𝐏𝐀𝐑𝐀 𝐎 𝐐𝐔𝐄 𝐄𝐑𝐀𝐌𝐎𝐒 𝐀𝐍𝐓𝐄𝐒 (𝐞 𝐭𝐮𝐝𝐨 𝐝𝐞𝐩𝐨𝐢𝐬)

[𝐈𝐈]. 𝑪𝑶𝑵𝑻𝑹𝑨 𝑨 𝑽𝑶𝑵𝑻𝑨𝑫𝑬, 𝑼𝑴 𝑷𝑶𝑼𝑪𝑶 𝑫𝑬 𝑺𝑼𝑨𝑽𝑰𝑫𝑨𝑫𝑬

... BELLE ESTÁ... APENAS IMAGINANDO... Certo? Quer dizer, o som havia sido tão fraco e rápido, que não tinha certeza se de fato aconteceu.

— Psiu!

Àquela altura, Belle não era mais uma estranha para vozes de passagem; de fantasmas curiosos. A energia ocasionalmente se aproximava dela, era normal – apesar de ela achar improvável que algum deles passasse a barreira que cercava o Acampamento, mesmo que estivessem curiosos a respeito da filha de Hades. Tratando como se tivesse sido exatamente aquilo, se recusou a fazer um único movimento que indicasse que havia escutado alguma coisa. Ter que lidar com um fantasma andarilho irritante realmente não estava nos planos dela para aquela noite, não quando estava tão disposta a deitar e a dormir, descansar sua mente.

Não houve uma mínima contração nos músculos de seu rosto ou uma pequena pausa em sua respiração que fosse o suficiente para denunciá-la. Como Belle fazia todas as noites, permanecia deitada de costas, os dedos parcialmente cruzados, as mãos descansando sobre seu estômago.

— PSSS.

Sensacional.

O segundo chamado foi tão cheio de urgência que Belle não tinha como dizer que era apenas uma alucinação auditiva. De repente, ela está cheia de pavor. E não foi pela possibilidade de que ao abrir os olhos, encontraria uma entidade pairando sobre ela. Honestamente, Belle meio que desejava que fosse isso o que a aguardava. Ao menos assim estaria mais interessada.

Mas não, Belle sabia que o som veio de ninguém menos que a pequena criaturinha que dormia na cama ao lado dela. Após essa realização, não havia como deixar de estar totalmente ciente de sua pequena presença bem ao lado de sua cama.

Belle tinha que dar crédito a ele, entretanto. Em nenhum momento o ouviu se aproximar – para ela, a fim de continuar com suas andanças, meio que teve que se acostumar a acampar e dormir ao ar livre, portanto, condicionou uma parte do seu cérebro a sempre permanecer alerta para qualquer presença que se aproximasse dela; assim nunca seria pega desprevenida.

Era impressionante que apesar disso, Nico Di Angelo conseguira se aproximar sem ser imediatamente notado... Um passo silencioso como o dela? Essa era a primeira vez que via alguém que conseguia fazer o mesmo.

— O que?

Nico fica tenso, sua mão volta para o lado de seu corpo. Ele estava apenas questionando se Belle ainda estava viva, a julgar pelo seu peito que mal subia e sem saber o que fazer depois da sua falta de resposta, pensou que dar uma pequena cutucada nela provocaria uma reação, mas pela frieza em seu tom de voz, ficou feliz por não ter testado isso.

— A-a estátua... — Nico não se atreveu a olhar para a peça de mármore, o olhar fixo no inexpressivo de Belle.

— O que que tem a estátua?

— Piscou.

Nico esfrega as palmas das mãos suadas nas calças do pijama, não sabendo bem o que sentir quando tinha uma estátua de um deus grego o olhando.

Nas últimas noites, enquanto estava deitado em sua cama, sempre voltava para a mesma conclusão. Ele não poderia ser o único que achava que dormir em um quarto com uma estátua estranha era meio assustador.

Claro, era apenas pedra, mas às vezes parecia que estava o olhando. Ele pensou que estava apenas imaginando a princípio. Bianca o disse que tinha o hábito de se assustar à toa, mas isso não o impediu de dormir com os lençóis sobre a cabeça.

Esta noite, porém, no delírio de um despertar aleatório, cometeu o erro de olhar. Sua visão era nebulosa, mas tinha certeza do que via. A estátua piscou. Limpo e rápido como se fosse suposto desde sempre fazer aquilo. Foi mais do que já viu Belle piscar, e ele já está no mesmo Chalé que ela há dois dias.

— Faz isso de vez em quando.

— O que? — A voz de Nico estava cheia de tanta emoção que Belle poderia praticamente ver a cara que ele estava fazendo por trás de suas pálpebras – que ainda estavam fechadas. Imaginava a cara assustada que o Sr. D a fez identificar na "terapia" logo que ela chegou ao Acampamento após o acidente. Foi tão cômico para ela que quase sorriu.

— Vá dormir. — Um gemido sai dos lábios de Nico e em resposta a isso, Belle ergue no alto seu dedo indicador. — Sem choramingar. Nós não somos os únicos nesse Chalé.

— Mas-

— Ainda choramingando. — Ela aponta. Nico fica quieto e permanece assim por um tempo. Levando em consideração a maneira silenciosa com a qual se movera anteriormente, Belle presumiu que se retirou para a cama, mas assim que o ouviu limpar a garganta, Belle desejou poder ser possível revirar os olhos estando fechados.

— Eu estou com medo.

— E o que você quer que eu faça sobre isso?

— Não sei. Quando estou com medo, minha irmã-

— Eu não sou sua irmã.

Nico franze a testa, mas permanece imóvel em seu lugar. Com o passar dos segundos, a consciência da presença dele começou a irritá-la.

— Ugh.

O olhar cansado no rosto dela faz Nico se encolher e Belle joga as pernas para o lado. Outro suspiro a deixa e então marcha para o lado do espaço dele. Ele espera enquanto Belle puxa com brusquidão um lençol velho que tinha e o joga sobre a estátua – aquela estátua de Hermes havia sido colocada por alguns dos filhos mais velhos do deus com o único objetivo de assustar os novatos que não entendiam muito bem do mundo mágico. Pelo visto, estava dando certo.

— Pronto. Feliz? Ele não pode olhar para você se não puder vê-lo.

— Agora parece apenas um fantasma. — Nico diz, o medo ainda em seu rosto.

Um estalo ecoa pelo Chalé no momento em que a palma da mão de Belle encontra sua testa.

Medo de fantasmas? É sério? Belle estava prestes a lhe dizer para se acostumar com isso, mas antes que pudesse, uma ideia surge em sua mente.

O que quer que o fizesse me deixar em paz...

Rapidamente, Belle caminha até suas coisas, as mãos procurando por um marcador permanente preto – um dos muitos que pertenciam a Connor Stoll, que não podia ver alguém no Chalé Onze vacilando dormindo para rabiscar-lhes o rosto. Uma vez ao seu alcance, posiciona silenciosamente uma cadeira diante da estátua de pedra e ficando de pé sobre ela, desenha.

Dois círculos para os olhos e uma boca aberta sorridente.

Afastando-se para ver seu rabisco, Belle decide que era uma visão refrescante em comparação com o rosto geralmente estoico do deus – ela também não deixaria passar a oportunidade de brincar um pouco com a cara dos deuses.

— Melhor? — Ela pergunta, o tom ainda entediado enquanto fechava o marcador.

Os olhos de Nico se iluminam, um sorriso crescendo em seu rosto. Quem teria medo de um fantasma feliz? Ele acena alegremente e Belle desce, revirando os olhos com toda a situação.

Não. Acalme-se, Belle. Não há ninguém nesse Acampamento com a mesma visão sobre fantasmas além de você.

— Vá dormir. — Ela ordena novamente, e Nico acena, mais disposto do que estava há alguns minutos. Quando os dois voltam para sob as cobertas, o garoto olha para o outro lado do espaço mais uma vez.

— Boa noite, — ele diz suavemente. Belle o encara por um momento.

Ele sempre diz isso, apesar de ela nunca dizer de volta. Sob seu olhar, ele espera com expectativa, mas Belle nunca retorna. Assim como todas as noites, se deita sem dizer uma palavra.

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O jogo de capturar à bandeira definitivamente não era algo na qual Belle gostava.

No verão, raramente participava, sempre vindo com as mesmas desculpas – que eram verdadeiras por sinal – de que o calor e a umidade a davam vontade de raspar sua pele fora com uma lâmina cega de um barbeador. Normalmente, aquelas desculpas eram o suficiente para fazê-la se safar, contudo, o Sr. D decidiu apontar que nessa época do ano, as coisas que mais odiava simplesmente não seriam um problema. Aquele simples comentário foi o suficiente para que Quíron se encarregasse de garantir com que ela comparecesse.

Bom, Belle odiou.

Forçada a criar estratégias com Thalia e Percy, mais uma vez é lembrada de que o clima e o tempo não eram as únicas coisas nas quais desprezava. Foi lidar com todos os outros também.

— Eu vou lidar com a ofensiva. — Thalia ofereceu. — Você cuida da defesa.

— Oh. — Percy hesitou. — Você não acha que com seu escudo e tudo, você seria uma melhor defesa?

— Bem, eu estava pensando que seria um ataque melhor. — Disse Thalia. — Além disso, você teve mais prática na defesa. O que você acha, Bella?

O olhar dela alternava entre os dois, que esperavam ansiosamente por sua opinião. Ansiosos para saber de que lado ficaria.

Ela odiava ter sido obrigada a ficar na liderança pelo simples fato de ser uma criança dos Três Grandes. Como se já não bastasse aqueles dois abusando – mesmo que inconscientemente – de suas auras mágicas.

A tensão entre eles é outra desde que voltaram após resgatar Nico e sua irmã, o que levou Annabeth acabar machucada no processo – ferimentos esse que a colocaram fora daquele jogo, quer dizer, por mais que seus ossos não estivessem mais obviamente quebrados, aquela havia sido uma recomendação de Quíron e Lee Fletcher. Afinal, Néctar e Ambrosia só aceleravam o processo de cura de um osso quebrado. Não necessariamente os remendando imediatamente.

Voltando, não era como se não houvesse tensão entre aqueles dois antes, – Belle via claro como o dia o desconforto de Percy por ter sido jogado de lado no momento que Thalia Grace entrara em cena, o que era injusto, considerando tudo que o fizeram passar (toda aquela situação era apenas mais um dia normal na vida de Belle) – mas agora, ela podia sentir o cheiro da luta pelo poder e fedia.

— Eu não poderia me importar menos. Discutam entre vocês.

Com isso, ela se vira, procurando o garoto que, surpreendentemente, não está parado atrás dela como uma sombra – como normalmente ficava. Seus olhos vasculham a multidão por alguns segundos até conseguir localizar o que parece ser uma pilha de peças de armadura flutuante ao lado dos Stoll.

Um pequeno suspiro deixa seus lábios. Quem o deu tudo aquilo definitivamente está armando para que falhasse e, a julgar pelas risadas mal contidas dos Stoll, Belle tinha uma boa noção de quem está torcendo pela queda de Nico.

Belle franze a testa com isso. Ela sabia que Connor e Travis Stoll gostavam de pregar peças. Sinceramente, não se importava com isso, mas acontece que Nico era uma coisinha minúscula. Uma coisinha minúscula sem treinamento nenhum. Fazer algo como aquilo quando estava prestes a participar de um jogo violento era... Cruel.

O menino, dolorosamente inconsciente disso, apenas abre um sorriso brilhante para Belle – sua janelinha se destacando –, muito animado para o jogo que estava por vir. Preguiçosamente, ela caminha em direção a ele, que imediatamente começa a pular alegremente, sua boca pronta para bombardeá-la com perguntas.

Entretanto, Belle ergue a mão antes que pudesse e diante da palma da mão estendida dela, Nico congela, obedecendo ao seu comando silencioso.

— Você precisa apertar isso.

Ele olha para si mesmo, seu capacete balançando em seus olhos, se esforçando para afastá-lo.

— Qual parte?

— Tudo isso. — Belle retruca. A tristeza que brilha nos olhos dele não deveria tê-la afetado. Fechando os olhos para se recompor, Belle se endireitou. — Depois daremos uma armadura melhor para você, tudo bem? Eu vou te ajudar.

Nico acena com a cabeça, o olhar suavizando quando ela começou a ajustar as tiras de sua armadura. Belle as puxa o máximo que pode, empurrando o menino da esquerda para a direita com isso.

Uma vez que cada alça não pode mais ser apertada, dá um passo para trás para dar uma olhada. Não adiantou muito, mas pelo menos, seu peitoral estava razoavelmente confortável contra seu peito pequeno.

— Okay, garoto, fique fora do caminho e tenha cuidado com essa coisa. — Nico olha para sua espada, que provavelmente é pesada demais para ele. Belle cerra os olhos. — Precisamos conseguir outra arma para você também. Deuses, quem fez sua orientação? — Nico aponta para os Stoll que estão ocupados com outros campistas. Enviando um olhar furioso na direção deles, ela bufa: — Claro.

— Heróis! — Quíron chama, rapidamente chamando a atenção de todos. — Vocês conhecem as regras! O riacho é a linha divisória. Equipe azul – Acampamento Meio-Sangue – deve ficar com a floresta a oeste. Caçadoras de Ártemis – equipe vermelha – deve ficar com a floresta leste. Eu servirei como árbitro e médico do campo de batalha. Sem mutilação intencional, por favor! Todos os itens mágicos são permitidos. Para suas posições!

— Eu ganho itens mágicos!? — Nico grita fazendo Belle se encolher. Ao lançar um olhar frio em sua direção, ele se encolhe timidamente, seus olhos cheios de desculpas hesitantes.

— Não. Lembre-se do que eu disse. Fique-

— Fique fora do caminho e ter cuidado com minha espada. — Nico termina sua frase e sorri diante do evidente desgosto tomando a expressão de Belle.

Apesar disso, os olhos dela piscam ao longo de seu pequeno corpo – uma última e rápida verificação.

— E não se machuque.

Nico, para surpresa de ninguém, se machucou.

Honestamente, Belle não poderia estar chateada com ele, não é sua culpa de que acabou sendo pego em um feitiço.

Uma certa campista de Hécate fez o excelente trabalho de simplesmente errar todos os alvos, fazendo com que Nico – que estava parado no campo externo – se tornasse um alvo gigante. A força sozinha o mandou para trás alguns metros e ele deslizou pelo campo como uma boneca de pano por mais alguns metros depois.

Enquanto estava caído em estado de choque, Belle realmente pensou que ele havia morrido – apesar de ter sentido que não. Antes que Belle pudesse abrir o chão para engolir a tola filha de Hécate, ele gemeu e tropeçou de pé em seus pés. Sorte para ela, extremamente decepcionante para Belle. Fazia algum tempo que não usava os truques que tinha sob as mangas – isso não a impediu de lançar um olhar para a garota, que foi o suficiente para fazê-la correr dali.

Quer dizer, como ousa usar um feitiço no qual não tinha domínio perto de um novato sem nenhum treinamento? Não só isso, mas também perto de outros campistas no geral?

Ela estava quase indo para o lado dele e o guiar até a enfermaria, mas é claro que Percy e Thalia tiveram que começar uma briga.

— O que em nome dos deuses você estava pensando?! — Thalia praticamente rugiu.

— Eu peguei a bandeira, Thalia! — Percy respondeu no mesmo tom enquanto balançava a bandeira vermelha. — Vi uma chance e aproveitei!

— Eu estava na base delas! — Thalia gritou — Mas a bandeira tinha sumido! Se você não tivesse se intrometido, nós teríamos ganhado!

Deuses, como isso é ridículo. Típico de Zeus e Poseidon, acho.

— Havia muitas em cima de você!

— Ah! Então agora é minha culpa?!

— Eu não disse isso!

Thalia empurrou Percy. Belle viu quando um choque passou por seu corpo e chegou até Percy, o empurrando três metros para trás, bem dentro da água. Alguns campistas pularam de susto, algumas Caçadoras soltaram risadinhas zombeteiras.

— Desculpe! — Thalia ficou pálida — Eu não queria-

Antes que sequer chegasse a completar sua frase, uma onda se ergueu e avançou sobre ela, a encharcando da cabeça aos pés.

Percy se levantou.

— É. — Sua mandíbula estava cerrada. — Eu não queria também.

— Basta! — Ordenou Quíron.

Mas Thalia segurou sua lança.

— Você quer um pouco, Cabeça de Alga?

— Pode vir, Cara de Pinheiro.

A Contracorrente de Percy estava erguida, mas antes que pudesse ao menos se defender, Thalia gritou, e uma explosão de raios desceu do céu, atingiu sua lança como um para-raios e chocou-se contra seu peito.

Ele caiu sentado duramente. Suas roupas estavam queimadas.

— Thalia! — Disse Quíron — Já basta!

Colocando-se rapidamente de pé, Percy simplesmente levantou o riacho inteiro com ele. Centenas de galões de água rodopiavam perigosamente numa nuvem maciça e gelada em forma de funil.

— Percy! — Quíron protestou.

Ele estava quase para arremessar tudo aquilo em cima de Thalia, mas acontece que Belle teve o suficiente do espetáculo daqueles dois palhaços de circo.

Erguendo uma de suas mãos, fez um simples aceno – como era de se esperar, as sombras responderam rapidamente ao seu comando, como uma extensão de seus braços – e os dois foram puxados com um solavanco violento e jogados sem cerimônia no chão. A água se espalhou de volta na base do riacho, espirrando ao redor.

— Chega. — Ela disse. Sua voz soando gelada e perfeitamente audível para todos ali. — Vocês já se envergonharam e a esse Acampamento o suficiente por hoje. Vão lamber suas feridas e consertar seus insignificantes egos feridos em outro lugar.

Ela os olhou bem nos olhos, os desafiando a questioná-la. Sua aura escurecendo e esfriando rapidamente – a grama ao redor há muito havia amarelado e morrido. Ela não tinha nenhuma da hesitação que os outros campistas tinham em se intrometer.

Belle voltou sua atenção para os outros campistas e as Caçadoras que ainda estavam atentos à confusão.

— E vocês? Por que ainda estão aqui? O jogo já acabou, parabéns às Caçadoras e toda essa besteira, agora voltem às suas atividades. 

Como o apertar de um botão, a comoção começou a se dispersar.

— E isso Nico. — Disse Lee Fletcher bem baixinho enquanto o ajudava com seus machucados. — É como uma disputa de poder entre os meios-sangues mais poderosos desse Acampamento acontece.

— Uau. — Foi tudo o que conseguiu dizer. Ele não tirava os olhos de Belle, apesar de assustadora, ela era bem legal. Estava tão impressionado com a demonstração de poder, que por alguns segundos havia se esquecido de sua dor excruciante.

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— Bem, você definitivamente tem ferimentos contundentes em todos os lugares. — Diz Fletcher, removendo as mãos do abdômen de Nico. O menino reclinado na cama se encolhe com os hematomas que já se formam ao longo de suas costelas. Parecia muito ruim. Tanto que Belle decidiu que seria cruel dizer-lhe para parar de chorar. — Mas você não tem sangramento interno nos pulmões, então pelo menos não vai se afogar nele.

Apesar do sorriso amistoso e quente que Fletcher lança para Nico, não é o suficiente para tirar a expressão de horror em seu rosto.

Deuses...

— Nada que Ambrosia e Néctar não possam consertar. Você ficará bem em alguns dias. — Fletcher ajuda o menino a se sentar na cama. Ele passa a ele um pequeno copo de néctar e ordena que beba enquanto pega o que precisa para o braço de Nico.

Uma fungada deixa o menino enquanto ele observa a bebida.

— Qual é o gosto?

— Depende da pessoa. — Belle se recosta na cadeira e cruza as pernas. — Geralmente tem gosto de algo nostálgico, uma comida ou bebida favorita. Você não saberá o que é para você até que experimente.

Nico acena com a cabeça e hesitante, toma um gole. À medida que os sabores se estabelecem em sua língua, seus olhos se arregalam progressivamente. A próxima coisa que ela vê é que está engolindo como se não bebesse nada há dias.

— Tem gosto dos biscoitos de nozes que eu comi no Hotel onde eu estava!

Belle acena com a cabeça em resposta, tendo uma vaga lembrança de Nico contando sobre um lugar em que ele e sua irmã viveram por um tempo. A contou muito sobre isso, acontece que ela simplesmente não estava prestando muita atenção na maior parte do tempo – preocupada demais com a súbita ausência de Noir.

— Entendo...

— Eu gostei mais deles porque me lembrou os biscoitos que minha mãe comprava para nós.

Nico olha para o copo, seu sorriso vacilando a cada segundo. Há uma sombra pairando sobre seus olhos e Belle ergue uma sobrancelha. A tristeza que tomava conta de suas feições parecia estranha. Bom, era óbvio que Belle o vira chateado antes, acontece que aquilo não parecia ser a mesma coisa, sabia o suficiente para reconhecer essa expressão como angústia.

— O que foi? — Sua voz soou mais interessada do que pretendia. Movendo-se em seu assento, Belle se perguntou porque fizera a pergunta. Vulnerabilidade não era realmente algo no qual buscava. Dava um gosto muito ruim na boca.

— Eu só estava me perguntando se Bianca provaria a mesma coisa... Mas ela nunca comeu os biscoitos comigo...

Um zumbido deixa seus lábios. Belle não sabe muito sobre aquela irmã dele, mas sabia de duas coisas: primeiro, Belle estava lá, ao lado dele enquanto ferido e ela não – ocupada demais estando na presença da Tenente das Caçadoras de Ártemis. Em segundo lugar, sua ausência deixou Nico chateado.

Mesmo que estivessem no mesmo Acampamento no momento.

— Entendi... — Sua visão está grudada na pequena janela ao seu lado. Situado nos campos com campistas à frente, ignora o olhar ardente de Nico. — Não gosto do sabor do meu Néctar ou Ambrosia.

— Por quê?

— Os sabores me lembram... Sensações desconfortáveis. Talvez... Sua irmã provavelmente não comeu esses biscoitos por um motivo semelhante. É muito. Muitas coisas ligadas às coisas que mais se gosta... Apesar de eu não lembrar quais são elas. — Nico está em silêncio, olhando para o copo de papel em suas mãos como se estivesse procurando por algo. — Nico, há uma coisa que você precisa saber.

Ele desvia o olhar para Belle.

— O que? — Pergunta em toda a inocência infantil que tinha reunida dentro de si.

— Você fará amigos, terá amantes, terá uma família, mas no final das contas, a única pessoa que realmente tem é você mesmo. — O menino se mexe em seu lugar às palavras dela, franzindo as sobrancelhas. — Não deixe que as pessoas roubem partes de você. Elas vão desapontá-lo, porque é assim que as pessoas são, independente do lugar que ocupam na sua vida. Espere por isso, então assim, com sorte, você não ficará triste.

O silêncio que se seguiu foi sombrio e sufocante. De certo era demais para alguém tão pequeno entender realmente o que queria dizer, mas Belle, se pudesse, gostaria de prevenir Nico passar por algo semelhante que ela quando chegara ali, portanto, quanto mais cedo soubesse como a vida que lhes era reservada funcionava, melhor.

— Com licença? — Uma voz chamou a atenção dos dois. Era outra das crianças de Apolo, pelo visto, uma das que eram voltadas para o lado da medicina. Belle semicerrou os olhos, ela vira aquele menino brilhante por ali pelo Acampamento, se não estava enganada, era Will Solace.

— Ah, oi... É Will, não é? Onde está o seu Conselheiro?

— Ele já está vindo, — disse com um sorriso enquanto se aproximava com uma maleta grande. — Enquanto resolve alguns problemas, me mandou vir na frente, já que eu também estou treinando para ser um curandeiro. Vocês precisam de alguma coisa?

Belle olha para Nico, que ainda estava fungando, mas não parecia mais em óbvia dor.

— Acho que não. Obrigada, Solace.

Ele sorriu simpático.

— Disponha.

Depois de dar outra olhada na condição de Nico, ele saiu do cômodo.

Pela primeira vez, Belle ficou feliz por Fletcher ter retornado em todo o seu brilho de filho de Apolo. Ele era melhor em animar Nico do que ela, isso era uma certeza.

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— Se você fosse se comportar desse jeito, seria muito melhor que nem tivesse participado. — Uma voz vindo detrás dele disse.

Apesar de ter se sobressaltado, Percy conhecia muito bem aquela voz ao ponto de nem precisar virar para saber quem era.

— O que? — Ele se virou e olhou diretamente para Bella.

— Se você fosse ficar tão distraído assim pela condição de Chase, seria melhor que não tivesse participado do Capturar à Bandeira e ficado ao lado dela na enfermaria. Assim não teria reclamado tanto das estratégias da filha de Zeus e quem sabe assim teríamos uma maior chance de vitória.

Percy não respondeu.

Como sempre fazia desde que a conhecera no último ano, tirou um momento para apenas ficar ali, a observando. Não sabia com exatidão quando havia começado a fazer isso, mas só sentia que precisava.

— Bom, é claro que eu estaria preocupado. Ela é minha amiga. Mas sabe, Bella... — Ele se aproximou lentamente dela, até que estava há poucos metros de distância. — Eu meio que estou bem familiarizado com a sua raiva... Mas não sei... Algo me diz que essa não é a razão de estar com raiva de mim, ou é?

Ele se aproximou um pouco mais. Apenas dois passos de distância os separavam.

Se tinha uma coisa que Percy precisava admitir sobre Bella, era que ela era muito boa em não deixar nada transparecer em seu rosto, – qualquer dia desses a recomendaria que jogasse pôquer – mas acontece que Percy havia passado um tempo considerável a observando, principalmente porque achava divertido entrar embaixo de sua pele, como agora. Portanto, aprendeu aos trancos e barrancos o que cada sutil movimento muscular queria dizer. Sabia quando havia raiva, surpresa e até um simples sorriso em seu rosto.

Inclusive agora.

Talvez fosse o fato de que estava ativamente procurando, mas conseguiu perceber claro como o dia a surpresa passando pelo rosto e perceber essa expressão em específico o deixou com uma satisfação que duvidava que fosse capaz de colocar em palavras. Apesar de ele não entender muito bem o porquê.

— Pelo visto os relâmpagos da filha de Zeus mexeram com alguma coisa aí dentro da sua cabeça já preocupantemente vazia, não é? — Bella respondeu com a voz fria. E sem mais, virou de costas e saiu pisando firme, rapidamente se misturando às sombras.

Percy ficou ali, com um sorriso no rosto.

Sim, era realmente divertido cutucar Belle De La Vie.