A chuva caía incessantemente, formando um véu translúcido que obscurecia o horizonte. Gotas pesadas chocavam-se contra o solo, criando um ritmo constante. De repente, um trovão rasgou o céu, iluminando a escuridão com um clarão brilhante, enquanto o estrondo retumbante ecoava pelas montanhas. O aroma fresco da chuva enchia o ar, era surpreendente como o clima podia ter mudado tão rapidamente. Há apenas algumas horas, o céu estava límpido.
A mulher de longos cabelos vermelhos, não gostando de tempestades, trancou as janelas laterais e seguiu para a sala para fechar as cortinas. Parou a poucos passos, aliviada com a cena que se desenrolava em seu tapete.
O corvo e seu filho conversavam avidamente como velhos amigos, e um suspiro de alívio escapou de seus lábios. Desde o incidente com Kakashi, seu pequeno oscilava entre ficar deprimido e a criação de planos mirabolantes de fuga. Partia-lhe o coração ver o quanto ele sentia a ausência do companheiro. No entanto, sabia que não podia interferir. Kakashi ainda era muito jovem e poderia ter perdido a vida tão cedo,por culpa dela e de Minato o haviam envolvido nessa grande confusão. O mínimo que podia fazer agora era garantir que ele tivesse tempo adequado para descansar e se recuperar.
E honestamente, ela até tinha simpatizado com o jovem corvo. Era triste que garotos tão jovens já tivessem uma experiência tão sangrenta em seus currículos, mas esse era o caminho Shinobi, e seriam essas habilidades que manteriam seu filho seguro.
O som de um riso que havia se tornado quase esquecido ecoou quando o ANBU fez aparecer um corvo em seu ombro esquerdo. Naruto parecia animado em querer ensinar truques à ave. Mas de repente, ele se levantou e disse algo que deixou o mais velho o olhando com confusão.
— Estou falando sério. — Bateu o pé insistindo no assunto com o outro, que apenas desviou o rumo do diálogo.
A conversa continuou até que alguns minutos depois, o jovem se levantou rapidamente e assumiu uma posição de alerta, colocando Naruto atrás dele e deixando a mão pousar na kunai presa à sua farda.
— Tem uma presença se aproximando. Vou enviar meu corvo para verificar. Kushina-San por favor, leve o pequeno para o andar de cima, até que seja seguro.
Antes que pudesse acalmá-lo, Naruto chutou sua canela e completou com um pisão em seu pé, mostrando os dentes banguelos tão ferozmente que o choque roubou completamente sua atenção.
— Não ouse. — Sua voz era baixa e tranquila, mas algo em seu tom parecia uma ameaça velada. Os instintos de Itachi dispararam, e seu corpo reagiu, colocando distância entre eles. Assim que se deu conta de sua reação, balançou a cabeça, achando a atitude ridícula. Afinal, Naruto era apenas uma criança.
Ele mal teve tempo de racionalizar o ocorrido quando Kushina deixou escapar um grito alarmado.
— Santo inferno. — O corvo seguiu o olhar dela até a janela. Debaixo da tempestade, estava um lunático respirando contra o vidro, o cabelo caindo sobre a testa, e seu único olho exposto o encarava como se quisesse arrastá-lo para um abismo de escuridão. A máscara que cobria metade de seu rosto não era suficiente para esconder a expressão terrorista em seu rosto.
— Esse cachorro louco devia pegar alguns calmantes.
— Lobo! Eu disse que ele vinha. — Naruto comemorou, mas sua mãe o impediu de correr para a chuva com um comando para esperar enquanto ela iria até a porta.
Itachi relembrou o aviso de Naruto enquanto brincava com o corvo, mas não tinha como o menino ter sentido a presença daquele cara antes dele. Não havia a menor chance de isso ser possível.
— O que está fazendo na chuva, querido? — Ela abriu a porta com um tom meigo e indicou para que ele entrasse.
— Sai pra caminhar nas montanhas e acabei sendo pego pela chuva.
— As montanhas ficam do lado oposto. — Kushina sorriu, pegando um casaco pendurado atrás da porta e o pôs sobre os ombros do platinado.
— Devo ter me perdido em algum momento. — A mulher sabia que aquela era uma péssima desculpa, mas fingiu acreditar. Uma parte dela estava aliviada em saber que Naruto não era o único sentido tanto a separação.
Naruto correu para abraçá-lo, mas o platinado recuou, tentando evitar que ele também acabasse todo molhado. No entanto, o coraçãozinho do garoto não entendeu esse detalhe, então seu corpinho parou no lugar, seus lábios tremeram, e seus olhos se encheram de lágrimas.
— O sensei disse que as pessoas crescem e deixam o ninho como os passarinhos. — Sua voz trêmula começou a balbuciar em tom de choro — O meu lobo se cansou de mim?! Se tornou um passarinho e não quer mais morar no meu ninho de carinho. Mas eu não gosto dos passarinhos, eu só gosto dos lobos e da raposa — E então como uma barragem que havia acabado de se romper o pequeno caiu em lágrimas em um choro tão escandaloso quanto a tempestade do lado de fora — Mas eu só quero o meu lobo, porque ele é tão macio e cheiroso.
— Você fez a criança chorar, seu velhote insensível. — O de cabelos pretos pisou firme em direção ao menino se ajoelhando ao lado dele e pondo a mão em seu ombro.
— Nós temos praticamente a mesma idade, seu sangue suga emocional. — O lobo estava tão furioso que seu pé se ergueu em um golpe raivoso, mirando um chute direto na máscara do outro, que conseguiu desviar por pouco.
Kushina mal teve tempo de se posicionar entre os dois adolescentes, pressentindo que sua sala estava prestes a se transformar em um campo de batalha iminente. O ciúmes, o excesso de proteção e o senso de competição deles estavam prestes a explodir em um confronto emocional. Foi quando ela ergueu a voz com autoridade e disse apenas uma palavra:
— Porra! — Todo o som parecia ter sumido da mansão à medida que o palavrão ecoava pelas paredes.
Assim que teve certeza que os dois merdinhas estavam paralisados demais para reagir, ela voltou sua atenção para o filho, o coitadinho não fazia ideia da confusão.
— Estou sentindo, minhas forças falecendo. Está tudo esculo, um ablismo de… — Deu uma olhadinha para a mãe e sussurrou "qual a palavra que o papai sempre usa quando estou com o Kashi?" Abandonado, a ruiva sussurrou de volta.
— Sim, um ablismo de abandono, aí, meu colação. — Pós a mão sobre o lado direito do peito se curvando sob os joelhos.
A ruiva considerou interromper a cena teatral ou compactuar com ela. Estava se tornando cada vez mais difícil esconder a vontade de rir da cara dos dois idiotas, muito bem treinados, considerados gênios excepcionais, capazes de identificar farsas e emboscadas com facilidade, sendo totalmente incapazes de desvendar o drama infantil de Naruto.
Que Deus nos ajude, se Naruto um dia decidir se tornar um Hokage.
— Acho que meu filho teve muita emoção para um dia. Vou levá-lo para cima. — Um trovão iluminou o céu deixando mais explícito a expressão feroz da mulher — Já você vá se trocar antes que pegue um resfriado. Corvo, você pode ficar à vontade para ir embora mais cedo se desejar. — A ruiva começou a subir as escadas com seu filho, que estava exausto em seus braços, mas parou e olhou para trás. — Se eu ouvir qualquer coisa que se pareça com uma discussão, vou mandar vocês dois para o "ablismo do abandono
O menino foi colocado sobre a cama de seu quarto, e o click da fechadura soou logo em seguida.
— Pode parar com a atuação agora, mini Minato com a dicção do cebolinha.
— Oi, mamãe — Sorriu envergonhado.
— Sou casada com seu pai a tempo suficiente para reconhecer esses dramas. Imaginei que você pudesse puxar esse lado distorcido da personalidade dele. — Ela afagou os cabelos loiros com um sorriso acolhedor. — Mas não deixe que isso se torne um hábito de mentir, entendido?
— Sim, mamãe!
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— Sasuke, cheguei!
— Estou vendo — O menor não se dignou a desviar o olhar do desenho que rabiscava.
— Sabe, o loirinho é bastante sensível, então seja legal com ele. — Comentou colocada a embalagem com Udon para o jantar sob a mesa.
— Fique longe dele, seu sangue suga! — Seu irmãozinho cuspiu de repente com um olhar enojado, e saiu pisando forte para o quarto com o desenho de um garoto loiro com roupas brancas e uma versão dele mesmo vestido de preto, cercado por muitas flores. Espera aquilo na cabeça do Naruto era um véu?
— Sasuke, você ainda é muito jovem — O mais velho gritou de volta, mas tudo que recebeu como resposta foi uma porta batendo.