Velas Negras • MonSam

By Heartflwrbr

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Após a morte de seu pai Edward Teach, um dos maiores e mais respeitados piratas da região do Caribe, Mon assu... More

Introdução
Personagens - Os Negros
Personagens - O Bordel
Personagens - Os Vermelhos
1. O Pior da Minha Vida
2. Decisão Tomada
3. O Acordo
4. Seguir curso!
5. Atitudes Inesperadas
6. O Resgate
7. A Garota da Família Rival
8. Defesa
9. Inconsequência
10. O Julgamento
12. Vontade
13. Motivos
14. Lidando com os sentimentos?
15. Não é porque eu te odeio que eu não posso mais beijar sua boca
16. A Dançarina
17. Brincando com Fogo
18. Cartas na Mesa
19. Buscando Respostas
20. Traição...?
21. Decisões Difíceis
22. Aliança
23. Afogando-me
24. Fatos e Conexões
25. Você é Bem Vinda.
26. A Última Noite
27. Traidores
28. Guerra

11. Visitas Inesperadas

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Kornkamon Teach

== Dia anterior ao julgamento ==

- Ela precisa pagar pelo que fez, capitã. A gente já deu bastante regalia para ela! - Um dos marujos fala, enquanto outros afirmavam com a cabeça, concordando com o que ele havia acabado de dizer.

- Não pediremos a morte de ninguém, isso é ponto pacífico. - Eu tinha a voz segura e pontuava o que estávamos há horas discutindo.

O cansaço e a impaciência me abatiam naquele momento, era extremamente desgastante tentar contornar a situação de maneira sutil para que não ficasse tão na cara de que, por mim, esse julgamento ia para a puta que pariu.

- Os ânimos estão exaltados. - Maria falava agora, ela tinha um tom conciliador - Se não pensarmos com um pouco mais de objetividade, não iremos chegar a nenhuma conclusão.

Maria era uma velha amiga dos meus pais, ela fazia parte da tripulação, mas era mais presente nos arranjos dos bastidores das nossas missões, trabalhava muito frequentemente com minha própria mãe, em terra. A ideia dela nos representar como porta voz da acusação tinha sido da minha mãe e, até agora, ela havia feito um ótimo trabalho na reunião dos Negros, para que chegássemos a uma conclusão das nossas demandas para o dia do julgamento.

- O problema é que a capitã não aceita que a gente peça a morte da Every. - O marujo volta a falar.

- Não é só ela que não aceita, a maioria não quer isso. Queremos que ela pague, mas não com a vida. - Outra voz ecoa na multidão, no convés do Concorde.

- Se me permite, capitã... - Maria voltava a falar. - Há uma outra maneira de fazer com que a Samanun Every pague de uma forma pesada, sem ser com a vida.

- Pode continuar, Maria. Exponha sua ideia. - Tee a encoraja a falar, já que eu me mantive calada.

- Não seria exagerado que pedíssemos o afastamento vitalício dela, não só como capitã, mas de qualquer atividade atrelada à pirataria.

Meu corpo gela. Aquilo era absurdo de se pedir, iria acabar com a vida dela do mesmo jeito. Seria, talvez, pior que matá-la.

- Isso iria acabar com a vida dela. - Penso alto e a Tee me observa, voltando a falar.

- Talvez isso seja pesado demais. - Tee se pronuncia.

- Pede grana para os Every e pronto! - Uma outra voz fala.

Era impressionante como a gente simplesmente não conseguia uma unanimidade com nada, por isso estávamos ali há horas e eu já estava exausta.

- Essa é uma boa ideia! - Outro fala.

As opiniões divergiam, mas em determinado momento, aparentemente a ideia de Maria pareceu convergir a maioria das opiniões: os mais radicais aceitaram diminuir suas expectativas, enquanto que os que achavam que não precisava pegar tão pesado, concordaram que aquela sugestão era um meio termo.

O grupo começava a se entender e a ideia de Maria começava a ser a mais provável de ir à frente, o que ainda me deixava angustiada. Tee notava isso, pois de vez em quando ela olhava de canto de olho para mim e tentava contornar a situação.

- Vocês entendem que pedir isso se assemelha a pedir a morte dela? Fomos nascidas em famílias piratas, é isso que conhecemos nossa vida inteira! - Falo e um silêncio se instala.

- Capitã, não podemos abrir mão de uma pena mais pesada. Se isso acontecer, podemos perder nossa moral diante dos Vermelhos e eles acharem que somos fracos.

- Não é dessa forma que vamos impor nossa força. Ela está sendo julgada, está claro para qualquer um que nem ela nem ninguém sairá ileso se quebrar o Acordo de Paz novamente. - Respondo.

- Então a gente diminui o período de reclusão. Ao invés de pedirmos um ano, a gente pede seis meses. - Maria tenta amenizar, mas aquilo não ajudava.

- A gente também concorda que pedir para que ela se afaste de tudo, é muito exagerado. - Um pequeno grupo da tripulação fala pela primeira vez.

- Precisamos de um consenso. - Lauren fala. - E para isso, alguns precisam abrir mão e encontrar um meio termo nas opiniões diferentes. Também concordo que pedir seu afastamento total da vida de pirata é exagerado. Mas pelo menos não estamos pedindo sua morte.

- Não percebe que é quase a mesma coisa?! - Pergunto com os ânimos aflorados. Eu começo a notar que me exaltava, então recuo um pouco, respirando fundo para não dar tão na cara.

- Não é quase a mesma coisa, capitã. Sua família ainda a terá por perto, mas ela vai precisar procurar outra atividade. Não é a morte. - Maria fala e a maioria concorda.

Inspiro um grande volume de ar e solto devagar, tentando pôr minha cabeça no lugar.

- Eu concordo com a capitã, acho uma coisa muito pesada. Ela não matou nenhum dos nossos. Quebrou o Acordo de Paz sim, mas o ataque não foi contra nossa tripulação e, convenhamos que não conseguiríamos levar todo aquele ouro. - Tee fala, me apoiando.

Ela tinha entendido meu ponto de vista e, nas entrelinhas, ela conseguiu perceber que eu não poderia passar por cima do carinho que vinha crescendo dentro de mim, pela Samanun Every. Eu não aceitaria dar a ela uma pena incoerente, porque era isso que Maria estava propondo.

- Não importa, ela não poderia ter feito aquilo. Se perdêssemos a capitã, o que iríamos fazer, Tee?! - O marujo que queria a pena de morte volta a falar.

- Nem a capitã acha justo isso, quem é você para pensar diferente? - O pequeno grupo volta a falar e então retornamos à estaca zero.

Após mais algumas horas de discussão, brigas e gritaria, eu sentia que tinha sido voto vencido. A maioria havia concordado com a Maria e quem não concordava, era mais porque estava apoiando meu posicionamento do que por convicção.

Meu coração estava apertado, mas eu não poderia fazer diferente, de modo que após quase uma hora calada, volto a falar.

- Acho que está mais do que claro o que a maioria aqui quer. Seguiremos então a proposta que Maria trouxe. A reunião está encerrada. - Falo com semblante sério e então me levanto para ir embora.

Eu sentia raiva pela situação que eu estava inserida. Eu não queria que ela sofresse o que estava prestes a sofrer, sentia raiva porque ela tinha se metido nisso e eu não tinha controle. Minhas fichas para ajudá-la já haviam se esgotado. Além disso, eu ficava mais puta ainda porque eu me importava mais do que deveria.

Desço às pressas do navio, com a Tee e a Lauren no meu encalço. Ando rápido até o local em que nossos animais estavam, mas antes de subir no cavalo sinto o braço da Lauren me puxando.

- Mon, seja sincera, o que está acontecendo entre vocês duas?

Olho em seus olhos e então olho para a Tee, que me observava a situação e também esperava a minha resposta.

- Do que você está falando? Eu estou exausta, só quero ir para casa, Lauren. - Respondo com impaciência.

- Mon, o que ela está perguntando é compreensível. Está claro que você, mais do que ninguém dos Negros, tenta proteger a Samanun. - Tee fala com a voz calma.

Respiro fundo pela vigésima vez naquele dia. Eu tinha me metido em uma situação complicada e eu não conseguia sair daquilo.

- Não é isso... É só que eu acho injusto pedir uma coisa tão extrema assim. - Respondo e a Lauren revira os olhos.

- Isso eu sei, o que eu quero saber é o motivo por você a proteger tanto. - Lauren volta a perguntar. Ela também demonstrava alguma chateação na voz. - Vocês se pegaram, ok. Mas não imaginava que estivesse apaixonada por ela.

O termo que ela usa me dá calafrios e eu gargalho de forma irônica.

- Você só pode estar delirando se acha que estou nesse ponto. - Respondo igualmente chateada agora.

- Desculpa, Mon. Mas é o que parece, porque você defende a garota com unhas e dentes. Uma reunião dessas deveria durar uma hora no máximo, se não fosse você o tempo inteiro querendo que diminuíssemos a pena dela. - Ela aponta para o navio onde a reunião tinha acontecido e onde, agora, os marujos desembarcavam lentamente.

- Eu só estou tentando ser justa! Acha que é razoável que a gente peça para ela ser afastada de toda sua vida de pirata porque ela queria pegar ouro do navio, ouro esse que nem iríamos conseguir pegar por completo?! - Me exalto.

- Como falei lá dentro, eu não acho justo. Mas tampouco estou com os nervos à flor da pele porque fui voto vencido. Diferente de você.

- Gente, calma. - Tee fala, se pondo no meio de nós duas. - Lauren, a Mon tem razão. Não há necessidade para uma pena dessas.

- Eu já disse que concordo com ela nesse aspecto, Mas veja você mesmo como ela está. - Lauren aponta para mim. - O fato de estarmos discutindo aqui, nesse exato momento, só demonstra meu ponto.

- Certo, Lauren. Mas e se ela estiver, de fato, gostando da garota? - Tee pergunta.

- Eu só queria que ela admitisse. - Ela cruza os braços e me olha.

- Parem de conversar coisa desnecessária, não tem ninguém aqui gostando de ninguém e eu gostaria que essa merda desse assunto fosse encerrado!

- Com licença, capitã? - Um mensageiro que eu havia posto para aguardar a reunião do Conselho, se aproxima da gente. - O Conselho já deliberou, o julgamento acontecerá amanhã.

Passo a língua pelos meus lábios, tentando manter a calma e não deixar transparecer a ansiedade que me assolava naquele momento.

- Obrigada, Mat. - Ele põe a mão na aba do seu chapéu em reverência e se retira.

- Vai correndo contar para a namorada, quer apostar? - Lauren debocha e eu a olho sentindo a raiva me corroer.

- Eles estão em reunião no Fancy. - Tee fala com a voz calma, como normalmente ela tinha e a Lauren levanta a sobrancelha me desafiando, como quem dizia "tá aí a informação que queria, não é?".

- Lauren, antes de ficar confabulando sobre minha vida amorosa, deveria resolver a sua, já que paixão por puta não leva ninguém a nada. - Falo com veneno nas palavras e puxo as rédeas do meu cavalo, saindo dali a galopes.

== flashback off ==


Samanun Every

Utilizo de todo o tempo que haviam me dado para me despedir dos meus familiares, mas também para conversar brevemente com a Engfa.

Eu ficaria um mês presa, precisava que ela fosse a primeira a me visitar na prisão porque precisávamos pagar a multa e, para isso, teríamos que correr contra o tempo para levantar aquele dinheiro. Além disso, havia muita coisa a ser resolvida. Minha vida tinha virado de cabeça para baixo e eu precisava ter sangue frio para colocar tudo no seu devido lugar de novo.

Quando vejo os oficiais entrando no recinto, corro para a Engfa tentando utilizar o máximo do tempo que ainda tinha em sua presença.

- Venha assim que permitirem a visita. Você é a capitã interina, Kirk está de testemunha que a nomeei. Se reúna com a nossa tripulação, passe força para eles, não podemos nos abater por isso. Quero que passe para eles que eu estou bem, que ficarei bem e que tudo vai se resolver. Mas que--

- Senhorita, precisamos levá-la. - Um dos oficiais anuncia, esperando que eu me afastasse da Engfa. Ignoro sua fala por um momento e continuo o que estava falando.

- Mas que se nos mantivermos fortes e focados, as coisas vão se resolver.

Assim que finalizo o que precisava dizer à minha irmã, me viro para a dupla de oficiais que me esperava. Eles se postam cada um ao meu lado e pegam meu braço, começando a me conduzir para a prisão. Dou uma última olhada ao redor e vejo que o local em que a Kornkamon ocupava antes, já estava vazio. Não tinha a visto desde que a sentença havia sido anunciada, provavelmente ela tinha ido embora às pressas.

Eles me conduzem por cerca de 50 metros, até o local já conhecido por mim. Havia uma mesa em que um oficial estava sentado. Assim que sou levada até próxima da sua mesa, ele acaba de preencher algumas coisas à sua frente e então olha para nós três, eu e os dois oficiais.

- Samanun Anuntrakul Every. - Ele lê meu nome no papel.

- Isso. - Um dos oficiais que segurava meu braço, confirma.

- Cela... - Ele volta a ler o papel. - Treze.

Os oficiais fazem que sim com a cabeça e então me conduzem pelo corredor escuro. Assim que começamos a avançar pelo corredor das celas, o cheiro desagradável e úmido entra pelas minhas narinas.

Continuamos andando e eu percebo que era uma das últimas unidades, mais distante da que eu fiquei da outra vez, mais escura e mais... inóspita.

- Pode entrar, Every. - Ele abre o portão de ferro pesado e me aguarda entrar. Diferentemente do outro oficial, ele não me empurra e nem me toca, apenas aguarda que eu esteja atrás da grade e então tranca a porta e vai embora sem nada dizer.

Respiro fundo e olho ao redor. Não tinha nada ali, que não fosse chão, as paredes e eu. Deveria ser começo de tarde e o sol ainda brilhava lá fora, mas aqui dentro estava escuro. Não haviam janelas, então tanto de dia quanto de noite o ambiente era o mesmo corredor escuro, iluminado por pequenas e escassas tochas.

Removo meu casaco e cubro o chão, tentando deixá-lo um pouco mais agradável para eu me deitar, quando escuto alguém batendo na grade e levanto a cabeça.

- Você perdeu o almoço, mas parece que é bem relacionada. Mandaram trazer comida para você. - O oficial fala colocando um prato de metal no chão e passando a "refeição" pela fresta que havia na grade para aquele fim.

Me levanto e pego o prato no chão. Analiso o líquido frio que havia dentro, provavelmente uma sopa. E ainda que fria e pouco convidativa, pelo menos eu não iria passar fome até o jantar, já que o julgamento havia sido pela manhã e tinha emendado o horário de almoço.


Kornkamon Teach

Eu sentia o vento fresco batendo no meu rosto. Minhas tranças compridas e pesadas voavam ao passo que eu apertava um pouco minhas botas de encontro com a cintura do meu cavalo. Joe aumentava a velocidade de suas patas na areia fofa, fazendo suas passadas ficarem cada vez mais leves e rápidas.

Eu cavalgava em alta velocidade pela areia da praia, tentando fugir do turbilhão de coisas que eu sentia agora. Como se, através da velocidade, eu pudesse me esconder dos sentimentos que emanavam de dentro de mim. Mas era impossível.

O mar estava revolto, as ondas batiam fortes na praia. Era quase que uma analogia a como eu me sentia naquele momento, mas eu não poderia me dar ao luxo de passar tanto tempo fora. Eu havia saído do julgamento assim que a sentença tinha sido dada, antes mesmo de qualquer coisa eu tinha tomado meu rumo para a saída do recinto, a fim de respirar um pouco e pôr meus pensamentos em ordem.

Por isso, resolvo voltar ao local onde o julgamento acontecia e que, àquela altura, terminava. Eu deveria estar presente naquele momento, como representante dos Negros. Tinha sido uma vitória para nós o fato da capitã dos Vermelhos ser afastada por seis meses de suas atividades, era uma perda grande para eles. Mas o sabor doce da vitória era a última coisa que eu sentia na boca agora. O amargor da preocupação e da angústia tomavam tudo dentro de mmim e era a única coisa que eu conseguia sentir naquele momento. Por isso, eu precisava me concentrar para poder jogar tudo aquilo para o fundo do peito e agir como se estivesse muito feliz que a responsável pelos últimos acontecimentos, estava sendo punida.

De longe vejo os Every junto com o Kirk, Jim e mais várias pessoas que tinham o semblante triste. Além disso, notava de onde eu estava que muitos ali estavam chorando, mas trato de logo tirar minha atenção deles. Aquilo só me deixava mais mexida.

- Onde você se meteu? - Lauren me pergunta, se aproximando de mim e pegando da minha mão o cabresto para levar o Joe.

- Só fui dar uma volta, enquanto finalizavam o julgamento. - Respondo de maneira simples, dando de ombros.

Ela franze o cenho e me observa, enquanto me afasto dela e me aproximo do grupo de várias pessoas dos Negros que se congratulavam ali. Assim que eles me veem, muitos vem até mim.

- Capitã--

- Eu sei que não foi o que combinamos. - Corto a fala de um dos marujos me abordam com a cara de poucos amigos. Mas também me imponho, sem deixar margem para que aquela discussão aumentasse. - Mas eu não pude deixar que isso acontecesse.

- Como não?! Foi o que combinamos na reunião, capitã. - Ele agora fala com um pouco menos de indignação na voz.

- Não podíamos aumentar a rivalidade com os Every. Se pedíssemos aquilo para a capitã dos Vermelhos e primogênita do Henry Every, o que você acha que isso iria acarretar para a paz da ilha? Seria um ato de guerra, cortaríamos a linha tênue da harmonia com a família Every. Eu sei que somos um grupo e que eu sempre opto por tomar as decisões em conjunto com todos da tripulação, mas eu também não posso deixar de seguir meus instintos. Foi por isso que vocês me escolheram como capitã.

Fico surpresa com a maneira que sua expressão modifica, acatando o que eu falava.

- Eu não tinha pensado por esse lado. - Ele faz um olhar pensativo.

- Eu também não, durante a reunião. Mas lá no julgamento, vendo a maneira que o Henry Every ficou quando a Maria falou nossas demandas, eu pude perceber que o que queríamos estava além do que deveríamos pedir. A gente ia passar dos limites e eu não me contive em alterar os planos com o trem em movimento.

A maioria que me ouvia parecia raciocinar e concordar com o que falava.

- Pelo menos ela vai pagar de alguma forma. - O mesmo marujo volta a falar.

- Não precisamos acabar com a vida de ninguém, vocês já entraram naquela prisão? Um mês ali é quase morte, tenham certeza que ela vai se arrepender do que fez. - Lauren fala me apoiando e eu a olho surpresa, ela me encara de volta com companheirismo no olhar. Sorrio fraco, em agradecimento.

- Vamos para o bordel, capitã! - Um outro me chama e eu sorrio sem vontade.

- Claro! - Respondo sem o mínimo ânimo.

- Você vai mesmo? - Lauren me pergunta discretamente.

- Eu preciso ir, Lauren. Nós saímos triunfantes do julgamento, não posso simplesmente desaparecer.

Ela entende meu ponto de vista e então nós simplesmente montamos nos nossos respectivos cavalos e rumamos para o Bordel.

O local estava cheio, como de costume. O Bordel havia aberto mais cedo, devido ao fim do julgamento. Muitos, muitos piratas queriam comemorar ou afogar suas mágoas naquele local, de modo que a Jim, mesmo não estando nem um pouco no clima, havia aberto mais cedo, afinal, negócios são negócios.

Como era de esperado, ela não estava lá, assim como não via o Kirk e nem a Engfa.

- Mon, babe, como você está? - Mal entro e já sinto as mãos da Hailee no meu corpo, me puxando para um abraço. - Deve estar exausta pelo julgamento.

Eu estava acabada, mas não fisicamente. E naquele momento eu começava a achar uma boa ideia estar naquele local. Eu tinha que tentar dissociar um pouco, precisava descansar minha cabeça.

- Oi bebe! - Ponho a mão na sua cintura, abraçando-a de volta. - Eu estou bem. Foi um pouco cansativo, mas acabou. - Sorrio sem mostrar os dentes, cessando o abraço.

- Fica à vontade. Estamos bastante cheios hoje e a Jim tirou o resto do dia de folga, de modo que estamos um pouco sobrecarregados. Mas você sabe que te dou 200% da atenção é só você me chamar. - Ela finaliza sua fala com uma piscadinha e um selinho no meus lábios, sumindo em seguida dentre os vários clientes que estavam ali.

- Lauren... - Puxo seu braço assim que ela passa por mim e então ela vira para me olhar. - Queria pedir desculpas pelo que falei mais cedo. Eu estava irritada e frustrada.

- Eu sei disso, Mon. Na hora fiquei com raiva, mas depois eu relevei porque entendi que você só queria me machucar, pela maneira que eu estava te colocando na parede com a situação da... enfim, você entendeu. - Ela não fala o nome da Samanun e eu agradeço por isso.

- Sim. Mas isso não justifica. Por isso eu me desculpo, e também agradeço pela maneira que me ajudou há pouco. - Ela sorri.

- Tá tudo bem...

- Você já conseguiu encontrar a Camila? - Pergunto e ela me olha com uma expressão feliz.

- Sim, ela está no bar me esperando. - Sorrio aliviada por ela. Mas então sua expressão modifica um pouco e ela parece ficar preocupada. - Você... você vai subir com a Hailee?

- Eu acho que devo... - Ela levanta uma sobrancelha.

- Deve? É a primeira vez que vejo você falando assim sobre sexo. Não sabia que tinha algum tipo de obrigação com ela. - Rio fraco de sua fala.

- Não é que eu tenha algum tipo de obrigação. Na verdade não tenho nenhuma, mas acho que passar a noite com ela poderia ser bom. Tirar minha cabeça de algumas coisas.

- Pessoas. - Lauren complementa.

- Não enche, Lauren. - Ela gargalha.

- Não pensa mais nisso, então. Vamos beber. - Ela me puxa em direção ao bar, onde a Camila já estava sentada guardando seu lugar.

A hora seguinte é regada a bastante uísque e conversas agradáveis com pessoas que eu conhecia e marujos da minha tripulação. Eu tentava distrair minha cabeça que insistia em pintar a imagem da Samanun em uma cela, com fome, com frio... Enquanto eu estava aqui cercada de amigos, mulheres e bebida.

- Rum com água de coco por favor. - Uma voz masculina me chama a atenção pelo pedido inusitado que, novamente, me faz lembrar dela.

Se não fosse pelos atos que ela havia feito, você estaria com os bolsos cheios de ouro agora, Kornkamon, comemorando em um quarto com várias prostitutas e não lembraria nem da presença dela. Que se foda.

Enfia isso na sua cabeça!

Camila e Lauren estavam aos beijos, pondo de lado toda a "etiqueta" que se tinha quando você ficava com uma prostituta. Embora a Hailee também costumasse me beijar quando dormíamos juntas, ela era a única que fazia aquilo na minha companhia, eu sabia que muito se dava pela maneira que ela se sentia comigo.

- Nop, pode me dar mais uma? - Levanto o copo de uísque vazio e ele faz que sim com a cabeça, se aproximando de mim e pondo uma dose. - Pode encher.

Ele para o que estava fazendo e me olha surpreso.

- Encher?

- Sim, pode encher o copo. - Insisto e então ele dá de ombros, acatando meu pedido.

- Tentando se embebedar por quê, Monzinha? - Sinto o hálito quente da Hailee no meu ouvido e suas mãos deslizando pelas minhas coxas enquanto me abraçava por trás e eu terminava o longo gole que dava no copo cheio de uísque. - Por que está bebendo tanto hoje?

- Estou bebendo para comemorar, babe. Está me monitorando, agora? - Pergunto com um riso de canto de boca. Ela se põe na minha frente, colocando seu corpo em meio às minhas pernas e as mãos ao redor do meu pescoço.

- Eu sempre estou te observando. Você parece um pouco aérea hoje. - Ela fazia um carinho roçando suas unhas na minha nuca.

- Impressão sua, linda. Acho que é apenas o cansaço. O dia foi bem cheio hoje. - Ela passa seu nariz no meu pescoço e então se aproxima da minha orelha.

- Quer que eu chame alguém para a gente fazer a festinha a três que você queria no outro dia? - Ela então lambe o lóbulo da minha orelha, mas a lembrança do convite declinado que eu fiz à Samanun na noite passada havia me lembrado que naquele momento ela provavelmente estava tendo dificuldades para dormir no chão duro.

Kornkamon, você nunca foi assim. Por que isso agora? A garota tinha feito merda, ela estava apenas pagando pelos seus atos.

- Acho que podemos subir, mas talvez... - Passo a mão entre os fios do cabelo da sua nuca e me aproximo do seu ouvido. - só nós duas seja melhor.

Ela abre um sorriso lascivo. Imagino que essa era a resposta que ela mais queria ouvir. Então, sem mais delongas, ela me puxa pelo braço. Me oponho ao movimento, apenas para virar de uma vez o resto do uísque que estava no copo e então me deixo ser levada pela sua mão entrelaçada à minha.

Quando passo próximo à Lauren, ela para o que estava fazendo e me dá uma piscadinha com um sorriso, como se estivesse apoiando o que eu fazia. Retribuo com um sorriso sem mostrar os dentes.

Subo as escadas sendo guiada pela Hailee, até um dos melhores quartos dali.

Assim que fechamos a porta, seu corpo voraz me ataca, o que era o completo oposto do que normalmente acontecia. Ela me joga na parede me beijando com muita vontade. Minhas mãos passeavam pelo seu corpo.

Prisão.

Troco nossas posições e começo a beijar seu pescoço por trás. Eu tentava trazer minha cabeça para aquele momento, por mais que ela tentasse desvirtuar meu pensamento e levar para uma certa pirata cabeça dura e muito gostosa que estava presa naquele momento.

- Quero que você seja ativa hoje, linda. - Peço, parando meus beijos em seu pescoço. Talvez se ela assumisse as rédeas naquele momento, eu pudesse relaxar mais.

- Tem certeza? Nunca me pediu isso... - Minha resposta vem por meio de atos.

Me sento na cama e puxo a gola do seu vestido, aproximando-a de mim. Ela finalmente atende meu desejo e se senta no meu colo, ficando por cima e me beijando enquanto removia a jaqueta preta que eu usava, começando a me despir.

- É assim que você quer hoje? - Ela abre os botões da minha camisa com uma certa brutalidade e ataca meus seios.

- Quero que me coma hoje, bem gostoso. - Falo tentando entrar na dança.

Apoio minhas duas mãos no colchão macio atrás de mim, dando meu dorso para ela explorar. Suas mãos abrem por completo minha camisa, expondo o sutiã vermelho que eu usava.

Vermelho.

Suas mãos abrem o fecho do meu sutiã e revelam meus seios, nos quais ela cai de boca, lambendo e mordendo de leve.

Talvez ela consiga utilizar o casaco vermelho que sempre usa, para se cobrir ou até fazer uma cama.

Balanço a cabeça para me fazer voltar à realidade do momento que eu estava vivendo e como se tivesse acabado de acordar, noto que a Hailee já estava de joelhos no chão, desabotoando minhas calças.

Ela puxa o cós pelas minhas coxas e eu levanto o quadril momentaneamente para ajudar no movimento que ela fazia. Ela desce minhas calças até os tornozelos, removendo a peça de roupa por completo. Ela levanta sua cabeça para me observar, seu olhar coberto em luxúria.

Eu não me sentia excitada ainda, talvez a quantidade de álcool que eu havia ingerido estivesse atrapalhando.

Olho a janela e percebo que já era noite.

Talvez o guarda que fizesse o plantão noturno fosse um dos meus. Se isso acontecesse, ele poderia deixar ela com fome novamente.

Ela beija a pele exposta das minhas coxas, traçando uma linha de beijos até próxima ao tecido que cobria minhas partes íntimas e, com dois dedos, começa a estimular meu centro, por cima do pano seco.

Eu não tinha nenhuma lubrificação àquela altura, simplesmente porque o meu nível de tesão naquele momento era zero e eu começava a desconfiar que talvez todo esse meu desinteresse pelo sexo com a Hailee fosse devido à preocupação que tinha com a atual situação da Samanun Every.

Era a segunda vez que eu me pegava muito mais preocupada com ela do que deveria e, também pela segunda vez, aquele pensamento começava a me deixar irritada. Eu tinha vindo até aqui para poder relaxar e, ainda que eu tivesse nas preliminares com uma mulher linda na minha frente, não era suficiente para tirar minha cabeça de onde eu, verdadeiramente, gostaria de estar.

Bufo impaciente e a Hailee levanta seu olhar para encontrar o meu, mas dessa vez com muito menos luxúria e mais curiosidade.

- Fiz algo que não gostou? - Ela pergunta preocupada.

- Não, você está sendo ótima. Vem cá. - Puxo sua mão para que ela levantasse do chão e eu também me levanto da cama, trocando novamente nossas posições e direcionando suas costas ao contato com o lençol da cama, me fazendo ficar novamente por cima. Ela abre um sorriso safado novamente.

Eu tornava a mudar a estratégia, para procurar pelo entusiasmo com o ato sexual que estava acontecendo ali.

Engatinho por cima do seu corpo, abrindo os botões frontais do seu vestido e expondo o seu colo, coberto com o sutiã de renda preto.

- Gostou? Usei preto em sua homenagem hoje. - Ela fala mordendo o lábio inferior.

- Adorei. - Respondo um tanto automaticamente demais, mas logo levo minha boca aos seus seios.

Novamente eu percebo que minha cabeça não estava verdadeiramente ali. Por mais que eu estivesse tentando, isso me faz sentir a raiva me consumindo.

- Mon, o que está acontecendo. Enjoou de mim? Se você preferir eu posso chamar outra mulher para você. - O seu ar de tristeza me deixa mais irritada ainda. Eu tinha transparecido que não estava com a mínima vontade de estar ali e, por mais que ela fosse uma prostituta, eu não queria que ela ficasse magoada.

- Não, calma, não é isso, Hailee. É só que... talvez eu esteja mais cansada do que imaginei. - Ela estranha minha fala.

- Você tem certeza? Não tem problema, Mon. Eu posso--

- Não, não se preocupa foi loucura da minha cabeça. Quando que eu estive cansada o suficiente para não transar com uma gostosa feito você? - Minha fala reacende o brilho lascivo no seu olhar.

Eu não iria me entregar tão fácil, eu era Kornkamon Teach, não tinha nenhum motivo para eu não estar gostando daquele momento. Eu só precisava me concentrar mais. Estar física e mentalmente aqui.

Já chega de me preocupar com uma pessoa que não faz sentido. Eu não tinha nenhuma obrigação com ela, ela tinha se metido nessa enrascada e agora ela tinha que pagar. Eu não podia perder mais tempo pensando no que ela estava passando, se fosse bom não iria se chamar prisão. E eu não tinha controle sobre o qu--

- Mon! - Hailee grita meu nome, chacoalhando a mão na frente dos meus olhos.

Merda eu tinha me perdido em pensamentos de novo, nesse inferno que é não controlar o que você sente.

- Hailee, desculpa, eu não consigo hoje... não dá. - Me levanto às pressas e começo a vestir minha calça, sendo observada pela garota com preocupação.

- Mon, eu sei que aconteceu algo. O que foi que eu fiz?

Eu vestia minhas calças com urgência, eu não queria ficar mais nem um segundo naquela situação que só evidenciava o quão perdida em pensamentos eu estava, a ponto de não me concentrar em um sexo com uma prostituta.

A irritação e a frustração por não ter conseguido ir em frente com a Hailee, só aumentavam.

- Hailee, chega! - Grito descontroladamente. - Você não fez nada, tá legal? Eu só não estou com cabeça hoje. - Fecho minha camisa e me dirijo para a porta, descendo as escadas com pressa, ainda passando os braços por dentro da jaqueta, deixando a prostituta com o vestido meio aberto e uma expressão perdida.


Samanun Every

Eu me encolhia mais e mais no canto da parede, tentando entender se aquilo estava melhorando meu frio ou apenas piorando, pela baixa temperatura que a pedra fria fazia de encontro à minha pele. A noite já havia caído há algum tempo, mas ainda não era nem perto da madrugada.

"Agora ela vai aprender que não se mexe com os Negros, capitã"

Ouço uma voz masculina se aproximando de onde eu estava, aquilo faz meus olhos abrirem e eu ficar em alerta.

"Tenho certeza que sim"

A voz monótona e feminina que se seguiu era muito conhecida por mim, fazendo eu me questionar imediatamente: o que a Kornkamon Teach está fazendo aqui?

Me ponho sentada olhando incessantemente para a grade de ferro, até que a sua figura imponente aparece ali, sendo seguida pelo guarda da noite. Pelo seu comportamento comigo e pela simpatia que ele demonstrava naquele momento pela capitã do Concorde, se confirmava a minha dedução: ele era um dos Negros.

- Tá aí capitã, pode fazer o que quiser com ela. Vou dar uma volta lá por fora, lá bem na entrada, muito longe daqui, onde não se pode ouvir nada. - Ele dá um sorriso sombrio e pisca o olho indo embora dali. Muito provavelmente ele achava que ela queria fazer algo de ruim comigo e estava deixando claro que iria fazer vista grossa.

Em pé, diante da minha cela estava Kornkamon, sem capuz, sem disfarce algum, de cara limpa para todo mundo ver.

Eu estranho aquilo.

Sua expressão era séria, um pouco difícil até de saber o que se passava com ela e o porquê ela estava ali. Me aproximo da grade, chegando perto de onde ela estava.

- Como você está? - Ela pergunta em um volume baixo, mas sem nenhuma expressão no seu tom de voz. Sinto um leve odor de álcool vindo de si.

- Como te falei da outra vez, já estive em locais melhores, mas nada com o que se preocupar. E você, como simplesmente entrou aqui fora do horário de visita e assim, de cara limpa pra todo mundo te ver?

- O oficial é dos Negros, não preciso vir apenas no horário de visitas, ele me deixaria entrar a qualquer momento. E não preciso me esconder porque ele acha que vou fazer algo com você... - Ela para de falar, observando a cela em que eu estava. - Eles te deram comida?

Ela continuava falando sem esboçar nenhum sentimento, nem na sua expressão facial, nem na sua postura ou no seu tom de voz. Ela estava de pé com os braços estendidos ao lado do corpo e ela não havia se aproximado muito de mim.

- Sim, me deram quando cheguei.

Eu não sabia exatamente o que falar, porque eu ainda não tinha entendido o motivo dela estar aqui e, muito menos, a razão do seu comportamento.

- Ok. Em breve deve vir seu jantar. Vou avisar a Engfa para trazer algum cobertor para você no dia da visita, parece estar com frio. - Sua expressão parecia levemente aborrecida e até meio... rabugenta.

- Kornkamon. - A chamo e ela olha no meu olho pela primeira vez. - O que exatamente está fazendo aqui?

Ela mexe sua boca em leve evidente irritação. Se ela estava tão aborrecida em estar aqui, por que então ela tinha vindo?

- Você tem razão, não faz sentido eu estar aqui. - Ela fala e se vira para ir embora, mas me encosto completamente na grade e estico meu braço, puxando sua blusa. Ela se espanta com meu gesto e volta a olhar para mim.

- Eu não estou reclamando que veio, é bom ver alguém... conhecido para variar um pouco. - Falo sem achar outra palavra para descrevê-la.

Ela respira fundo, eu solto seu braço e ela, automaticamente, volta a chegar perto de mim. Dessa vez muito mais próxima do que estava antes.

- Eu, sinceramente, não sei o motivo de estar aqui, Samanun. Eu só sei que senti que tinha que vir. Sabia que existia a possibilidade de ser algum dos Negros como oficial do turno hoje e você poderia estar com fome.

Abro um sorriso sem mostrar os dentes. Ela deixava evidente, de novo, que se importava comigo e, estranhamente, eu gostava de saber daquilo.

- Ou seja, veio cuidar do meu bem estar. - Falo com uma maneira de atiçar ela um pouco.

- Não exagera, Every. - Ela fala em falsa irritação.

- Mas não é isso que veio fazer? - Abro um sorriso porque me divertia com a maneira que ela estava meio irritada por eu a ter exposto. E noto que sua expressão já estava muito mais suave.

- Se você quiser se iludir que foi isso, então sim, foi isso. - Ela sorri, como se nem ela acreditasse no que dizia. Eu acompanhava seu sorriso, mas em determinado momento ambas ficamos sérias e nos observamos mutuamente.

- Eu queria te dizer que sinto muito pela sua pena. - Ela fala por fim, quebrando o silêncio.

- Eu que preciso te agradecer. - Sua expressão volta a ficar tensa.

- Ao mesmo tempo que não me arrependo de ter feito o que fiz, eu tenho a consciência de que fiz uma coisa errada.

- Você está encrencada com os Negros?

- Não exatamente. Eu já contornei a situação, eu te disse que o faria. - Ela responde tranquila.

- Mas por que não se arrepende do que fez, se sabe que fez algo que não deveria? - Pergunto para entender a maneira que ela pensava sobre aquilo.

- Porque eu só me arrependo de algo que, se tivesse a oportunidade, eu faria diferente e não é o caso.

Observo em silêncio seus olhos. Suas palavras me pegam um pouco de surpresa.

- Eu preciso ir agora. - Ela volta a falar. - Vê se não morre, Every.

- Eu vou fazer o possível. - Ela faz que sim com a cabeça. Eu tinha vontade de tocá-la, mas me contive e apenas observei ela se dirigir à saída. - Kornkamon...

- Sim? - Ela se vira novamente.

- Se não for abusar muito, você pode pedir a Engfa que cuide da Tempestade para mim? Ela precisa sair diariamente, estou com medo que ela perca a forma se ficar muito temp--

- Não se preocupe tanto, Sam. Eu vou passar o seu recado e eu tenho certeza que ela cuidará da sua égua da melhor forma.

Sorrio sem mostrar os dentes, em agradecimento. Ela não diz mais nada, apenas volta a andar em direção à saída.

Seu aparecimento repentino no meio da noite realmente havia me pego de surpresa. A última pessoa que eu imaginava que viesse hoje aqui seria ela, até porque antes de eu a ver aqui em carne e osso, eu imaginava que ela estaria no Bordel aproveitando o final do julgamento e comemorando a vitória dos Negros.

Talvez ela ainda fosse no Bordel hoje à noite. Provavelmente era isso.

------------

A Kornkamon já havia há muito tempo ido embora, mas minha cabeça continuava rodando, tentando enumerar os motivos plausíveis da sua presença. Eu tentava abstrair, achar que era uma coisa casual, que ela simplesmente tinha vindo como cortesia por ser a líder dos Negros. Mas nada fazia sentido.

Eu era uma pessoa que procurava tratar com a lógica, mas a sua visita repentina não tinha nenhuma coerência com nada que me viesse à cabeça. Somado a isso, o fato de eu estar há horas pensando sobre ela, também não fazia sentido para mim.

Eu tentava explicar, por exemplo, o porquê de ver a sua figura parada em frente à minha cela, ter me dado um conforto inesperado por mim. Talvez porque desde que tudo aconteceu, Kornkamon Teach não tem me feito nada para mim, que não seja me ajudar. Ela tem tentado me proteger e me blindar de todas as formas possíveis, aparentemente. Eu tento me convencer que existe qualquer motivo banal por trás disso, mas a verdade é que, no fundo no fundo eu mesma não acredito nas justificativas que eu crio para explicar seu comportamento.

Como sua visita súbita, por exemplo.

O julgamento havia sido hoje, não fazia sentido ela aparecer aqui tão cedo. Mas ainda assim, ela tinha vindo. Eu pensava, pensava, pensava... Há horas que minha cabeça estava monotemática, a única coisa que eu pensava era nela e os possíveis motivos por trás de seus atos para me ajudar. Porém, barulhos de passadas vindas do corredor, tomam minha atenção.

As passadas eram firmes e devagar, talvez a pessoa estivesse andando de cela em cela, procurando por alguém em específico ali. Enquanto ouvia os sons dos passos se aproximarem, eu procurava ao redor alguma maneira de me esconder, mas era simplesmente impossível.

Tomo a decisão de, por precaução, me colocar na parede de fundo da cela, o mais distante possível da grade que dividia o meu local de reclusão, do corredor de acesso comum. Assim que encosto minhas costas na parede e me encolho no canto, tentando em vão me esconder, visualizo a imagem de um homem alto e robusto, coberto por uma capa parecida com a que Kornkamon havia usado da outra vez. O capuz cobria em totalidade seu rosto, o que me dava calafrios. Eu não tinha absolutamente nada para me defender ali e até onde iria a vontade do oficial que estava no local, ele poderia fazer o que bem quisesse comigo.

A pouca luz que batia em seu rosto, me proporcionava a visão de um homem de cerca de 50 anos.

- Samanun Every, você não me conhece, mas eu posso te dizer com segurança que talvez eu conheça mais sobre você do que seus amigos mais íntimos. Entendo que esteja com medo, mas eu só vim te trazer uma proposta e peço que me escute: eu tenho uma boa ideia para que nós dois sejamos beneficiados e você possa, finalmente ter sua vingança contra a mulher que te colocou aqui dentro.

- Do que você está falando? - Me ponho de pé, mas não me aproximo.

- Estou te dizendo que posso te dar de mãos beijadas o fim da Kornkamon Teach.

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