Velas Negras • MonSam

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Após a morte de seu pai Edward Teach, um dos maiores e mais respeitados piratas da região do Caribe, Mon assu... More

Introdução
Personagens - Os Negros
Personagens - O Bordel
Personagens - Os Vermelhos
1. O Pior da Minha Vida
2. Decisão Tomada
3. O Acordo
4. Seguir curso!
5. Atitudes Inesperadas
6. O Resgate
7. A Garota da Família Rival
9. Inconsequência
10. O Julgamento
11. Visitas Inesperadas
12. Vontade
13. Motivos
14. Lidando com os sentimentos?
15. Não é porque eu te odeio que eu não posso mais beijar sua boca
16. A Dançarina
17. Brincando com Fogo
18. Cartas na Mesa
19. Buscando Respostas
20. Traição...?
21. Decisões Difíceis
22. Aliança
23. Afogando-me
24. Fatos e Conexões
25. Você é Bem Vinda.
26. A Última Noite
27. Traidores
28. Guerra
29. O Que Te Feriu?

8. Defesa

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Kornkamon Teach

Acordo com os primeiros raios de sol cruzando o céu rosa. Os passarinhos começavam a piar em seus ninhos e a manhã ainda estava fria. Levanto da minha cama quentinha e troco de roupa.

Eu estava muito segura de mim naquele dia e não iria abrir mão da forma que iríamos conduzir o caso da Samanun.

Coloco minhas roupas e, por cima de tudo um casaco de couro preto. Eu estava prestes a ir para uma reunião oficial dos Negros, que seria convocada esta manhã, para conversarmos sobre a soltura da Samanun. Porque, mesmo que eu fosse capitã, eu não poderia tomar aquela decisão sozinha, eu precisava explicar meus motivos, do contrário, a minha imagem poderia ficar abalada caso pensassem que eu estava defendendo os interesses dos Vermelhos.

Ando até a sala e enquanto me servia do líquido preto para acordar, já que mal havia pregado o olho na última noite, minha mãe adentra a sala.

- Como foi a conversa com a Tee ontem, se entenderam? - Ela pergunta, se aproximando de mim e pondo a mão nos meus ombros.

- Sim. Já mandei um mensageiro avisar à todos que teremos uma reunião oficial hoje de manhã. Pretendo solicitar sua soltura o mais rápido possível. - Ela sorri de maneira materna.

- Eu sabia que a Tee iria entender seu lado ou, pelo menos, te apoiar. - Faço que sim com a cabeça e ela alisa meus cabelos. - Boa sorte, Mon.

Ela me dá um beijo na testa e eu me despeço, pegando meu cavalo e indo em direção ao navio. Lá era sempre o local de escolha para nos reunirmos, desde uma cerimônia de votação para o novo capitão, até uma reunião importante para tomadas de decisão. Em breve teríamos que nos reunir novamente para decidir a maneira que iríamos levar o julgamento da Samanun.

Assim que chego ao navio, supreendentemente todos já se encontravam lá. Eles haviam chegado muito antes do que eu esperava, o que era uma coisa boa, o quanto antes começássemos, o quanto antes iríamos terminar.

- Bom dia! - Saúdo todos de cima do local onde o capitão ou, nesse caso, capitã costumava falar para a tripulação. - Chamei todos aqui porque, como devem saber, a capitã Samanun Every foi presa ontem assim que chegamos à Nassau.

- OI, OI, OI! - Faço um movimento com as mãos, pedindo silêncio.

- Porém, convoquei essa reunião hoje porque ontem à noite chegou até mim a informação de que a capitã do Fancy está muito debilitada devido ao período que passamos na ilha. Não sejamos hipócritas, a maneira que ela errou não é compatível com nosso pedido de prisão preventiva.

- Ela foi a culpada de você ter ficado perdida, capitã! - Uma voz grita em meio à tripulação. Era um dos marinheiros que havia remado o barco até a ilha, junto à Lauren e à Tee.

- Sim, ela é culpada disso e ela vai pagar. Perdemos a missão, eu fiquei presa em uma ilha, gastamos recursos com as buscas e ela quebrou o Acordo de Paz. Ela vai pagar por tudo isso, mas não é humano que mantenhamos ela na cela até o julgamento. Além do mais, muito provavelmente ela não irá aguentar por muito tempo viva se continuar presa. Se ignorarmos este fato, ela pode morrer ainda na prisão sem mesmo ser julgada e não queremos isso. - Naquele momento eu vejo que a movimentação da tripulação era de apoio. Eles haviam entendido o motivo da minha decisão. - Eu não quero que ela saia ilesa, ela tem obrigações a cumprir, ela irá enfrentar o julgamento e cumprir a pena, isso eu lhes garanto.

- OI, OI, OI. - A maioria grita, mas o coro já não era tão alto quanto o primeiro, indicando que nem todos estavam de acordo.

- Então ela vai ficar no conforto de casa mesmo depois de tudo que fez? - Outra voz questiona.

- Eu já disse que ela vai pagar a pena designada após o julgamento. Não iremos abrir mão disso. - Respondo de maneira mais incisiva. - Mas se ela continuar presa, nem para o julgamento ela vai. Querem isso?

- Não! - A maioria grita.

- Então repassem isso entre os nossos. Suas famílias e todos que fazem parte dos Negros. Não quero fofoca infundada correndo pelo norte da ilha, a Samanun Every vai ser solta para que vá para casa se recuperar, para então enfrentar o julgamento. Ponto final. Nada fora disto é verdade, estamos entendidos? - Eu precisava cortar os rumores pela raiz, porque eu sabia que poderia ser mal interpretada.

A tripulação faz que sim com a cabeça e então eu encerro a reunião. Tinha sido muito mais rápido do que eu imaginava. O que a Tee havia me falado era a realidade, a maioria ali não queria sua morte, queria apenas que ela pagasse pelo que fez de modo compatível e coerente, o que me aliviava.

- Foi menos ruim do que eu imaginei. - Comento com a Tee.

- Eu acho que você pensou que eles queria a morte dela pela maneira que se comportaram ontem, durante o resgate. - Faço que sim com a cabeça, concordando. - Eu acho que eles só estavam irritados daquela maneira por ela ter feito o que fez e ainda estar dentro do nosso navio, usufruindo dos nossos aposentos, nossa comida, nosso resgate. - Tee explica.

- Sim, faz sentido. Mas isso me deixou com uma impressão muito pior do que a realidade. Inclusive porque minha mãe me disse que eles queriam solicitar a pena de morte no julgamento.

- É natural que ela tenha ouvido isso, porque ela anda com piratas mais velhos amigos dos seus pais. Os piratas mais velhos estão mais indignados. Foram pessoas que sofreram muito, antes do Acordo de Paz e querem uma pena mais dura. Meus pais pensam assim, por exemplo. - Tee volta a explicar.

- Isso me deixou muito apreensiva.

- Vocês querem me explicar exatamente o que foi que aconteceu para essa reunião às pressas? Bateram na minha casa eu nem havia acordado ainda. - Lauren se aproxima e eu e a Tee rimos da sua fala.

- A Mon aqui levou um chá bem dado na ilha e agora quer proteger a namoradinha. - Tee fala e eu dou um tapa na cabeça dela. - Ai! - Ela resmunga, mas ri em seguida.

- Você o quê?! EU SABIA SUA SAFADA! - Lauren grita.

- Fala baixo, porra. - A repreendo.

- Você acha que me enganava com aquele chupão no pescoço?! - Lauren pergunta e tenho vontade de desatar a rir.

- Eu sabia que vocês tinham percebido. E da mesma maneira que pedi desculpas à Tee ontem, também te devo desculpas, Lauren. Eu escondi isso de vocês e não deveria.

- É, não deveria mesmo. Mas agora você vai me contar tudo nos mínimos detalhes. - Ela comenta, porém somos interrompidas por um grupo de cinco marujos.

- Capitã, com licença. - Eles falam e nós três olhamos para eles. - Queríamos conversar com a senhora. - Eles tinham o semblante bem sério, então o clima ameno que antes nos circundava, logo é desfeito.

- Pode falar. - Falo com atenção a eles.

- Viemos como representantes de uma grande parte da tripulação para solicitar que não peça que a garota Every seja solta.

- Ela não merece sua piedade, capitã. - Outro fala, complementando a fala do primeiro.

- Eu não estou tendo piedade por ela, porque ela merece. Se não agirmos para soltá-la o quanto antes, ela muito provavelmente irá morrer na prisão antes do julgamento. - Explico novamente.

- Eu sei, capitã. Eu mesmo pedi para meu primo que estava de plantão essa noite, que não desse o jantar dela. - Ele fala com orgulho e minha raiva volta a me consumir. Aquilo era perverso.

- Você o quê? - Pergunto irritada e a Tee põe a mão no meu ombro, para que eu me acalmasse, mas ele não parecia ter entendido minha indignação, pois volta a falar com orgulho.

- Isso mesmo. Eu queria que ela sofresse, se ela tá pensando que vai ficar de pernas pro ar na prisão só comendo e esperando o julgamento depois do que ela fez com a gente--

- Você já viu a prisão por dentro?! - Me aproximo dele e pergunto olhando em seus olhos.

- Mon... - Tee me chama, mas eu não me movo. Ele era um pouco mais baixo e eu estava com o corpo em uma posição que o acuava. Seu olhar modifica do orgulhoso, para o temeroso.

- Eu, eu... - Ele tenta se explicar, mas não consegue organizar as palavras.

- Ele só fez o que todos achamos que deveria ser feito. - Outro assume as rédeas da conversa. Viro meu olhar para ele.

- O que deve ser feito são as ordens que eu der, baseadas no que conversamos em conjunto nas reuniões oficiais. Eu que sou a capitã, não tomo todas as decisões sozinha e vocês acham que são quem para resolver agir por conta própria?! - As expressões de todos eles era de surpresa. Eles não esperavam que fossem repreendidos pela capitã.

A Tee volta a tocar no meu ombro, tentando fazer eu me acalmar, mas não surtia efeito.

- Vocês não são novos na tripulação e deveriam saber que ninguém toma decisão sozinho aqui. Quem você acha que é para falar diretamente com seu primo da prisão para deixar um detento passar fome?!

- A gente só queria ajudar. - O terceiro fala pela primeira vez.

- Ajuda a matar ela antes do julgamento?! - Grito com eles.

- A gente não tinha pensado nisso, capitã.

- Eu percebi que não pensaram. Não pensaram em nada quando agiram. É por isso que não tomamos decisões sós e é por isso que existe uma capitã para guiar o grupo. - Me aproximo mais deles. - Não ajam isoladamente nunca mais. Não é assim que a gente faz as coisas por aqui.

Eles olham para o chão, envergonhados.

- Sim, senhora. - Respondem.

- Estão dispensados. - Falo por fim e eles vão embora com rapidez.

Sem falar mais nada e com a adrenalina ainda correndo no meu sangue, saio dali apressada, indo em direção ao meu cavalo que estava preso no local de sempre. Quando estou montando nele, a Tee se aproxima de mim.

- Por que acha que vai sozinha? Eu posso te acompanhar. - Ela fala, desenlaçando o nó da correia do cavalo dela.

- Você iria comigo? - Pergunto um pouco surpresa.

- Claro, Mon. Eu te falei que te apoiaria.

Enquanto ela subia no cavalo, a Yuki e a Lauren também se aproximam, sem fôlego após ter corrido até a gente.

- Também vamos com vocês! - Yuki fala.

- Ninguém mais vai. Yuki, vá pra casa até segunda ordem e Lauren, vá até a casa dos Every e avisa à Engfa que sua irmã será solta esta manhã. - Falo de cima do cavalo e ambas fazem um movimento com a cabeça acatando minhas ordens.

Então puxo meu cavalo dando a volta indo em direção à prisão, com a Tee no meu encalço.

Eu ainda sentia a raiva me consumindo, pela ação descoordenada que alguns marujos do Concorde tinham feito e também por pensar que ela estava passando fome até o momento que levei comida pra ela ontem à noite.

Assim que chegamos à prisão, eu entrego a rédea do meu cavalo para ela levar até o local e já entro no estabelecimento antes mesmo dela finalizar.

- Bom dia, capitã! A que devo a honra?! - O oficial retira seus pés de cima da mesa à sua frente e se levanta com um sorriso de orelha a orelha.

- A detenta Samanun Every. - Falo e seu sorriso se alarga.

- Tá aqui passando férias. - Ele debocha, o que só aguça minha raiva.

- Os Negros estão solicitando sua soltura. - Seu sorriso murcha e ele me olha sem entender, permanecendo parado.

- Não ouviu a capitã? - É a vez da Tee falar, enquanto entra e se junta ao meu lado e então ele dá um pulo, pegando as chaves.

- É para soltá-la agora? - O seu cérebro havia derretido, não era possível.

- Ela está muito fraca, não queremos que morra antes do julgamento. Agora vá e solte ela. - Ordeno e ele então começa a se mover indo em direção ao corredor de celas.

Assim que o oficial sai do local, Engfa e Kirk chegam.

- O que aconteceu, vão soltar a Sam?! - Engfa nos aborda, mas eu estava completamente sem paciência, não tinha mais nenhuma bateria social para explicar o que estava havendo e decido ignorar sua pergunta.

- Sim, a capitã acabou de solicitar sua soltura. - Tee responde, sem dar mais informações. Nesse momento o oficial reaparece, trazendo a Samanun.

Sua imagem em nada se assemelhava à mulher imponente que ela costumava ser. Suas bochechas fundas e as olheiras ao redor dos seus olhos só demonstravam que, sem sombra de dúvidas, ela morreria de inanição se eu não tivesse vindo noite passada trazer-lhe alimento.

Seus olhos perdidos e sem vida olham para mim e então olham novamente para a Engfa e o Kirk ao meu lado. A Engfa corre até ela, dando um abraço forte e então analisa seu corpo.

- Você está bem? - Engfa pergunta para a Samanun.

Observo a cena com alívio de que ela tinha sido finalmente entregue à sua família, mas ao mesmo tempo sentia muitas sensações passando pelo meu corpo, como angústia e preocupação. Uma coisa era eu ter visto como ela estava em um local escuro e sem ter muito tempo de analisá-la, como foi ontem à noite, mas vê-la ali à luz do dia, podendo observar cada centímetro de como seu corpo estava fraco, só me deixava mais irritada, revoltada e preocupada.

- Está feito, capitã. - O oficial joga o molho de chaves em cima da mesa e eu assinto com a cabeça. Não tinha nada mais para falar àquele cara a não ser agradecer e ir embora.

- Obrigada. - Respondo seca e então me viro para a Tee. - Vamos. - Falo monossilábica e saio do local antes mesmo dela responder alguma coisa.

Decido não interagir com a Samanun porque eu não sabia como eu iria reagir, por isso decido ir embora.

Vou em direção ao local em que nossos cavalos estavam. Assim que chegamos próximo à eles, em um local muito mais afastado e fora do campo de visão de qualquer um, eu removo meu chapéu e passo a mão nos meus cabelos, respirando fundo.

- Ela realmente está bem ruim. - Tee fala por fim. Eu olho para ela, engolindo em seco.

- Eu te disse. - Respondo com a garganta fechando, em angústia.

Subo no meu cavalo enquanto a Tee me observa.

- Você vai para casa? - Ela pergunta e eu faço que sim com a cabeça. Eu não tinha muito ânimo para muitas palavras naquele momento.

- Vá para casa também.... - Faço uma pausa - E obrigada por ter me acompanhado.

Ela faz um cumprimento com a cabeça, ainda em pé, enquanto eu estava montada no meu cavalo. Então puxo a rédea e começo a ir com pressa em direção à minha casa.

Eu precisava de um momento sozinha.

Samanun Every

- Vamos para casa. - Engfa fala.

Nos dirigimos até o local onde estavam nossos cavalos. Confesso que pela fraqueza que eu sentia no corpo, não sabia se conseguiria cavalgar sozinha. Olho para a minha égua negra e então volto a olhar para a Engfa. Ela já montava em seu cavalo, assim como o Kirk.

Mas respiro fundo e decido não falar nada, eu preferia fazer aquele esforço do que pedir mais alguma coisa para eles.

Subo com um pouco de dificuldade. O movimento tão conhecido por mim, agora tomava muito da minha pouca energia.

- Você acha que consegue ir sozinha? - Kirk me pergunta.

- Consigo, é só não irmos muito rápido. - Respondo.

- Ok, então vamos. Nossos pais nos esperam. - Engfa responde.

Com um pouco mais de demora do que o habitual, chegamos até nossa casa. Meus pais nos esperavam na varanda e assim que eu desço de cima da minha égua, minha mãe corre para me abraçar. Atrás dela vem nosso pai.

- Meu Deus minha filha, que medo eu tive de te perder! - Minha mãe falava com água nos olhos. Eu sorrio para ela.

- Fomos até o centro para te visitar assim que soubemos da sua prisão, mas não permitiram visitas. - Meu pai fala, me abraçando em seguida. Seu abraço me passava o alívio que ele sentia.

Assim que se afasta um pouco de mim, ele então passa a mão nos meus cabelos, observando os traços do meu rosto e sua expressão revela tristeza.

- Você perdeu peso e  parece debilitada. - Ele comenta, com preocupação.

- Nada demais pai, só fruto de quatro dias comendo a quantidade que eu comeria em 24 horas, em situações normais. Mas não se preocupe, eu estou em casa agora. - Falo para acalmá-lo. Minha mãe parecia tão triste e preocupada quanto.

- Venha, eu fiz bastante comida para você. Coma e então vá descansar. - Minha mãe me puxa pela mão, até dentro de casa. Eu aceito de bom grado, pois estava faminta. Já deveria ser quase a hora do almoço e meu corpo parecia ter sugado cada molécula de nutriente dos alimentos que eu havia comido ontem, de modo que eu não me sentia completamente sasseada por mais que eu comesse.

Como em silêncio, ouvindo meus pais, a Engfa e, vez ou outra, o Kirk falarem. Como o tanto de comida que eu consigo e então peço licença para me recolher.

Vou até meu quarto e tomo um banho rápido porque eu só queria me deitar. Eu sentia a exaustão consumindo todos os centímetros do meu corpo. Então me deito e caio no sono profundo.

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Recobro a consciência ainda de olhos fechados, sinto meu corpo um pouco doído, mas muito mais descansado do que ontem. Abro os olhos, sofrendo um pouco com a claridade que entrava pela janela do quarto.

- Finalmente você acordou! - Ouço a voz da minha mãe e a encontro sentada em uma cadeira ao lado da minha cama.

- O que aconteceu, porque a senhora está aqui? - Ela põe o livro que lia na cadeira e se levanta, vindo até mim. Me sento na cama e ela passa a mão nos meus cabelos.

- Você dormiu o resto do dia inteiro, hoje já é outro dia. Quando acordei e vi que você ainda dormia, resolvi vir até aqui e esperar você acordar. Estava preocupada. - Ela fala e então abre um sorriso.

- Que dia é hoje?! - Me espanto com sua revelação.

- Você foi solta da prisão ontem, hoje é sexta de manhã. - Abro os olhos em espanto e me levanto com pressa da cama, mas ela me segura.

- Calma, Sam. Vá com calma, você ainda está um pouco fraca. Apesar de já aparentar estar bem melhor. Quer comer alguma coisa?

Olho a janela lá fora, parecia ser tarde da manhã.

- Que horas são?

- Por volta das dez. - Me espanto novamente. Eu havia dormido quase que 24 horas seguidas. A única coisa que me lembro é uma memória meio embaçada do meu pai vindo aqui e me dando um copo de água.

- O papai veio até aqui me acordar para tomar água?

- Sim, fizemos isso três vezes. Eu, Engfa e ele, cada um veio uma vez te acordar para tomar um copo de água. De tão cansada, você tomava e logo voltava a dormir. Ficamos com medo de você passar muito tempo sem beber nada e ficar mais desidratada.

- Fizeram bem, obrigada. - Sorrio para ela, que me devolve a expressão. - Preciso convocar uma reunião com os vermelhos e começo a andar em direção à porta.

- Sam. - Minha mãe me chama, me fazendo parar no beiral da porta e então viro para ela. - Você precisa comer alguma coisa antes de sair.

- Tudo bem. - Aceito, pois eu estava faminta novamente. Parecia que me sentia assim o tempo inteiro desde que havia voltado da ilha.

Vou até a cozinha e me sento na ilha que havia no meio da cozinha, enquanto ela servia um prato com ovos, pães, queijo e linguiças que ela mesma fazia.

- Você acordou! - A Engfa entra na cozinha. Ela estava toda suada e vermelha, demonstrando que fazia alguma atividade. - Eu estava treinando com o Kirk. Você parecia nunca querer acordar.

Ela se serve de um copo de água e bebe, se apoiando no balcão e olha para mim.

-  É muito estranho dormir tanto, ainda me sinto perdida no tempo e no espaço. - Falo enquanto minha mãe colocava o prato na mesa à minha frente e eu começava a comer com rapidez.

- Calma, Sam. O ovo não vai virar pinto e fugir do prato não. - Ela fala e começa a rir. Minha mãe a acompanha.

- Foi mal é que estou com muita fome. - Respondo com a boca cheia. Mastigo e engulo, para então voltar a falar. - Engfa, reúna todos no convés do Fancy. Temos que fazer uma reunião oficial dos Vermelhos.

- Você acha que está em condições de fazer isso hoje, irmã?! Talvez sej--

- Eng, eu não posso perder mais tempo. Hoje irão marcar o julgamento. Temos que definir o que iremos fazer! - Falo preocupada. Ela toma o último gole de água do copo e o coloca na pia, se aproximando de mim.

- Eu entendo que não podemos perder tempo, mas nada irá mudar se fizermos isso amanhã.

- Se o julgamento for marcado para amanhã? - Pergunto e ela parece entender minha urgência.

- Acha que fariam isso?

- Não sei, mas poderiam. Não podemos ser pegos desprevenidos, precisamos ficar prontos para qualquer coisa. - Coloco outra garfada na boca.

- Ok, vou mandar um mensageiro convocar todos para estar no convés daqui a uma hora, ok?

Faço que sim com a cabeça, enquanto engolia a comida na minha boca e ela começa a andar até a porta.

- Eng! - A chamo e ela para, se virando para mim. - Você foi ao bordel ontem?

Sua sobrancelha se contrai, sem entender muito bem minha intenção com a pergunta.

- Fui, por quê? - Ela pergunta e me observa.

- É que eu achei meio estranho a maneira como as coisas foram feitas. Fiquei sem entender o motivo pelo qual fui solta, se havia algo errado. Também achei estranho o jeito que ela me olhou quando fui liberada, ela não disse nada, mesmo tendo ido escondida me visitar na noite anterior, as informações não batem.

Ela começa a rir e eu paro de falar tal qual uma metralhadora e olho para ela em questionamento.

- Você está nessa enrolação toda, falando que nem uma matraca só porque quer saber se a Teach foi ao bordel ontem?

Engulo sem graça e coço a nuca.

- Não, eu não queria saber se ela foi ao Bordel. Não me interessa se ela foi ou não.

- E o que te interessa, Samanun? - Ela faz uma expressão de quem estava se divertindo muito com aquela história e cruza os braços esperando que eu prossiga.

- Eu só queria saber se cruzou com ela. - Falo por fim.

- Tem certeza que é isso que quer saber? Se quiser perguntar uma coisa específica, pergunte logo. - Ela continuava achando aquela situação engraçada.

Reviro os olhos.

- Você quer me dizer de uma vez se encontrou com ela no Bordel? - Pergunto um pouco irritada e ela desata a rir, o que só me deixa mais impaciente.

- Não, Sam. Eu não a encontrei no Bordel. - Ela responde rindo.

- Eu só perguntei porque acho que tem algumas coisas inexplicadas. Talvez você tivesse conversado com ela e soubesse de alguma coisa.

- É, imagino que seja isso mesmo. - Ela fala irônica e então se vira para ir embora. - Estou indo convocar a reunião, te vejo em uma hora. - Ela fala alto enquanto já estava na sala, saindo da casa.

Solto o ar ruidosamente e só então percebo que minha mãe ainda estava na cozinha e tinha presenciado toda a conversa. Ela também me olhava com um ar divertido e quando percebe que eu a estava encarando, ela se vira de costas para lavar alguns pratos na pia.

- Do que estava rindo? - Pergunto.

- Nada, Sam. - Me aproximo dela e me apoio no balcão, enquanto ela trabalhava na pia.

- Mãe. - Insisto e então ela desliga a torneira, secando as mãos na toalha e olhando para mim novamente.

- É só que é interessante ver você agir diferente do que sempre agiu, só isso.

- Diferente como?

- Seus movimentos sempre foram friamente calculados, além de ser muito segura de si o tempo inteiro. Nunca te vi agir assim como fez agora, sem saber como perguntar uma coisa, sem jeito.

Suas palavras me põem a pensar no que eu acabara de fazer. Eu queria saber notícias da Kornkamon porque tudo que aconteceu nas últimas 48 horas foram demais. Tanta coisa tinha acontecido e eu só queria entender o que estava acontecendo.

- Eu não estava sem jeito, apenas--

- Sam, está tudo bem agir de uma forma um pouco mais leve do que sempre agiu. Se você quer informações da garota, apenas pergunte. Não vejo problema nisso. É só que sempre foi tão arredia quando se tratava dos Teach, que te ver com o mínimo de interesse na filha do Henry é, no mínimo, curioso.

- Não é isso. Eu não tenho interesse algum na Kornkamon, eu só perguntei algumas coisas. A decisão dos Negros foi inesperada para a gente e ela, como a líder deles, poderia ter alguma informação. Só isso.

- Se é apenas isso, convoque uma reunião e pergunte a ela. Ou apenas vá e pergunte diretamente a ela, sem formalidades. Ela não parece te ver como uma inimiga, já que foi até a prisão ontem à noite te ajudar, além disso ela mesma defendeu seu resgate pelo Concorde. - Ela diz como se aquilo fosse simples.

- Pode ser, mas prefiro não pensar nisso agora. Preciso me organizar para a reunião com os Vermelhos.

- Ok, Sam. - Ela fala rindo e volta à tarefa que ela fazia, enquanto eu ando até meu quarto.

Tomo um banho um pouco mais demorado do que o de ontem e caminho até o celeiro, encontrando meu pai no caminho.

- Minha filha, não havia visto que você tinha acordado! - Ele fala, se levantando no jardim no qual ele mexia e vem até mim, batendo as mãos sujas de terra na calça. - Como você está?

- Estou bem melhor, pai. Obrigada por terem cuidado de mim nesse tempo que estive dormindo.

- Sempre estaremos cuidando de você, minha filha. - Ele então olha para os meus trajes. - Você está saindo?!

- Sim, convoquei uma reunião oficial com os Vermelhos. Temos que discutir sobre o julgamento. - Sua expressão era de tristeza.

- É verdade. Tentei conversar com o Francis para tentar melhorar seu lado, mas ele foi irredutível de que nada podia fazer.

- Ele é só o mediador, pai. Ele não tem controle.

- E com os membros da Comissão eu não posso falar, estaria quebrando algumas regras.

- Poderia piorar as coisas, melhor irmos pelos meios legais. Quebrar regras me pôs aqui nesse momento.

- Sim minha filha, mas você só fez o que achou ser certo. - Estranho sua fala.

- Achei que iria dizer um "eu te avisei". - Ele sorri.

- Ainda que não tenha tomado a melhor das decisões, eu sempre quero que você consiga fazer o melhor pela tripulação e pelos Vermelhos, Sam. Mesmo que não tenha seguido o caminho que, insistentemente pedi para que você seguisse, eu não tiro nenhum prazer em ver você falhando.

Fico aliviada por ouvir aquelas palavras porque eu sabia que podia contar com ele, mesmo que eu houvesse feito uma coisa que ele era muito contra.

- Obrigada, pai. - O abraço.

- Agora, vá. Sua tripulação a espera.

Faço um movimento com a cabeça e então continuo o percurso que fazia indo em direção ao celeiro. Monto na minha égua e me dirijo até o Porto de Nassau.

Assim que chego no Fancy, encontro toda a tripulação me esperando e logo que piso no convés, todos se aproximam querendo falar comigo. Recebo muito carinho e palavras de uma tripulação que estava aliviada pelos momentos tensos dos últimos dias. Após cumprimentar a todos, encontro Engfa e Kirk, os cumprimentando com um aceno de cabeça. 

- Eu agradeço pelo carinho de vocês e pelos esforços que vocês desprenderam nos últimos dias no resgate e também na tentativa de me visitar e me tirar da prisão. Eu soube que muitos de vocês foram até lá, mas que a entrada de vocês não foi permitida. Eu agradeço por isso.

Todos fazem barulho e empunham suas espadas, as colocando para cima em um cântico típico de antes das missões. Assim que eles voltam a fazer silêncio, eu continuo o que falava.

- Estaremos nos reunindo hoje para definir estratégias para a defesa e, assim que soubermos da data marcada, repassarei para vocês. Por fim, os agradeço novamente por serem minha família aqui dentro desse navio.

Todos fazem a saudação novamente e então o encontro com a tripulação estava encerrado. 

A reunião em si para a discussão da defesa havia sido convocada só com os piratas de cargos maiores dentro do Fancy, era um grupo de poucas pessoas pessoas, contando comigo, Engfa e Kirk. De modo que assim que falo com a tripulação toda, que tinha cerca de 70 pessoas, eles voltam para seus afazeres e deixam o Fancy, ficando apenas o pequeno grupo que iria me ajudar a traçar as estratégias.

Entramos no meu escritório, dentro do navio e nos sentamos ao redor da mesa redonda que havia ali.

- Como vocês sabem, em breve serei convocada a enfrentar um julgamento, por isso precisamos definir em conjunto as estratégias que iremos traçar.

- Capitã, como ficou claro pelo deferimento da sua prisão imediata pelo Conselho, nós temos um pouco de desvantagem no início do seu julgamento. - Aquele era John Every, ele fazia parte da minha família, era primo do meu pai e um dos marinheiros mais antigos.

Ele era um dos poucos caras que tinha algum estudo e conhecia um pouco sobre leis. Ele havia sido escalado para compor o Conselho há anos atrás, quando houve a assinatura do Acordo de Paz e fizeram a nomeação dos piratas para compor o Conselho. Ele chegou  a iniciou sua vida como Conselheiro de Nassau, mas um ano depois ele pediu para voltar à tripulação do Fancy, alegando que preferia a vida no mar do que a burocrática vida de Conselheiro. Desse modo, ele era peça chave para nos ajudar a montar nossa defesa e ele sabia bem como o Conselho funcionava por dentro.


John Every




- Porém, - ele continua - até agora o Conselho só ouviu a versão dos Negros. Falar que você descumpriu o Acordo de Paz é muito fácil, porém o que irá compor nossa defesa é apresentar ao Conselho seus motivos.

- Certo... - Respondo.

- É Sam, você não quebrou o Acordo de Paz apenas porque quis. E você tentou fazer diferente, você convocou uma reunião com a Konrkamon Teach para tentar ajustar algumas coisas, mas ela foi irredutível. - Kirk acrescenta.

Aquela reunião com a Kornkamon, que havia sido há pouco tempo atrás, mas parecia haver um abismo de diferença entre nossa relação antes e agora, depois da nossa convivência na ilha. Éramos duas pessoas estranhas na ocasião da reunião. Para mim ela era só uma inimiga mimada e arrogante, que não queria abrir mão de nada, porque vive em uma posição muito confortável. E depois da nossa convivência na ilha, eu simplesmente não conseguia vê-la através dos maus olhos de antes. Era muito estranho pensar em como isso mudou rapidamente.

- Pois é, é exatamente aí onde quero chegar. - John volta a falar. - Alegaremos que você tentou fazer diferente, que procurou o caminho do diálogo antes de tentar qualquer coisa mais drástica.

- Outro trunfo que temos é o motivo por você ter atacado exatamente esse navio, mesmo depois dos Negros já estarem atacando-o. Não foi aleatório, tinha tanto ouro ali que nenhum navio pirata sozinho iria ser capaz de pegar tudo. A intenção da gente era dividir aquele ouro com os Negros, não iríamos roubar a carga deles. - Engfa aponta uma questão importante.

- Sim, isso é importante porque um dos motivos pelo qual é proibido o ataque a um navio que já esteja sendo atacado, é por se configurar um roubo a outro navio pirata. E não seria esse o caso. - Albert Black fala pela primeira vez.

Ele era irmão da Jim, tio do Kirk e do Nop e fazia parte da tripulação do Fancy desde muito tempo, por isso ele estava ali colaborando. Ele já tinha passado por muita coisa, tinha muita experiência. Era uma voz relevante.

- Então, capitã, nós temos algumas coisas a pontuar na sua defesa: o ataque não foi leviano, você sabia que poderia dividir a carga com os Negros. A outra coisa é que você não optou pela quebra do Acordo de Paz como primeira opção, você procurou meios legais, convocou uma reunião com os Negros antes disso. E o último ponto é apresentar os números que você levantou para ilustrar de uma vez por todas a situação em que os Vermelhos se encontram. - John resume.

- Exatamente. O Conselho não sabe a situação em que nos encontramos. - Finalizo.

- Então temos um bom caminho a seguir com o que conversamos hoje. - Engfa fala e todos concordam com a cabeça.

- Temos uma defesa sólida. Mas, capitã... - John faz uma pausa e então me olha. - Você tem que ter noção de que a possibilidade de não haver pena é ínfima. Não estamos buscando isso, o que buscamos com sua defesa é abrandar sua pena. É excluir de uma vez por todas a possibilidade de conseguirem sua execução e diminuir o máximo possível seu tempo na cadeia ou alguma possível multa que eles queiram que os Vermelhos paguem.

- Sim, é claro. Eu não imaginava que conseguiria sair ilesa disso. Eu sei que terei que cumprir algum tempo de cadeia. - Respondo e ele faz uma expressão aliviada. Talvez ele pensasse que eu tinha esperanças vãs, mas eu não era boba, sabia que estava em maus lençóis. - Mas bem, acho que estamos prontos para apresentar nosso ponto de vista ao Conselho, certo?

- Sim, temos bons argumentos. Estou confiante. - John conclui.

- Só tem mais uma última coisa que temos que tratar nessa reunião. - Engfa fala e ela me lembra do último tópico que eu quase esqueci. - A Sam tem que nomear alguém para ser o porta voz da defesa.

- Acho que todos concordamos que deva ser o John, certo? - Falo e todos olhamos para ele. - Você concorda?

- Claro, capitã. Seria uma honra. - Ele responde lisonjeado.

- Então estamos de acordo. Obrigada, John. - Dou alguns tapinhas em seu ombro. - Estão todos liberados. - Encerro a reunião e todos nos levantamos da mesa e nos dirigimos para fora da minha cabine, saindo do navio.

- Você está bem, minha irmã? - Engfa me pergunta, enquanto todos já haviam ido embora.

- Sim, estou bem. Só um pouco pensativa. Mas não se preocupe, vá fazer suas coisas, a gente se encontra depois. Vou ao centro, preciso ir até o ferreiro mandar fazer uma espada nova e comprar uma nova arma, munição, pólvora...

- Tem certeza? Eu posso te acompanhar - Faço que não com a cabeça.

- Não, Eng. Eu prefiro fazer isso sozinha.

- Ok, então. Mais tarde a gente vai pro Bordel e isso não é um pedido é uma ordem. - Ela fala rindo e então se despede saindo do local.

Desço as escadas do navio, pisando em solo firme, mas quando vou dar o primeiro passo em direção a local em que minha égua estava amarrada, eu sinto algo me puxando e percebo que esse algo era alguém. Não consigo ver quem era, porque estava posicionado atrás das minhas costas, de modo que me sinto em alerta instantaneamente e por instinto minha mão esquerda voa para o meu cinto, procurando minha arma, mas achando o local vazio.

A mão continua me puxando em uma rapidez, que eu não consigo esboçar nenhuma reação, até que chegamos em uma parte do Porto completamente vazia e um pouco escura mesmo durante o dia.

- Shhh. - A pessoa então se posta na minha frente e puxa o capuz que escondia seu rosto.

- Kornkamon, o que diabos você pensa que está fazendo?! - Pergunto espantada e sua expressão tinha alguns traços de urgência.

- Desculpa te assustar, eu queria falar com você a sós, mas você não saía desse navio por nada. Que demora.

Levanto uma sobrancelha pela sua irritação sem sentido e a olho com expressão irônica.

- Está me monitorando agora? - Ela revira os olhos. - Eu estava em reunião, estávamos compondo minha defesa.

Eu não sabia porque havia dado aquela informação a ela.

- Ótimo, porque o o julgamento foi marcado. - Abro os olhos em espanto. - A Assembleia acabou de terminar.

- E então?! - Pergunto apressada por saber a data.

- Você não mantém ninguém da sua tripulação acompanhando o resultado das Assembleias do Conselho, não? Eu heim.

- Kornkamon, fala logo! - Exijo impaciente.

- O julgamento foi marcado para amanhã. - Ela responde e um frio na barriga toma conta do meu corpo.

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essa história vai abordar conteúdos muito delicados, então desde de já preciso avisar. fala de uma mulher, uma almirante muito querida... e muito...
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