Mia não acreditava no que estava acontecendo.
Yor chegou tarde da festa e tão suja que parecia ter voltado de uma batalha sangrenta. O que acontecia em festas de adultos, hein? Bem, ela não estava ansiosa para descobrir.
Mas o pior não era isso.
— Vamos nos mudar! — isso saiu naturalmente da boca da adulta.
— O que? — Mia estava incrédula e não conseguia fechar a boca. — Para onde vamos?
— Ah, sobre isso... vou me casar com o Loid-san.
Podia até parecer uma piada, mas Mia sabia quando a mãe estava falando a verdade. E, agora, Yor falava com convicção de que iria se casar com um homem que tinha acabado de conhecer.
A criança não conseguia fechar a boca de surpresa e indignação. Era verdade que poderia esperar qualquer coisa vinda de sua mãe, mas um casamento às pressas com um desconhecido foi algo que a surpreendeu.
Loid podia ser qualquer coisa; um assassino, um espião, um louco, usar calcinha... nunca se sabe.
— Mãe, por favor...
— O Yuri vai ficar feliz. — ela respondeu, sorrindo. — E tenho certeza que você irá se divertir com ele e com a Anya-san, a filha dele.
Mia se jogou em sua própria cama, suspirando. Queria muito que a sua mãe fosse feliz e não queria, de forma alguma, dizer o que ela tinha que fazer, mas havia uns momentos que ela era ingênua demais.
E isso seria uma grande mudança.
Mas, como sempre, Mia iria apoia-la.
Só esperava que, se aquele homem fizesse algo terrível, Yor quebrasse um de seus ossos.
Ou ela mesma faria isso.
Agora, estava colocando todos os seus pertences em caixas, enquanto a sua mãe fazia o mesmo. Boa parte das caixas estavam cheias de livros, enquanto uma ou duas continham roupas e apenas uma com brinquedos.
Ainda assim eram muitas.
Elas haviam contratado um serviço de mudança, então logo tudo estava no apartamento do homem. Seu padrasto.
Bom, essa seria sua nova vida.
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Loid estava satisfeito por conseguir uma esposa. Dessa forma, a operação Strix estava salva. Bom, era isso que ele esperava.
Yor parecia alguém que ele poderia enrolar, já que parecia ingênua e também estava precisando de sua ajuda. Seria uma boa esposa.
Mas havia a filha dela.
Mia Briar era mais atenta e parecia ser mais desconfiada do que a mãe. Parecia estar de olho nele e analisando-o. E era uma muito assustadora.
Simplesmente fazia com que um espião do nível de Twilight se tremer só com um olhar frio. Onde já se viu isso?
Porém, o adulto via nela uma segunda oportunidade de se dar bem na sua missão. Afinal, ela tinha a idade de outro dos filhos de Desmond: Dante.
Ele estava dois anos à frente de Damian e de Anya, por isso estava fora de cogitação, para Anya.
Mas, agora, tudo estava diferente, já que havia Mia.
Porém havia um problema: Mia não podia ser inscrita para fazer uma prova, pois já estava dois anos à frente. Mas, ele sabia, havia uma prova para transferência de estudantes, que ocorreria em dois dias.
Talvez conseguisse fazer com que Yor a inscrevesse.
Pelo que soube, Mia estudava em casa e, por isso, não tinha relatórios de seu nível escolar. Porém, com aquele olhar sagaz que ela lançou, estudando-o, Loid tinha quase certeza de que ela poderia ser mais esperta que Anya.
É, a Operação Strix poderia ter uma fase dois.
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Mia não gostou de sua nova casa.
Havia gente demais, barulho demais, mudança demais e ela gostava de quando era só ela e a sua mãe. Além disso, os Forgers eram bastante estranhos, como se cada um escondesse algo. Loid era o maior suspeito, pois sempre parecia estar escondendo algo terrível de todos, incluindo sua mãe.
Ficaria de olho nele.
— A manona é realmente muito inteligente. — Anya comentou, com os olhos esmeralda brilhando.
— O que é manona? — Mia não quis ser rude, até porque Anya era muito fofa, mas não estava acostumada a ser chamada assim.
Não sabia se isso era uma ofensa.
— Você é a irmã mais velha da Anya, então é manona! — a mais jovem abriu os braços. — Sejam bem-vindas a casa da Anya!
As caixas com os pertences das duas estavam por todo o apartamento dos Forger, e pai e filha as recepcionava de um jeito animado.
Quem tinha tanta animação para arrumar isso?
— É um prazer estar aqui, Anya-san. — Yor falou, de um jeito simpático. — Eu e a Mia-chan estamos felizes por estar aqui.
Eu não estou feliz, Mia pensou.
Novamente, Anya arregalou os olhos esmeralda para ela.
— Anya vai ajudar a manona a ficar feliz.
Mia arqueou a sobrancelha para a mais jovem. Como podia, Anya sempre saber o que se passava em sua cabeça? Ela não parecia ser uma criança tão perspicaz para entender do sentimento dos outros e, às vezes, parecia até meio burrinha, então como sempre sabia o que ela pensava?
A menina de cabelos rosa pareceu estar encurralada, o que chamou ainda mais a atenção de Mia. Crianças eram sempre tão estranhas?
— Anya é muito boa em ler as outras pessoas. — então, voltou a se animar. — Anya sempre quis uma Ma e uma manona.
— Ah, antes que eu me esqueça... — Loid falou. — Eu conheço um cara que conhece um juiz, então mexi uns pauzinhos e consegui um registro de casamento com data de um ano atrás.
Que tipo de gente esse homem conhece?
Mia o olhava com desconfiança e com seu melhor olhar gelado. Loid continuava sendo alguém que lhe acendia um alerta de perigo.
— Certo. — Yor acenou positivamente. — Sobre os quartos...
— O apartamento tem três quartos. — o único homem na casa respondeu. — Como vamos dormir cada um em um quarto, as meninas podem dividir o outro.
Isso deixou Mia paralisada. Ela gostava de ter seu próprio espaço e seu próprio quarto, onde podia passar horas e horas sem se preocupar com nada.
Dividir quarto com alguém queria dizer que ela iria ter que dividir suas coisas, além de que crianças tinham tendência a serem barulhentas e birrentas... isso seria terrível.
Agora ela tinha uma preocupação.
— Anya vai ter uma colega de quarto! — Anya praticamente gritou, feliz, o que assustou Mia.
Onde ela iria se meter?
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Após ajeitar tudo, Mia se instalou no quarto que dividiria com Anya. Era um quarto pequeno, que ficou bem cheio com as duas camas, seus livros e os brinquedos de sua nova irmã.
Frustrada, Mia se jogou na cama. Estava com saudades de sua casa de verdade e de como as coisas eram. Não queria estar ali.
Ela nem percebeu que Anya, bastante alegre, se jogou com tudo em sua cama, praticamente pulando em cima dela.
— O que foi isso?
— Anya não quer que a manona fique triste. — agora, elas estavam deitadas lado a lado. — Vamos brincar muito e vai ser divertido!
Olhando agora, Anya parecia uma boneca, já que era menor e mais magrela que ela. Além disso, era muito fofa e tinha bochechas apertaveis... não! Mia não podia cair na fofura daquela menina. Se ela começasse a gostar de Anya, os Foger iriam ganhar, não é?
Mas talvez, só talvez, pudesse ser mais gentil com Anya, afinal, ela era mais nova e era só uma criança... por isso, Mia cutucou as bochechas de Anya. Elas pareciam duas esponjas rosadas e fofas.
— A manona acha a Anya fofa?
— Sim, você é fofa. — como alguém tão fofo quanto a Anya podia ser filha de o homem estranho igual a Loid?
— Anya está ansiosa para brincarmos juntas! Vamos brincar de espiãs!
— Não gosto de brincar, Anya.
— Mas você também é criança.
— Já sou grandinha. — Mia falou, em um tom sério. Agora, ela era a irmã mais velha de Anya, o que significava que ela era bem adulta. — Você só vai entender isso quando fizer oito anos.
— A manona precisa relaxar. — a mais nova disse.
Mia tinha noção de que Anya iria insistir em brincar com ela, mas ouviram leves batidas na porta e, em seguida, Loid passou por ela, com aquele sorriso de idiota de sempre. Pelo menos, dessa vez ele serviu para alguma coisa.
— Espero que esteja se sentindo em casa, Mia.
Em resposta, Mia apenas lhe lançou apático de sempre. Se não fosse por ele, estaria em sua casa, feliz em seu quarto espaçoso.
— De qualquer forma, vamos para a sala. — o adulto não perdeu o sorriso forçado. — Vamos ensaiar para a entrevista do colégio Éden.
Mia não resistiu e deu um sorriso. Não precisaria participar disso, já que não estava envolvida nesse assunto. Teria alguns minutos preciosos, sozinha, para poder finalmente ajustar seus pensamentos.
— Mia, poderia vir também? — seu brilho sumiu. Por que Loid sempre tinha que atrapalhar tudo?
— Não precisa de mim na entrevista. — respondeu. — Por que eu tenho que ir também?
— Sei que você deve estar cansada pela mudança, mas eu e sua mãe precisamos falar algo com você.
Agora, Mia estava paralisada.
Nos livros que lia, isso significava que a família iria aumentar ou algo do tipo. Se enfiassem mais alguém naquele lugar minúsculo ela iria surtar.
— As vezes a manona viaja. — Anya deu duas batidinhas em sua mão.
— Não é nada demais. — Loid tentou acalma-la. — Tenho certeza de que você vai até gostar do que vai ouvir.
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Mia não gostou do que ouviu.
— O Colégio Éden abre vagas para transferência todos os anos. — sua mãe explicou. — A prova será em breve e eu tenho certeza de que você passaria. O que acha?
— Acho que quero bater a minha cabeça na parede.
— Não fala assim, filha. — Yor suspirou, preocupada. — Eu estava tão feliz com a perspectiva de você se enturmar com outras crianças.
— Me enturmei com a Anya-chan. — a menina puxou Anya para perto de si. — Já não é o suficiente?
— Não falo isso. Vocês vão ser irmãs de hoje em diante, mas você também precisa de outros amigos.
— A senhora também não tem amigas e está feliz assim.
Agora, um rubor cobriu o rosto de Yor e Mia se sentiu muito mal. Tinha pegado pesado com a mãe. Teria que filtrar um pouco mais o que falava.
— Mia, você não sente vontade de frequentar uma boa escola? — agora, foi Loid que tentou convencê-la. — Sua mãe já me falou que é muito inteligente.
— Posso aprender sozinha. Gosto que seja assim.
— Mas tenho certeza de que você vai aproveitar bem mais com bons professores.
— Não gosto de professores. — Mia já estava ficando bem irritada com aquela insistência. — Não gosto de adultos nem que acham que sabem muito.
Loid suspirou.
— Eu não queria usar isso. — o homem na gaveta de uma das mesinhas da sala, retirou um panfleto e o entregou para Mia. — O que acha?
Havia a imagem do campus do Colégio Éden, mas Loid havia marcado justamente a parte que falava sobre a biblioteca da escola. Uma biblioteca com incontáveis livros, em uma sala imensa e disponível para todos os alunos.
Incontáveis livros ao alcance de suas mãos.
Mia odiou sua própria reação.
A irritação sumiu de seu rosto e, logo em seguida, ganhou um sorriso – que ela mesma considerava bolo – e um brilho nos olhos.
Loid já havia estudado-a e entendido do que ela gostava. Por isso, havia ganhado aquela disputa, mas isso não importava mais. Teria todos aqueles livros para ela.
— Vou estudar.
Loid suspirou, agora com alívio.
— Certo, agora todas, sentem-se. — ele indicou o sofá da sala.
As três se sentaram, com Yor no meio e as meninas em cada uma das pontas. Mia ainda estava meio enfeitiçada pelo panfleto do colégio Éden, por isso não prestou muita atenção no que seguiu.
— Mia. — Loid a chamou, pela quinta vez.
O homem já tinha feito perguntas que poderiam ser feitas na entrevista do colégio Éden, tanto a Yor quanto a Anya. As duas falharam miseravelmente. Sua última esperança era em Mia, já que a menina era inteligente. Ela, porém, não lhe deu a mínima atenção.
— Bom, isso é inútil. — o loiro jogou as folhas com perguntas no chão. — Nunca vamos conseguir passar da entrevista. É melhor desistir.
As três se levantaram do sofá, instantaneamente.
Anya estava em choque.
— E o desejo da sua falecida esposa? — Yor questionou.
— Vai ter que me dar a mesma quantidade de livros da Éden!
Loid respirou fundo e voltou o seu olhar para as três.
— Certo, foi muito cedo para uma prática. Vamos passear.
— Hã? — Mia beliscou a mão da sua mãe. — Não quero sair.
— Precisamos ampliar o nosso horizonte como família e um passeio irá nos ajudar.
— Não quero sair. — Mia repetiu.
Ela estava no auge de seu estresse e só queria deitar na sua cama, fechar os olhos e se imaginar em sua antiga casa. Um passeio em família nunca esteve em seus planos.
— Mia, você não quer passar na entrevista e ter todos aqueles livros para você?
— Eu ainda nem fiz a prova. — a menina retrucou. — E esses livros estão custando muito caro.
O adulto apontou para o panfleto em suas mãos.
— Você realmente não se imagina nessa biblioteca?
Droga. Esse babaca descobriu o meu ponto fraco.
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Hey! Gostaram? Odiaram?
Eu até pensei em fazer a Mia ter atritos com a Anya, mas não acho que alguém resistiria a fofura dela, por isso a Anya foi a primeira – e por enquanto única – Forger a conquistar a Mia.
Geralmente, nas fics em que a Anya tem uma irmã, sempre tem o clichê dela ser a segunda parte da Operação Strix e se aproximar de um irmão do Damian, então coloquei isso aqui também, por motivos de: eu queria um motivo para a Mia entrar na Éden e ela não entraria se não fosse por insistência do Loid.
A SaoriHellscyhe me deu uma ideia para trabalhar na personalidade da Mia e vocês vão acompanhar o desenvolvimento disso mais para frente. Só posso dizer que é algo bem interessante.
Nos vemos em breve!
Até o próximo capítulo :)