Deserto

By bwanna7

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A historia veridica da odisséia de um operário no oriente médio. More

O país do carnaval
Mudança de ares
Outra vida
O contexto político e econômico
Fugindo do inferno
Depois da fronteira
De Volta Para Casa

A Nova Realidade

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By bwanna7

 Já no dia seguinte fomos realocados e colocados em novas dependências, no primeiro dia a sensação que tive foi de quase sufocar O calor era insuportável, após três dias de aclimatação me apresentei na oficina para o trabalho. Fui apresentado aos colegas e em seguida fui trabalhar na vila dos casados, esse era o status dos profissionais que tinham família na obra, eu como estava sozinho tinha status de solteiro.

o trabalho era simples mas o colega que eu iria substituir era desleixado, logo nos primeiros dias já conhecia todas as dependências e equipamentos que seriam de minha responsabilidade. no meio da semana seguinte ele se fora, no dia seguinte fui para a oficina e questionei sobre uma tarefa qualquer prá eu fazer e me disseram que problemas na minha área seriam informados pelo rádio. então fiquei lá bem umas 2 horas tomei um café conversei com o eletricista de enrolamento de motores, então me lembrei do estado das máquinas de lavar da lavanderia e perguntei sobre transporte prá eu ir para lá e avaliar o todo. Ele me disse que isso era muito fácil de resolver, então me falou: pega teu rádio e chama o Josué que te deixa lá com caminhão chamei e logo estava chegando na lavanderia. A primeira coisa que fiz Como já conhecia o pessoal todo, foi questionar o encarregado da lavanderia a respeito da condição das Máquinas, Ele me mostrou duas ou três específicas que tinham uma condição melhor, aí perguntei a respeito das piores. ele foi categórico essa aí é a pior, então disse a ele que terminasse de lavar aquela roupa e desligasse a máquina para que eu pudesse fazer o trabalho. observei que a graxa que havia sido colocada no motor ou no engrenamento era tão velha que já perdera até a sua forma ou seja não se encontrava sequer um resquício de graxa limpa. então perguntei algo que eu nem acreditava que ele pudesse me responder.

- será que a gente não arruma outra máquina dessa aí não?

- Se tiver é com o prefeito, ele me disse.

Ele chamou pelo rádio e logo lá estava o prefeito, nem parecia ser prefeito, mas a vila também não parecia precisar de prefeitura naquela época, mas me disseram que a obra comportara 4500 pessoas mais as famílias, então eram quase 5000 se não mais no pico da obra.

Quando ele chegou já fui logo perguntando se por acaso havia alguma máquina de lavar guardada no almoxarifado ou coisa do gênero?

- Sim tenho quatro, inclusive preciso que sejam revisadas e instaladas Na casa do superintendente e dos engenheiros da obra.

- Bacana, eu disse. - então preciso que você me empreste duas para que eu possa iniciar a manutenção de todas Você vai precisar delas para quando? Ao que ele me respondeu:

- Não posso te emprestar, pois tenho que instalar lá na casa do chefe!

- Quando você precisa dessas máquinas na casa do chefe, eu perguntei.

- Ah daqui a uns três meses, ele me disse.

-Então tá no ponto, eu respondi, e no máximo em dois meses eu te entrego as quatro já revisadas.

Então ele me disse: - Mas elas têm que ter o timer por quê as donas lá não lavam roupa como aqui na lavanderia, manualmente!

Então disse que tudo que eu podia fazer era procurar no almoxarifado, se tivesse os timers eles seriam instalados.

Logo após o almoço todas as quatro máquinas foram entregues na oficina como combinado. Eu fiz uns ajustes na que o encarregado da lavanderia me indicara como pior e avisei que estaria na oficina se ele precisasse.

A manutenção não foi difícil, difícil mesmo foi limpar toda aquela graxa com aquela sujeira interna e externa em seguida pintar e montar.

Ao cabo de três meses já havia terminado a manutenção de todas as máquinas da lavanderia e todas as quatro máquinas a serem devolvidas ao prefeito. Como a maior parte do meu trabalho era na lavanderia a minha vida ficou muito mais fácil desde então e logo fui levado para a equipe de manutenção das linhas de alta tensão e subestações.

Boa parte do trabalho também era feita após às 18:00, Era um famoso "serão", as horas extras de todo dia, o que era bastante representativo em termos de Salário. e nem tão exigente o serviço era. A coisa mais inusitada que conheci, foi o "air cooler", um equipamento para resfriar ambientes, que apresentava por si só um projeto simples e eficiente, digo inusitada, porque fui dar manutenção em uma bomba e descobri um outro equipamento que não conhecia e de Certa maneira pude perceber as viabilidades do mesmo. De maneira geral Tudo se encaminhava para tranquilidade e nos meses seguintes o trabalho ainda era simples tranquilo e sem segredos e de alguma maneira Parecia não importar tanto mas eu continuava contando cada um dos dias cada uma das horas, cada um dos minutos. Um evento interessante foi a chegada de um árabe no campo, na portaria o guarda não podia entender o que dizia o cidadão, então levaram-no para o bar dos solteiros e Pediram ao Mahrmoud, um libanês radicado no brasil há uns 20 anos, que solucionasse o problema, que por sua vez também não entendia o que o cara dizia, até que ele se revelou sendo ele um motorista da própria companhia. outro exemplo bastante ilustrativo foi ação de um colega brasileiro na obra que para ser devolvido ao Brasil insistia em jogar todos os vidros de pimenta no chão do refeitório o que segundo os outros ele apenas estava dando uma de louco para ser devolvido sem ter que pagar as despesas pela quebra de contrato.

Algo que descobri de uma maneira horrível foi o porquê do uso daquele turbante dos árabes. Certa vez Trabalhando na vila dos casados fiquei ao sol por aproximadamente umas 2 h e já havia ouvido do pessoal para não trabalhar com a cabeça exposta ao sol, resultado: uma dor de cabeça por dois dias e uma insolação das bravas.

certo dia uns colegas me convidaram para ir à cidade para, nas palavras deles "Ver rosto", fui e o que pudemos ver foram apenas rostos mesmo, pois as mulheres usavam o véu cobrindo o rosto e às vezes usavam véu sem cobrir o rosto. Era só o que se podia ver. Outro aspecto interessante da Vida na cidade é que o comércio começava realmente o dia lá pelas 16:00 por causa do calor e no inverno fechava Próximo desse horário, No verão eu podia entender, mas no inverno fazia pouca diferença pois o frio era intolerável o tempo inteiro. basta dizer que com o sol alto e o Céu Azul a temperatura ambiente permanecia próximo de 0 graus Celsius, e até abaixo.

Não era tão difícil conseguir trabalhar com aquelas coisas todas, o clima, o relevo, o tempo e a paisagem. Antes de morar em Belo Horizonte morei no interior por muito tempo. você podia sentir toda a vibração da savana mineira, e era algo que eu gostava. naquele país sem árvores e sem vegetação tudo era muito monótono sem contar que a distância eu não media em quilômetros, mas em dias horas meses. Sempre fui um solitário nunca me ocupei muito das pessoas, mesmo quando era jovem e me preocupava e me ocupava de questões humanas das questões filosóficas e até mesmo sociais, As pessoas não tinham muito significado para mim, pois eu sempre Vivi num mundo a parte, fora da sociedade humana mesmo na escola no trabalho no cotidiano. Mas aquele não era o lugar que se pudesse viver solitário, apesar da imensidão do lugar e do vazio da paisagem. Nunca mais consegui nã'pensar no lugar. Tudo que eu podia fazer era lembrar, você realmente sabe quem é quando ainda se lembra! Tudo era desolação. Lembrava sempre de um dia específico quando criança, morava no interior em uma manhã de sol e vento, provavelmente outono ou talvez certamente eu voltava para casa feliz sabe-se lá porquê, mas era algo que eu me lembrava e ainda lembro com clareza.

O Mar de areia era calmo, nada Parecia se mover. Acaso seria aquilo reconhecer o significado da solidão?

As questões filosóficas da vida, são para sempre. Lugares distantes, lugares ermos, geralmente são passíveis de esquecimento, Mas o que eu vira, nada, nada, poderia ser esquecido. Ainda hoje tenho na memória toda aquela imensidão. Em casa no Brasil, as imagens, são muito diferentes e a tendência é que eu as mude para que sejam coerentes com a minha realidade. Será que isso é correto?

Eu tinha um pequeno conhecimento da língua inglesa e por vezes atendia as pessoas que iam à oficina pedir que fizéssimos pequenos serviços em equipamentos elétricos, funcionando como uma espécie de tradutor. Devido a isso certa vez chegou um carro na oficina e o motorista perguntou pelo meu nome, o "tot", era como chamávamos o Clóvis, veio me chamar dizendo que o sujeito me procurava, fui falar com ele e ele me disse que o chefe da obra, no caso o representante do governo na obra pediu para que eu o acompanhasse, disse a ele que eu era só um eletricista e que ele deveria chamar alguém responsável da MJICO, mas ele disse que não, que era comigo mesmo que ele queria falar, perguntei se era para executar algum serviço e se eu precisaria levar ferramentas, ele me disse que não, era apenas um encontro para tomar um chá. Pensei comigo "tô fudido, detesto chá". Fomos para o escritório deles e lá encontrei umas 40 pessoas, só homens, e dois ou três garotos de uns 10 anos. Fui recebido com entusiasmo pelo senhor Moacir, nome inventado(não sei escrever o nome dele), perguntei porque ele me chamou e ele me disse que muitas pessoas que iam à oficina solicitar serviços falaram a meu respeito, não entendi o porque e perguntei, ao que ele me disse que eu tratara a todos com muito respeito e educação. Então fiquei na dúvida, pois sou sempre direto e as vezes me chamam de "grosso", sei que sou mesmo, mas parece que em outra língua consigo ser educado. Sentamos em uma sala imensa em que todos falavam e fumavam ao mesmo tempo. os que estavam mais perto de mim me ofereciam cigarros e chá a toda hora, aceitei um café e bastou, era só o copo esvaziar que traziam outro. Um homem ao meu lado falou comigo num inglês bastante arrastado, devido a sua língua mãe ser gutural, mas que eu pude compreender claramente. disse que era capitão e piloto de caça, que havia sido treinado na França. Como nós ocidentais sempre achamos que o oriental está sempre a procura de conflito, perguntei:  por que as pessoas aqui fazem tanta guerra? A resposta me deixou de boca aberta. "políticos fazem as guerras, os soldados apenas lutam e morrem". Posso dizer que foi bem instrutivo o "sarau", ouvi muitas gargalhadas e muitas preocupações de todos com seus filhos.

Quando Começou o período das chuvas, já no inverno, o frio era impossível de suportar a incidência de uma espécie de besouro também era alarmante, certa vez houve Uma ocorrência na subestação elétrica principal do Campo, como era de madrugada eu estava um pouco sonolento ainda, então comecei a ouvir um ruído estranho, parecia que o carro estava sobre um terreno de britas, Mas na verdade eram besouros, uma espécie de escaravelho, que eclodiam da terra, agora me parece bastante plausível o filme da múmia com aquele tanto de escaravelhos dentro das catacumbas.

Também vi sob a terra escavada o que poderia ser uma marca do dilúvio Pois estávamos a aproximadamente 250 km do mar, Aproximadamente uns 3 metros abaixo do nível do solo existe uma camada de aproximadamente 2,5 metros de conchinhas e outros animais marinhos, isso também não prova nada, visto que a altitude no local é de 4 metros do nível do mar, mas ainda assim é impressionante.

um outro aspecto interessante é o rio, tenho a impressão que se você plantar uma moeda nas margens nasce um pé de dinheiro, mas longe das margens como já comentado, nada prospera. me lembro que precisávamos fazer uma passagem de cabo sob a rua e fomos cortar com picareta, resultado: quebramos o cabo da ferramenta e tivemos que pedir ajuda ao pessoal da construção civil, que apareceu com picaretas com cabo de cano galvanizado para executar a tarefa.

O rio Eufrates na área em que estávamos era bastante profundo e próximo da foz, posto que ele nasce ao norte do país, estive também no rio Tigre neste caso próximo da nascente era raso e bastante largo e a água totalmente transparente.

Em algum momento a guerra Irã-Iraque termina, todos os dias na televisão a gente via a troca de prisioneiros entre os dois países e a fila de homens era interminável, tendo em vista que muitos voltaram, certamente muitos também ficaram por lá. Os mortos não têm para onde voltar. Na televisão as notícias de um conflito diplomático entre o Iraque e o Kuwait, mostrava um futuro sombrio para os dois povos e talvez até para o mundo, porque o conflito se devia ao interesse do Iraque em diminuir a produção de petróleo, visando aumentar o preço, ao passo que o Kuwait que detém 20% do petróleo do mundo aumentava mantendo alta a oferta e os preços do barril em baixa. Pouco depois dessa época voltei para o Brasil em meados de Maio. Soube logo no primeiro dia que os resultados financeiros de trabalhar no Iraque foram inexpressivos, a inflação no Brasil já era de 75% ao mês e o dinheiro desaparecia com a mesma rapidez que os preços no mercado cresciam. emprego era produto de luxo, não havia perspectivas razoáveis, consegui um trabalho temporário através de um jornal na barbearia que eu frequentava apenas para ter notícias do mundo, pois comprar um jornal e cortar o cabelo e a barba também era algo difícil devido às condições financeiras que enfrentávamos, mas o trabalho era suficiente para algumas despesas e ajudavam na confecção de salgados da minha esposa. Em agosto de 1989 o Iraque invade o Kuwait, e o Kuwait pede ajuda aos americanos.

Em dezembro do mesmo ano, dois colegas estiveram em minha casa, Me convidando para voltar para o Iraque para substituir os trabalhadores que lá haviam ficado, embarquei de volta para o Iraque. Amargo regresso, tudo tudo tudo a mesma coisa enfim nada poderia ser pior eu estava à beira de uma guerra no meio do nada, no meio do deserto pensando "será que eu sobrevivo a isso". Difícil saber mas nada havia para você fazer. Pelas minhas contas Eu voltaria no máximo em 60 dias, Mas isso era só especulação.

Eu voltei ao Iraque em dezembro porque devido a invasão do Kuwait uma centena de profissionais foi retida para a manutenção do acampamento e da obra em si

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