𝓟𝐞𝐫𝐝𝐢𝐳𝐢𝐨𝐧𝐞 ☀︎ 𝖣𝗋�...

By Miagilmores

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Drew Starkey, um dos atores mais renomados de sua geração, embarca em uma jornada emocional no doce e ardente... More

𝟎𝟎| 𝐢𝐧𝐭𝐫𝐨𝐝𝐮𝐜̧𝐚̃𝐨
𝐂𝐚𝐩 𝟏 | 𝐏𝐢𝐥𝐨𝐭𝐨
𝐂𝐚𝐩 𝟐 | 𝐐𝐮𝐞 𝐜𝐨𝐦𝐞𝐜𝐞𝐦 𝐨𝐬 𝐣𝐨𝐠𝐨𝐬.
𝐂𝐚𝐩 𝟑 | 𝐑𝐨𝐦𝐞𝐮 𝐞𝐦 𝐟𝐮𝐠𝐚.
𝐂𝐚𝐩 𝟒 | 𝐄𝐟𝐞𝐢𝐭𝐨𝐬 𝐜𝐨𝐥𝐚𝐭𝐞𝐫𝐚𝐢𝐬
𝐂𝐚𝐩 𝟓 | 𝐈𝐧𝐜𝐞𝐫𝐭𝐞𝐳𝐚𝐬.
𝐂𝐚𝐩 𝟔 | 𝐏𝐚𝐫𝐚 𝐟𝐢𝐜𝐚𝐫 𝐧𝐚 𝐦𝐞𝐦𝐨́𝐫𝐢𝐚.
𝐂𝐚𝐩 𝟕 | 𝐃𝐢𝐠𝐚 𝐚𝐥𝐠𝐮𝐦𝐚 𝐜𝐨𝐢𝐬𝐚.
𝐂𝐚𝐩 𝟖 | 𝐍𝐚 𝐯𝐢𝐝𝐚 𝐫𝐞𝐚𝐥.
𝐂𝐚𝐩 𝟗 | 𝐒𝐚̃𝐨 𝐜𝐨𝐫𝐝𝐢𝐧𝐡𝐚𝐬, 𝐏𝐢𝐧𝐨́𝐪𝐮𝐢𝐨.
𝐂𝐚𝐩 𝟏𝟎 | 𝐍𝐨 𝐩𝐚𝐢́𝐬 𝐝𝐚𝐬 𝐦𝐚𝐫𝐚𝐯𝐢𝐥𝐡𝐚𝐬
𝐂𝐚𝐩 𝟏𝟏 | 𝐄́ 𝐨 𝐪𝐮𝐞 𝐬𝐞 𝐠𝐚𝐧𝐡𝐚...
𝐂𝐚𝐩 𝟏𝟐 | 𝐓𝐚𝐩𝐚𝐬 𝐞 𝐛𝐞𝐢𝐣𝐨𝐬.
𝐂𝐚𝐩 𝟏𝟑 | 𝐈𝐧𝐭𝐨𝐱𝐢𝐜𝐚𝐜̧𝐨̃𝐞𝐬 𝐞 𝐨𝐮𝐭𝐫𝐚𝐬 𝐦𝐚𝐳𝐞𝐥𝐚𝐬.
𝐂𝐚𝐩 𝟏𝟒 | 𝐉𝐚𝐧𝐭𝐚𝐫𝐞𝐬 𝐞 𝐕𝐞𝐫𝐨𝐧𝐚.
𝐂𝐚𝐩 𝟏𝟓 | 𝐒𝐢𝐧𝐚𝐥 𝐯𝐞𝐫𝐦𝐞𝐥𝐡𝐨
𝐂𝐚𝐩 𝟏𝟔 | 𝐄𝐬𝐜𝐫𝐢𝐭𝐨 𝐧𝐚𝐬 𝐞𝐬𝐭𝐫𝐞𝐥𝐚𝐬
𝐂𝐚𝐩 𝟏𝟕 | 𝐋𝐢𝐧𝐝𝐬𝐞𝐲 𝐁𝐞𝐫𝐝𝐢𝐧𝐚𝐳𝐞
𝐂𝐚𝐩 𝟏𝟖 | 𝐕𝐞𝐫𝐝𝐚𝐝𝐞 𝐨𝐮 𝐯𝐞𝐫𝐝𝐚𝐝𝐞

𝐂𝐚𝐩 𝟏𝟗 | 𝐃𝐢𝐠𝐚 𝐬𝐢𝐦 𝐩𝐫𝐚 𝐦𝐢𝐦.

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By Miagilmores

─━━──✣࿆ᰱོ❭⚘❬✣ᰱོ࿆─⵿─━━
⋆⚘᭬ᰱᰱ• 𝐏 𝐄 𝐑 𝐃 𝐈 𝐙 𝐈 𝐎 𝐍 𝐄 •⚘᭬ᰱᰱ
─⵿─ᰱ✣࿆ᰱོ❭⚘❬✣ᰱོ࿆ ─⵿─

𝕺s olhos nervosos e agitados de Drew Starkey estavam fixados em meu rosto de um modo que causava-me calafrios sem ao menos precisar admirá-los. Suas mãos trêmulas seguravam as pequenas alças de plástico da cadeira fraca sem qualquer tipo de destreza, pelo modo que seu pulso parecia erguer toda a força que habitava em seus músculos para continuar cravando os seus dedos firmes na cadeira branca em que o seu corpo estava posicionado.

Por mais que a pele macia como carne de caju do rapaz que encarava o meu rosto com uma certa relutância a fim de que eu não notasse as suas pupilas observadoras e seus olhos cheios de desespero em minha direção; sua postura, juntamente com o cheio de inquietação impregnada em seu corpo, desconsideravam por completo a sua atuação falha de tranquilidade.

Porém, no meio daqueles dois rapazes totalmente distintos um do outro (de todos os modos abrangentes), um sentimento interno repleto de frustração extravasava em seus semblantes, compartilhando as mesmas emoções em dois corpos opostos, como se os portadores das duas mentes brilhantes e criativas à minha frente conversassem entre si por telepatia.

Não podia evitar que o sentimento de culpa ocupasse todo o meu coração, fazendo-me questionar por um momento se deveria me submeter à proposta dita alguns segundos atrás. Bom, talvez proposta tenha sido uma palavra equivocada, o melhor seria: ultimato.

— É claro que não! - Exclamo rápido, erguendo as minhas costas da cadeira. — Isso não pode ser uma conversa séria. - Desdenho.

— É tão sério quanto o pescoço de todo mundo que está trabalhando aqui em jogo. - Rebate o diretor incrivelmente furioso. — Vocês não têm noção da gravidade que isso tomou, não é?

— Isso tudo por causa de um chute no saco?! - Questiono incrédula, arqueando as sobrancelhas.

— Starkey quase passou a noite no xilindró; está sendo acusado de assédio ao ponto de que se houver qualquer outra especulação sobre isso a carreira dele acaba. - Explica o homem com seus olhos ferventes em minha direção, apoiando as suas mãos sobre a mesa com puro rancor. — Quer mais? - Pergunta sarcástico. — O filme em que toda essa produção passou 4 anos trabalhando está à beira do abismo. O filme em que iria alavancar dezenas de carreiras aqui, inclusive a sua! - Exclama aumentando o tom de voz, enquanto gesticulava com suas mãos.

— Eu só queria dizer... - Tento revidar calmamente, mas logo sou interrompida pelo rapaz.

— Não me interessa, Lindsey. - Desdenha o rapaz, abaixando o seu tom de voz luz. — Eu só quero que resolvam isso agora!

— Não tem nenhum outro jeito? - Questiona Starkey, após longos minutos de silêncio de sua parte.

— Se descobrirem outro modo milagroso que eu não tenha pensado nas últimas 14 horas, estou disposto a escutar. - Diz o homem se acalmando, sentando novamente em sua cadeira.

— Desmentir. - Falo ríspida, dando de ombros como se fosse óbvio.

Observo os olhos do homem moreno à minha frente vidrarem aos meus como armas de fogo, prontas para disparar a qualquer momento pela minha resposta, que pelo seu semblante e a mudança em sua postura, parecia uma estupidez.

Viro o meu rosto na direção do loiro que estava ao meu lado, admirando o mesmo cravar as pupilas em meu rosto e balançar a cabeça negativamente, como se dissesse por meio de mímicas minimalistas para concertar o que foi dito.

— O que estão postando são apenas especulações e suposições das pessoas, se desmentimos antes que isso se espalhe, talvez vá suavizar as coisas. - Tento argumentar, fixando ainda mais o meu corpo na cadeira de plástico, quando observo o mais velho colocar as mãos no rosto, deitando o seu corpo no assento em total desprezo. Ah, mas que droga! O que eu falei agora?

— Negar? - Questiona o rapaz retoricamente, cruzando os braços em seu peito. — Negar antes disso espalhar? - Assinto com a cabeça. — Em que mundo você vive, garota?

— O que ela tá querendo dizer é que se arranjássemos um álibi, talvez possamos provar que não estávamos lá. - Defende-me Joseph, interrompendo-me antes que eu pudesse falar qualquer coisa.

— É... tipo isso. - Concordo, balançando a cabeça freneticamente.

— Arrumar um álibi pra quê? - Exalta o mais velho, entreabrindo os lábios indignado. — A sua imagem tá bem nítida aqui, se contorcendo de dor. - Aponta o homem para a fotografia na mesa. — Não tem como negar que é você! - Afirma furioso. — E também, Lindsey, não podemos desmentir nada, por que se formos com isso para a mídia, só vai fazer com que as pessoas fiquem mais curiosas e procurem saber mais a respeito. Sendo assim, levando as provas que eram vocês dois.

O silêncio voltou a pairar em cada cômodo dos corações inquietos e dos olhares imóveis dos rapazes que não sabiam o que pensar naquele momento. Bom, principalmente um olhar. O do dono dos lindos olhos oceânicos que estava em completo silêncio, perdido em seus pensamentos, conforme as palavras do mais velho adentravam em seus ouvidos.

Como toda adolescente que mal podia esperar para chegar em casa depois da escola e assistir a algum filme de comédia romântica que estaria passando na televisão local, eu desejava, entre as polegadas daquele pequeno plástico ao redor da TV de tela plana, um romance como aqueles. É claro que, além dos filmes da Lindsay Lohan ou da Katherine Heigl, a maioria das garotas que viajavam no meio dos casamentos arranjados ou as paixões por um badboy da jaqueta de couro já chegaram a pensar que a sua vida fosse uma comédia romântica; como ela seria, quem seria o interesse amoroso, onde trabalharia ou estudaria, se seria o patinho feio ou a garota mais popular da escola, se seria bem-sucedida ou teria um emprego fracassado... Tudo era meticulosamente bem planejado. E agora, aqui nessa sala, é claro que um filme veio em minha cabeça. Cartas, garotos, iogurte, jacuzzi, saias fofinhas, um cara gato... Ah, calma, espera aí. Eu sou a Lara Jean?

Não, não, não e não. Tá, vamos recapitular algumas coisas, Melissa. Você veio para a Itália como era seu grande sonho para conhecer mais sobre a sua cultura e consequentemente sobre a sua avó, foi para uma boate, encontrou o seu ídolo, foi roubada, quase mandou o ídolo para a cadeia, foi confundida com uma famosa com uma aparência assustadoramente similar à sua, está se passando por essa famosa, vai contracenar com o mesmo cara que quase mandou para a prisão, você odiou esse cara, você jogou ele no lago e depois vinho, ele te derrubou em um bolo e ainda tirou a foto mais espantosa da sua vida, chamou ele de assediador, sentou no colo dele, brigaram na frente de todo mundo, ele te presenteou com um rato, você chutou o saco dele... bom, estou esquecendo de alguma coisa? Meu Deus, o que eu tô fazendo aqui? Isso é alguma brincadeira comigo, pai, por favor, me dê um sinal!

— Eu preciso de uma resposta! - Lembra o rapaz, tirando dos meus devaneios em um piscar de olhos fortes meus.

— Não vou fazer isso. - Falo rapidamente, cuspindo as palavras da minha garganta.

— O que? - Exalta Drew ao meu lado em um questionamento apavorado. — Como não?

— Não vou! - Nego nervosa, olhando para o mesmo brevemente, virando o meu rosto para frente.

— Podemos conversar a sós por um minuto? - Pede o loiro com um sorriso nervoso entre os lábios.

— Vocês têm até o fim do dia de amanhã! - Diz o mesmo, levantando-se da cadeira. — Se não, eu cancelo as gravações.

•⊹◬⃟•⃟

— Melissa, por favor! - Implora o rapaz, caminhando ao meu lado com os olhos pidões.

— Eu já disse que não. - Relembro, caminhando pelo estúdio à procura de Gessy, com o olhar fixo à frente.

— Eu nunca te pedi nada. Eu juro que eu faço o que você quiser pelo resto da minha vida. - Desespera o rapaz, com a voz trêmula.

— Não. - Nego ríspida, sem olhar para o lado.

— Eu preciso desse trabalho. Todos aqui precisam! Você vai deixar tudo isso aqui ir por água abaixo?

— Vou. - Digo em uma mentira, dando de ombros.

— Fala sério! - indigna, parando o caminho, o que por algum motivo também me obrigou a parar. — É isso mesmo que você quer?

— Claro que não é isso que eu quero. - exalto, franzindo as sobrancelhas, virando-me sobre o calcanhar. - É a última coisa que eu quero. — Afirmo.

— Então, entra nessa comigo. - Clama Joseph com os olhos estreitos, olhando-me com os seus olhos brilhantes. Não, não, não, não vou me render a eles. — Por favor!

— Nã-ão. - Balbucio, entreabrindo os lábios. — Você não pode tá achando isso certo.

— É tão ruim assim assumir o namoro falso comigo? - Questiona o homem, meio sentido pelas minhas rejeições.

— É. - Confirmo séria, cruzando os braços sobre o peito.

— Você tá me devendo! - Acusa-me mudando de assunto rapidamente.

— Como é que é? - Indago cética, erguendo a cabeça levemente para o lado.

— Eu não contei pra ninguém que você tá se passando pela Lindsey. - Lembra o mesmo, erguendo a sobrancelha, fazendo-me dar de costas para ele.

— Como você é baixo, Starkey. - Desdenho, continuando o meu caminho.

— Você não me dá outra opção, Mel. - Argumenta o loiro, com culpa em seu tom de voz, caminhando atrás de mim, pelos meus passos acelerados.

— Não me chama de Mel. - Resmungo, caminhando cada vez mais rápido sobre o piso do gramado. — Pra você é: "ei, você."

— Você é uma mulher difícil de agradar. - Acusa Drew, acelerando os passos para alcançar-me, deixando a sua voz cada vez mais ofegante.

— Mulheres não gostam de serem ameaçadas. - Retruco, permitindo que o vento fresco da brisa da tarde de Verona beijem os meus fios de cabelo, à medida que os meus passos eram consumidos pela grama.

— Me desculpa! - Clama uma honesta e culpada, forçando os seus pulmões para acompanhar os meus passos. — Dá pra andar devagar?

— Eu conto pra todo mundo que era você que foi parado pela polícia na boate. - Revido a ameaça, parando o meu corpo em sua frente, observando o mesmo apoiar as mãos nos joelhos, em busca de descanso.

— Não faria isso... - Desacredita o rapaz, cada vez mais ofegante, ao ponto de debruçar sobre o chão.

— Quer apostar? - Provoco, erguendo uma das sobrancelhas com autoridade.

O maxilar do homem à minha frente é travado bruscamente quando os seus olhos viram de um lado para o outro, acompanhado pelo movimento do rosto à medida que seu olhar vagava. A frustração, uma certa raiva e até um pouco de orgulho eram notáveis em seu semblante.

— Você é cruel, esquentadinha - afirma o rapaz, fazendo soltar um sorriso metido.

— Obrigada, menestrel do capiroto! - agradeço sarcástica, voltando a trilhar os meus passos para a ala leste que estava apenas há poucos metros de distância.

Ouço alguns resmungos de Andrew Starkey surgindo atrás do meu corpo, mas não conseguia identificá-los pela brisa que levava as suas palavras, provavelmente pecaminosas, conforme os seus movimentos. Penso em virar-me para trás novamente e soltar algumas poucas e boas para aquele criança em forma de adulto, porém, a culpa que habitava em meu peito não me permitia tal ato.

Em uma fração de segundos após os seus murmúrios baixos, sinto algo forte colidir com o meu braço direito, obrigando-me a cambalear para o lado, conforme o choque do empurrão ainda estava em meu corpo. Abro os meus olhos que permaneceram fechados por alguns milésimos, permitindo a visão ampla do maldito capeta de madeixas loiras.

— Perdeu a noção do perigo? - Exalto, correndo para o mais próximo do homem, que antes estava perto de mim.

— Doeu? - Pergunta irônico, ficando com os olhos à frente, sem olhar para trás.

Antes que eu possa responder mais alguma coisa, um instinto natural do meu corpo faz com que um dos meus pés levantem-se na direção da dobradura do seu joelho, pressionando aquela parte sensível com um chute. Em apenas um piscar de olhos, meus e provavelmente dele, o seu corpo está jogado sobre o chão como uma criança indefesa após perder uma briga em parque.

— Doeu? - Indago irônica, repetindo a mesma pergunta que ele fez, acelerando os meus passos em direção às pessoas.

— Merda! - Exclama em raiva, apoiando as suas mãos no gramado, a fim de se levantar o mais rápido possível, antes que alguém possa ver a sua vergonha exposta. Bem feito, cuzão!

— Bem pregado, otário! - Grito de volta, correndo o mais rápido que os meus pés e o fôlego permitem. Giro a minha cabeça para trás, observando-o sobre o meu ombro, o mesmo se erguer e surgir a poucos centímetros do meu corpo, como uma fênix.

— Cabelo bonito, Mel! - Elogia sarcástico, alcançando-me em uma fração de segundos. — Gosto quando usa ele solto.

— Sempre uso ele solto. - Rebato, erguendo a sobrancelha irônica. Então, em apenas um breve um sorriso esbranquiçado entre os lábios avermelhados do rapaz, foi o suficiente para me perder entre eles e me encontrar em suas mãos enlaçadas em meus fios de cabelo, puxando-o para trás. — Eu vou te deixar sem mão! - Ameaço alto, percebendo os olhares dos funcionários e atores ao meu redor.

— E eu vou te deixar sem juízo. - Retruca, esboçando um dos seus indescritíveis sorrisos maliciosos que alinhavam-se em perfeita sintonia com seus olhos azuis, agora, um pouco mais sedutores e brilhantes do que de costume.

— Vai tirando onda que não é só a sua mão que eu arranco. - Falo ríspida, cheia de fúria em meu tom. Quem esse imbecil pensa que é? Isso é falta de uma surra.

— Vai arrancar o meu coração também? - Questiona, levando uma de suas mãos até o peito esquerdo. —Eu dou pra você.

— Opa, onde você tava? - Uma voz masculina surge entre nós dois, permitindo que a nossa atenção desviasse da nossa "discussão" para o rapaz loiro com uma casquinha de sorvete nas mãos. Rudy Pankow. — Tava te procurando, o Chase sumiu. - Comenta, levando aos lábios o creme verde de pistache do gelato. — Ah, me desculpe, nós conhecemos? - Pergunta o rapaz amigavelmente em minha direção, estreitando os olhos. Bom, acho que eu conheço bem mais ele do que ele me conhece...

— Eu acho que não... - Minto, desenhando um sorriso gentil entre os meus lábios, estendendo uma de minhas mãos na direção do rapaz, fitando o mesmo assentir. — Mel... - Merda. Sinto os meus olhos se fecharem em arrependimento, em busca de palavras para corrigir o quase estrago. — Lindsey. Lindsey Berdinaze. - Solto, juntamente com um suspiro pesado. — um prazer em conhecê-lo.

— O prazer é todo meu, Lindsey. - Cumprimenta o mesmo gentilmente. — Eu me chamo Rudy, mas pode me chamar como quiser, menos de cabeça de ovo. - complementa. Nossa, esses americanos têm um charme...

— Cabeça de ovo é o meu favorito. - Comenta Starkey, erguendo levemente a cabeça até o meu ombro, colocando as suas mãos nos bolsos de sua calça. — Também gosto de Mister cagão.

— Você não começa que eu conto pra Lindsey o que fazia nas gravações de Outer Banks. - ameaça o rapaz com um olhar furtivo.

— Por favor, me conte ao menos uma e eu faço uma tatuagem sua homenagem - Peço gesticulando sutilmente com as mãos.

— Você já me fez passar por coisas piores, acredite. - Afirma Starkey calmamente, com um sorriso tímido surgindo entre as suas maçãs avermelhadas.

— Espera, você é a Lindsey? A Lindsey LINDSEY? - Indaga o rapaz surpreso, entreabrindo os lábios, levando a sua mão livre até a boca. Sinto o homem de fios dourados ao meu lado se vidrar em uma inquietação, que levou com que seus olhos fitassem o amigo como fuzis carregados de balas. — Ah, mulher.. que-e - Balbucia, encarando o rosto de Joseph, enquanto parecia arquitetar as palavras. Tá, eu perdi alguma coisa? — A mulher que tava brigando com ele na rua ontem à noite. - Cospe as palavras por fim.

— Brigando deve ter sido outro, eu só apanhei. -Pronuncia Starkey, erguendo o cenho em óbvio.

— Deveria ter apanhado mais. - Revido, desviando a minha atenção de volta para o rapaz de camisa de xadrez ao meu lado.

— Normalmente eu adoro as comidas dos bastidores porque são de graça, mas esse gelato aqui eu pagaria qualquer valor se fosse preciso. - Murmura Pankow em um estado de êxtase com o próprio doce esverdeado de pistache em suas mãos.

— É porque você ainda não provou os brownies. - Fala Starkey, erguendo as sobrancelhas contentemente.

— Tem brownie? - Pergunta Rudy boquiaberto, como se estivesse recebendo a notícia que salvaria a humanidade. — Vamos...

— Misturar os dois! - Os dois rapazes loiros exclamam alegremente na mesma hora, erguendo as palmas para cima em felicidade.

— Eu vi um pacote de marshmellow escondido na mochila do Chase! - Sugere Joseph com um sorriso travesso de uma criança traquina.

— Eu pego o leite condensado. - Retruca Pankow compartilhando da mesma emoção.

Em um pensamento entre a euforia das palavras gelato e leite condensado, não pude deixar que a minha mente não vagasse em meio daqueles dois belos adultos, que além dos lindos fios dourados sobre as suas cabeças e os hipnotizantes azuis das suas íris, também tinham em comum um desejo oculto de brownies com sorvete de pistache. Deveria ser tão confuso ou tão surpreendente assim para mim? não pelo fato dos doces deliciosos, mas por ele ser apenas um rapaz gentil, com uma leve infantilidade em seu peito que era tão... nítida. Afinal, como não poderia ser? o cara que matou aula para fazer a cena de um filme comédia, ou o garoto que foi parar em uma leito de hospital em uma tentativa totalmente falha de se tornar o homem aranha, é o mesmo cara que está na minha frente. Por que ele não parece tão depressível como antes? por que ele não volta a ser o cara que estava nas ruas mágicas de Verona na noite anterior? Por que ele não pode ser apenas o cara que eu tive a noite mais inesquecível da minha vida? por que eu estou pensando tanto nisso? por que ele tem que ser tão... Drew Starkey?

•⊹◬⃟•⃟


As ruas de Verona estavam cada vez mais vazias à medida que a lua dominava o lugar do sol italiano, que algumas horas atrás pairava sobre o vasto céu azul, repleto de nuvens que se formavam em desenhos não tão corpóreos para crianças com imaginações férteis, adultos sobre a janela de ônibus e senhores de idade em uma cadeira de balanço na parte externa de suas casas, observando aquele vasto e imenso infinito azulado reduzido aos seus olhos. À medida que as minhas sandálias baixas com pequenas tiras douradas trilhavam sobre as passarelas de pedra, era possível enxergar a saudade que o sol concedia nos corações quebrantados das viúvas que choramingavam de cabeças baixas, permitindo que as suas lágrimas encharcassem os envelopes coloridos entre seus dedos.

Era possível sentir a dor de cada mulher entre aquele pequeno muro de pedras. Desde as três moças que ainda estavam sentadas nos pequenos bancos espalhados pela Casa Julieta, até as que caminhavam para fora, carregando as suas próprias dores em seus peitos cansados e amorosos, para um lugar distante do colo da jovem Capuleto.

— Gostaria de um papel? - Um questionamento vindo de uma voz meiga e suave autorizou que os meus pensamentos voassem para as cartas que estavam entre as pedras.

— Não, obrigada! - Nego gentilmente, virando-me sobre o calcanhar na direção da voz melódica com um sorriso.

Uma linda jovem de cabelos escuros como a noite que estava a pairar entre o espaço visível acima do horizonte surgiu entre os meus olhos. A sua pele clara como a neve que caía nas regiões mais frias dessa imensa esfera azul, olhava-me com um sorriso amável, que conseguia ver através de seus lindos olhos agateados, a pureza de sua alma que exalava através de suas pupilas e escassas palavras gentis.

A doçura em cada gesto minucioso que os músculos de sua face trabalhavam com os sorrisos lisonjeiros que surgiam em duas maçãs avermelhadas obrigava-me a refletir que idade aquela jovem de roupas com variáveis tonalidades de cor-de-rosa teria. Pela presença marcante de uma inocência inconfundível em seus olhos, permitia-me que reduzisse as minhas opções a menos de 18 anos, por essa bondade quase extinta em adultos. Porém, por uma certa maturidade na forma de admirar as senhoras ao seu redor, eu diria, provavelmente, dezesseis.

Algo naquela garota desconhecida fazia-me enxergar uma familiaridade incógnita. Algo no seu modo de agir e de observar as pessoas à sua volta permitia que a minha mente viajasse para as águas salgadas de Ipanema que as doces melodias de Tom Jobim retratavam com maestria. O belíssimo Pão de Açúcar, do lado norte do Rio de Janeiro, recordava-me do cheiro doce de um perfume qualquer promocional da O Boticário que infestava a casa do muro de pedras por completo; pelo modo que era despejada sem nenhum pudor por Helena Montenegro.

Elas eram incrivelmente parecidas. Os traços finos dos seus rostos, as sobrancelhas grossas que davam contraste aos seus olhos puxados, os lábios avermelhados como sangue, a escuridão dos seus fios escuros. Tudo era espetacularmente semelhante, com exceção do tom de pele de Helena ser mais escuro do que a moça à minha frente.

— É lindo, não é? - A voz da garota surge em meus ouvidos, tirando-me dos meus próprios devaneios.

— É sim. - Assinto, admirando o lugar ao meu redor. Era mais que lindo, era... como um belo sonho de domingo. — É perfeito! - Falo hipnotizada, permitindo que o meu olhar vagasse por todas aquelas cartas e pelo bronze polido da estátua de Julieta. — Essas cartas são apenas de hoje? - Questiono encantada, caminhando até o muro de pedra onde os papéis estavam apoiados.

— Sim, são. - Responde com um sorriso entre os lábios, trilhando alguns passos em minha direção. — Elas surgem todos os dias, vindas de todos os lugares do mundo, com as mais diversas dores, mágoas e tragédias.

— É incrível! - Exclamo baixinho em um pensamento alto, permitindo que as pontas dos meus dedos encontrassem as texturas dos papéis. — É extraordinário como sentimentos tão profundos podem caber em algumas folhas de papel.

A parede enorme repleta de cartas secretas com palavras e sentimentos misteriosos dentro delas causava em meu coração uma explosão de emoções que eu não conseguia decifrar. Como tantas vivências caberiam apenas em uma folha de papel? Claro, que elas não poderiam ser resumidas apenas nisso. Mas, diante daquelas pedras, todas as mulheres, com suas alegrias, tristezas, frustrações, amarguras, medo e dor, estavam unidas em apenas um lugar e com um único desejo: o colo de Julieta.

— E todas as situações que possam imaginar estão através desses lindos envelopes. - Fala a garota de modo eloquente.

— Você já leu alguma dessas cartas? - Questiono curiosa, ajustando a minha bolsa de ombro que escorregava na blusa de alça de seda, enlaçada em minha silhueta.

— Já sim, algumas dezenas de vezes. - Assente, ajeitando entre seus dedos uma cestinha de palha, que não havia percebido anteriormente. — Quando a minha avó não está olhando. - Completa baixinho com um sorriso; caminhando até as cartas, retirando-as com cautela.

— Por que está tirando as cartas? - Indago interessada, observando a jovem à minha frente. — Perdoe-me, mas não é tipo, uma violação de privacidade?

— E como vão respondê-las se não saírem daqui? - Rebate a dona da pele de neve, com um sorriso divertido nos lábios.

— Elas são respondidas? - Pergunto boquiaberta em total estado de deslumbramento com as palavras ditas pela moça, causando-me borboletas agitadas em meu estômago.

— Vem, eu vou te mostrar uma coisa.


O sorriso deliciado e as palavras amigáveis da garota que havia me dito o seu nome alguns segundos atrás poderiam facilmente me manipular para levar-me a qualquer lugar. Poderia ser um matadouro, um bordel ou até uma boca de fumo, mas pelo jeito doce que Clarissa se comunicava, não conseguia ver maldade naquele rosto infantil.

— Oi pessoal. - Cumprimenta animada, abrindo uma pequena porta de madeira com detalhes de vidro, dando-me espaço para passar entre ela. — Trouxe uma visita.

— Você é a jornalista que mandaram de Los Angeles? - Pergunta uma das mulheres mais velhas que estava debruçada sobre a mesa de 6 cadeiras, mas apenas 5 ocupadas.

— Nã-ão. - balbucio nervosa, sem saber ao certo o que falar. — Eu só estava passeando pela casa de Julieta e encontrei a Clarissa.

— Ela é brasileira! - Exclama com total entusiasmo, juntando as mãos em seu queixo.

— Você é brasileira? - As cinco mulheres na mesa indagam de uma vez só, arregalando os olhos, virando-se sobre as cadeiras em minha direção.

— Sou sim. - Assinto tímida, sem saber ao certo como agir naquela situação. Nossa, com certeza as minhas bochechas devem estar da cor de um tomate.

— De que cidade você é? - Uma das mulheres mais novas interroga-me, caminhando em minha direção.

— Você já viu o Roberto Carlos pessoalmente? - Mais uma pergunta vinda de uma voz trêmula surge, mas não conseguia identificar de quem vinha.

— É verdade que o Thiago Lacerda está solteiro?

Então, em apenas uma fração de segundos, sinto os meus ombros serem empurrados na cadeira vazia da mesa de seis cadeiras de madeira; juntamente, com as perguntas tumultuadas e curiosas das senhoras a minha frente dominarem a minha mente, retirando qualquer um dos questionamentos que eu iria fazer aí respeito das cartas.

— Eu sou do Rio de janeiro, mas os meus avós eram italianos. Aqui de Verona. - Respondo com um sorriso alegre entre os lábios. — Ainda não conheci o Roberto Carlos, mas eu queria muito, minha avó gostava muito dele. Dizem que ele é bem cheiroso!

— Sério? - Pergunta a mulher mais jovem a minha esquerda, apoiando o seu queixo nas suas mãos.

— Como é o Rio, querida? - Pergunta a senhora mais velha, na outra ponta da mesa.

— É incrível, a senhoria iria adorar! - Exclamo contente, ao ponto de contar cada mínimo detalhe da cidade maravilhosa. — As praias são maravilhosas, o cheiro da... - Antes que eu pudesse terminar os meus eternos elogios, uma voz desconhecida entre aquele ambiente soa entre nós.

— Violeta? - Uma senhora de cabelos grisalhos e lindos olhos azuis pergunta em minha direção, trilhando os seus passos assombrados até mim. — Violeta Capuleto? Como isso é possível?

— Não, vovó, essa é a Melissa. - Explica a jovem de cabelos escuros. — Ela é brasileira!

— Não, não, não, não. - Nega a mais velha, balançando a cabeça freneticamente. — É, é, é, a Violeta. Você é a Violeta Capuleto! - Afirma com total convicção.

Sinto os meus olhos cravarem no rosto assustado da senhorinha que acusava-me amedrontada, obrigando o meu quadril a se deslocar do assento de madeira. Quem é essa senhora? Por que ela está me chamando assim, pelo nome da minha avó?

— Não Senhora, eu sou a Melissa. Melissa Montenegro. - Falo calma, observando os olhos azuis como botões, da mais velha arregalarem ainda mais com a minha fala, ao ponto de saltarem para fora. — Violeta Guedes era o nome da minha avó. Ela morou aqui em Verona durante a sua mocidade. A senhora a conheceu? - Pergunto suavemente, aproximando-me com cautela, segurando as mãos enrugadas da mais velha sobre a minha palma.

— Montenegro? - Questiona a italiana, com os seus olhos estreitos e as suas mãos trêmulas sobre a minha pele. — Seu sobrenome é Montenegro, Minha filha?

— É sim. - Assinto, engolindo seco, forçando um sorriso fraco em meus lábios.

— Você tem os olhos dela. - Sussurra, fitando os seus olhos brilhantes aos meus. Olhos antigos que oscilavam entre felicidade e dor. Deleite e mágoa. Frustração e encanto. — Você é igualzinha a ela, cara mia. Sua pele... - As mãos trêmulas da senhora, invade a minha face, depositando em um gesto de carinho as suas mãos em carícia em minhas maçãs do rosto. — Você é tão linda!

A medida que as palavras repletas de afeição da senhora a minha frente adentravam em meus ouvidos, as suas sílabas eram sentidas nas pontas dos meus pés, paralisando o meu corpo com apenas um sopro de ar fresco que percorria das janelas. Minha mente viajava ao decorrer dos fios brancos da senhora s se encontrava no contato de sua pele quente, permitindo que as minhas lágrimas acumuladas em meu peito percorressem como águas claras de um rio.

— Vovó, ela é a neta do tio... - Clarisse pergunta baixinho aproximando a sua voz do ouvido de sua avó.

— Sim. Ela é sim.- Confirma a senhora, sem desviar por nenhum momento o olhar do meu rosto, enquanto as pontas dos seus dedos secavam as minhas lágrimas. — Eu conhecia a sua avó, muito bem.

— A senhora a conhecia? - Pergunto, travando o meu maxilar, conforme as minhas sobrancelhas se juntavam.

— Sua avó foi o grande amor da vida de uma pessoa que eu amava muito. - Pronuncia com genuinidade em seu olhar, permitindo que a sua mente fosse para alguns anos atrás. — Giuseppe Montenegro é o meu irmão.

— O que? - Questiono surpresa, arqueando as sobrancelhas em total confusão. — Não é possível!

— Isso tá melhor que novela mexicana! - Exclama uma das vozes chorosas das mulheres atrás de nós.

— É possível sim! - diz a mais velha com um sorriso estonteante entre os lábios. — Rebecca Montenegro. - Estende a senhora, a mão em minha direção. — Prazer em conhecê-la, minha sobrinha!

— O prazer é todo meu... - Falo incrédula, tentando analisar toda aquela situação em minha mente. — Espera, Rebecca? - Franzo as minhas sobrancelhas, recordando-me daquele nome. — A senhora é a mulher que colocou um sapo vivo na ceia de natal?

— Dona Rebeca! - As mulheres atrás de mim gritam perplexas em meio às risadas de Clarisse.

— Vem, vamos jantar. Temos muito o que conversar. - Convida a mais velha, passando as mãos no rosto em vergonha.

— Eu vou pegar meu caderninho para anotar e fazer igual! - Avisa Clarisse, correndo para o outro oposto da pequena salinha.

•⊹◬⃟•⃟

— Sua avó era a mulher mais incrível que eu já conheci. - Diz um senhor velhinho sentado do outro lado da mesa, sendo levado por um olhar raivoso da sua cônjuge ao seu lado. — Claro, depois da minha esposa.

— Vocês lembram como foi que Giuseppe conheceu a Violeta? - Questiona a dona Valentina, uma das irmãs do meu avô.

— Eu lembro! - Responde Rebeca, erguendo o braço que antes estava colocando macarronada em um prato. — Ele tinha roubado a pulseira de ouro da mãe dela.

— O que? - Engasgo-me com um pedaço de filé, ouvindo as risadas das pessoas ao nosso redor. — Ela nunca me contou isso!

— Ah foi mesmo. - Diz outro senhor, um pouco mais velho do que os outros, lembrando-se da época. — E ela chamou a polícia para ele ir preso!

— Que amor bandido! - Exclamo boquiaberta, incrédula com as palavras que escutava. — Ele foi preso?

— Ah, foi sim. - Concorda, balançando a cabeça em uma risada nostálgica.

— Ah, Melzinha, seus avós quando se conheceram, eles brigavam como cão e gato. - Diz o senhor que havia levado um olhar fuzilador da esposa.

— É verdade. Teve uma vez que ele subiu a janela do quarto da Violeta para deixar um rato no travesseiro dela, só que quando ele tava descendo o muro, acabou torcendo o pé. - Conta Rebecca, sentando em uma das cadeiras na enorme mesa repleta de gente.

— Meu Deus! - Exclamo assustada sem saber ao certo o que dizer. — Eu acho que posso ouvir a minha avó gritando madeira enquanto ele caia!

— Eu também posso! - Assente o mais velho, em meio às risadas das pessoas em nossa volta.

— E você, Melissa, já é casada? - Pergunta um dos senhores à mesa, após as longas risadas. — Tenho um filho da sua idade solteiro. Acho que ele tá chegando aí...

— Não sou não, seu Demetrio, ainda estou solteira. - Nego com um sorriso simpático entre os lábios. — Olha, se ele for tão charmoso quanto o pai...

— Esse daí, nem cabelo nasce mais. - Diz o irmão do senhor, quando as risadas voltam a preencher todo o ambiente.

— Só não atrai mais cabelo. - Rebate o outro senhor, fazendo Rebeca revirar os olhos enquanto os outros riam.

— Não ligue para eles, Melissa. Toda noite é assim! - Desdenha a mulher, colocando mais suco de laranja em meu copo.

— Mas uma menina tão bonita como você, não tem nenhum pretendente no Brasil? - Questiona a italiana, depositando a atenção em mim, junto com as outras senhoras que havia conhecido alguns minutos atrás.

— Ou aqui em Verona... - contrapõe uma das mulheres, analisando-me por completo. — Não é por nada não, mas os homens daqui... - Murmura, juntando os lábios de forma brincalhona.

— É verdade, eles são lindos! - Concorda Clarissa, sentindo o olhar de sua avó sobre ela. — Para olhar quando eu estiver mais velha. - Corrige nervosa com medo da repreensão.

— Não tenho ninguém no Brasil. - Retruco calma. — Realmente, pelo pouco que pude conhecer dos italianos, os homens daqui são realmente encantadores, mas...

Antes que eu pudesse falar mais alguma coisa, uma relutância estranha acompanhada de um vulto branco com pequenos detalhes escuros surge na parede de vidro do outro extremo da enorme sala de jantar. Que, por coincidência, dava a visão perfeita para a casa de Julieta. O que será que é isso? É o fantasma de Julieta me atormentando agora? Meu Deus, o que eu fiz?

Rolo os meus olhos para o lado, tentando voltar a atenção para as mulheres que questionavam sobre aspectos da minha vida, principalmente, amorosa. Mas por incrível que possa parecer, eu não me incomodava nenhum pouco. Muito pelo contrário, poderia responder às perguntas delas por horas.

Vejo o vulto mais uma vez, pelo canto dos meus olhos, obrigando-me a virar o rosto novamente em direção ao outro extremo do horizonte. Em um gesto de clamor das minhas pálpebras, fecho os meus olhos firmemente, clamando sobre aquele luz amarelada do lustre antigo que fosse apenas fruto da minha imaginação. Meu santo Deus, me perdoe se eu fiz algo de errado. Se for a morte, por favor, não me leve antes de conhecer o Leonardo DiCaprio.

— Melissa! - Um grito abafado pela espessura do vidro adentra em meus ouvidos em um volume mediano.

— Meu Deus, é o Leonardo DiCaprio? Eu estava brincando! - Murmuro baixinho, pressionando os meus olhos.

— Melissa! - A mesma voz soa novamente, um pouco mais alto.

— Mel, eu acho que tem um homem chamando você. - Avisa Clarisse com um tom preocupado, forçando-me a abrir os olhos.

Ufa, não é o espírito da morte. Tudo bem, não é o espírito da morte! Solto um suspiro aliviado, que leva com ele a tensão que havia sido depositada em meus ombros, fazendo-me criar coragem para abrir um dos olhos.

— Drew? - Questiono perplexa, observando o homem erguer os braços para cima e balançar conforme o vento. Não é possível! O que ele tá fazendo aqui?

Levantando-me da cadeira incrédula, semicerrando os olhos e erguendo as sobrancelhas ao mesmo tempo. Gesticulo as minhas mãos, uma para cada lado do corpo, perguntando por mímica o que aquele homem estava fazendo aqui.

— Desculpe, só um minutinho. - Peço licença, aproximando-me da porta de vidro em passos ligeiros.

— Quem é você, rapaz? - Antes que a minha rapidez conseguisse chegar até a porta, um dos meus tios que estava mais perto da entrada chega até ela, ameaçando o loiro com o seu rosto intimidador. — O que quer com a minha sobrinha?

— Tudo bem, seu Miguel. Não se preocupe, tá tudo bem. - Tranquilizo, fazendo o mesmo se afastar com receio.

— Olha, ele trouxe flores! - Uma das vozes curiosas lá de dentro soa em meus ouvidos antes de fechar a porta e ver os olhares observadores de todos lá dentro sobre nós dois.

— O que você tá fazendo aqui? - Questiono acusadora com um tom de voz irritado. — O que é isso? - Pergunto, cruzando o meu olhar com as tulipas em suas mãos.

— Eu rodei a cidade inteira atrás de você. Onde você estava? - Pergunta o loiro com a voz serena, ignorando a minha outra pergunta.

— Não é da sua conta. - Respondo neutra, dando de ombros. — Como soube que eu estava aqui?

— Liguei pra Gessy, ela disse que você vinha pra cá. - Retruca o rapaz, observando o lugar à sua volta. — Aqui é muito bonito. - murmura admirando o que seus olhos enxergavam.

— Por que está suado? - Indago, traçando uma linha com o meu olhar do seu rosto molhado até o suor em seu pescoço.

— É porque tá quente. - pronuncia de modo não tão convivente, desviando o olhar para o lado, a fim de não encarar o meu rosto.

— Não tá calor. - Afirmo desconfiada, cruzando os meus braços sobre o peito.

— Eu meio que... - Um suspiro pensativo escapa de seus lábios, como se ponderasse as suas futuras palavras. — corri um pouco a cidade atrás de você. - completa baixinho.

— Você correu a cidade toda atrás de mim? - Pergunto surpresa, entreabrindo os lábios incrédula.

— É, tipo isso. - Assente, tentando banalizar o seu ato dando de ombros.

— E essas flores? - Indago, cruzando os meus olhos com as íris azuladas do rapaz que relutava em olhar os meus olhos.

— É pra te pedir em namoro. - Pronuncia, desenhando um sorriso malicioso em seus lábios.

— Vai namorar o capeta! - Desdenho furiosa, deixando que as expressões de repugnância tome conta do meu rosto.

— Querida, não vai chamar o seu amigo para jantar? - A voz agora familiar de dona Rebecca Montenegro surge entre nós, após seu rosto aparecer sobre a brechinha da porta de vidro.

— Não tia, ele já está de saída. - Minto com um sorriso forçado nos lábios em uma tentativa de expulsá-lo.

— Ah, mas eu posso ficar um pouquinho. - reluta, soltando um dos seus sorrisos galanteadores em direção da minha tia. — O cheiro está incrível que não posso resistir.

— Não tem mais lugar, né, tia? - Pergunto em uma tentativa desesperada de fazê-lo ir embora.

— Claro que tem. - Afirma a mulher contentemente. — E se não tivesse, nos arrumaríamos para um rapaz tão bonito e educado assim. - Diz a mais velha, dando espaço para ele entrar, depositando as suas mãos no ombro dele delicadamente. — Gosta de macarronada, meu querido?

— É o meu prato preferido. - Responde o rapaz, dizendo exatamente o que ela queria ouvir.

— Que maravilhosa! - Exclama a mulher contentemente. — O amigo da Melzinha vai jantar conosco. - Avisa a mulher em voz alta para as pessoas ali presentes, recebendo gritos de felicidade das mulheres e olhares duvidosos dos homens.


— Então, Joseph, né? - Pergunta o seu Demétrio com a voz intimidadora.

— Sim, senhor! - Assente o rapaz educado.

— O que faz da vida? - Interroga o mais velho, como se estivesse à procura de um vacilo do rapaz.

— Eu sou ator, senhor Demétrio. - Diz o homem ao meu lado de modo gentil, tirando olhares de parabenização de algumas pessoas ali presentes. — Eu vim para a Itália gravar algumas cenas de um projeto que estou trabalhando.

— Ator? Não é pra menos, tanta beleza! - Elogia a esposa do seu Luiz, levando um olhar repreensivo do marido.

— Que isso, rapaz, eu to aqui! - Reclama o senhor, fuzilando Starkey com os olhos.

— Muito obrigada, senhorita! - Agradece loiro com um sorriso amistoso. — O seu esposo não é pra menos, quando olhei rápido, confundi ele com James Dean.

— Só se for o James Dean falsificado! - Rebate o senhor Demétrio em meio a uma risada.

— Vá pro inferno! - Exclama o senhor na direção do irmão. — Obrigado, meu rapaz! Nessa casa não sabem apreciar beleza de verdade...

— Vai ficar muito tempo por aqui, Joseph? - Pergunta a tia Rebecca, encantada com o rapaz, pelo modo que não conseguia tirar os olhos dele em nenhum momento.

— Vou ficar por aqui algumas semanas, Dona Rebeca. Até as gravações terminarem. - Explica, disposto a responder todas as perguntas. Troço nojento, como é falso!

— Deve ser muito cansativo. - Fala Clarissa, examinando o homem por completo. — Decorar todas aquelas falas e passar o dia gravando.

— É um pouco cansativo sim. - Confessa, balançando a cabeça positivamente. — Mas quando fazemos o que gostamos, às vezes esquecemos disso.

— É aquele ditado: Faça o que gosta e não trabalhará nenhum dia de sua vida. -  Diz uma das mulheres que estava escrevendo as cartas na oficina de Julieta.

— Exatamente. - Concorda, enrolando o garfo sobre a massa, levando até os lábios. — Isso aqui é como um pedaço de céu em forma de comida.

— Ah, que isso, menino! - Agradece Rebecca modesta, envergonhada pelas palavras do rapaz.

— A senhora tem as mãos de um anjo, dona Rebecca. - Elogia o homem, levando mais uma vez o garfo até os lábios.

— Puxa-saco! - Pigarreio baixinho para que apenas ele pudesse escutar.

— Então, achei que não tivesse namorando, Melzinha. - Insinua seu Demétrio, encarando-nos a todo momento, fazendo-me tossir verdadeiramente de nervoso.

— Eu não estou, tio. - Afirmo, olhando pelo canto dos olhos Starkey ansiar pela minha resposta com um sorriso provocativo. — Somos apenas conhecidos.

— Por enquanto. - Pronuncia o rapaz, com um olhar furtivo, deixando as senhoras boquiabertas.

— Gostei de você, garoto! - Resulta o meu tio, após uma análise mental própria, balançando a cabeça lentamente, enquanto esfregava os seus dedos em seu queixo.

— Eu também! - Dizem as pessoas na mesa em conjunto, como se fosse uma orquestra bem planejada. Mas que merda, por que ele tinha que aparecer justo agora?

As cadeiras estavam se esvaziando com os mais velhos indo para seus quartos pelo horário indicado do relógio de ponteiros pendurado sobre o alto da parede da cozinha e os seus bochechos altos. As senhoras estavam nas cadeiras sentadas conversando sobre assuntos da vizinhança (fofocas), enquanto os mais novos retiravam as louças da mesa.

— Não precisa levar, Joseph. Sente-se aí, você é uma visita! - Impõe Dona Rebeca, encarando o rapaz.

— Eu não me importo. - Responde o loiro, empilhando os pratos em cima um do outro.

— Ele é um bom garoto. - Diz a mulher baixinho, quando os passos do rapaz estavam um pouco mais distantes do que antes.

— Ele é um saco, tia! - Retruco, sabendo que ele havia escutado a fala dela e que, pelo modo que desacelerava os próprios passos, sabia que estava esperando a minha resposta.

— Ele parece gostar de você. - Insinua Clarissa, olhando para as tulipas que estavam sobre a mesa com a cabeça. — Ele te trouxe até flores.

— E ele é muito bonito! - Exclama a esposa de seu Luiz, dando ênfase na palavra "muito".

— Ele tem os olhos do seu avô. - Pronuncia Rebeca em um sussurro triste, encarando os seus dedos. — Os doces e inconfundíveis olhos azuis.

Em apenas algumas palavras, sinto o meu corpo estremecer e uma sensação estranha tomar conta de todas as moléculas sanguíneas que percorriam em minhas veias. Sentindo todas essas emoções em uma descarga elétrica que eletrocutava cada átomo do meu corpo de uma maneira singular e estrondosa. Não sabia ao certo o que era isso, mas a minha mente não estava mais respondendo os comandos dos meus critérios impostos sobre o homem dos fios dourados, ela estava querendo me sabotar à medida que os meus olhos encontravam o rosto do rapaz sobre o pequeno espelho ao seu lado. Meu coração palpitava e ordenava-me para que meus pés fossem até ele, mas a minha mente ainda relutava, mesmo que com poucas forças, para que tudo aquilo fosse embora.

"Ele tem os olhos do seu avô"

"Ele tem os olhos do seu avô"

"Ele tem os olhos do seu avô"

"Ele tem os olhos do seu avô"

A minha mente me sabotou, obrigando-me a fazer com que meus pés traidores caminhassem sobre o chão de mármore ao encontro do rapaz dos doces olhos azuis. Eu não tinha palavras certas do que eu iria falar para o homem de fios dourados. Eu não possuía um roteiro. Eu não tinha nada. O que eu vou dizer para esse homem? O que ele quer aqui? Por que tudo isso está acontecendo? Por que estou agindo dessa maneira?

— A sua família é incrível! - Elogia o rapaz, observando a minha proximidade. — Acho que o seu Luiz não gostou muito de mim, mas acho que com umas doses eu conquisto ele.

— Eu não quero ser sua namorada falsa. - Digo neutra, encaixando as minhas mãos no bolso da saia.

— Eu sei que eu estou pedindo demais, Melissa. - Compreende o homem, trilhando alguns passos em minha direção. — Você tem todo o direito de negar isso. Eu sei que é loucura. - Seus olhos cruzam aos meus em pura sinceridade e cautela, em busca de minha compreensão. — Mas eu preciso desse trabalho. As pessoas que estão naquele filme precisam desse trabalho. - Continua. — Eu não posso dizer que é a melhor solução, mas é a única que eu tenho.

— Eu sei, Starkey. - Assinto com a cabeça, rodopiando os meus olhos pelo cômodo. — Mas isso é fora do comum. É... completamente irracional.

— Eu sei. - Admite, aproximando o seu corpo ao meu, eliminando aos poucos os centímetros de distância que habitavam entre nós. — Eu sei que não sou a sua pessoa favorita no mundo, ou a pessoa que você gostaria de passar as horas do seus dias, mas eu te prometo, Mel, que eu vou ser o melhor namorado falso do mundo. - Garante Joseph, olhando-me com seus lindos olhos brilhantes, permitindo que as nossas pupilas conversassem entre si, e que elas, tomassem as suas próprias decisões. — Só diga sim pra mim.

Então, entre aquelas palavras que colocavam em uma balança entre a razão e a emoção que habitava em meu peito, apenas uma delas poderia pesar mais. E eu clamava aos céus em todas as orações em minha mente, para que uma delas gritasse mais alto.

— Tudo bem. Eu digo sim para você.

𝐍𝐨𝐭𝐚𝐬 𝐝𝐚 𝐀𝐮𝐭𝐨𝐫𝐚:
Oii anjinhos, capítulo 19 postado, desculpem qualquer erro, mas espero muito que gostem :)

ᬹ⃟ ⃟➴• O que acharam desse capítulo?

• ◌ᬹ⃟ ⃟➴O que estão achando da  fanfic?

|Se gostarem, não esqueçam de votar e comentar. <3|

Boa leitura, beijinhos e bom dia, boa tarde ou boa noite!💌

╾┉᭚⃟❀

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