas curtas, em tons de verde e dourado, os cabelos escuros estavam partidos ao meio e armados para trazer volume, além do perfume característico que Jimin conhecia bem, um Giorgio Armani que chamava a atenção.

Logo, sobre sua cama, havia um conjunto de roupas que há muito tempo Jimin não usava - e sequer lembrava de ter. Uma calça preta não tão justa ao corpo, um cinto caro que comprou em uma viagem de trabalho, e uma camisa de mangas curtas branca com letras vermelhas.

— Eu não vou usar isso. — Disse assim que imaginou o look completo em seu corpo, mostrando braços, pernas e sabe-se lá mais o que.

Kim Taehyung lhe devolveu uma carranca.

— Vai sim, é uma boa roupa e vai te valorizar. Vamos! — E tentou puxar o amigo pelos pulsos de novo, que apenas resmungou alto, jogando a cabeça para trás.

Quando se sentiu solto, deixou o corpo cair na cama, encarando o teto claro de seu quarto por alguns minutos. Estava sem uma gota de interesse naquele encontro armado pelo amigo. Taehyung, diante de si, bufou, se sentando no espaço vazio ao lado de Jimin.

— Lembra da época em que trabalhávamos juntos? — O outro comentou, cruzando as pernas e balançando uma delas levemente, os olhos delineados encarando o rosto inexpressivo de Jimin. — Nunca existia tempo ruim para nós dois, saíamos para encher a cara em qualquer dia da semana e beijávamos tantas bocas que meus lábios ficavam doloridos no dia seguinte. Era só eu te chamar e você aparecia como num passe de mágica.

Jimin soltou um riso nasal com aquela lembrança.

— Não que tenha mudado muita coisa desde então. — Respondeu, recebendo um peteleco do outro. Riu nasalmente de novo.

— Você era diferente naquela época. Mais... Vivo, eu acho. — Taehyung continuou, desviando o olhar do amigo e levantando a cabeça, deixando-a pender para trás. — O trabalho era muito mais divertido quando estávamos juntos, brincávamos o tempo inteiro, e também brigávamos muito. — Taehyung não queria lembrar das coisas ruins, mas era quase inevitável. — Mas era bom... Principalmente quando você surtava quando me via fumando maconha no escritório, mas mesmo assim tentava me acobertar com o chefe.

— Você era um filho da puta. Nós dois quase fomos demitidos por causa disso. — Lembrou, recebendo uma risada gostosa de Taehyung.

— Verdade! Mas não fomos, é isso o que importa. — Taehyung, agora, foi quem recebeu um peteleco. — Mas o ponto é que você mudou muito desde então. Você tinha uma energia diferente e se expressava mais.

Park Jimin sabia do que o amigo estava falando, o período de sua vida em que simplesmente saía sem se importar com tanta coisa, a adolescência tardia, os excessos de bebida e sexo. De fato, tinha toda essa disposição por estar conhecendo coisas na época em que havia privado a si próprio na adolescência, estava se descobrindo, experimentando. Era uma criança ingênua aprisionada no corpo de um adulto e que não fazia ideia do que o mundo podia oferecer.

Até que se deparou com as coisas ruins, as relações abusivas dos diferentes ficantes e em como isso havia afetado tão negativamente o seu psicológico. E de repente descobriu que não gostava mais de nada daquilo, mas, pelo menos, era um lugar para onde poderia ir sempre que as responsabilidades do mundo real passavam a pesar demais em seus ombros.

Um lugar para esquecer de tudo.

Os olhos de Taehyung estavam em si, sabia disso mesmo que não estivesse o encarando diretamente. Esperava uma resposta que Park Jimin também procurava.

O que aconteceu?

— Não me leve a mal. Eu só me preocupo com você. — Foi o Kim quem quebrou o silêncio entre os dois, levando uma das mãos aos cabelos do amigo, afagando ali muito suavemente. — Sabe que estou aqui, não é?

Jimin fechou os olhos e balançou a cabeça positivamente. Kim Taehyung não sabia de muita coisa, e também não se importava em saber, desde que Park Jimin ficasse bem.

Este que suspirou pesadamente, sentindo uma fraca onda de determinação depois das palavras do amigo. Levantou e encarou as roupas na cama.

— Tudo bem, vou me trocar. — Decidiu, puxando o outro para que se levantasse e o empurrando para fora do quarto. — Se Jungkook me achar ridículo, eu juro que mato você!

[...]

O médico estava estacionado na frente da portaria do condomínio de Park Jimin, como de costume, trocando mensagens. Fora avisado da presença do amigo, o que para Jungkook não faria tanta diferença, visto que estaria com a razão de seu interesse dos últimos dias ao seu lado.

Havia posto sua playlist para tocar, sendo impactado instantaneamente por Take My Breath Away, de Berlin. Jeon Jungkook simplesmente não conseguia resistir às músicas antigas, até mesmo dançando contido no banco do motorista enquanto esperava, sentindo toda a vibe dos filmes de Top Gun que aquela música trazia.

Enquanto era envolvido pela música, usou o retrovisor para checar a própria aparência. Os cabelos estavam molhados do banho recente e preguiçosamente amassados, o que lhe daria um aspecto ondulado e bagunçado quando estivessem secos, principalmente na franja. Jeon Jungkook parecia um próprio garoto problema dos anos oitenta com os piercings lhe adornando a face e a roupa, como sempre, inteira preta - uma camisa de De Volta Para o Futuro, jaqueta de couro preto, jeans pretos e coturnos -, mas gostava muito daquilo.

Estava tão distraído com tudo que não percebeu a aproximação de Kim Taehyung e Park Jimin até que este primeiro invadisse o banco de trás de seu carro, o cheiro de perfume caro tomando conta do ambiente.

O médico voltou a ajustar o retrovisor e virou o corpo para trás, lançando um sorriso para a figura nova sentada no banco de trás.

— Você é o amigo do Jimin, não é? Muito prazer! — Disse de forma cordial. — Jeon Jungkook.

— Ah, você é um gentleman! — Taehyung disse, balançando a mão brevemente no ar. — Kim Taehyung. Meu Jiminie falou tanto sobre você!

Logo Park Jimin também entrou no carro, Jungkook ainda estava virado para Taehyung quando o outro entrou, rindo satisfeito pelo comentário do rapaz quando sentiu o cheiro adocicado do perfume que Jimin usava.

E só então, quando voltou a sentar direito no banco, que notou Park Jimin ali. Os olhos redondos de íris pretas se arregalaram levemente, surpresos, pela visão do rapaz ao seu lado.

— Desculpa avisar tão em cima da hora sobre o Tae... E obrigado, de novo. — Jimin disse tudo muito rapidamente, sem esconder o nervosismo e o quão encabulado estava.

No entanto, tudo em que Jungkook estava prestando atenção era na visão de Jimin, a calça justa que delineava sua cintura em contraste com a camisa branca larguinha, o Chanel 5 que exalava de sua pele e que combinava tanto consigo, os cabelos pretos de franja alinhada na frente, os lábios que brilhavam com um gloss suavemente avermelhado que foi depositado ali, os olhos gordinhos com um brilho prateado no cantinho - obra de uma maquiagem bem feita por Kim Taehyung - que lhe davam um ar ainda mais adorável que o habitual.

Park Jimin havia tirado o fôlego de Jeon Jungkook com tão pouco!

Do banco de trás, Taehyung apenas observava os dois com um sorriso divertido nos lábios. Jungkook não tirava os olhos de Jimin - estava até de queixo caído! -, este que estava tão desconcertado pela reação do médico que alternava os olhos de Taehyung para ele, sem saber o que fazer.

— Tem alguma coisa errada comigo? — Jimin perguntou aquilo pela segunda vez naquele dia e sequer percebeu. E, só então, Jungkook pareceu ter saído do transe. — Aish... Eu te disse que isso era uma péssima ideia, Taehyung!

— O que? Não, não! — O médico se pronunciou mais do que depressa, atraindo a atenção dos olhos gordinhos e brilhantes de Jimin para si, inseguros. — É só... Você está lindo pra caralho...

E agora foi a vez de Park Jimin ficar surpreso com aquelas palavras, encarando os olhos de Jungkook por milésimos de segundos antes de abaixar a cabeça e se apressar para colocar o cinto de segurança, querendo desviar sua atenção para qualquer lugar que não fosse o médico.

Ser elogiado assim tão abertamente não era comum para Park Jimin - que não gostava de receber elogios, por nunca saber como reagir a eles ou não saber quando estavam falando sério -, principalmente vindo de alguém como Jeon Jungkook, que, para si, estava simplesmente estonteante naquele look delinquente das antigas.

Ainda sorrindo, Jeon Jungkook voltou sua atenção para o carro, ligando o veículo e finalmente dando a partida para saírem dali. Não estava conseguindo esconder sua satisfação - e não queria - por Jimin ter tomado a iniciativa para o chamar para sair e ter se arrumado daquele jeito.

Estava com o endereço do local que iriam no GPS e estava se guiando por ele para chegarem, visto que não conhecia direito o caminho. Ao som de Like a Virgin, de Madonna, dançava no banco e cantava as letras com empolgação, sendo acompanhado por Kim Taehyung no banco de trás, que fazia uma performance digna de uma premiação.

E ver aqueles dois sendo completamente ridículos juntos fazia Park Jimin se encher de vergonha. O rapaz, que já estava mais do que vermelho, afundou-se no banco quando sua vontade era entrar dentro dele, sem acreditar no que estava presenciando ali.

Like a virgin... Touched for the very first time! (Como uma virgem... Tocada pela primeira vez!) — Jungkook cantou alto ao seu lado, uma das mãos saindo do volante e passando pelo peito até a barriga, movimento este que foi acompanhado com atenção pelos olhos do Park.

Like a virgin... When your heart beats... Next to mine. (Como uma virgem... Quando o seu coração bate... Junto ao meu.) — Taehyung continuou, segurando um microfone invisível no ar.

E então os dois, juntos:

Gonna give you all my love, boy... My fear is fading fast... Been saving it all for you... 'Cause only love can last... (Vou te dar todo o meu amor, garoto... Meu medo está desaparecendo rapidamente... Estive guardando tudo isso para você... Porque só o amor pode durar...).

— Deus, por favor me leva agora! — Jimin resmungou, levando as duas mãos ao rosto em um puro ato de desespero pela vergonha que sentia daquela situação toda.

O que apenas arrancou uma risada alta de Jungkook, que acelerava pelas ruas de Busan, sem temor algum. Taehyung, no banco de trás, debruçou sobre o banco do carona para abraçar o amigo por trás.

— Se está assim agora, nem quero saber quando chegarmos no nosso local do encontro.

Park Jimin lançou um olhar mortal para o amigo atrás de si, que sorria.

— Você me disse que era um bar. — Disse ao amigo, que apenas deu de ombros.

— Mudei de ideia. Precisamos de diversão nessa sua vida, Jiminie! — O garoto disse. Jungkook, apesar de estar dirigindo, estava prestando atenção na conversa.

— Oh... Se for o que eu estou pensando, teremos uma longa noite pela frente!

Park Jimin até estava com medo de descobrir para onde estava sendo levado e, como se estivesse entrando em um de seus pesadelos, tudo começou a se mover em câmera lenta quando Jungkook estacionou, e de repente deixaram o veículo para irem até o local que Taehyung havia combinado.

— Um karaokê?

A voz de Jimin saiu um pouco fraca quando percebeu onde estavam e sentiu as costas arqueando um pouco, como se um peso fosse depositado ali repentinamente. Aquele era o último dos lugares que teria pensado em ir com Jungkook, pois Jimin raramente cantava, e quando o fazia, não estava na frente dos outros.

— Vamos, Yoongi já está lá dentro! — O Kim praticamente cantarolou enquanto flutuava para dentro.

— Yoongi? — Jungkook resmungou, curioso, olhando para Jimin ao seu lado, que estava como uma estátua de cera, congelado no lugar. Percebendo isso, arriscou segurar a mão de Park Jimin, atraindo os olhos gordinhos para si. — Ei, por que está assim?

A preocupação era nítida tanto no tom de voz como na expressão que o médico lhe lançava, pois havia notado o seu desconforto. No entanto, acabou forçando um sorriso para o outro. Por mais que quisesse sair correndo do local e se enfiar nas cobertas, não podia ignorar o quão empolgado Jungkook estava no carro, assim como Taehyung.

Não queria ser o "estraga prazeres", e, por isso, suspirou pesado, apertando a mão do médico contra a sua.

— Não é nada... Vamos entrando.

E não deu espaço para que Jeon Jungkook contestasse sua mudança de atitude tão repentina, pois logo foi o puxando para o interior daquele karaokê, procurando por Taehyung.

Era um típico norebang com diversas salas em que podiam alugar o seu uso por algumas horas de diversão, comida e bebida com os amigos. Uma delas estava com as portas abertas, e Kim Taehyung estava parado ali, esperando o casal para que pudessem entrar logo.

Uma vez lá dentro e com as portas fechadas, Park Jimin se sentou em um dos bancos macios que estavam dispostos naquela sala. Diante deles, uma TV com display interativo para que escolhessem as músicas para cantar e o microfone disposto sobre uma mesinha de centro. Estava chegando para o lado para abrir espaço quando acabou esbarrando em outro corpo.

Quando levantou os olhos, notou outro rapaz ali, os olhos pequenos e cabelos pretos e compridos penteados para trás, o homem o encarava com certa seriedade e polidez, mas não teve muito tempo para falar, pois logo Jungkook surgiu, passando o braço - de músculos notáveis - por cima de seus ombros.

— Você não me dá trégua nem nos meus encontros, não é, delegado Min?

Os dois homens trocaram olhares, e Jimin ficou um tanto surpreso por eles se conhecerem - o mundo era, de fato, pequeno -. Amigos saindo com amigos, era engraçado pensar nisso.

Min Yoongi ao notar a presença de Jungkook, soltou uma risada baixa, porém sincera, achando graça da situação.

— Não me entenda mal, só vim por causa de Taehyung. — Ditou, levantando as mãos levemente. — Mas se soubesse que acabaria em um norebang, nem teria perdido meu tempo.

— Ah, tão cruel! — Taehyung reclamou, dramático, abraçando o próprio corpo. — Um homem não pode se divertir?

Mas aquela pequena discussão não durou muito, pois logo o Kim estava concentrado na tela da TV, empenhando-se em buscar uma música para começarem bem o dia. Yoongi, no entanto, estava com um tablet em mãos, e Jimin notou que o rapaz estava interagindo com um cardápio de bebidas.

Era tudo o que precisava naquele momento, um pouco de álcool para se soltar um pouco.

Quando o delegado notou o olhar do Park em si, virou o tablet de forma que conseguisse enxergar o menu também. Jungkook levantou em seguida, para ajudar Taehyung com o visor interativo da TV.

— Pelo menos alguém aqui vai me acompanhar na bebida. — Yoongi comentou, sorrindo suavemente para Jimin. — Sou Min Yoongi, seu amigo deve ter comentado sobre mim em algum momento.

— Ah, sim, geralmente bem empolgado. — Respondeu, agradecido por poder olhar o menu. — Park Jimin.

E escolheu algumas garrafas de soju, escolha que foi compartilhada por Yoongi, que acabou pedindo um dos combos alcoólicos que tinham ali antes de deixar o aparelho de lado para encarar os dois. Naquele momento, Jimin recebeu o olhar de Jungkook para si, percebendo como o médico estava empolgado com tudo.

— Não quer se juntar a ele? Isso foi quase um convite. — Yoongi ao seu lado comentou, encostando-se melhor no banco, como se quisesse deitar. Jimin, no entanto, apenas balançou a cabeça negativamente.

— Isso não é para mim. — Respondeu, cruzando as pernas e balançando um dos pés suavemente. — Eu definitivamente não teria vindo se soubesse que era um karaokê.

— Bom, pelo menos não é um modelo estrangeiro. Aqui pelo menos temos um pouco de privacidade. — O delegado completou, e Jimin teve que concordar com ele, mesmo que ainda estivesse desconfortável com aquela ideia.

Não demorou para que as músicas começassem a tocar, eram clássicos do k-pop que ficavam sempre na cabeça das pessoas, e era engraçado ver como Jungkook e Taehyung simplesmente não se importavam com o quão ridículos ou com o quanto a coreografia pudesse ser cômica. Estavam simplesmente aproveitando o momento.

Encarando aquilo, Park Jimin até desejou ser capaz de se desfazer de suas inibições e se juntar aos dois, tentar aproveitar o momento. Mas era quase impossível, como se fosse biologicamente incapaz. Sentia como se uma mão o empurrasse de volta para o banco sempre que o pensamento de se levantar surgia em sua mente.

Logo o combo de soju chegou em um balde com gelo seco, sendo depositado na mesinha de centro. Os dois que permaneciam sentados não demoraram para se servir, brindando juntos as garrafas muito suavemente antes de virá-las na boca, sentindo, com satisfação, o líquido descendo queimando pela garganta.

No entanto, ao contrário de Yoongi, Park Jimin bebia em goles grandes, e em poucos segundos a garrafa de soju que tinha acabado de pegar já estava vazia. Tal atitude não passou despercebida pelo delegado, que observou, ainda em silêncio, o garoto ao seu lado abrir mais uma garrafa.

— Vá com calma. Se beber tudo de uma vez assim vai acabar ficando bêbado rapidinho. — O delegado alertou.

Park Jimin sabia disso, mais do que ninguém conhecia os efeitos colaterais do álcool em excesso no organismo. No entanto, sentia-se no direito de consumir o quanto quisesse naquele momento.

Primeiro: Estava em um ambiente que não gostava, forçando a si próprio a suportar aquela situação - humilhante, diga-se de passagem - pelo bem dos outros.

Segundo: Por mais que em seu cerne quisesse levantar, pegar o microfone e cantar BANG BANG BANG a todos pulmões, seus demônios internos insistiam para que continuasse em seu lugar. E isso o deixava frustrado.

Terceiro: Por que Jeon Jungkook estava dançando e cantando ao lado de Taehyung ao invés de estar ao seu lado? Será que havia percebido, agora que estava na presença da personalidade tão alegre e contagiante do Kim, o quão desinteressante e tedioso era?

Resmungando com esses pensamentos e ignorando completamente as palavras do delegado ao seu lado, voltou a virar a garrafa de soju, outra vez tomando todo o seu conteúdo sem pensar muito nas consequências.

[...]

Não fazia ideia de que horas eram e nem de como tinha conseguido chegar no banheiro, apenas sabia que estava agarrado à pia branca, forçando os braços para não acabar caindo pelas pernas bambas pelo excesso de bebida.

A cabeça não ficava rígida no pescoço, girando de um lado para o outro enquanto tentava voltar os olhos para o seu reflexo no espelho. Os olhos já não conseguiam manter o foco nas coisas, seu rosto às vezes surgia como um borrão no reflexo.

Constatou, naquele momento, que estava muito bêbado, e riu sozinho no banheiro.

Quando conseguiu controlar minimamente o pescoço, encarou o vaso sanitário e se lembrou do porque precisava ir até o banheiro.

Precisava urinar, é claro.

Park Jimin desafivelou o cinto que usava com esforço, abaixando a calça. As pernas estavam bambas demais para que fizesse isso em pé - e não queria sair do banheiro com as calças sujas -, então se sentou na privada, tocando no próprio membro e o apontando para baixo, a cabeça abaixada, encarando com atenção todo o ato, mas sem processar como tudo acontecia, de fato.

Por vezes, enquanto estava sentado ali, precisou se lembrar de que precisava respirar, pois acabava parando de vez em quando.

Não percebeu quando terminou de urinar, e apenas ficou ali, congelado naquela posição sem ter a mínima noção do tempo que se passava. Não se lembrava muito, também, do que tinha acontecido na sala do norebang, poucos flashes surgiam em sua mente e nenhum deles fazia muito sentido.

Apenas foi tirado de seus pensamentos quando ouviu batidas na porta do banheiro, e então levantou a cabeça de repente. Onde estava, mesmo?

— Jimin? Você está aí?

Era Jungkook, reconheceu a voz do médico. Tentou responder alguma coisa, mas tudo o que saiu dos seus lábios foi um resmungo alto.

O que sua mãe iria dizer se o visse naquele estado? Eram os pensamentos que começaram a surgir em sua mente.

Ela ficaria extremamente desapontada por ver o filho outra vez daquele jeito.

Provavelmente ficaria horas gritando em seus ouvidos dizendo coisas que o fariam se sentir o pior dos seres humanos.

Perderia sua confiança. Ainda tinha a confiança dela?

— Ei, babe. Abre a porta? Você tem que sair daí.

— Não! Eu não... Terminei ainda...

Respondeu à Jungkook do outro lado, os olhos passeando pelo banheiro procurando por algo que não fazia ideia do que era.

"Enquanto estiver vivendo no meu teto, você vai viver pelas minhas regras!"

"Seu garoto irresponsável! Um burro velho desses agindo como uma criança!"

"Cresça, Park Jimin!"

Não podia aparecer na frente dela de novo desse jeito.

Não queria ouvir todo aquele sermão de novo.

— Jimin... Não precisa sair, mas abre a porta?

— Não... Eu não quero!

Jeon Jungkook, do outro lado da porta, estava preocupado. Jimin havia saído da sala há cerca de trinta minutos para ir ao banheiro e não tinha voltado, e decidiu sair a sua procura quando percebeu que o garoto poderia estar passando mal pelo excesso de soju no corpo.

E sua intuição estava certa. Definitivamente alguma coisa estava acontecendo.

— Por que não quer abrir a porta? Ninguém vai vir aqui, somos só nós dois.

Dentro do banheiro, a cabeça de Park Jimin estava uma verdadeira zona. Estar pensando nas broncas da mãe naquele momento o deixavam cada vez mais nervoso, ao ponto de começar a tremer, como se estivesse entrando em uma crise.

Ouviu as batidas de Jungkook na porta outra vez e, céus, não queria que o vissem assim, mas o que mais poderia fazer? Estava se sentindo totalmente incapaz de se levantar - e também não queria -, mas o aperto em seu peito que o esmagava estava ficando insuportável.

Quando levou as mãos ao rosto, notou que estava chorando, lágrimas grossas que desciam pelo rosto ovalado.

— Jimin...

Não podia ficar ali, mas não queria sair, não queria encarar as pessoas, encarar Jungkook.

— Jimin, por favor...

O braço se moveu praticamente contra a sua vontade, movendo o trinco da porta e permitindo que Jungkook a abrisse, finalmente.

O médico fechou a porta assim que a abriu, até mesmo ignorando o cheiro forte de urina acumulada que aquele tipo de banheiro coletivo tinha pela falta de higiene. O mais importante no momento era saber como Jimin estava, e não precisava ser muito inteligente para constatar que o rapaz não estava bem.

Ainda estava sentado na privada, as calças abaixadas, as mãos fechadas em punho e cobrindo o rosto. Jungkook se abaixou na frente de Jimin, tentando manter o sangue frio naquela situação, afinal, precisava ser a pessoa racional para conseguir fazer com que Jimin deixasse o banheiro.

Segurou suavemente nos joelhos nus do rapaz, acariciando ali suavemente com os dedos.

— Ei... O que aconteceu? Por que está chorando? — Quis saber, usando um tom de voz manso, pois não queria despertar qualquer gatilho no outro.

Jimin, que estava uma bagunça de sentimentos e pensamentos, apenas fechou os olhos e levou as mãos à cabeça, agarrando com força os fios pretos, puxando-os entre os dedos. Queria fazer os pensamentos pararem de algum jeito, mas não conseguia.

A garganta doía enquanto soluçava alto, nem mesmo as lágrimas estavam sendo suficientes para descontar toda a sua frustração acumulada. Por isso, não se importou se Jungkook estava ali ou se alguém poderia se assustar.

Simplesmente começou a gritar, a voz saindo do fundo de seu cerne, esganiçada, desesperada. O que, por óbvio, pegou Jungkook desprevenido.

Não adiantava chamar pelo Park, ele simplesmente não estava ouvindo. Os gritos continuavam altos, e Jimin, além de puxar os cabelos, começou a socar a própria cabeça, repetidas vezes, tentando, em vão, livrar-se de seus tormentos.

Não era a primeira vez que Jeon Jungkook se deparava com surtos daquele tipo, sendo normalmente incentivados pelo uso de drogas. Durante seus anos de residência, precisou ministrar diversos tranquilizantes em usuários de drogas que perdiam o controle por conta da abstinência.

Mas entendia que a situação de Park Jimin era completamente diferente, e sua preocupação, naquele momento, era maior do que já fora com qualquer outro paciente por uma simples razão: estava gostando dele.

E quando se gosta de alguém, você quer ver essa pessoa bem.

Em uma tentativa de confortar o garoto em seu momento de crise - mas usando um pouco de força bruta -, segurou forte em seus pulsos, afastando os braços de sua cabeça para que não se machucasse mais, e os uniu em seu peito, em seguida puxando o corpo de Jimin para perto.

Os braços fortes pelo treino de boxe fecharam Park Jimin em um abraço apertado, e o garoto ainda se debateu por um tempo, sentado na privada, sendo contido pelo médico, até que tudo o que restou foram os soluços e gritos desesperados que escapavam de sua garganta.

Jungkook não se importou com a camisa molhada pelas lágrimas do outro, apenas manteve-se ali, abraçando-o e afagando os cabelos pretos e molhados pelo suor do nervosismo quando percebeu Jimin um pouco mais controlado do que antes

— Ponha para fora o quanto quiser... Não vou sair do seu lado até você se sentir melhor.

E de fato, não saiu. Foram necessários muitos minutos para que Park Jimin deixasse de gritar, e outros mais para que o choro cessasse.

O que só aconteceu pois havia dormido, envolto nos braços fortes e protetores de Jeon Jungkook.

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