Algo me dizia que o que acabou de acontecer não era boa coisa. Eu olhei rápido para ele, na verdade tudo foi tão rápido, ele voou da cama praticamente.
- au, caralho - gritou
A única coisa que me restava fazer era o que? Quem pensou em rir acertou. Eu comecei a rir descontroladamente. A cara do Fábio era de longe a mais hilária de todas. O pior é que ele sempre dormir pelado e você bater a sua bunda no chão frio é terrível, mas eu não estava nem ai, comecei a rir mais e mais.
- não fica rindo não. - falou bravo
- que culpa eu tenho de você acordar assustado desse jeito - falei
- isso tudo é culpa sua. Primeiro por me enfiar nessa enrascada e segundo por aproveitar de mim enquanto eu durmo - falou
- você não sabe como você é delicioso, estava uma maravilha passar minha língua por esse copinho - ironizei
Ele me olhou sério, calado.
- se toca Fábio, eu não abusei de você não está bem, eu simplesmente me mexo demais a noite e acabei colando em você. Mas nem que a vaca tussa, voe, fale ou sapateie eu ficaria com você - falei
- muito obrigado, agora eu me sinto muito melhor, ainda mais por saber que o meu amigo gay me acha ruim demais - falou
- não é você querido, sou mais as circunstancias. Bom, lamente você sozinho, eu vou tomar um banho e depois vou descer para comer algo por que estou com fome - falei me levantando
- vai lá, minha autoestima está a mil, e não se preocupe com o tombo não - gritou
Eu entrei no banheiro, fechei a porta, me despi. Escovei os meus dentes, entrei no box e liguei o chuveiro. Dizem que o melhor lugar para pensar é no banho, mas também é o lugar onde as piores lembranças veem à tona.
Na minha mente só vinha a imagem do Henrique, e o pior de tudo, ainda conseguia, para minha tristeza, imaginar ele e o Carlos se pegando na cama, se beijando e com toda a certeza do mundo, era a pior coisa a se imaginar.
Tomei o meu banho lindamente, peguei a toalha e enrolei na cintura, me olhei no espelho do banheiro e logo abri a porta, sai de dentro e Fábio estava sentado na cama somente de cueca mexendo no celular.
- pode ir agora - falei me referindo ao banheiro
- só um minuto, estou marcando de encontrar com uma mina hoje à noite - falou
- nossa, vai me trair assim na cara dura? - perguntei
- vai te ferrar Davi. - falou se levantando e largando o celular em cima da cama
Passou por mim, bateu em minha cabeça e entrou no banheiro.
- muito adulto da sua parte - gritei
Ele abriu a porta do banheiro e me mostrou o dedo. Fechou novamente.
Eu me sequei, coloquei uma cueca e uma bermuda, vesti uma camiseta e sequei meus cabelos longos e loiros, mentira, meus cabelos são castanhos assim como a cor dos meus olhos, mas já pensei em pintar de loiro. Sim ou não? Talvez mas isso fica pra mais tarde.
Abri a porta do quarto e desci. Caminhei até a cozinha e assim que entrei dando bom dia a minha mãe percebi a inconveniente presença do Carlos ali.
- você aqui tão cedo? Tem casa mais não? - perguntei
- bom dia pra você também Davi e, eu tenho casa sim, mas meus pais estão viajando já que minha mãe vai trazer todo o material de decoração da minha festa de noivado da França - falou
- que luxo, que riqueza, parece até o casamento hétero de Angelina Jolie e Brad Pitt, com a diferença de que você é extremamente feio e o Henrique é completamente idiota - ironizei
- sua capacidade de me insultar cresce a cada dia que passa, mas a verdade é que eu não ligo, especialmente pelo fato de você ter pais maravilhosos - falou
- estou extremamente lisonjeado, estaria disposto a continuar com esse nosso papo matinal tão gostoso, mas eu pretendo comer sem engasgar e quem sabe fazer um passeio pela minha cidade que eu tanto amo - falei
- meninos, não se matem por favor - minha mãe falou
Eu coloquei o café no copo. Amo café. Passei manteiga em meu precioso pão e comecei a comer. Ele continuou conversando com minha mãe enquanto eu comia. Estava terminando quando aparece o Fábio dando bom dia timidamente, minha mãe pediu a ele que sentasse e assim que a criatura sentou-se, o Henrique apareceu.
- ainda bem que você chegou. Demorou em? - Carlos falou beijando ele
- tive que ajeitar algumas coisas com a minha mãe - falou
- quer tomar café Henrique? Eu fiz bolo de cenoura - minha mãe falou
- não, muito obrigado - ele falou
- senta ai, come um pouquinho - ela falou
Ele me olhou e eu olhei para o Fábio.
- oi Davi - ele falou
- eai - falei
- querido, apresente o Fábio ao Henrique - minha mãe falou
- que cabeça a minha. Henrique esse é o Fábio, meu namorado, Fábio esse é o Henrique, um colega meu da escola - falei
Fábio apertou a mão dele. De perto o Fábio era duas vezes maior que o Henrique. Fábio tinha o corpo todo definido, braços grandes, não enormes, grandes, ombros largos e penas torneadas devido a seus anos de academia. Possuía algumas tatuagens no braço e outras em algumas partes do corpo que fiavam escondidas do público.
Seus cabelos loiros e seus olhos também castanhos o deixavam ainda mais bonito. Ele mantinha o cabelo sempre cortado e os penteava arrepiado para cima.
Henrique tinha os cabelos negros, olhos verdes claro, pele branquinha porem bronzeada, tinha seus músculos e corpo definido mas de forma normal e quem olhava diria ser natural.
Ele ficou olhando o Fábio comer enquanto o Carlos não fechava a matraca, conversava e conversava.
- a quanto tempo estão juntos? - Henrique perguntou
- an? - falei
- a quanto tempo estão juntos? - perguntou
- a seis meses e meio - falei
- como se conheceram? - perguntou
- um amigo em comum nos apresentou - falei
- hum, legal. - falou sorrindo
- Fábio, que tal irmos dá uma volta por ai, estou pensando em passar no shopping - falei
- pode ser, preciso mesmo comprar algumas coisas - ele falou
- você faz o que dá vida Fábio? - Henrique perguntou
- faço faculdade de advocacia e trabalho na área como assistente do meu tio. - falou
- hum, advocacia. Legal mesmo - falou
- eu já terminei, vou lá em cima pegar minha carteira e meu celular - falei
- pega o meu também - Fábio pediu
- tudo bem - falei levantando
Eu sai da cozinha e subi as escadas correndo. Abri a porta do quarto, peguei o meu celular e minha carteira, peguei a do Fábio e o celular dele que estava em cima da cama. Assim que eu peguei o telefone vibrou na minha mão, era um SMS.
Não deu para ver pois o telefone tinha senha e como eu não sabia, por que saberia né; deixei pra lá mais a curiosidade bateu e violentamente. Sai do quarto e fechei a porta trancando ela por pura privacidade mesmo, vai que meu irmão dá uma de louco e tenta revistar as coisa do Fábio.
Desci as escadas e logo encontrei Fábio na sala me esperando.
- toma - entreguei
- vamos de que? Ônibus? Taxi? Canela? - perguntou
- nem a pau que eu andarei até o shopping, quando chegar lá só estou mesmo no bocal - falei caminhando em direção a cozinha
- mãe, o João está usando o carro que o pai deu a ele? - perguntei
- não, ele comprou um novo, aquele está na garagem - falou
- as chaves estão aqui? - perguntei
- está na estante na sala, dentro da caixinha de chaves - falou
- ótimo, vou usar para irmos ao shopping. Nos vemos mais tarde - falei
- compre algo bem decente para usar na minha festa - Carlos falou
- não se preocupe, comprarei uma cueca comestível e uma roupa de motoqueiro e um consolo de presente para você - falei
- Davi - minha mãe repreendeu
- o que é? Deve faltar muita coisa para ele, tem que compensar de alguma forma. Tchauzinho pessoal - falei saindo
Henrique com certeza deve estar querendo me matar neste exato momento, mas e daí, problema é dele que resolveu acasalar com a pessoa que eu mais detesto na face da terra.
Fomos para a garagem e lá eu encontrei o carro, era um Gol azul. Até que estava em perfeitas condições já que o João tem mania de tudo o que ele pega ele acaba deixando de lado, é muito desleixado o coitado. Se preocupa tanto com os outros que esquece das próprias coisas.
Fábio me tomou a chave do carro e ainda disse a seguinte frase.
"o homem é quem dirige, e nesse caso só vejo um"
Ele riu e entrou no carro. Eu abri a porta e entrei no lado do carona, fechei a porta e saímos. A garagem era aberta, o portão da frente da casa estava aberto então saímos sem dificuldades.
Passamos o restante da manhã no shopping, comprei algumas coisas que precisava e o Fábio só comprou cuecas e algumas bermudas. Ficou o tempo todo mexendo naquele maldito celular trocando mensagens com alguém, e a curiosidade me afetando em cheio.
Chegamos em casa já se passava do meio dia. Graças a Deus Carlos havia ido embora. Subimos, eu tomei um banho e ele em seguida. Descemos para almoçar e o João como sempre fazendo mais e mais perguntas, mais o que me deixou com um pé atrás mesmo era a troca de olhares entre ele e a Dani.
Assim que subimos para o quarto, eu esperei ele entrar e tranquei a porta, ele sentou-se na cama e ficou me olhando.
- você está maluco? - perguntei
- o que foi? - perguntou
- não faz nem 24 horas que chegamos e você já está trocando SMS com minha irmã, trocando olhares como se ninguém percebesse? O João está na sua cola. Quer pôr tudo a perder? - falei
- do que você está falando? - perguntou
- não seja sínico Fábio, eu te conheço. E se pensa que eu vou deixar você transar com minha irmã e pôr a minha vida na boca do balde de lixo você está muito enganado - falei
- calma, fica tranquilo. Primeiro foi ela quem me adicionou no facebook e pediu meu número - falou
- em menos de 24 horas? Como isso é possível meu Deus. Só posso estar vivendo um inferno, um inferno - gritei entrando no banheiro.