Estou aqui na varanda vendo a chuva cair, apreciando o verde da vegetação ficar mais viçoso, mais frondejante.
Assim como a cor dos olhos dela.
Desde o maldito dia que flagrei Aurora com Henrique, não consigo me acalmar. Todos ao meu redor tem percebido que não estou bem, ando mais calado, pensativo ,fechado e não dando muito espaço para conversas.
Seu Manoel e dona Leda tentaram por diversas vezes me fazer falar, desabafar com eles sobre o que vinha me aflingindo, tudo inutilmente. Como poderia lhes dizer que a causa, melhor a causadora daquilo tudo é a filha deles.
Prefiri guardar para mim.
Fez uma semana hoje, o flagra, e todas às noites ,depois do que presenciei, venho sonhando com ela.
Neles ela me beija, abraça é carinhosa. atenciosa. Nestes sonhos o seu perfume toma conta do meu olfato e acordo com o corpo febril desejoso, até neles ela aparace para bagunçar com tudo.
São exatamente sete dias que não consigo dormir direito, sete dias que ela domina meus pensamentos, sete dias em que acordo cada vez mais ferrado pelo desejo de ter essa garota em meus braços
Estou sentado na cadeira com bolinha enrolado perto do meus pés e curisco ao meu lado direito, meus fiéis companheiros.
Outro dia, usei a câmera do meu celular e tirei uma foto dela, estava linda usava uma blusa de gola preta, calça jeans escura e botas. Não perdi a oportunidade, rapidamente peguei o celular no bolso de trás da calça e registrei a sua imagem.
Ela passou há uns dez metros de onde eu estava com o trator. Com certeza, ela me viu mas ignorou-me com maestria.
Aurora exalava arrogância por onde passava, altiva como uma rainha no meio da gentalha, vinha caminhando sozinha. Seguia pela parte de trás da casa de Genaro mais ou menos uns oitocentos metros de distância da construção.
Eu não queria admitir para eu mesmo, mas no fundo sabia exatamente da onde ela estava vindo, do encontro com o enteado do meu pai.
Na minha cabeça ocorreu que eles mudariam o local do encontro, ainda assim, por três noites seguidas fiquei rondando o local para ver se ela ignoraria que eu sabia de tudo e continuaria com os encontros no mesmo local. Possívelmente por constatação, a garota perceberia que eu posso não ser o único a saber dos dois e que outros empregados de Genaro também estar apar de tudo ,Aurora não é burra e a constatação disso foi não vê-los .
Solto a minha respiração com força, aquele maldito vinha ganhando território com força, tecendo suas teias, envolvendo a "cabeça oca" com milhares de mentiras e promessas vazias. Conheço bem o tipinho, sei de algumas de suas conquistas que rola solta na boca do povo aqui em Passa-vinte.
Confesso que fiquei tentado a contar para Manoel as merdas que sua filha estava fazendo, mas não tive coragem, isso poderia empurrar a ludibriada ainda mais nos braços do Henrique ou desgraçar com a família inteira do pobre homem, Genaro não deixaria barato esse enrosco entre Aurora e Henrique, poderia culminar numa tragédia, o pai da menina exigindo reparação da honra maculada e meu pai destroçaria os três num piscar de olhos.
Não podia ser egoísta a esse ponto, se alguém conhece bem o velho Genaro, este alguém sou eu.
Por isso executarei um plano ardiloso e vil que pensei milimetricamente. Mas sem causar danos físicos a Manoel e Leda, contudo ,não posso dizer o mesmo quanto a Aurora.
Pelo bem ou pelo mal, eu traria Aurora para mim em meus braços. Mostraria para Henrique que ela será para sempre minha, objetivo inalcançável para ele.
Fecho os punhos com força pensando que o corpo da mulher que desejo está sendo tocado por outro homem.
_Por Por pouco tempo, vou acabar com a farra de vocês "- Sussurro.
Levanto cheio de raiva, acabo por assustar bolinha que vai deitar perto de curisco.
Entro e vou atiçar o fogo do fogão a lenha, aproveito para colocar uma chaleira com água para ferver.
Preciso tomar um banho.
Enquanto a água esquenta, separo as roupas que vou usar.
Preparo meu banho e livro meu corpo das roupas sujas.
Assim que saio do banho escuto alguém me chamar. Só poderia ser uma pessoa meu caseiro.
Me visto com rapidez e sigo para a porta.
Assim que coloco a cabeça para fora, vejo o homem montado num dos meus cavalos, coberto por uma grossa capa de chuva.
_ Boa tarde, patrão seu Rocco mandou avisar que já enviou os documentos para o email da fazenda. Que junto ele enviou aquilo que o senhor pediu.- me avisou .
_ Obrigado, vou agora mesmo dar uma verificada nesses papéis. - disse ansioso.
Não perdi tempo, passei a mão numa jaqueta e joguei por cima dos ombros
_Mas patrão esta uma chuvarada dos diabos, deixa isso para outro dia.- pediu espremendo os olhos para poder me enxergar através da cortina de água vokumosa que caí.
_ Não sou feito de açúcar homem e tem coisas que não podem esperar.- disse descendo os degrus da diminuta escada.
Saí apressado para buscar Eros no fundo do casebre.
Monto em meu alazão e parto rumo a sede na companhia do meu caseiro.
Chego enxarcado e apeio meu cavalo numa das baias .
_ Onde estão todos nesse momento? - pergunto.
_ São quase quatro da tarde, concerteza no refeitório.- respondeu tirando sua capa de chuva.
Comecei minha caminhada em rumo a mansão, aos poucos me aproximava da pomposa construção. Meu peito apertou, odiava ter de entrar naquele lugar me trazia lembranças ruins.
O fantasma da solidão rondava por aqueles corredores.
Quando resolvi construí algo tão gigantesco foi pensando em dividi-lo com Luíza e seu filho. Nos meus sonhos estúpidos de rapagote, eu iria constituir uma base familiar sólida ao lado da mulher que me enganava, mas levei uma rasteira da vida para aprender a ser esperto e ler os sinais que a esta dá ao longo do caminho.
Entro pela porta dos fundos, que é aberta com um código de segurança, retiro a jaqueta e adentro, vou deixando para trás um rastro de água no piso de mármore.
A casa tem toda mobília limpa e brilhando, sem cheiro de mofo. As minhas funcionárias fazem um excelente trabalho, são quatro que cuidam da mansão muito bem, elas trabalham nela durante três dias da semana.
O único cômodo que não permitia ninguém entrar é o quarto que fiz para guardar as coisas da minha mãe. Neste apenas eu entrava quando queria ver uma fotografia dela ou sentir o cheiro do perfume que ela usava, cujo o frascos ainda está pela metade.
Sigo até o meu quarto no último andar, procuro por peças confortáveis de moletom no closet e retiro as peças enxarcadas, seco meu cabelos e ligo o computador.
_A manhã terá uma discreta bagunça para ser arrumada por aqui.- falo para eu mesmo.
Assim que acesso o email leio primeiro o relatório da investigação que mandei fazer sobre Henrique, queria ter algo para usar contra aquele repugnante. Alguma sujeira que o crápula tenha escondido de baixo do tapete.
Meus olhos correm todas as letras contidas naquele papel, eu não quis acreditar no que lia.
Não existia nada que poderia ser proveitoso para mim, nada que colocasse o imbecil em maus lençóis, na palma de minha mão.
Sou tomado pela íra, dou um soco na mesa de madeira que o teclado pula.
Pensei que encontraria algo grande para arrancar do meu caminho de uma vez por todas aquele filho da puta, mas não tem nada além de casos amorosos com algumas mulheres.
Passo a mão pelo cabelo.
"Quem diria que o pulha tem o passado limpo, dentro desses anos não aprontou nada."-falo desapontado pelo resultado na frutífero da investigação.
Dou uma gargalhada que ecoa pelo quarto, reverbera pelas paredes.
" Que decepção Henrique ,esperava mais de você "- falo coçando minha barba e olhando para a tela onde tem estampada a foto do sujeitinho.
Seleciono o arquivo e deleto, passo a analisar os documentos de suma importância, me mantendo ciente dos negócios que tenho.
É tarde da noite quando retorno para o casebre, a chuva tinha cessado e podia ser escutado os sons da noite no campo.
_Preciso saber onde é o novo local de encontro dos dois, Eros. Meu plano está esquematizado, preciso apenas coloca-lo em prática e para isso tenho de descobrir onde é o recanto dos pombinhos.- falo para meu alazão, como se ele fosse me responder.
Chego na cabana e coloco meu cavalo em sua instalação.
Entro e me jogo na cama, meu olhos pesam pelo sono que vem chegando e aos poucos adormeço.