Colcha de retalhos

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Colcha de retalhos

Esse peso sempre volta
Não posso encarar seu final
Me põe para dormir
Por horas eu desejo não existir

Desfaço no ar para não ser percebida
Sim, está certa
Me culpo por ter nascido
E não posso impedir está avalanche de dor
Toda vez que meu aniversário se aproxima

Sou a escória, o caos motivador
A assombração desta casa
Uma pedra em seus sapatos
Um sangue suga indesejável
Não aceito seu carinho piedoso

Não enxergo motivos
Entre tantos escombros desta sensação
Ainda poderia me entregar a cova destes leões famintos

Sou uma sensível pena que flutua
Pode se desfazer ao mero toque
Odeio todas minhas singularidades
Simplesmente por não serem minhas

Entendes? Não tenho direito de existência
Meu eu é a soma de ideais e expectativas
Que se quebra sozinho
Volta a remendar-se
Uma colcha de retalhos

Neste universo tão vasto
Sou meramente um átomo solitário
Em processo de frixao
Prestes a desmontar

Eu não poderia me amar ou odiar
Sem a opinião de outro alguém
Porque não existo
Não penso, mal sinto

Poesia monta as silhuetas
De quem eu poderia ser
De quem talvez eu seja, mas não permito
És meu único refúgio
Em meio às ondas terríveis que me pressionam ao fim

Meramente sob toque bruto deste lírio rosa
Desfaço no ar

Para sempre este remendo de expectativas
Onde a linha da costura é movida pelo medo singelo
Apegado a alma destes recortes
Que tão bem emendo em minha carne
Para que não quebre sob a tempestade
De seus olhos castanhos

Para que em frente a este espelho
Fulmine a falsa identidade cravada em minhas sinapses
E sustente este fino fio
Que minha vida se equilibra
Não por maestria, mas sim pelo medo da queda.

— Saturna
M.B

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