So in love that you act insane
And that's the way I loved you
Breakin' down and coming undone
—Taylor Swift
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Gatilhos desse capítulo: todos
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O calor, que ainda não havia cessado, se espalhou pelo meu peito e fez o meu coração parar.
Por que diabos Matthew se achava no direito de me pedir aquilo?
O que tinha acabado de acontecer ali, só provava o quanto eu jamais poderia desistir de uma coisa tão certa, por alguém como Matty. Por um homem que mexia tanto com os meus nervos, que me fazia tremer de prazer, depois de eu ter chorado de raiva. Por um homem que nunca sabia o que fazer, nunca sabia quando eu precisava que me amasse, que nunca entendia quando eu precisava de afastamento e... que, também, me fazia não entender a minha própria cabeça.
As lágrimas tinham cessado, quando ele começou a sentir o meu corpo, me fazendo lembrar do quão bom ele era e de que ele sequer precisava me despir, para me deixar desfeita. Mas elas estavam querendo voltar, quando eu disse, em alto e bom som:
—Não.
Eu estava assustada para caralho, percebendo os inúmeros acontecimentos daquele dia.
Primeiro, aquela raiva no estúdio. Depois, eu morrendo de rir no karaokê, e pensando que poderia ser assim com Matthew: que nós podíamos nos dar bem. E, então, o banho em Vênus, e o choro e a revolta, e, por último, o meu corpo sem conseguir obedecer a minha razão, porque eu precisei dos dedos dele me acariciando... E eu me sentia tão fodidamente suja.
Caralho, eu odiava ele.
Eu odiava Matthew por nunca ter falado que queria que eu tivesse ficado, até que aquilo pudesse ser conveniente para ele. Ele já tinha deixado bem claro, diversas vezes, que queria acabar com o meu relacionamento, como eu tinha feito, involuntariamente, com o dele e de Natalie. Ele já tinha deixado bem claro que queria brincar comigo.
E eu tinha esquecido. Quando ele começou a me fazer rir, e me contou que queria ter cuidado de mim... eu esqueci de toda a bagunça que ele trazia, para mim.
Não era saudável querer uma pessoa, como eu queria Matthew. Não era racional querer ele, depois de ele ter causado o corte mais profundo do meu coração, que ninguém nunca conseguiu costurar. Não era descente, querer que ele concertasse o coração que ele mesmo quebrou.
Eu... Estava tão. assustada. E eu disse isso a Matthew.
—O que? -ele pareceu impressionado.
Matthew estava achando que era só aparecer com palavras bonitas e mãos carinhosas que eu ia desistir de tudo? De tudo o que eu sempre tive, e de quem esteve comigo em uma das épocas mais difíceis da minha vida?
Porra. Liam me salvou de ficar depressiva e maluca, quando toda a internet estava caindo em cima de mim, por conta de uma merda de situação de direitos autorais. Liam me enxergou, quando todo mundo estava dizendo coisas cruéis sobre mim, e quando eu estava frágil. Ele foi, por muito tempo, a única pessoa que eu conseguia abraçar.
Ele podia não ter sido a pessoa que me fez enlouquecer de amor, mas ele era a paz que eu precisava. Enquanto Matthew...era isso.
Era essa confusão de sentimentos, que tentava irritar todo mundo quando estava frustrado, e me controlava com aquelas mãos irresistíveis, e se afastava quando algo dava errado, e depois aparecia com declarações espalhafatosas, como se isso pudesse consertar alguma coisa. Ele... ele não era diferente de 7 anos atrás, era?
Não. Não era, e eu preferia que não fosse, porque assim, eu me conseguia me lembrar de como tudo tinha acabado. E eu não queria repetir aquilo.
—Eu não vou terminar com ele. -eu disse, me levantando do sofá, apesar da tontura- Muito menos por você.
Acho que a minha língua foi mais afiada do que eu gostaria que fosse, quando aquela última frase saiu. Mas não deixava de ser mentira, por mais que doesse. E doeu, também, ver ele se levantar. Porque Matthew estava, antes, ajoelhado de frente ao sofá.
Pensei que ele fosse rir da minha cara, e falar sobre ter sido o homem que me fez chorar, e que me fez querer que as coisas fossem diferentes, e que me deu orgasmos e que me fez rir.
Mas não. Ele se levantou e, de repente, pareceu que o homem estava precisando permanecer com aquele contato físico, iniciado há vários instantes atrás, porque ele segurou a minha cintura.
—Por mim, sim. -ele disse, com um tom que era meio exigente, meio sofrido.
Eu balancei a cabeça. Não.
Aquilo não era certo. Eu não devia ter deixado-o me tocar. Eu não devia ter feito aquela cena patética, de adolescente apaixonada. Eu não devia ter amaldiçoado o nome dele. E, principalmente, eu não devia sentir aquela necessidade fisiológica e emocional de saber como era o beijo dele, hoje em dia.
Odiei Maya, naquele instante. Porque ela tinha tido acesso àquela boca há menos tempo que eu. E porque ela podia fazer aquilo se quisesse.
Se os dois não estavam flertando, era por minha culpa. Se os dois não marcaram um próximo encontro, foi porque eu pedi para que não acontecesse. O que era uma situação muito mais fácil do que a minha.
Eu não podia beijar Matthew, porque isso significava abrir uma porta no meu coração, que eu tinha custado muito para fechar. Significava trair Liam, ainda mais intensamente do que eu tinha feito na minha cabeça. Significava dar razão a todas as milhões de pessoas que me chamaram de vadia, ao longo dos anos.
—Estou tão confusa. -eu choraminguei, quando ele acariciou minhas bochechas pela milésima vez, no dia.
Matthew balançou a cabeça, em um sinal negativo, como se me pedisse para não ficar.
—Você não pode fazer isso. -eu sussurrei, quando senti as mãos dele apertarem o meu abdômen, e vi os olhos dele encararam a minha boca- Não pode. Uma merda de tatuagem não conserta nada.
—Eu sei que não, Ammy. -ele disse, com tristeza, mas não se afastou- Mas...
—Mas nada.
Eu queria ter gritado aquela resposta, mas saiu como um gemido de dor, praticamente.
E eu sabia que não era verdade, e que eu tinha muitas outras coisas a agradecer naquela vida, mas, me pareceu certo afirmar para ele, em um tom baixo:
—Liam é tudo o que eu tenho.
Não tudo, mas era muita coisa. Eu estava tão acostumada com aquele sorriso dele, e com a pele quente, e com os olhos azuis como o oceano, e como a gente sempre brincava que nossos filhos teriam aquela pigmentação de íris, mesmo que eu soubesse que ele não queria filhos... Eu sabia tudo sobre ele. E ele me contava tudo.
Ele não guardava as declarações ou as demonstrações de cuidado por sete anos.
—Você tem a mim. -ele sussurrou, quando colocou a mão sob o meu coração.
E aquilo me transtornou ainda mais.
Eu tinha ele? Desde quando, pelo amor de Deus?
Desde que ele me deixou sair de um hotel chorando, há 7 anos atrás? Quando ele me deixou esperar por horas naquela clínica, 6 anos atrás? Quando ele me expôs na internet, depois daquele Grammy? Depois que ele me magoou várias vezes, com frases e indiretas, por todo aquele tempo?
Matthew era um sonho. Rir com ele era um sonho, aqueles poucos dias haviam sido intensos, e bons, mas... mas também era um sonho. A realidade era essa. Era quando ele me transtornava, de tanto desejo e de tanto ódio.
A realidade era ele me puxando para perto, fazendo com que nossas cinturas se encontrassem, e passando a mão pelo meu pescoço, obrigando a minha cabeça a se curvar e a lhe dar mais espaço. Era Matthew agarrando o meu pescoço e me fazendo suspirar, mesmo quando eu estava machucada para caralho e...
—Faça. -eu disse, baixo, apesar do ódio.
Matthew usou a mesma mão para mover a minha cabeça, e para me obrigar a olhar em seu rosto. As expressões dele eram confusas, até que eu repeti:
—Faça. -minha voz saiu trêmula de angústia- Você quer me foder? Quer provar para si mesmo que ainda é capaz de me manipular, com tão pouco esforço? Faça.
Eu vi ele entreabrir os lábios, e parecer dolorido, apesar de não ter avançado. E nem se afastado.
—Você está certo, no fim. -eu senti o ar faltar aos meus pulmões, porque foi difícil para caralho arrumar oxigênio para falar- Você está certo desde a merda do primeiro dia, quando disse que conhecia a minha cabeça suja.
E era isso que eu tinha mesmo. A pior cabeça de todos os tempos. A cabeça que eu tentei esconder para caralho.
Por Deus, eu era imunda.
—Você sempre ganha, quando o assunto é controle. -balancei a cabeça, sentindo as lágrimas voltarem- Eu só perco.
Senti-o afrouxar a mão, e querer retroceder um pouco. Matthew pareceu envergonhado, de repente. Mas por que, afinal? Ele estava envergonhado porque eu estava verbalizando toda a merda que nós dois sabíamos que estava acontecendo?
—Faça! -gritei- Você quer destruir a porra da minha cabeça mais uma vez? Faça, então.
Mas ele apenas engoliu em seco, e se afastou de vez.
Matthew estava sem camisa, ainda. Os curativos que eu havia feito cobriam parte dos músculos que estavam me pressionando, agora a pouco. Os olhos, que sempre tiveram um ar de perdido, que me atraíram tanto, porque eu pensava que poderia fazê-lo completar o que estava faltando... Aqueles olhos falharam.
—Ammy... -ele sussurrou, me vendo completamente fora de mim.
Eu arrumei a minha saia, e a minha blusa, sentindo aquela vergonha tomar de conta do meu corpo. Eu me senti tão mal. Tão mal por querê-lo, e por saber que se ele avançasse, eu não teria controle sobre mim mesma. Se ele avançasse, eu me perderia nos meus próprios princípios de caráter.
—Eu não queria... -ele começou, mas, antes que falasse mais uma de suas mentiras bonitas, eu interrompi.
—Uma tatuagem não vai apagar o dano que você fez a mim. -eu disse, com ódio e com tristeza- Você sabe que nós não vamos conseguir consertar porra nenhuma.
E não era mentira.
Se fosse para ser honesta, para colocar no papel e dizer o que eu pensava de verdade sobre aquilo, eu falaria que, se eu visse algum futuro nas palavras dele, eu abandonaria qualquer merda de relacionamento por Matthew.
Sempre foi meu sonho, afinal. Pelos anos anteriores a Liam, toda vez que eu me encontrava em algum relacionamento idiota, eu torcia para que Matthew aparecesse diferente, e quisesse me salvar deles.
Mas, honestamente, eu estava cada dia mais perto dos 30. Eu não tinha mais saúde psicológica para brigar, e morrer de desejo, e para querer uma pessoa mais que tudo, se nunca ia levar a lugar algum.
Eu e Matthew? Lindos nas revistas. Descolados para caralho nos palcos. Sabíamos como fazer música juntos, sabíamos como nos divertir. Se colocasse algumas doses de tequila e uma música divertida, poderíamos ser a melhor porra de coisa em uma festa. Quando transávamos, antes, eu jurava que ele conseguia me fazer ver estrelas. Eu jurava ser um pedaço do inferno e do céu unidos, estar com ele em uma cama.
Mas, eu e Matthew nunca poderíamos conviver sem nos destruir. Apesar das promessas do passado, nós dois sabíamos que nunca colocaríamos crianças no mundo, ou nunca nos casaríamos e andaríamos de mãos dadas em jogos de beisebol. Nós nunca poderíamos nos amar de uma forma boa. Pelo menos, não mais.
Por isso, eu fui embora.
Não para casa. Porque eu não conseguiria voltar para casa e encarar as roupas de Liam, no closet. Ou a cama onde dormimos juntos tantas vezes, antes.
Eu fui, como uma criança, para a única pessoa que eu poderia falar exatamente o que tinha acontecido. Para a única pessoa que nunca me julgava, quando eu estava fazendo merda. Para a única pessoa que conseguiria ouvir tudo, e não ia me dar uma lição de moral ou tentar dar um jeito de tornar as coisas melhores.
Mary era a minha amiga mais antiga de todos os tempos. Eu conheci-a quando eu era apenas um menino, e muito antes dos outros da banda. Eu adorava como ela conseguia tornar todos os assuntos legais, e como ela nos obrigava a saber de coisas que não nos importávamos tanto.
Mary, uma vez, me disse que sempre que estava triste, o seu estômago começava a lhe dar sensações estranhas, e ela começava a vomitar as tripas. Ela me disse que era porque o órgão tinha uma linha direta e secreta ao nosso coração, e que ele sempre sabia quando tinha algo de errado.
Passei muitos anos achando que aquilo só acontecia com ela, porque a menina era dramática.
Até que eu passei a noite inteira vomitando, por conta das últimas palavras de Ammybeth.