É um sufoco
Uma espinha incomoda em minha garganta
E tudo sangra para dentro
Escondido
Sempre assim, em silêncio
Eu grito pela poesia
Mas a arte nunca salvou um artista.
Então corto a carne
Para que a dor não chegue a alma
Mas sempre chega
Sempre alcança o espírito cansado.
Sim, o desespero
Tão fervente e continuo
Que o costume me deixou arisca.
Está tudo um caos
Mas eu moro nesse caos
Nesse sufoco intermitente
Então aprendi a dançar
Não, não dói menos
Não, não é bonito
Não, não é poético
Não é belo, nem admirável.
Ser forte é o que nos torna fracos
Humanos medrosos encolhidos na própria sombra
Por isso choramos
Por isso vazamos
Porquê estamos constantemente contendo esse mar de dor, em um copo frágil.
E o costume é o pior inimigo
Ele que produz esses risos forçados
Produz essa armadura frágil
Produz esse vazio angustiante no peito
Ele que nos suga a vida
Porque no fim, não vivemos.
E esse espinho, ereta minha coluna
Mas tem quebrado com peso dessa dor
E ninguém vê
Porque o costume me mantém em pé.
O nilismo estreita pelas bordas até sufocar
Mas estou sempre em sufoco
Sempre em dor
Sempre em telas vazias
Uma arte, nunca salvou um artista
Mas o que seria de mim
Sem a poesia para me escutar.
— Saturna
Milena