equalize | kelmiro

By bisborriah

10.7K 687 676

[ONE SHOTS] "E eu acho que eu gosto mesmo de você, bem do jeito que você é. Eu vou equalizar você numa frequê... More

um.
dois.
três.
quatro.
cinco.

seis.

930 93 55
By bisborriah

Eu juro que tô focando em escrever "Beautiful Mess", mas o capítulo de hoje da novela (😭) me deixou com vontade de ver Kelmiro comemorando o Natal juntos. E é isso!

Não parece que mais de um ano havia se passado desde que Kelvin e Ramiro começaram a namorar oficialmente, mas o clima de Nova Primavera já se encontra festivo mais uma vez. A pracinha principal da cidade já tem os enfeites natalinos pendurados nos postes de energia, os pisca-piscas das lanchonetes reluzem juntos à noite e a maioria dos moradores já começaram a enfeitar as fachadas de suas casas. É Natal outra vez!

E é por isso que Kelvin se encontra do lado de fora do Naitandei, sob o Sol fraco da tarde, com os braços cruzados e uma expressão concentrada, observando atenciosamente enquanto Zeza segura a escada de metal para que Nando pendure uma fileira de pisca-piscas na porta de entrada do bar. Eles nunca falhavam em decorar o estabelecimento todos os anos – uma tradição deixada por Cândida, e mesmo depois de tanto tempo desde a morte da antiga dona do lugar, a vontade da senhora sempre será respeitada por todos que a conheceram.

— Mais um pouco pro lado! — Kelvin avisa a Nando, que está no topo da escada segurando o longo fio de luzes, e aponta para o canto específico em que o pisca-pisca deve ser amarrado. Quando vê que os dois homens parecem ter acertado a posição do objeto, Kelvin volta para dentro do bar, passando pelas meninas, que também se dedicam a decorar a parte interna do local, e tira o celular do bolso. No aplicativo de mensagens, ele clica para gravar um áudio: — Cadê você, Rams? Conseguiu comprar a estrela? Tô te esperando aqui.

Depois de ver que o áudio foi enviado, Kelvin se dedica a ajudar Graciara e Berenice a decorar o palco do bar com uma cortina vermelha brilhosa, que combina com todo o tema que eles haviam decidido para aquele ano. Ele sente o celular vibrar no bolso enquanto segura uma das pontas do tecido para que Berenice o pendure na parede, mas não consegue visualizar a mensagem até alguns minutos depois.

Em outra parte da cidade, onde a maioria das lojas de Nova Primavera se encontram, Ramiro se apressa por entre a multidão que também se reúne ali para fazer as últimas compras de Natal. Ele guarda o celular no bolso depois de enviar um áudio rápido para Kelvin dizendo que já já chega no Naitandei. Para o estresse de Ramiro, ele já havia estado ali uma semana antes com Kelvin, andando para lá e para cá carregando sacolas pesadas nas mãos e entrando em cada estabelecimento que mostrasse suas decorações natalinas em promoção.

No entanto, apesar de terem passado uma manhã inteira ali, algumas coisas faltaram nas compras e Kelvin encarregou Ramiro de voltar outro dia para resolver isso. E Ramiro pode até ter uma carranca estampada no rosto enquanto carrega, mais uma vez, várias sacolas, mas a verdade é que não consegue ficar estressado com nada disso, pois é a primeira vez que se prepara dessa forma para o Natal em todos os seus quase quarenta anos de vida – ele não teve essa experiência com a própria família e muito menos com os La Selva.

É nesse momento, enquanto caminha em direção à caminhonete estacionada do outro lado da rua para finalmente ir embora, que Ramiro avista algo na vitrine de uma das lojas. O objeto pequeno, mas colorido, chama a atenção de Ramiro por algum motivo peculiar e ele para em frente ao vidro para observar-lo.

Ramiro leva algum tempo para ler o que está escrito na embalagem do objeto, mas quando, por fim, entende do que se trata, um sorriso aparece em seu rosto. E é pensando em Kelvin, em seu pequetito, que ele adentra a loja.

A tarde já está quase se transformando em noite quando Ramiro finalmente volta para o Naitandei, onde é recebido por um Kelvin emburrado, encostado ao batente da porta de entrada, o esperando para ajudar-lo a guardar as compras. A caminhonete é estacionada no lugar de sempre, em frente ao bar, e Kelvin se aproxima com um biquinho contrariado nos lábios que Ramiro já conhece muito bem.

— Oi, pequetito! — Ramiro diz ao sair do banco do motorista, indo até Kelvin para deixar um selinho rápido naquele bico chateado e logo volta para buscar as compras. Kelvin o acompanha para tentar pegar algumas das sacolas, mas acaba ficando com apenas duas nas mãos, das mais leves, pois Ramiro junta quase todas consigo, ainda conseguindo se equilibrar para buscar a chave do carro em seu bolso e trancar-lo.

— Cê demorou demais, Rams... — Logo vem a reclamação de Kelvin enquanto os dois caminham para dentro do Naitandei, com Ramiro sendo cumprimentado rapidamente pelos funcionários, que finalizam os últimos detalhes da decoração. — E a gente ainda tem que arrumar tudo antes do bar abrir. — Kelvin continua, subindo a escada para o andar dos quartos junto do namorado.

Kelvin e Ramiro deixam os sapatos na entrada do quarto que agora pertence a ambos e o adentram, colocando as sacolas de compras em um canto do compartimento. Ultimamente, depois de quase um ano desde que começaram a morar juntos, aquele lugar parece ter cada vez mais a cara dos dois: os cremes capilares de Kelvin misturados com os shampoos "de macho" de Ramiro no banheiro, as roupas coloridas e brilhosas junto com camisetas e calças monocromáticas, além dos sapatos altos cedendo espaço às botas desgastadas na sapateira ao lado da porta.

— Tinha muita gente lá, benzinho, foi um sufoco só. — Ramiro explica, já tirando a roupa do dia para trocar por uma mais confortável. Ele até correria ao banheiro para tirar o suor do corpo com um banho demorado, mas Kelvin tem planos para aquele fim de tarde que provavelmente ainda o farão suar, então Ramiro não se dá ao trabalho. — Mas eu trouxe tudo o que ocê pediu. — Complementa, não falando sobre a última coisa que comprou naquela tarde, que havia ficado bem guardada no porta-luvas da caminhonete.

Depois de vestir uma camisa mais leve e um dos shorts que Kelvin o presenteou há algum tempo, Ramiro ajuda o namorado a tirar cada item das sacolas e os espalhar pelo chão para que eles os organizem. Ele também pega as compras da semana anterior e tira de lá uma caixa de papelão alta e estreita. Ali dentro, está a árvore de Natal de Kelvin e Ramiro. Apenas deles.

Há alguns meses, Ramiro e Kelvin conversaram sobre o que fariam naquele Natal, considerando todos os problemas que tiveram no ano anterior. Aquela época é algo que nenhum dos dois gosta muito de se lembrar – a situação extrema de abuso em que Ramiro estava e as medidas drásticas que Kelvin precisou tomar para tirar-lo dela não são exatamente o que se considerariam boas lembranças para o casal –, mas, como aprenderam a fazer depois de vários desentendimentos, eles usaram o diálogo para s decidirem o que fazer.

E foi ali, abraçados na cama em uma noite comum para os dois, que o casal decidiu fazer um Natal para eles próprios. O bar seguiria a rotina normal daquela época, a comemoração no andar debaixo continuaria a mesma, mas Kelvin e Ramiro fariam o Natal mais tradicional que conseguissem naquele quartinho e com a música alta do Naitandei atravessando as paredes finas. Porque agora eles eram uma família – composta por apenas duas pessoas, sim, mas, ainda assim, uma família. E eles só tem um ao outro.

— Amor, eu acho que essa parte encaixa aqui. — Kelvin diz, segurando o manual de instruções que veio junto com a árvore e apontando para uma das peças do objeto. Ele está em pé na cama para chegar à altura do topo da árvore e ver o que está faltando, enquanto Ramiro segura um dos ramos e tenta encontrar o local que Kelvin está indicando. — Ai, que dificuldade, pra quê tanta coisa! — Ele reclama, mas acaba rindo junto de Ramiro.

— Pronto, pelo menos a árvore tá montada! — Ramiro comemora quando eles finalmente conseguem encaixar cada parte da árvore de Natal uma na outra e ela fica em pé no chão do quarto sem cambalear.

Entre risadas felizes, os dois trocam um olhar carinhoso, sabendo que ambos estão sentindo o mesmo; uma felicidade genuína misturada com a realização de poder estar fazendo isso com quem amam.

Para Kelvin, fazia muitos anos desde que teve um Natal assim, com a família que dizia o amar – até que ele não mais correspondia às expectativas que tinham para a sua vida. As comemorações e datas especiais com o Naitandei sempre eram muito animadas e Kelvin se divertia, sim, mas nunca teve a sensação de pertencimento que toma conta de si toda vez que olha para Ramiro. Ele tem a absoluta certeza de que é com Ramiro que seu coração quer passar todas as datas comemorativas possíveis.

O final da tarde parece passar em um flash enquanto Kelvin e Ramiro decoram a árvore minuciosamente, aproveitando cada minuto daquele momento juntos. No meio do processo, eles percebem que compraram muito mais itens de decoração do que o necessário, mas enfiam todas as bolas, enfeites e "frufrus" – nas palavras de Ramiro – na árvore, espalhando tudo até que não sobre nenhum canto vazio.

Entregando uma parte do pisca-pisca nas mãos de Kelvin, Ramiro diz: — Benzinho, segura essa ponta aí. — O baixinho está na cama novamente, se esticando para chegar na parte mais alta da árvore e enroscar as luzinhas coloridas. Os dois homens se embolam com os fios várias vezes, enroscam de um lado e desenroscam do outro, mas acabam conseguindo colocar o pisca-pisca corretamente ao redor da árvore depois de muito esforço.

— Faltam as nossas fotos e a guirlanda na porta, Rams! — Kelvin lembra enquanto está sendo abraçado por trás pelos braços fortes de Ramiro, depois de os dois terem decidido tirar alguns minutos para descansar antes de voltar para a última parte da maratona de decoração.

As fotos, na verdade, são parte de uma ideia que Kelvin tirou da internet. Não há um dia sequer em que Ramiro não escuta o namorado falar sobre alguma coisa mirabolante que viu no celular. Geralmente, são receitas novas que Kelvin pede para Zeza implementar no cardápio do bar, em outras vezes, são dicas de maquiagem que ele sempre compartilha com Ramiro enquanto as põe em prática em frente à penteadeira do quarto. Porém, dessa vez, foi uma ideia de decoração para a árvore de Natal deles.

Ramiro não faz ideia de onde Kelvin foi para revelar aquelas fotos, mas isso não importa, porque o sorriso enorme que aparece em seu rosto ao ver-las espalhadas pela cama é um de pura felicidade. Ali, naqueles pequenos recortes, estão os registros de vários momentos dos dois, sendo a maioria tirada por Kelvin, pois Ramiro ainda está aprendendo a tirar fotos sem deixar-las desfocadas, borradas ou que apareça o seu dedo na frente da câmera.

— Cê lembra desse dia, amor? — Kelvin pergunta ao mostrar uma das imagens para o namorado. Na foto, tirada de frente por Kelvin, os dois aparecem com os rostos próximos um do outro, sorrisos estampados na cara e, no fundo, o mesmo quarto em que estão agora. Aquele havia sido o dia em que Ramiro foi morar definitivamente no bar com Kelvin.

Então, Ramiro assente em resposta, pois é claro que se recorda do momento em que finalmente começou a se sentir livre das amarras que Antônio La Selva impôs sobre ele. E isso tudo só aconteceu porque Kelvin apareceu na sua vida, porque ele o mostrou que ainda havia uma saída – Ramiro realmente não sabe o que teria sido de si mesmo se nunca tivesse o conhecido.

Os dois permanecem ali, ao lado da cama, revivendo cada momento e comentando cada lembrança com sorrisos nostálgicos. O dia do primeiro encontro, um dos dias em que Ramiro tirou uma nota alta na escola, ou quando Kelvin se apresentou em um show organizado pela prefeitura da cidade... todos aqueles momentos estavam registrados. E todos iriam para aquela árvore de Natal, como uma recordação de tudo o que Kelvin e Ramiro viveram até ali.

O último item, a estrela, é colocado em uma das mãos de Kelvin por Ramiro e o baixinho sobe na cama para colocar-la no topo da árvore. Ele a encaixa perfeitamente ali e dá um sorriso de orelha à orelha quando Ramiro liga o pisca-pisca na tomada, fazendo o quarto todo se iluminar pelas luzes brilhando.

Os dois riem juntos, felizes, e Ramiro se aproxima para abraçar a cintura de Kelvin, que ainda está de pé sobre a cama. As mãos calejadas de Ramiro deslizam para debaixo da camisa transparente de Kelvin, o puxando para si e deixando que o namorado o abrace pelos ombros, por estar um pouco mais alto. Um beijo é deixado por Ramiro no queixo de Kelvin, e eles continuam admirando, abraçados, a obra que fizeram.

— Agora sim, tudo pronto! — É Kelvin que exclama depois, animado e batendo palmas enquanto dá alguns pulinhos pelo quarto. Eles arrumariam a bagunça de embalagens mais tarde, mas agora, tudo o que pensam é que teriam um Natal só deles.

No dia seguinte, já é a véspera de Natal. Todos no bar acordam mais cedo do que o de costume, pois Kelvin e Zeza os dividiram em várias tarefas. As datas comemorativas ali sempre traziam um caos gostoso para o Naitandei, uma correria única que, no final de tudo, acabava valendo à pena.

Os últimos ajustes são feitos na decoração do estabelecimento e Zezinho corre de um lado para o outro na cozinha, finalizando a ceia com a ajuda de Polerina e Ramiro, os únicos que têm um certo dote na culinária por ali e não acabam queimando tudo o que tentam fazer.

— Me dá um pouquinho pra eu provar? — Kelvin se apoia no balcão entre a cozinha e a parte externa dela para pedir um pouco da farofa a Ramiro com uma carinha pidona. A maior parte das comidas da ceia já estão quase prontas e a farofa está sendo colocada em uma travessa de vidro por Ramiro, que olha entre Kelvin e Zeza com uma expressão desconfiada.

— O Zezo disse que é pra comer só na hora da ceia, Kevinho... — Ramiro retruca depois de ver que o chef da cozinha está virado de costas para eles, ocupado com a cobertura do bolo de laranja que fez mais cedo.

Os olhinhos pidões de Kelvin se intensificam depois que ele ouve a recusa do namorado, acrescentando um biquinho chateado que sabe muito bem como afeta Ramiro. Então, Kelvin pede mais uma vez com a voz manhosa: — É só um colherinha, amor, poxa!

E, é claro, Ramiro não tem capacidade nenhuma de negar aquele pedido. Dando um suspiro prolongado, ele preenche uma colher pequena com a farofa crocante e leva à boca de Kelvin, estendendo uma mão embaixo do queixo do rapaz para que não sujem o chão ou o balcão que eles haviam limpado mais cedo.

Kelvin já está mastigando, saboreando a farofa, quando Zeza se vira na direção dos dois e arregala os olhos. O cozinheiro aponta uma espátula suja de cobertura para o casal e exclama: — Mas o que é isso?! — Em questão de segundos, Ramiro vai para o outro lado da cozinha, se esquivando do amigo raivoso, e Kelvin segura o riso enquanto sai correndo para fora do bar.

Naquela noite, a comemoração parece ser ainda mais animada do que os Natais anteriores e Kelvin sabe que isso se dá pelo fato de finalmente estar se sentindo em paz depois de muito tempo. A carreira ainda é valorizada, o dinheiro dos videoclipes e das músicas lançadas cai todos os meses em sua conta; o bar está dando um lucro que ele não imaginou que poderia dar, sendo um dos pontos de visita principais de Nova Primavera; mas o melhor de tudo é que Ramiro está bem ali, ao seu lado, livre dos La Selva e mais feliz do que nunca.

Uma música natalina é cantada em ritmo de forró no palco por Nando enquanto Iná anda para lá e para cá com a querida máquina de fazer fumaça. As mesas do bar haviam sido encostadas às paredes, abrindo um espaço maior no meio do local para que as pessoas pudessem dançar confortavelmente. E é isso que Ramiro e Kelvin fazem no momento; as mãos de Ramiro estão no lugar de sempre – na cintura do namorado – e eles rodam sem preocupação nenhuma pela pista de dança improvisada.

Quando as notas finais da música ecoam pelo Naitandei, Kelvin dá uma risada cansada, mas satisfeita, e segura o rosto de Ramiro entre as mãos para lhe dar um beijo estralado. Esse tipo de demonstração de afeto entre os dois já é tão comum que ninguém mais olha duas vezes quando acontece.

A única coisa que chama atenção é a beleza dos dois juntos e o quão diferentes, mas ao mesmo tempo complementares, eles são. Ramiro veste uma camisa de botões preta e lisa vinda direto da "Hello, Grace", uma calça também preta e sapatos marrons bem polidos, quase brilhantes; o cabelo e a barba bem aparados, sedosos e cheirosos do jeito que ele havia aprendido a deixar com os produtos que Kelvin via na internet. Já Kelvin, sempre vaidoso, usa uma calça boca de sino vermelha junto de um cropped branco e uma bota de salto alto. O delineado de gatinho não pode faltar e, para o desespero de Ramiro, ele havia complementado a maquiagem com um batom vermelho e um gloss que deixa a boca ainda mais chamativa.

— Já vai dar meia noite. — Kelvin sussurra contra o rosto de Ramiro, esfregando carinhosamente o nariz ao dele.

A resposta de Ramiro vem junto de um abraço ainda mais apertado, juntando seus torsos quase em um só e deixando um beijinho rápido no canto da boca de Kelvin. Ele chama: — Vamo subir, então? — E Kelvin concorda prontamente, já se afastando um pouco para entrelaçar a mão à dele e o guiar para o segundo andar.

Enquanto caminham em direção aos degraus, Kelvin e Ramiro passam ao lado de Berenice, que finge uma cara debochada para os dois, mas logo avisa ao patrão que ficará de olho no bar por ele. Todos ali sabem dos planos do casal para esse Natal e ninguém havia discordado – pelo contrário, na verdade, cada um ajudou da forma que pôde para que Ramiro e Kelvin tivessem esse momento.

— Ah, vou dar um beijo no Zeza! Ele trouxe tudinho como eu pedi! — Kelvin exclama, satisfeito, quando entra no quarto e vê as comidas da ceia colocadas em travessas menores em cima de uma mesa que eles haviam trazido do andar de baixo. Foram duas mesas retiradas do bar e levadas para o quarto do casal: uma para as comidas e outra, arrumada com um tecido rendado e um castiçal dourado aportando três velas vermelhas, para que Kelvin e Ramiro fizessem a ceia juntos.

— Que beijo o quê, seu Kelvin? — Ramiro reclama, enciumado que só ele, mas recebe uma risada gostosa do namorado em resposta.

Kelvin se agarra aos ombros de Ramiro entre risadas e deixa vários beijos por todo o rosto dele até que apareça um sorriso ali. Quando o sorrisinho acanhado surge, Kelvin o olha satisfeito e fala com a voz de bebê que só Ramiro tem o prazer de ouvir: — É só um modo de falar, amorzinho.

Depois de alguns beijinhos que deixam a boca de Ramiro também "grudenta", como ele mesmo diz sempre que Kelvin decide usar algum dos seus vários brilhos labiais, o casal se senta junto no chão ao lado da árvore de Natal para trocar presentes. Nenhum dos dois faz ideia do que receberiam um do outro e isso só deixa o momento ainda mais especial.

Não é difícil de perceber a ansiedade de Kelvin para entregar o seu presente, pois o rapaz está quase pulando no chão de tanta animação. Então, Ramiro diz para ele ir primeiro, feliz por fazer um sorriso de orelha à orelha aparecer no rosto de Kelvin.

— Bom, você sabe que eu sempre reclamo da qualidade da câmera do seu celular e que você sempre tá com a memória cheia, né? — Kelvin diz com uma cara de sapeca e Ramiro já começa a desconfiar do que seria o seu presente.

Animado, Kelvin não se demora e logo se inclina para pegar a caixa pequena embrulhada com um papel de presente vermelho de debaixo da árvore. Ele aperta os lábios um contra um o outro para tentar segurar o sorriso ansioso, mas não consegue e rapidamente entrega o pacote nas mãos de Ramiro sem mais delongas.

Enquanto Ramiro abre o embrulho com cuidado para não rasgar o que Kelvin teve o trabalho de fazer, o rapaz diz: — Agora cê pode tirar fotos nossas à vontade e ainda vai conseguir baixar as que te mando sem que o celular fique gritando que tá com o espaço cheio! — E aquilo faz todo o sentido quando Ramiro vê o que está dentro da embalagem bem feita. Um celular novo, de última geração.

Os olhos de Ramiro se arregalam em choque enquanto ele segura a caixa do celular novo nas mãos. Ele olha entre o objeto e Kelvin repetidas vezes, deixando a mente processar aquele presente, e ouve as risadas do namorado por ver-lo desse jeito.

— Kevinho, pelo amor de Deus, é sério? — Ramiro pergunta ainda em choque. — Mai isso é caro por demais, benzinho... — Ele murmura para o namorado, preocupado com o tanto de dinheiro que Kelvin deve ter gastado com aquele celular. O seu atual poderia ter vários problemas – vários mesmo, desde o delay de quase quatro segundos para carregar qualquer coisa até a tela rachada em alguns pontos –, mas ainda funciona, certo? Ainda dá para usar.

Entretanto, ignorando os questionamentos de Ramiro, Kelvin apenas ri e se aproxima mais um pouco do namorado para se aconchegar sobre uma das pernas dele. Um dos braços de Kelvin se envolve no pescoço de Ramiro e ele se acomoda ali, aproveitando para responder: — Não se preocupa com isso, tá? Eu quis te dar esse presente.

Mesmo depois de quase um ano de relacionamento oficial e muito mais tempo desde que começaram a se envolver romanticamente, Ramiro ainda tem um pouco de dificuldade em entender que merece coisas boas. Levou um bom tempo para que ele entendesse que Kelvin quer, sim, estar sempre com Ramiro, que não tem plano algum de se separar nem agora e nem nunca. Porém, com a parte material, Kelvin ainda luta para conseguir mimar o namorado do jeito que gostaria, pois o homem é mesmo casca dura quando cisma com algo.

— Tá bão, então. Obrigado, Kevinho! — Ramiro agradece, finalmente deixando uma expressão feliz e agradecida tomar conta do rosto encucado. Ainda segurando a caixa do celular em uma das mãos, ele abraça a cintura de Kelvin e o dá um selinho demorado, demonstrando através dele o quão grato é por ter-lo em sua vida.

O casal abre a caixa juntos e Kelvin explica para Ramiro que aquele celular tem as mesmas funções que o antigo, com as quais ele já está mais acostumado, sendo apenas diferente na qualidade. É claro, Kelvin sabe que provavelmente ainda vai precisar tirar várias dúvidas de Ramiro quando o namorado estiver usando o aparelho, mas ele fará isso de bom grado quantas vezes forem necessárias.

Após os dois se perderem por alguns minutos em uns beijos, Ramiro lembra que também precisa entregar o presente para o namorado – ou melhor, os presentes. Então, ele se estica levemente, ainda segurando a cintura de Kelvin em seu colo, e pega o primeiro embrulho. É um pacote fino, feito de um papel de presente rosa claro, e que cabe perfeitamente nas mãos pequenas de Kelvin.

— Eu num tenho a delicadeza que ocê tem pra essas coisas, daí pedi pra Graça embruiá pra mim. — Ramiro explica ao ver Kelvin retirando com cuidado o lacinho que complementa o embrulho. Aquele sorriso pequeno não sai dos lábios dele em nenhum instante, fazendo Ramiro se sentir o homem mais feliz do mundo por ser a pessoa que consegue deixar-lo desse jeito.

— A Graça? — Kelvin pergunta, curioso, quando consegue abrir todo o embrulho.

— É, eu vi ocê zoiando essa brusinha quando a gente foi comprar as nossa roupa de Natal lá na Graça. — Ramiro diz e também começa a rir quando Kelvin dá um gritinho de animação ao finalmente tirar o presente de dentro do pacote. É um cropped simples, cinza e liso, mas que fica bem justo e colado ao corpo, e Kelvin já estava de olho nele há um bom tempo sempre que passava em frente à vitrine da "Hello, Grace". — Como é o nome, mesmo? Crops? — Ramiro pergunta e arranca mais umas boas risadas do namorado, que está prestes a explodir de tanta felicidade.

— É cropped, amor... — Kelvin corrige e limpa as lágrimas que se formaram no canto dos olhos depois de rir por um longo tempo. — Ah, eu te amo tanto tanto tanto! — Ele deixa o presente que acabou de ganhar no chão apenas para apertar as bochechas de Ramiro entre suas mãos e deixar um beijo estralado no biquinho que se forma ali.

Eles riem juntos no meio do beijo que vem assim que Kelvin solta as bochechas de Ramiro, e ele não perde a oportunidade de puxar o baixinho para mais perto de si, colando-o de vez em seu colo. As pernas de Kelvin se encaixam ao redor da cintura de Ramiro e o rapaz aproveita a trilha de beijos que é deixada em seu pescoço. Os sussurros de "eu te amo" são quase automáticos para ambos, saindo tão espontaneamente de suas bocas como um mantra já bem decorado.

Não há dúvidas de que eles poderiam ficar ali, agarrados um ao outro, por uma eternidade, sem se importar nem um pouco com o tempo passando no mundo lá fora. Porém, Ramiro ainda tem mais um presente para entregar, aquele que havia comprado por acaso, quando passou sem querer em frente a uma loja de produtos feitos à mão.

É só por isso que Ramiro tira forças de onde nem tem para afastar Kelvin levemente de si, interrompendo o cheiro no cangote que seu namorado está lhe dando naquele momento para pegar o embrulho pequeno de detrás da árvore de Natal. Ramiro o escondeu ali naquela manhã depois de o presente ter passado a noite no porta-luvas da caminhonete, pois Kelvin não podia saber que ele havia comprado mais um.

— Tenho outra coisa pra te dar, pequetito. — Ramiro fala ao perceber a expressão confusa de Kelvin por ter sido afastado de repente do seu cantinho preferido. A confusão se transforma em curiosidade quando Kelvin vê o presente pequenino nas mãos grandes de Ramiro. — A moça da loja me explicou o que significa...

Nesse momento, as luzes dos pisca-piscas reluzem de uma forma tão bela contra o rosto de Kelvin que Ramiro tem uma certa dificuldade em continuar o que estava falando. Ele observa o namorado com os olhos brilhando e as pupilas dilatadas, tentando lembrar quando foi que ganhou na loteria para ter aquele homem em seus braços.

Com um balançar da cabeça para se concentrar novamente, Ramiro volta ao momento atual e entrega o presente para Kelvin, que o recebe com os olhos tão apaixonados quanto os do namorado. As mãos ágeis de Kelvin, também curiosas, logo abrem o pequeno pacote e puxam cuidadosamente o que está dentro.

Dali, ele tira um cartão marrom, feito de um papel um pouco mais grosso, que se abre e mostra um par de pulseiras vermelhas com um pingente metálico no meio. No mesmo papel, se encontram alguns dizeres que Kelvin demora a registrar em sua mente, pois está extremamente encantado com as pulseiras idênticas; elas são feitas de um trançado de um fio vermelho, finas e delicadas, mas belas de um jeito apaixonante.

Ramiro acompanha de perto cada movimento de Kelvin, curioso para ver todas as reações do namorado com o presente, e sente o coração palpitar quando ele segura o outro lado do cartão para ler o que está escrito. Kelvin começa a recitar as palavras em um sussurro, como se precisassem fazer silêncio para aquele momento, mesmo que o som de Nando cantando no bar esteja ecoando pelas paredes do quarto.

Akai Ito... — Kelvin lê o que está no topo do cartão com as sobrancelhas franzidas e Ramiro lembra que também ficou intrigado quando viu a expressão no papel ao passar pela vitrine da loja. — Um fio vermelho conecta os que estão destinados a se conhecerem. Independentemente do tempo, lugar ou circunstância. O fio pode esticar ou emaranhar-se, mas nunca irá partir... — Ele termina de ler o pequeno texto com a voz embargada, olhando para Ramiro de um jeito tão profundo que o faz estremecer.

Os olhos de Kelvin ficam marejados enquanto eles se olham. Uma pequena lágrima cai por aquela bochecha macia, e Ramiro se apressa a limpar-la com o polegar.

A vendedora da loja, no dia anterior, explicou para Ramiro sobre a lenda do fio vermelho. Akai Ito, ele lembra de ter escutado ela falar repetidas vezes, e mesmo que não saiba nem um pouco sobre o idioma do qual aquela expressão surgiu, Ramiro sentiu um afago no peito ao ouvir sobre a lenda.

Naquela tarde, Ramiro se lembrou de todas as vezes em que pensou que perderia Kelvin e os diversos vaivéns que tiveram ao longo do relacionamento; uma noiva aparecendo para relembrar-lo de compromissos antigos, um produtor dos infernos surgindo em Nova Primavera com a proposta de levar Kelvin para o estrangeiro, sonhos confusos que o fizeram questionar toda a sua existência e um patrão que o fazia acreditar que não era merecedor de nada bom nessa vida. No entanto, absolutamente nada disso foi capaz de afastar-los. Nem o tempo, nem os lugares e muito menos as circunstâncias.

— Ramiro... — Kelvin sussurra em um tom repleto de sentimentos misturados – incredulidade por ter recebido um presente tão bonito, emoção por estar repartindo esse momento com Ramiro e um amor tão, mas tão grande que parece querer transbordar de seu peito. — Isso é uma das coisas mais lindas que eu já recebi. — É o que Kelvin consegue falar em meio às lágrimas emocionadas que insistem em cair.

— É que ocê merece tudo de mais bonito nessa vida, pequetito. — Ramiro responde e se inclina ligeiramente para deixar um beijo na testa de Kelvin.

Então, Ramiro desfaz o nó de uma das pulseiras e a desenrola do cartão, logo pegando a mão de Kelvin para si. Ele posiciona a pulseira de uma forma que não fique tão apertada no pulso de Kelvin e a prende ali com uma delicadeza que só surge quando é direcionada ao seu amado. Depois de amarrada, Ramiro olha para o namorado com um sorriso pequeno, mas apaixonado, sabendo que ele entende o significado daquilo; não é só um acessório, é uma promessa.

Entre as lágrimas de felicidade que ainda não param de cair, Kelvin também pega a pulseira que restou e a leva até o braço desocupado de Ramiro, amarrando-a ali com cuidado e destreza. Quando ambos já estão usando suas respectivas pulseiras, Ramiro sorri e entrelaça a própria mão à de Kelvin, vendo o momento exato em que os pingentes metálicos de cada uma se juntam, por serem magnéticos.

— Ó, benzinho, elas ficam garradinhas que nem eu e ocê! — Ramiro exclama animado ao ver que as pulseiras dão mesmo certo, como a vendedora havia prometido, e isso só serve para fazer Kelvin chorar ainda mais. É tanta paixão e tanto amor que há dentro de si por aquele homem que às vezes ele até se assusta.

Por isso, Kelvin o agarra imediatamente, o abraçando apertado até sentir que os dois podem se juntar em um corpo só. Os sorrisos presentes no rosto de Kelvin e Ramiro se encaixam perfeitamente um no outro, como se fossem feitos para isso.

— Vamos ficar agarradinhos assim pra sempre, tá? — É Kelvin que diz contra o pescoço de Ramiro, ainda abraçado a ele sem nenhuma vontade de sair, e recebe um beijo demorado no topo da cabeça como resposta junto de um "Sim" firme.

Ainda leva um tempo para que Kelvin e Ramiro se desgrudem daquele abraço aconchegante, mas, quando ouvem as pessoas comemorando no andar debaixo, eles olham para o relógio na parede do quarto e percebem que já é meia noite. Os olhos se encontram em um olhar cúmplice, de puro companheirismo e amor, felizes por estarem comemorando uma data tão especial juntos.

A verdade é que, mesmo com a vontade iminente de ambos de comemorar esses momentos com alguém que amam, sempre houve um vazio no coração de Kelvin e Ramiro a cada data especial que se passava. Para a felicidade dos dois, eles agora têm um ao outro para preencher – e transbordar – cada canto; o amor deles preenchendo cada parte de seus corpos e cada cômodo daquele lugar.

— Feliz Natal, meu Kevinho. — Ramiro sussurra para Kelvin, sorrindo.

— Feliz Natal, meu Rams. — Kelvin responde do mesmo jeito. — E que ainda venham muitos por aí! — Ele complementa, deixando um selinho no namorado.

Depois, quando se levantam, Kelvin ajuda Ramiro a ligar e configurar o celular novo, e eles colocam o aparelho em pé na mesa, encostado-o em uma das travessas de comida, para tirarem uma foto em frente à árvore de Natal. Kelvin ajusta o temporizador do celular e corre para perto de Ramiro, que já está em sua posição.

Kelvin se encosta ao peito de Ramiro e sente os braços dele envolverem a sua cintura por trás. As mãos que agora adornam as pulseiras de fio vermelho se juntam na frente do torso de Kelvin e se entrelaçam uma à outra, fazendo com que os pingentes metálicos se juntem mais uma vez. Eles sorriem ao verem aquilo, e é nesse momento que o barulho da câmera do celular ecoa pelo quarto, registrando aquele instante.

— Agora vamo encher a pança! — Ramiro exclama assim que a foto é tirada – e mais algumas selfies que o baixinho decide registrar, pois nem ele e nem Kelvin se aguentam mais de tanto fome.

Não postei no dia do Natal, mas acho que vale mesmo assim, né? 😅

Espero que tenham gostado! 💜

Continue Reading

You'll Also Like

2.4M 130K 70
"Você é minha querendo ou não, Alles!!" ⚠️VAI CONTER NESSA HISTÓRIA ⚠️ •Drogas ilícitas; •Abuso sexual; •Agressões físicas e verbais; •Palavras de ba...
My Luna By Malu

Fanfiction

246K 21.5K 28
Ela: A nerd ômega considerada frágil e fraca Ele: Um Alfa lúpus, além de ser o valentão mais gato e cobiçado da escola Ele sempre fez bullying com el...
339K 18.6K 93
Imagines House Of The Dragon. Apenas fique sabendo que nenhum capítulo é revisado, ele só é corrigido quando eu vou ler, então pode haver alguns err...