𝐃𝐞𝐬𝐞𝐧𝐜𝐨𝐧𝐭𝐫𝐨𝐬 | 𝙱...

By aPandora02

33.1K 3.7K 3.5K

Conseguir um emprego como faxineira no maior centro executivo de direção da S.H.I.E.L.D. foi a luz no fim do... More

❗Importante❗
~ Personagens ~
1 - Alpine
2 - Socializar
3 - Traidor Entre Nós
4 - Invasão
5 - Socorro
6 - Confia Em Mim?
7 - Rodovia (Parte 1)
8 - Rodovia (Parte 2)
9 - Companheiro Caído
10 - Lado Errado
11 - Eu Sou Daiana...
(Parte 2) 1 - O Pacto
2 - Passado E Futuro
3 - Suspeitos
4 - O que aconteceu?
5 - Sujeito Mascarado
6 - Sacrifícios
7 - Dallas
8 - Visita Ao Pesadelo
9 - Ruínas De Um Homem
10 - Viva Por Mim
(Parte 3) 1 - O Que Acontece Depois
2 - Seguir Ou Não Seguir?
3 - Em Frente
4 - O Que Você Omite?
5 - O Passado Sempre Volta
6 - Bons Amigos
7 - Um Novo Capitão América
8 - Digno
9 - Um Símbolo Ou Um Objeto?
10 - Um Quase
11 - Super-Soldados
12 - Convite
13 - Jantar
14 - Ameaça
15 - Ordens
16 - Zemo
17 - Madripoor
18 - Princess Bar
20 - Brownie
21 - Certo ou Errado?
22 - Abra Os Olhos
23 - Dog Tag
24 - Crianças
25 - Pessoas Confusas
26 - Ponto Fraco
27 - Não
28 - Sem Fôlego
29 - Medo
30 - Silêncio
31 - Dor
32 - Liberdade
33 - Planos

19 - Respira, Expira

267 37 82
By aPandora02

"As vozes na minha cabeça

Continuam me dizendo que vou (morrer)

E eu não quero falar sobre o drama,

estou traumatizado"

(Falling In Reverse – Voices In My Head)

Os corredores de iluminação baixa e de cor vermelha pelos quais passaram eram apertados e haviam muitos homens que encontraram pelo caminho, organizando e contando sobre mesas pilhas de dinheiro, armas e munição. Tentou não se focar muito nestes detalhes afim de não levantar suspeitas, sabendo que se apenas erguesse a cabeça e demonstrasse indiferença, como se tudo aquilo fosse comum para ela, os olhares que lhe dirigissem não seriam tão desconfiados.

Em Madripoor eram bastante rigorosos e desconfiados quanto a própria segurança em relação a estranhos, pois certamente já tiveram problemas com agentes infiltrados. Numa fila, Zemo liderava seguido por Daiana, Bucky, Sam e por último um homem desconhecido e armado que os observava atentamente de uma maneira desconfortável e nada discreta.

— Já devia saber, Barão — ouviram uma voz feminina e firme antes mesmo que todos tivessem adentrado o espaço que foram levados para se encontrarem com Selby.

A princípio Daiana pensara que se tratasse de um homem quem comandava aquele lugar, mas estava errada. No sofá, de maneira relaxada, estava sentada uma mulher num terno feminino e repleta de joias. Os cabelos eram bem curtos e platinados, olhando a cada um minuciosamente com superioridade.

— Ninguém entra no meu bar fazendo exigências — completou.

Um rápido olhar ao redor e conseguiram contar presente com eles quatro homens fortemente armados e mal encarados, fora a mulher no sofá e os que sabiam estarem no lado de fora e espalhados por todos o bar.

Estavam completamente cercados, pisando sobre ovos.

— Não é exigência — respondeu-a com confiança e calmaria, típica de sua pessoa. — É uma oferta.

— Muita coisa mudou desde que você esteve aqui — ela não parecia nada contente em mencionar aquela lembrança, mas seus olhos estavam presos em Bucky que seriamente a fitava de volta.

Zemo sentou-se em uma poltrona posta afrente da mulher para tratarem de negócios e por não haver outro assento livre próximo que não fosse ao lado de Selby, o trio permaneceu em pé apenas os ouvindo com atenção. Mantendo-se no personagem, Daiana esbanjou confiança e elegância com seus movimentos calmos aproximando-se de Zemo e sentando no braço da poltrona, cruzando as pernas de forma elegante também para esconder o coldre preso em sua coxa. O braço repousou sobre as costas do sofá e a outra mão sobre o próprio colo.

Seu movimento atraiu o olhar de Selby para ela que se demorou principalmente em sua perna exposta com o movimento, analisando-a de cima a baixo com claro interesse brilhando em seus olhos. Daiana fez uma anotação mental de que se necessário fosse, seduziria aquela mulher para livrá-los de qualquer problema.

Era bom saber que tinham alguma carta, mesmo que provavelmente pouco útil, na manga. Assumindo um olhar fixo e de cima, Daiana manteve contato visual com ela, esboçando um quase imperceptível sorriso satisfeito ao vê-la respirar fundo e mexer-se um pouco no sofá antes de piscar algumas vezes e desviar, com algum custo, o olhar para Zemo.

— A propósito, pensei que estivesse apodrecendo em uma prisão alemã — havia dúvida e desconfiança em sua voz. Ergueu as sobrancelhas, dedicando-lhe mais atenção. — Como você escapou?

— Pessoas como nós sempre acham um jeito, não é? — Respondeu com um ar misterioso antes de passar o braço pela cintura de Daiana, atraindo novamente a atenção da mulher para ela, pois não lhe passou despercebido o interesse que Selby demonstrou assim que a viu. — Esta é minha noiva, aliás — apresentou-a. — A estou inserindo e ensinando a respeito dos assuntos do nosso mundo — fez sua insinuação, referindo-se ao crime. — E sua primeira missão foi me tirar da prisão — sorriu para Daiana que, olhando-o de cima, sorriu minimamente, calada e discreta como foi instruída a ser. — Ela é muito competente em tudo o que lhe é pedido.

— Eu imagino que seja — esfregando suavemente o queixo com o polegar, havia um tom de malicia na voz de Selby, o que a Zemo agradava bastante, pois estava decidido a usar Daiana, ou pelo menos a sua imagem, para distraí-la e persuadi-la a aceitar suas propostas. — E de fato, muito bonita. Me impressiona que tenha se interessado pro alguém como você.

Diana manteve um discreto sorriso nos lábios vermelhos apesar do conflito entre querer rir por realmente acreditarem que ela se interessaria por Zemo, e repugnância por realmente acreditarem que ela se interessou por Zemo quando Bucky estava bem alí a dois ou três passos de distância deles.

— Mas eu tenho certeza de que já sabe porque estou aqui agora — com seu sotaque forte, voltou ao assunto principal que precisavam tratar.

Selby aparentou não gostar da mudança de assunto e sem desviar o olhar de Daiana, apontou para Sam ao seu lado e falou após breves segundos:

— Você é mais alto do que me falaram — então virou o rosto para a direção dele, que com o coração acelerado pelo temor de serem descobertos manteve-se imóvel —, Tigre Sorridente.

Então a tensão que momentos antes pareceu pesar sobre o ambiente foi parcialmente dissipada quando um sorriso se formou nos lábios marcados de rosa forte da mulher, que num ar um pouco mais leve dirigiu-se a Zemo que disfarçava muito bem seu igual temor:

— Qual é a oferta?

— Diga o que sabe sobre o soro do super-soldado — foi direto ao assunto e afastou sua mão de Daiana, que também se pôs em pé, para caminhar até Bucky que sem muito esforço permanecia completamente inexpressivo, olhando para um ponto fixo e vazio a sua frente.

— E eu lhe darei ele — completou tocando o ombro de Bucky, como se ele fosse algum tipo de moeda de troca, um objeto descartável ou algo do tipo que exigiu de Daiana muito esforço para se manter indiferente diante da situação. — Junto com as palavras secretas que o controlam, é claro — incluiu sabendo que oferecer o próprio Soldado Invernal era uma proposta muito tentadora e irrecusável para qualquer um em Madripoor.

— Esse é o Zemo que eu conheço — demonstrou, tanto em voz quanto em postura, o quanto estava relaxada e bastante confortável com todo o desenrolar, os olhos brilhando de interesse principalmente após ouvir aquela oferta. Sua mente trabalhava ansiosa pensando em todas as possibilidades que poderia fazer tendo o Soldado Invernal sob o seu controle. — Fico feliz por não te matar imediatamente. Tinha razão de ter vindo até mim. Arrogante, mas com razão.

Sorrindo satisfeito, Zemo retornou para o seu lugar na poltrona de couro com movimentos calmos.

— O soro do super-soldado — disse ela finalmente. — Está bem aqui em Madripoor. É ao Dr. Wilfred Nagel que deve agradecer ou... condenar — deu de ombros com pouca importância. — Depende do lado que estiver. O Mercador do Poder o mandou trabalhar no soro, mas... as coisas não saíram como planejado — não entenderam o porquê de ela dar uma fraca risada nasalada ao contar aquilo, mas também não questionaram, obviamente.

— E o Nagel ainda está em Madripoor? — O loiro questionou, pois era uma informação valiosa para eles.

— As migalhas você pode ter de graça, mas o pão vai te custar caro, Barão — levantou-se do sofá numa postura mais arrogante, caminhando lentamente até Daiana sem desviar os olhos de Zemo.

A morena sentia o coração pular mais forte em seu peito tentando se manter serena, mas pelo canto de olho via a forma mortal com que Bucky fitava as costas da mulher que se aproximava. Selby abriu a boca para dizer algo mais para Zemo quando um vibrar quebrou o breve silencio e todas as atenções foram roubadas a Sam que, muito nervoso apesar de se esforçar para disfarçar, enfiou a mão dentro do bolso interno de seu blazer ridículo e puxou de lá o celular que vibrava numa hora tão inconveniente.

Entretanto, olhando para o visor que brilhava, não era o seu.

Quando ele lentamente ergueu os olhos fixando diretamente em Daiana, ela sentiu toda a tensão de antes gelar por cada mínima gota de sangue que corria por suas veias. Zemo fechou os olhos e respirou fundo, desejando que aquilo não os atrapalhasse e que fosse quem fosse, apenas desistisse.

— É 'pra você — hesitante, disse a ela o que Daiana já sabia.

— Atende — imediatamente Selby ordenou olhando de um para o outro.

Engolindo em seco sem ousar olhar para qualquer um além de Sam, respirou fundo e se esforçou ao máximo, agora mais do que nunca, para se manter no personagem, caminhando com confiança até ele, apesar de sentir as pernas prestes a desabarem, e estendeu a mão pegando rapidamente o celular de suas mãos, para que assim seu tremor não fosse perceptível.

— No viva-voz — a de cabelos brancos mandou firmemente quando Daiana fez menção de levar ao ouvido.

No visor brilhava o nome John e ela nunca antes sentiu tanta raiva do marido, mas sentia ainda mais dela. Como pôde não conferir se o aparelho estava no silencioso antes de entregar a Sam já que seu vestido não possuía bolsos?

Sem pensar muito, aceitou a ligação.

Odiava ser o centro das atenções, mas ser o centro das atenções rodeada por homens armados e outras três vidas dependendo dela era ainda pior. Limpou a garganta e se esforçou para mantê-la alta e clara, sem nenhum resquício de medo:

— Alô?

— Ah, então resolveu me atender? — A voz masculina do outro lado da linha esbravejou. — Aonde diabos você está?

Sam e Bucky imediatamente reconheceram como sendo, muito alterada, a voz de John Walker e então ajeitaram suas posturas, tornando-se ambos mais tensos e atentos. Seria péssimo se em um lugar como Madripoor, descobrissem que a esposa do novo Capitão América estava disfarçada e entre eles. Zemo percebeu a pequena mudança na postura dos dois e franziu o cenho não entendendo, mas percebendo que seria alguém bastante indesejável no momento. Não tivera contato algum com John Walker, portanto não reconheceria a sua voz.

— Estou trabalhando — tentou se fazer de indiferente e confiante.

O ambiente estava tão silencioso e atento a ela que a risada amarga do Walker ecoou por aquelas paredes como uma tortura.

— No trabalho? — Repetiu com escárnio e tudo ficou pior quando Daiana sentiu as mãos de Selby tocarem seus cabelos por trás, afastando-os dos ombros. Sentia-se ameaçada e respirar normalmente estava se tornando difícil. — Eu estive no seu trabalho quando eu voltei para casa e não te encontrei, e sabe o que eles me disseram? Que você havia tirado férias de repente sem nenhuma explicação.

— Ah... — pense, pense... — eles disseram isso? — Tentou enrolar.

Tinha que fazer parecer que seu trabalho era envolvido com o crime.

— Eu mandei você ficar em casa, Daiana — gritou furioso. — Porque não me obedeceu?

A este ponto Selby intercalava um olhar suspeito entre Daiana e Zemo que tentava se manter indiferente, mas Sam tinha o cenho franzido fitando aquele celular um tanto espantado, pois não imaginava John, que se mostrara sempre tão calmo e paciente com um irritante sorriso nos lábios, poderia explodir daquela forma. Bucky, do outro lado, por uns instantes esqueceu que estava no personagem. Seus olhos fixos naquele celular eram repletos de raiva enquanto ouvia o tom agressivo do outro homem ao se dirigir a Daiana.

Daiana dissera brevemente, sem entrar em detalhes, que eles haviam se desentendido e que por isso decidiu ajudar a Bucky e Sam em relação aos Apátridas, e Bucky não insistiu por mais explicações ao perceber seu desconforto, apesar de seus esforços para tentar fingir que estava tudo bem. Pensou que seu desconforto com o assunto se devia por estar chateada por ter tido uma discussão com o marido e decidido se manter distante por um tempo por causa disso, e que ela ter se juntado a eles não foi meramente por birra, e sim porque concordava que John Walker não era adequado para o posto que ocupava como Capitão América.

Estava errado em fazer estas suposições?

Por que não me obedeceu? A voz dele ecoava pela mente do Soldado, como uma ordem que teria punição por não ser seguida. Por possuir olhos mais treinados e mais atentos que os dos demais, ele a viu estremecer no segundo em que foi dito, mesmo com a distância e a reação tenha sido muito sutil.

Infernos, Walker.

Enquanto ouvia a conversa, sua mente trabalhava em mil e uma suposições do que poderia realmente ter acontecido nas horas que se passaram após ter permitido que aquele sujeito a levasse embora no dia em que ele foi detido na delegacia. E todos os cenários que sua mente criava eram ruins e faziam seu sangue ferver. Não deveria tê-la deixado ir. Com isso, prometeu a si mesmo que no futuro, caso viessem a se encontrar numa situação semelhante a daquela noite, mandaria a boa conduta exigida pelo governo para o inferno e o enfrentaria com todas as forças se tentasse leva-la outra vez.

Não iria mais ignorar os seus instintos quando estes lhe dissessem que algo estava errado.

— Surgiu um imprevisto — tentou improvisar, coçando a testa com a outra mão e podendo respirar um pouco mais aliviada quando Selby se afastou dela para andar muito lentamente pelo ao redor. — Era importante e precisavam de mim. Eu volto assim que puder — tentou alí dar fim na conversa constrangedora ao mesmo tempo em que se obrigava a ser forte.

Sua mente estava girando. Apesar de querer afastar as cenas da última vez que o viu, continuavam voltando. Respira, Daiana. Não se entregue agora!

— Precisavam de você? — Repetiu em puro veneno e amargor. — Eu preciso de você, Daiana! — Esbravejou outra vez, ouvindo-se então o som alto do atrito violento de um metal, como se tivesse acabado de com muita força atingir uma porta de ferro ou algo do tipo. — Agora mais do que nunca depois daqueles dois imbecis terem me virado as costas — o trio sabia que ele se referia a Sam e Bucky. Este primeiro particularmente mais ofendido que o segundo. — As fofocas se espalham rápido. Não tem visto as redes sociais?

— Eu não tenho tempo 'pra isso... — evitava ao máximo dizer o nome dele, chamá-lo de querido ou qualquer coisa que insinuasse que ele era seu marido e o Capitão América.

Até agora estava indo bem. Se pegassem a conversa fora de contexto, fazia parecer que realmente tratavam de negócios. Outra risada, dessa vez mais rouca, alta e maléfica ecoou por breves instantes.

— Eu imagino o quanto você deve estar ocupada — Daiana franziu o cenho para a insinuação explicita em sua voz. — Imagine a minha surpresa em saber que Sam e Bucky também sumiram no mesmo período que você. Não é muita coincidência? — Estava citando nomes e o coração de Daiana começou a acelerar ao ponto de ela duvidar que conseguiria se manter firme por muito tempo. Ele a estava levando por um caminho perigoso. — Está com ele, não está?

— Isso é um assunto que deveríamos discutir pessoalmente, não por telefone — tentou firmar sua voz para parecer autoritário o suficiente para calá-lo e fazê-lo encerrar a ligação, sabendo que se a atitude partisse dela, levantaria ainda mais suspeitas.

— Eu adoraria fazer isso, mas você não está aqui. Está? — Com sarcasmo, não esperou que ela respondesse. — Escuta bem o que eu vou falar — agora sua voz tinha um tom mais baixo numa raiva contida e ameaçadora. — Ficou pior quando os nossos vizinhos imbecis espalharam que ouviram gritos antes de você sumir. Sabe a merda que você fez? Se eu não te encontrar antes, quando você voltar nós dois vamos discutir muito bem esse problema porque as pessoas estão comentando que eu, o Capitão América, perdi o apoio da minha própria esposa porque eu sequer sei onde você está.

O coração pulsava no ouvido da mulher quando a última frase foi dita e todos os olhares se voltaram arregalados em diferentes emoções para ela.

Os homens armados que a rodeavam, destravaram suas armas pesadas.

Selby parou de andar e abruptamente virou-se para a morena com os olhos arregalados.

— Você é a esposa do novo Capitão América? — Já não a olhava mais com admiração, mas sim raiva e desprezo. — Matem ela! — Ordenou aos seus homens.

No exato segundo em que apontou para Daiana, um tiro vindo do lado de fora atravessou a janela suja do prédio e atingiu a Selby direto no peito, fazendo-a cair no chão imediatamente numa poça do próprio sangue que se formava, sem mais nenhuma reação. Isso foi num segundo. Nem mesmo os homens tiveram tempo de erguer as próprias armas. Foi uma questão de instantes para que os presentes se recuperassem do choque e agissem pela própria segurança.

Daiana, sem perceber que entrava em choque, sobressaltou ao ouvir outro disparo, este muito próximo dela, e virou-se para trás a tempo de ver que o homem armado que estava atrás dela havia apontado a arma para suas costas, mas Bucky foi mais rápido em atravessar a sala e agarrar com a mão esquerda o cano da arma longa, de forma sua palma estivesse na ponta. Assim, quando o tiro que deveria tê-la atingido fatalmente foi disparado, na verdade a bala foi destruída ao se chocar contra o vibranium da mão de Barnes, aliviado por ter chegado antes da tragédia. Num movimento rápido, atingindo o atirador com o cotovelo na garganta após arrancar a arma de suas mãos, Barnes o havia derrubado em segundos.

Piscando de volta para a realidade, Daiana mal tivera tempo de se mover e todos os quatro homens que estavam presentes fazendo a guarda, agora estavam caídos no chão desacordados junto ao corpo morto de Selby. Sentiu seu corpo balançar.

Mesmo que não houvessem pessoas gritando, ela ouvia gritos desesperados a distância vindos de todos os lados. Mesmo que não houvesse fogo, ela podia sentir a fumaça sufocante entrando por suas narinas a fazendo querer tossir. De repente, os corpos agora no chão se tornaram pessoas de jaleco branco e aquela camisola azul que a HYDRA os fazia vestir as vezes, quando ainda acreditavam que estavam num lugar bom e os ajudariam a melhorar de vida.

Piscou e não estava mais no corredor da HYDRA quando o acidente que a fez salvar a vida da cientista Maya Hansen aconteceu. Agora estava na ponte, no mesmo dia que fugia do Soldado Invernal. Aos seus pés, o corpo ensanguentado de Selby se tornou o daquele homem que lutara com ela pelo seu cabo de vassoura, e de quem ela acabou cortando a garganta num movimento praticamente impensado, assistindo-o em pé com os olhos arregalados levando as mãos ao pescoço, tentando inutilmente conter os jatos do próprio sangue que respingaram no rosto da mulher, um pouco em seus lábios.

Ela ainda sentia aquele gosto.

O gosto de morte.

— O que eu fiz? — Com os olhos perdidos no chão, sussurrou para si mesma quase inaudível.

— Daiana — Barnes a chamou preocupado vendo que ela aparentava ter dificuldades para respirar com as mãos em volta da garganta observando aqueles corpos. — Olha 'pra mim — pediu se pondo na frente dela para barrar aquela visão e tomando seu rosto entre as mãos para força-la a olhar para ele. — Eles estão vivos, só desacordados — tentou consolá-la.

Infernos, Bucky! Repreendia a si mesmo. Sabia que deveria ter sido mais firme em recusar-se a deixar Daiana acompanha-los a um lugar tão perigoso, mas não era seu marido, dono ou algo do tipo para impedi-la de ir onde quisesse quando ela por si só havia concordado em participar, contanto que não precisasse matar ninguém. E ele havia prometido que não a colocaria em tal situação.

Falhou com ela, lamentava vendo o choque estampado em seu semblante.

— Ela 'tá morta — disse num sopro de voz e ele assentiu sabendo que era inútil negar a verdade escancarada.

— Ela já estava condenada a isso quando se envolveu afundo com um lugar como esse — afastou nervoso os cabelos de seu rosto, sabendo que ao menos um deles deveria ser firme para não desmoronarem.

E se mesmo abalado ela precisava se apoiar em alguém para recuperar-se, então Barnes seria esse apoio antes de ajudar a si próprio.

— Vai ficar tudo bem, 'tá bom? — Sussurrava com o rosto muito próximo ao dela para que os olhos castanhos não se desviassem dele para qualquer outra direção. — Mas eu preciso que você respire fundo — pediu quando a sentiu tornar-se mais trêmula, quase desesperado. — Consegue fazer isso? — Pediu suplicante e engolindo em seco, Daiana assentiu muito lentamente. — Ótimo. Repete comigo.

Ele inspirou lentamente e expirou da mesma maneira, satisfeito vendo-a acompanha-lo.

— A gente não tem tempo 'pra isso — ouviram Zemo gritar a eles.

Apesar de querer muito manda-lo calar a boca e ir para o inferno, ignorou-o porque acalma-la era a sua maior prioridade no momento, principalmente quando tinha sob controle todos os seus sentidos atentos a qualquer som ou movimentação suspeita que se aproximasse de onde estavam.

— De novo — pediu e repetiu o gesto, e ela o acompanhou confiando completamente no homem em sua frente, como sempre soube que poderia confiar.

....

Sair do local foi mais rápido, mas não tão tranquilo quanto entrar. As pessoas ouviram os tiros, obviamente, e olhavam ao redor em busca da fonte. Não ajudava que os quatro andassem apressados e a todo momento olhando ao redor como se estivessem sendo perseguidos. Estavam claramente agindo como suspeitos e isso a enfurecia, pois para Daiana era regra básica manter a calma e se misturar. Foi assim que ela escapou do Soldado Invernal uma vez, mas não estava em boas condições psicológicas para discutir com três homens nervosos.

Desta forma, porém, perceberam que conforme avançavam pela rua movimentada e de pouco espaço livre, as pessoas simultaneamente olhavam para seus celulares e em seguida para eles.

Sabiam que a notícia de Selby estar morta estava correndo muito mais rápido que eles e eles agirem escancaradamente como suspeitos não ajudava, mas Zemo insistia em terem pressa, pois teriam que sair daquele território o mais rápido possível.

— Isso não é bom — o Barão repetia nervoso a cada poucos segundos quando mais e mais olhares se voltaram para eles.

Estavam atravessando uma encruzilhada quando um motoqueiro estacionou de qualquer forma e ergueu sua arma, disparando contra eles. O primeiro reflexo foi se abaixarem, pegos de surpresa, antes de se apressarem para correr junto das outras pessoas que para não serem atingidas, se escondiam dentro dos comércios. Mas eles não podiam se esconder em qualquer lugar, pois seriam rapidamente identificados e sequestrados.

— Corre! — Barnes gritou para Daiana e Sam que o seguiam em linha reta pela rua após terem perdido Zemo de vista.

Naquele momento, ninguém se importava em voltar para salvar o Barão outra vez, então precisavam confiar que por conhecer aquele lugar melhor do que eles, saberia também se virar sozinho naquela situação. Daiana estava mais que satisfeita por seu vestido não ser longo até o chão a ponto de fazê-la correr o risco de tropeçar na saia, nem justo demais para dificultar seus movimentos. Entretanto, caminhar em saltos era algo que ela sabia fazer bem, apesar de bastantes desagradável, mas correr sobre eles era outra história.

— Eu não consigo correr de salto — reclamou Sam e Daiana o olhou indignada, pois os saltos das botas dele não chegavam a três centímetros, enquanto os dela, apesar de grossos, eram de oito.

Sim, ela mediu para calcular o tamanho da queda caso tropeçasse ou torcesse o tornozelo.

— 'Tá mesmo reclamando disso na minha frente? — Revoltada, ela gritou de volta.

Engoliu um grito quando sem aviso algum Barnes virou-se e num segundo a tinha nos braços, voltando a correr rápido como se ela pesasse absolutamente nada. Precisou agarrar seu pescoço com força para não acabar pendendo para frente e atrapalhá-lo, mas contente por não ter mais que se preocupar em ter seu pé enfaixado caso acontecesse um acidente. O asfalto era irregular, cheio de elevações e rachaduras, além da chuva de mais cedo tê-lo deixado úmido e propenso a escorregões. Estar correndo de um tiroteio tendo um alvo em suas costas não ajudava.

Ela prendeu a respiração quando olhou por sobre o ombro de Barnes e viu três motoqueiros virarem a esquina e persegui-los com armas apontadas para suas costas. Barnes e Sam viraram em um beco e se viram encurralados ao darem de cara com outro motoqueiro que já os esperava. Antes de se prepararem para lutar, tiros vindos do alto acertaram um a um sem dá-los tempo de reagir.

Seria a mesma pessoa que atingira Selby? Não sabiam, mas havia essa possibilidade, pois os deixara vivos nas duas oportunidades que tivera de mata-los. Olharam para cima em busca do atirador, mas não encontraram nada, principalmente pela iluminação daquele beco ser horrível.

Neste momento Zemo apareceu ofegante com uma pistola em mãos após uma longa corrida, atraído pelos tiros, mas o que encontrou foram corpos caídos no chão e nenhum era do trio que se separara dele no início da fuga, tampouco pareciam terem sido os causadores das mortes.

— Vocês têm um anjo da guarda — afirmou recuperando o fôlego um tanto surpreso e curioso para saber quem os estava ajudando.

— Isso é perfeito — de maneira arrastada, uma voz feminina, que não pertencia a Daiana, soou atrás de Zemo, fazendo-os dirigir a atenção àquela direção.

Uma mulher encapuzada e uma pistola entre as mãos, apontada diretamente para o Barão aproximou-se fazendo-o recuar com as mãos erguidas.

— Solta a arma, Zemo — deu a ordem e em seguida retirou o capuz, revelando sua identidade para a surpresa de todos.

Ciente de sua desvantagem, o outro se abaixou e largou no chão a pistola que tinha em mãos.

— Sharon? — Barnes franziu o cenho.

— Você me custou tudo — amargurada, a loira que não parecia estar disposta a conversar se aproximou do Barão e com o pé chutou para longe a arma abandonada por ele.

— Sharon, espera — Sam tomou a frente com as mãos erguidas para tentar empurrar Zemo para trás dele quando percebeu que ela tinha toda intensão de atirar no loiro. — Alguém recriou o soro de super-soldado e o Zemo tem uma pista — ela não parecia surpresa ao ouvir suas palavras apressadas.

— Isso explica porque estão aqui — resmungou nem um pouco contente com o reencontro. — E a Selby morta.

— E o que você faz aqui? — Daiana a questionou, dando dois tapinhas no braço de Barnes para devolvê-la ao chão quando aparentavam não correrem mais nenhum perigo por enquanto.

O beco imundo estava deserto, exceto por eles.

— Eu roubei o escudo do Steve, lembra? — A respondeu sarcástica. — Também roubei as asas dele — apontou brevemente a arma para Sam antes de voltar a aponta-la para Zemo — e até a sua vassoura — riu sem vontade alguma e ninguém poderia culpá-la.

Ao ajudá-los, ela se prejudicou muito.

— Tudo isso para que pudessem salvar esse cara — apontou para Bucky — daquele cara — em seguida para Zemo, ainda escondido atrás de Sam. — Diferente de vocês — dirigiu-se ao trio, com exceção de Zemo — eu não tenho os Vingadores para me apoiar, então... estou escondida em Madripoor — bateu os braços na lateral do corpo.

Ao menos agora, pensou Daiana em um alivio silencioso, ela não tem mais nenhuma arma apontada para alguém. Talvez tenha desistido momentaneamente de matar o Barão, o que seria um problema para eles se tivesse acontecido, pois ainda precisavam do criminoso.

— Nem vem chorar as mágoas — Sam rebateu. — Eu tive que fugir também.

— Teve. Tenho — ela enfatizou. — Há uma grande diferença.

O Wilson suspirou derrotado, pois sabia que apesar das dificuldades passadas, comparado a ela, ele estava bem.

— Não falo mais com a minha família — complementou abatida. — Não posso. Meu próprio pai não sabe onde eu estou.

— Nós precisamos da sua ajuda — Barnes encerrou o assunto indo direto ao ponto, pois quanto mais tempo passassem naquela rua lamentando o passado, mais chances tinham de serem encontrados e mortos.

Ela riu incrédula, balançando a cabeça com a audácia deles de lhe pedirem aquilo outra vez depois de tudo.

— Por favor — pediu suplicante e a risada se encerrou dando lugar a um suspiro cansado.

Ergueu a cabeça e fitou os três pensativa e demoradamente, pensando se valia mesmo a pena arriscar-se por eles outra vez.

— Isso não acabou — disse diretamente para Zemo, que calado apenas os ouvia, em tom de ameaça e o homem assentiu lentamente, os ombros caídos em derrota. — Eu tenho um lugar na Cidade Alta. Vão estar seguros lá por um tempo.

Oiie :) Como prometido, +1 Cap. hoje 

Em algum momento a nossa Dai vai aprender a lidar com os traumas. Ela tem isso porque durante anos o John não ajudou ela a trabalhar no problema, ela não buscou ajuda especifica e está há muito tempo longe de cenários violentos, mas vai ir melhorando.

O encosto do John tava ausente por um tempo, mas quando aparece é pra colocar a vida de todo mundo em risco 🤡

Bucky protegendo e ajudando ela a se acalmar 🥺🥺

Gostam da Sharon??

Gostam de momentos fofos depois de um caos? Tô trazendo no próximo cap. um diálogo aí hihihi

• ✨ Me desculpem qualquer erro 

• ♥ Espero que estejam gostando ♥ 

Continue Reading

You'll Also Like

56K 5.6K 57
Adolescência pode ser a fase mais divertida da vida, mas, quando algo sai fora do programado, ela se transforma em algo bem difícil. Julia não sabia...
480K 39.4K 121
Ayla Cazarez Mora uma adolescente que é mal vista pelas garotas da sua escola por achar os garotos da escola idiotas e babacas, por mais que sejam bo...
544K 24.7K 102
- Sempre foi, e sempre será você, branca. Uma história que se passa na Rocinha, Rio de Janeiro. Repleta de possibilidades fascinantes, onde duas pess...
31.4K 3.4K 42
Harry é um adolescente impulsivo e cheio de segredos, que aprontará bastante com o coração e com o corpo dos dois maiores rivais do seu colégio.