POV CHARLOTTE
Sete anos atrás
Não me incomodo de estar aqui, até gosto na verdade. Meus colegas da escola dizem que é estranho eu ter que fazer terapia obrigatória aos onze anos, mas a doutura me dá balas de canelas e um cobertor quentinho de lã, então meio que esqueço o que eles falam.
Balanço as pernas no ar, a poltrona do escritório da doutora Laura ainda é muito alta para mim.
As crianças não falam muito comigo. Na verdade, me evitam completamente. A doutora diz que é porque ainda é muito recente e as pessoas ficam em choque com tragédias.
Não me importo.
– Já fez algum amigo na escola, Charlotte? – Ela pergunta com aquela voz paciente de sempre, dou de ombros.
– Eu conheci o Jason, mas não foi na escola – Começo no mesmo tom que ela, tenho a mania de falar como as pessoas querem ouvir. – Ele é legal, conheci ele na sala infantil do grupo de alcoólicos anônimos. Minha mãe frequenta, e o pai dele também.
O rosto da doutora se contorce em uma expressão diferente.
– Talvez devesse evitar outras crianças que passem pela mesmas situações que você, Charlotte.
Fecho a cara.
Sei o que ela quer dizer, ela quer que eu evite pessoas tão problemáticas quanto eu.
Mas eu não farei isso.
Jason e eu temos uma conexão.
Meu pai se matou e a mãe dele foi embora, nossa dor nos conecta.
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