equalize | kelmiro

By bisborriah

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[ONE SHOTS] "E eu acho que eu gosto mesmo de você, bem do jeito que você é. Eu vou equalizar você numa frequê... More

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By bisborriah

Oi! Demorei pra atualizar, né? Fiquei sem tempo e a inspiração pra escrever também resolveu empacar 🤪 Mas vi que era aniversário da gauchekela e pensei "tenho que finalizar esse capítulo hoje!" porque queria muito entregar como presente pra ela, que sempre tá apoiando Equalize e todas as minhas fics Kelmiro.

Obrigada, Keila. Feliz aniversário e tudo de bom sempre!

Espero que gostem 💜

Tudo começa em um dia comum na vida de Kelvin e Ramiro. É por volta das nove da manhã e o casal havia acabado de acordar, sendo essa uma das raras folgas de Ramiro. O café posto mais cedo no balcão por Zeza ainda está quentinho e os dois aproveitam para se alimentar dos pãezinhos ali servidos junto de Iná, Nando e Polerina.

A conversa – como sempre, repleta de fofocas sobre cada morador de Nova Primavera – está boa e animada ao redor do balcão do Naitandei, com direito a Kelvin tendo que se segurar nos ombros de Ramiro para não cair enquanto gargalha alto de algo que Polerina fala. No entanto, a atenção do grupo logo se desvia para Luana, que desce os degraus para o primeiro andar enquanto arruma os cachos e ajeita a roupa no corpo.

A mulher atravessa o salão em passos silenciosos até uma das portas que levam à saída do bar, e ela até tenta passar despercebida pelos amigos, mas isso é quase impossível ali.

— Posso saber onde a senhorita vai? — Kelvin pergunta, interessado, arqueando uma sobrancelha e levando a xícara com café à boca com o dedo mindinho espevitado. Ao ouvir aquilo, Luana para no meio do caminho e vira na direção dos colegas de trabalho com um sorriso amarelo no rosto.

— Tô indo comprar uns ingredientes que estão faltando aí na cozinha... — A ex-dona do bar tenta justificar com as mãos na cintura, mas o tom de voz entrega imediatamente a mentira naquela frase.

Por isso, Kelvin troca um olhar sabido com Ramiro, que ri baixinho enquanto toma mais um gole do café preto, e depois um com os amigos do outro lado do balcão. Nando, Iná e Polerina também riem enquanto olham desconfiados para Luana, e a mulher rebate com um revirar de olhos.

— Tem lista de compras pra hoje, Zeza? — Kelvin, em um tom de brincadeira, pergunta ao sócio, que havia aparecido ali assim que sentiu o cheiro de mais uma fofoca no ar.

— Não que eu saiba, sócio. — Zeza responde fazendo um gesto de "não sei" com os braços. — Ih... — Ele complementa, segurando o riso, quando vê a expressão de traída de Luana ao ouvir-lo.

Sendo a grande e conturbada família que são, o Naitandei tem seus momentos de altos e baixos, mas o que nunca muda é a disposição que cada um dali tem para atentar a vida dos colegas. Nenhum deles consegue passar um dia sequer sem provocar um ao outro ou fazer alguma piadinha para perturbar o juízo de alguém.

— Tá bom, tá bom, vocês são insuportáveis, né? — Luana desiste de manter a pose e aponta para os amigos em revolta. — Eu vou dar uma volta pelo centro pra procurar uma roupa nova. — Ela finalmente explica o real motivo da saída naquele dia.

O grupo todo – menos Ramiro, que se contenta em apenas rir das travessuras daquele pessoal que já conhece muito bem – se une em um coro de "Ihhh" depois que ouvem a resposta de Luana. A mulher cruza os braços e cerra os olhos na direção deles, segurando a bolsa pequena que leva consigo em uma das mãos.

— Roupa nova, é? — É Iná a próxima a provocar a amiga enquanto termina de mastigar um pãozinho. — Vai encontrar com o boy hoje? — Ela pergunta com um sorriso cheio de malícia e isso gera mais uma rodada de risadas entre eles.

Após ouvir a pergunta, Luana dá um sorriso falso para Iná e se aproxima da amiga apenas para dizer "Não te interessa" e bater de brincadeira com a bolsa nas coxas dela, logo saindo apressada novamente pela porta principal do bar. Porém, antes de sumir completamente da visão dos colegas, ela volta e diz com uma expressão igualmente metida e apaixonada:

— Pois eu vou mesmo, tá? Vou a um encontro com o meu Doutor Rodrigo. Agora tchau pra vocês, intrometidos!

A revelação é recebida com gritinhos e palmas exageradas dos habitantes do Naitandei, que veem tudo e qualquer coisa como motivo para festejar. Ramiro não entende muito bem o que Luana quis dizer com "encontro", mas tenta acompanhar a animação do namorado, que faz uma dancinha alegre ao redor de si enquanto segura o copo americano já quase vazio.

As brincadeiras ainda perduram por algum tempo, mas o assunto sobre o encontro de Luana se encerra logo depois, pois não demora muito a ser substituído por outra fofoca. A conversa continua animada e Ramiro tem uma mão sobre a coxa de Kelvin enquanto escuta e interage quando necessário; os copos com café já haviam se esvaziado e a bandeja com pães segue no mesmo caminho. Porém, na mente de Ramiro, ainda há um grande ponto de interrogação que ele não consegue apagar.

O que seria um encontro...?

Mais tarde, naquela mesma manhã, Ramiro está encostado em uma das mesas do bar enquanto espera por Kelvin, que, junto de Zeza, está recebendo uma dupla de arquitetos. Eles haviam decidido fazer algumas reformas no Naitandei há algum tempo, mas a renda do estabelecimento só se tornou lucro recentemente, e o sorriso realizado que Kelvin tinha ao contar isso para Ramiro é algo que ele nunca irá esquecer.

É nesse meio tempo, após observar Kelvin distraído ao andar para lá e para cá falando suas ideias para os arquitetos, que Ramiro decide ir se sentar na cadeira de uma das mesas mais isoladas do bar para tentar sanar a curiosidade. Ali, ele pega o celular antigo do bolso e o desbloqueia com a senha que o namorado havia o ensinado a colocar – é a data de aniversário da mãe e o nome de Kelvin juntos, e o baixinho fica sorrindo bobo sempre que precisa desbloquear o aparelho de Ramiro para usar.

Para Ramiro, ainda é um pouco complicado entender algumas funções daquele aparelho eletrônico que ele pensava já conhecer tão bem, mas Kelvin, na mesma proporção que o apresenta novas coisas, o ajuda sempre que é necessário. Então, curioso, ele abre o aplicativo de pesquisa e clica na barra branca, logo digitando "Encontro" letra por letra no teclado.

— Ara... — Ramiro murmura consigo mesmo, contrariado, pois a pesquisa não serve para nada além de deixar a mente dele ainda mais confusa. Tudo o que aparece na tela do celular é relacionado a algum programa de televisão que ele não assiste e que, provavelmente, pelo jeito que Iná e os outros moradores do bar agiram quando escutaram a palavra, não tem nada a ver com o que Luana faria.

Ramiro está focado nas palavras que aparecem no aparelho e não percebe a presença súbita de Kelvin ao lado dele. O rapaz, depois de deixar os dois arquitetos na saída do bar, agora pula em direção ao namorado e o agarra pelos ombros, dando um susto digno de muitas risadas no peão. E Kelvin até começa a rir, mas para quando vê Ramiro bloqueando o celular e o guardando com pressa no bolso da calça.

— Ih, que foi? — Kelvin logo pergunta com uma das sobrancelhas arqueadas em questionamento, abraçando os ombros de Ramiro com um braço só enquanto coloca a outra mão na própria cintura.

— Que foi? Que foi o quê? — Ramiro pergunta de volta, confuso, pois foi mesmo pego de surpresa pela chegada de Kelvin ali; sua cabeça tentando registrar isso e o fato de ainda não saber o que um encontro significa.

Aparentemente, aquela resposta não é uma das melhores, porque Kelvin o olha de cima a baixo com uma expressão ainda mais intrigada e desconfiada. Depois, o baixinho rebate com outra pergunta: — É o seu patrão te mandando mensagem?

O olhar profundo e questionador de Kelvin faz Ramiro engolir em seco, mesmo sabendo que não está fazendo nada de errado, e ele acaba tendo que desviar os olhos para um canto aleatório do bar.

É claro, Ramiro poderia perguntar diretamente a Kelvin sobre o significado da palavra "encontro", pois aquele rapaz baixinho e inteligente sempre foi a fonte dos ensinamentos mais importantes da vida dele. Ele não mais tem vergonha de não saber ou não entender certas coisas – Kelvin o explica tudo de boa vontade, e as aulas para adultos na escolinha o fizeram compreender que qualquer pergunta é válida –, mas isso iria contra o próprio motivo de Ramiro ter ficado curioso, para começo de conversa.

Ramiro poderia até não entender por completo o significado da palavra em si, mas não foi difícil pegar as nuances do diálogo entre os moradores do bar naquela manhã, mais cedo. Ele sabe que Luana e Rodrigo são um casal, e também entendeu que a amiga iria comprar roupas novas para fazer algo importante com o namorado. Então, seguindo o raciocínio de Ramiro... se ele e Kelvin também são um casal... eles não deveriam estar fazendo esse negócio de encontro?

— Num é nada, não, Kevinho. — Ramiro responde puxando o cós da calça para cima, como é de costume quando está nervoso. O olhar de Kelvin pesa sobre ele, mas Ramiro continua observando ao redor parar evitar-lo, pois sabe que iria ceder facilmente se fosse atingido por aquele castanho-claro.

— Hum. — É o que Kelvin responde e, conhecendo bem o namorado que tem, Ramiro sabe que esse não é um bom sinal. Por isso, ele decide olhar para Kelvin e tentar reverter a situação, mas não consegue, pois o rapaz logo continua: — Tá bom, então. — Ele diz e sai andando com os braços cruzados para a cozinha do Naitandei.

— Ê, lasqueira... — Ramiro sussurra consigo mesmo.

Quando Luana volta das compras, é difícil encontrar um momento calmo e a sós com ela, que é imediatamente rodeada por todos os moradores do Naitandei, curiosos, querendo ver as roupas novas e montar o que eles chamam de "looks". Entretanto, Ramiro consegue abordar-la alguns minutos depois, quando a euforia passa e cada um volta às respectivas tarefas. Ali, enquanto Luana varre o cantinho do pole dance, Ramiro decide perguntar à própria sobre o que ela quis dizer com aquela maldita palavra.

— Oba, Luana! — Ramiro cumprimenta a mulher como se já não tivesse falado com ela pelo menos três vezes só naquele dia, mas não consegue evitar a própria estranheza, pois está levemente envergonhado. Ele mexe no boné pendurado na cintura, nervoso, andando atrás de Luana enquanto ela varre, até que decide se sentar no sofá que fica ao redor do instrumento de dança.

Depois de cumprimentar-lo de volta, Luana espera pelo o que Ramiro tem a falar, mas o que recebe é um homem de um metro e oitenta a seguindo para lá e para cá. Então, quando ele senta em um canto do sofá, ela não consegue evitar a piadinha: — Que foi, Ramiro? Tá esperando um show meu, é?

A expressão nervosa de Ramiro se transforma imediatamente em uma fechada, com as sobrancelhas franzidas em descontentamento, mas isso só faz Luana rir ainda mais do homem.

— Ô, Luana, ocê me respeita que eu sô homi comprometido! — Ramiro se defende imediatamente, e o fato de Kelvin estar passando um pano no balcão do bar enquanto cerra o olhar na direção deles não ajuda muito na situação. A risada alta da mulher ecoa pelo local e Ramiro desvia os olhos, já pensando em desistir de perguntar qualquer coisa a ela.

— Ai, me poupe, né, Ramiro? — Luana diz quando as risadas cessam, não se importando nem um pouco com o olhar fuzilante de Kelvin sobre si. Então, vendo a carinha perdida de Ramiro e já o conhecendo melhor desde que ele passou a frequentar mais o Naitandei, ela sabe que há algo tomando conta daquela cachola. — Mas diz logo, homem, o que você tanto quer saber que tá atrás de mim esse tempo todo? — Ela resolve ser piedosa com o amigo e encosta a vassoura em um canto do pequeno compartimento, logo indo se sentar ao lado dele.

Então, olhando ao redor para se certificar de que Kelvin ainda está perto do balcão e de que não há mais ninguém do bar próximo deles, Ramiro decide criar coragem para fazer a pergunta. Luana o observa com um olhar receptivo, aparentemente interessada no que quer que seja o questionamento de Ramiro, e isso o deixa mais confortável.

— É... Luana... — O moreno começa a falar, mas continua a mexer no boné já gasto que fica preso à cintura. — Ocê falou um negócio mais cedo... — Ele abaixa a cabeça, tentando encontrar as palavras certas para perguntar sem transparecer tamanha curiosidade que sente, e Luana franze as sobrancelhas, provavelmente buscando entender o que poderia ter falado que instigou essa conversa.

Um silêncio se instala ao redor de Luana e Ramiro, e os dois se encaram por alguns segundos, até que a mulher não se aguenta e resolve falar: — Fala logo, homem, pelo amor de Deus!

Ramiro bate com as mãos nas coxas e bufa como de costume com a impaciência da amiga, mas diz: — Ocê disse que ia prum encontro com o dotô Rodrigo. Quê que é esse tal de encontro? — Ele finaliza e olha para Luana com uma expectativa quase infantil, aquelas orbes castanho-escuro repletas de uma curiosidade rara de se ver.

A risada que agora escapa de Luana é uma genuína e diferente das anteriores, de quando estava tirando sarro de Ramiro, pois ela percebe, ali, que o capanga bruto e leal aos La Selva tinha mesmo virado um de seus amigos próximos.

Nunca passou pela cabeça de Luana que um dia estaria sentada lado a lado com Ramiro, o peão que costumava colocar medo em todos os moradores da cidade, falando abertamente sobre o seu relacionamento com Rodrigo. E o melhor é saber que tal momento está acontecendo por iniciativa do próprio Ramiro, por livre e espontânea vontade dele. É, Luana pensa, não acredito que estou sentindo orgulho desse marmanjo.

— Não me diga que você e o Kelvin nunca foram a um encontro? — A mulher pergunta depois de sair de seus devaneios.

É uma verdade irrefutável que todos do Naitandei são bastante fofoqueiros – está no sangue deles, não há como evitar –, mas também é inegável que, além daquilo que acontece diante dos próprios olhos deles e do que fica implícito, há detalhes sobre a vida de cada morador dali que ninguém conhece profundamente.

Kelvin, por incrível que pareça, é um dos mais fechados no bar e isso só se intensifica quando se trata de Ramiro. É uma herança da época em que, por respeito às dificuldades do namorado, não podia se abrir muito em relação ao que acontecia entre eles, mas também uma forma de guardar apenas para os dois a beleza daquele relacionamento. Talvez seja por isso que Luana não saiba de muitos detalhes do que acontece entre o casal, apesar de ser uma das poucas pessoas que Kelvin tem como confidente na vida.

— E era pra ter ido? — É o que Ramiro rebate, já deixando a curiosidade se tornar um nervosismo absurdo só de pensar em ter falhado com Kelvin de alguma forma. — Ara, Luana, ocê tá me deixando nervoso! — Ele faz questão de expressar os sentimentos, como se Luana não pudesse enxergar aquilo de longe. Os olhos de Ramiro sempre foram extremamente expressivos, e isso só aumentou depois que ele e Kelvin começaram a se relacionar.

— Vocês nunca tiveram, sei lá, um jantar romântico? — Luana pergunta, tentando ser o mais descritiva possível para que Ramiro entenda do que se trata. No meio da explicação, um sorriso apaixonado se abre no rosto de Luana, pois ela começa a se lembrar de todas as vezes em que Rodrigo a proporcionou experiências maravilhosas e românticas. — Um passeio à luz do luar, talvez? Um piquenique, tomar um sorvete juntos, essas coisas simples, mas com romantismo... — Ela complementa já sentindo saudade do namorado e uma vontade imensa de ligar para ele.

As palavras de Luana fazem Ramiro ficar pensativo, e ele franze as sobrancelhas enquanto responde: — Ah, a gente já foi encher a pança lá naquele restaurante chique. — Uma risada alegre surge em meio à confusão do moreno e ele passa uma mão pela barriga ao relembrar daquele dia. — Foi bão por demais, eu e o Kevinho saímo de bucho cheio!

Luana também não consegue segurar as próprias risadas ao ouvir aquilo, mas fecha os olhos e segura a testa, balançando a cabeça negativamente por saber que vai precisar de bastante paciência para explicar o que Ramiro quer saber.

Então, ela pergunta: — Mas foi romântico? — Imediatamente, Ramiro para de rir e volta a ficar pensativo após a pergunta de Luana, e ela encontra o momento perfeito para continuar. — Tá bom, Ramiro, já vi que vou ter que te explicar algumas coisas...

Duas semanas depois, Ramiro se encontra pronto para colocar em prática tudo o que escutou de Luana naquele dia.

Ouvir a mulher falar sobre tudo o que ela e o Doutor Rodrigo faziam juntos, como um casal, fez Ramiro se sentir o pior namorado do mundo. Romantismo, Luana explicou, era essa a palavra que faltava no vocabulário de Ramiro, mas ele está disposto a colocar-la lá nem que seja à força. Ele está disposto a ser melhor para Kelvin. Está disposto a ser... romântico.

É pensando nisso que Ramiro encosta a caminhonete antiga ao lugar de sempre em frente ao Naitandei, logo saindo e caminhando em direção ao bar enquanto ajeita a camisa marrom sobre o torso. Ele cumprimenta todos ali rapidamente com um breve aceno e sobe para o segundo andar, já sorrindo ao imaginar que roupa Kelvin estaria usando agora.

— Kevinho? — Ramiro chama depois de bater três vezes à porta e logo abre quando escuta o "Pode entrar!" de Kelvin. — Preparado pro nosso dia? — Ele pergunta com um sorriso no rosto e as mãos na cintura, observando com carinho enquanto Kelvin termina de passar o protetor solar no rosto em frente ao espelho.

— Você não disse pra onde a gente ia, então eu não sabia que tipo de roupa colocar. Essa tá boa? — Kelvin pergunta depois de se virar na direção de Ramiro e faz várias poses em frente a ele, arrancando mais risadinhas do namorado.

Kelvin está ali, posando para Ramiro com a calça jeans de manchas coloridas que ele já conhece e um cropped que parece ser novo, sendo o ser humano mais lindo que ele já colocou os olhos em toda a sua vida. Ramiro se pergunta mais uma vez como tirou a sorte grande de ter Kelvin para si. Como, depois de tudo o que já fez em seus trinta e poucos anos de existência, Deus ainda teve a piedade de lhe mandar um anjo?

— Tá uma formosura. — Ramiro responde e se aproxima para deixar um selinho rápido nos lábios do baixinho, que retribui também sorrindo. — Bora? — Ele chama enquanto entrelaça as mãos às de Kelvin, e o rapaz acena positivamente com a cabeça, se afastando apenas para pegar a bolsinha na qual ficam os documentos e o dinheiro.

O casal atravessa o salão do Naitandei de mãos dadas e se despede dos moradores dali, que já estão se organizando para o almoço. Um olhar cúmplice é trocado entre Luana e Ramiro, mas Kelvin está ocupado se acertando em relação ao bar com Zeza e acaba não percebendo.

Os dois logo saem em direção à caminhonete de Ramiro, e ele não hesita em continuar segurando a mão de Kelvin, indo até a porta do passageiro e a abrindo para o namorado. Não é algo que nunca aconteceu, mas também não é tão corriqueiro, e isso é o suficiente para deixar Kelvin com as bochechas vermelhas e um sorrisinho apaixonado no rosto. Ramiro tenta não se gabar, mas pensa que está indo no caminho certo por já ter conseguido deixar o baixinho envergonhado – e aquele é só o começo.

Quando ambos já estão dentro do veículo e antes de dar a partida, Ramiro se inclina até alcançar o banco de trás e tira algo de lá. Curioso como só ele, Kelvin espia o momento pelo retrovisor e sente um sorriso se formar automaticamente no próprio rosto quando vê as mãos de Ramiro surgirem dali com um buquê de flores amarelas. É uma armação lustrosa, repleta de flores saudáveis e coloridas, e, ainda por cima, na cor que ele e Ramiro adoram.

— Pro meu benzinho. — Ramiro fala, dessa vez ele mesmo sentindo as bochechas ficarem quentes, e entrega o buquê para Kelvin. O rapaz sorri de orelha à orelha, os olhinhos brilhando como nunca, enquanto pega as flores nas mãos e olha entre o buquê e o namorado repetidas vezes, processando toda aquela informação.

— O que é isso, amor? Esqueci alguma data importante? — Kelvin brinca em meio às risadas de felicidade, mas não demora a agradecer a Ramiro com um selo demorado nos lábios dele.

— Tá esquecendo nada, não. — O moreno responde com um sorriso encantado pelo namorado. Os olhos de Ramiro brilham de uma forma única quando se direcionam a Kelvin, de um jeito que ele nunca pensou que algum dia poderia sentir. — Eu fui numa frore... frori...

Kelvin sugere: — Floricultura?

— Isso aí! — O mais alto exclama com uma risada e prefere não tentar repetir a palavra, mas continua se deliciando com a imagem de Kelvin feliz ao seu lado, sorrindo bobo enquanto acaricia as pétalas das flores com todo o cuidado do mundo.

Ramiro está tão entretido com a felicidade de Kelvin que só lembra de ligar o carro quando o namorado o olha em expectativa, aguardando para ser levado até o lugar misterioso que Ramiro havia mencionado. Os dois riem juntos enquanto o mais velho finalmente dá a partida na caminhonete e eles partem pelas ruas de Nova Primavera.

Para a surpresa de Kelvin, o lugar em que Ramiro estaciona o carro é o mesmo restaurante que eles já haviam visitado algum tempo atrás. Ele não entende o que está acontecendo, pois, diga-se de passagem, Ramiro não está esbanjando dinheiro por aí e o estabelecimento não é dos mais baratos, mas não comenta nada.

Entretanto, a boca de Kelvin só consegue ficar fechada até o momento em que o casal se aproxima da recepção e Ramiro fala para a recepcionista: — Eu fiz uma reserva. Ramiro Neves o nome. — E tudo o que Kelvin consegue fazer enquanto a funcionária os leva até uma das mesas é arregalar os olhos e apertar a mão de Ramiro que está entrelaçada a sua.

— Ramiro, como assim? Por que você fez uma reserva aqui? — Kelvin abaixa a cabeça levemente mais para perto de Ramiro e cochicha, sendo acompanhado pelo namorado, que também se inclina para continuar a conversa.

— Qual é o probrema, Kevinho? — Ramiro pergunta com o cenho franzido.

Um bufo é solto por Kelvin, que olha ao redor para ver se há algum garçom ou cliente por perto, depois pega um dos cardápios para cobrir seu rosto. O que ele quer falar em seguida com certeza não é algo que os moradores comuns de Nova Primavera gostariam de saber.

— Você fez algum serviço pro seu patrão esses dias e não me contou? Despachou alguém, foi? — Kelvin pergunta com uma expressão que ele espera conseguir demonstrar a insatisfação que sente em relação a isso. Porém, o que o surpreende é Ramiro ficando surpreso com a questão levantada, como se nem houvesse pensado naquela possibilidade. — É que aqui é caro, Rams, cê sabe. — Ele complementa depois de tirar o cardápio do rosto.

A cara de Ramiro fecha imediatamente ao ouvir aquilo e ele até tenta disfarçar, mas esconder os sentimentos verdadeiros de Kelvin é algo que já se provou impossível de conseguir fazer. Os olhos de Ramiro se preenchem de um brilho, dessa vez triste, e Kelvin logo se preocupa, levando uma das mãos até a do namorado, que está posta sobre a mesa. Ali, ele a aperta e pergunta o que está acontecendo, mas só recebe um balançar negativo da cabeça do moreno.

Ramiro nunca gostaria de admitir em voz alta a sensação envergonhada que tem quando lembra de suas próprias condições. Ele gostaria de dar o mundo para Kelvin, gostaria de ter dinheiro o suficiente para levar-lo para onde quisesse sem precisar emprestar de ninguém – o que, na verdade, foi o que Ramiro fez para custear todo aquele dia, e Kelvin o mataria se descobrisse isso.

— Não se preocupa, Kevinho, eu resolvo isso depois. — É a única resposta que Ramiro dá, o que só faz deixar Kelvin ainda mais intrigado e preocupado com toda aquela situação.

Não é sobre não estar gostando de ser mimado por Ramiro – ah, isso ele adora. Ser apreciado pela pessoa que ama, pelo amor de sua vida, é uma das melhores sensações que Kelvin já teve em sua curta existência, e ele agradece a todos os deuses – ou qualquer divindade responsável por esse enorme universo – por terem colocado Ramiro no caminho dele. Mas Kelvin também conhece em detalhes a situação do namorado e sabe que ele não está em condições de sair esbanjando, e isso o preocupa em altos níveis.

— Tem certeza? — Kelvin pergunta, olhando profundamente para Ramiro com o intuito de fazer-lo entender que pode falar o que quer que esteja passando dentro daquela cabeça.

— Tenho, benzinho. — Ramiro responde e Kelvin não consegue discutir com um homem lindo daqueles o chamando do apelido mais fofo já criado.

A questão é: Kelvin deveria ter discutido.

Ele deveria ter interrompido essa loucura assim que teve a oportunidade, lá no comecinho, porque agora se encontra com a barriga empanturrada de comida depois de ser levado de um restaurante para um piquenique à beira do lago e depois para uma sorveteria.

O casal está andando pela pracinha de Nova Primavera de mãos dadas enquanto Kelvin tenta puxar Ramiro para se sentar em algum dos banquinhos presentes ali, pois precisa digerir pelo menos metade de toda a comida que o namorado o fez comer durante aquele dia.

Kelvin não está reclamando, obviamente, pois tudo estava extremamente gostoso e parecia ter sido preparado com todo o cuidado e carinho do mundo por Ramiro. No entanto, o mais novo não entende o porquê de tudo aquilo tão de repente e de forma tão exagerada.

É fofo, é carinhoso e é muito especial, mas Ramiro pareceu estar estressado durante o dia todo, preocupado em fazer tudo dar certo nos mínimos detalhes, como se qualquer errinho pudesse levar aqueles momentos por água abaixo. E é basicamente impossível que Kelvin consiga se sentir feliz quando percebe que seu amor não está bem.

— Rams, pera aí, vamo sentar aqui rapidinho, por favor. — Kelvin puxa a mão de Ramiro que está entrelaçada a sua, fazendo-o parar a caminhada e olhar para o namorado. Ele tem uma ruguinha no meio da testa, daquelas que surgem quase que automaticamente quando o estresse chega ao pico. — Tem um banquinho bem ali, bora. — Kelvin acrescenta e não espera que o mais alto concorde, só o sai puxando pelo caminho de pedras da praça.

— Mas Kevinho... A Lua... — Ramiro reclama enquanto é puxado por Kelvin, olhando para cima a todo momento e ficando cada vez mais frustrado quando não encontra a Lua em canto nenhum do céu. Justo no dia que ele mais precisa dela, a maldita resolve se esconder.

De primeira, Kelvin quase não escuta o que Ramiro está resmungando atrás de si, pois seus pés estão doloridos após andar de salto de um lado para o outro com o moreno o dia todo – mais uma vez, ele não está reclamando, só está cansado. Entretanto, quando eles finalmente se sentam no banquinho de concreto da pracinha, Kelvin registra as palavras de Ramiro e franze as sobrancelhas, mais confuso do que nunca.

— Quê? O que tem a Lua? — Kelvin pergunta, intrigado, também olhando para o céu e não encontrando aquele astro.

— É que a Luana falou... — Ramiro começa a responder, mas logo interrompe a si mesmo, fechando a boca e olhando para outro ponto da praça.

Ao ver aquilo, Kelvin solta uma respiração pesada e fecha os olhos para tentar ignorar a dor nos pés e a sensação de empachamento na barriga. Com toda a paciência do mundo, ele pega as mãos de Ramiro em uma das suas e, com a outra, puxa o queixo dele levemente para que ele o olhe diretamente.

— Meu amor, o que tá acontecendo? E o que a Luana tem a ver com isso? — Kelvin pergunta tentando manter um tom neutro, pois sabe o quão sensível Ramiro fica quando acha que ele está brabo ou chateado. O que recebe do peão é um olhar cabisbaixo, quase decepcionado, mas a resposta que vem em seguida não esclarece absolutamente nada.

— Deixa pra lá, Kevinho. — Ramiro sussurra mais para si mesmo do que para o namorado e começa a se levantar do banquinho, puxando delicadamente a mão de Kelvin consigo. — Vamo logo que ainda temo que jantar... — Ele completa como se não fosse nada.

É nesse momento que Kelvin perde o eixo de seus pensamentos e arregala os olhos em incredulidade, passando vários segundos sem conseguir responder nada ao que Ramiro havia acabado de falar. Ele estava escutando coisas, certo? Não é possível que Ramiro estivesse sugerindo aquilo depois do dia que tiveram.

Entretanto, ao ver a expressão de expectativa no rosto de Ramiro o puxando e esperando que ele se levante para ser levado aonde quer que seja para jantar, Kelvin não se segura e exclama: — Chega, Ramiro, eu não aguento mais comer nem um grão de arroz!

Mesmo com os burburinhos dos habitantes de Nova Primavera que estão passeando pela praça, o som dos vendedores anunciando os valores de seus produtos e o barulho do ventinho frio que corre pelo lugar, o silêncio que se instala entre Kelvin e Ramiro é absurdo.

A expressão já abatida de Ramiro cai ainda mais enquanto ele olha para o namorado e solta a mão que está segurando a dele. A adrenalina que Kelvin sentiu ao exclamar aquilo se esvai pouco a pouco junto com o silêncio que o tapa os ouvidos, e ele até tenta falar algo, mas o moreno é mais rápido.

— Ocê não gostou? — A voz de Ramiro é fraca e transpira decepção – não com Kelvin, ele sabe, mas consigo mesmo, e isso é o que mais dói em si. — Ocê não gostou do nosso dia, Kevinho? — Ele pergunta novamente, como uma última esperança de ouvir uma resposta contrária.

E o coração de Kelvin dói como se houvessem trezentas espadas o perfurando ao mesmo tempo. Em nenhum momento a intenção dele foi machucar a pessoa que mais ama nesse mundo, mas conhece muito bem o namorado que tem e sabe o quão sensível ele é, ainda mais quando se trata de Kelvin e do relacionamento deles.

Por isso, a primeira e mais lógica solução que Kelvin encontra para aquilo é acalmar-lo, e só depois conversar sobre o que estava acontecendo. Então, juntando as mãos dele consigo novamente, Kelvin se levanta do banquinho e se aproxima do mais alto ligeiramente.

— Claro que gostei, meu bem. Eu amei. — Kelvin fala baixinho, mas em um volume suficiente para que apenas Ramiro o escutasse, formando um mundinho único e somente deles. — Tá tudo bem, mas vamo pro seu carro pra gente conversar melhor, por favor? — Ele pede acarinhando a barba de Ramiro que tanto ama.

O caminho até a caminhonete, que está estacionada do outro lado da praça, é silencioso, mas não tão desconfortável – só um pouco para Kelvin, que já sente os calos se formando nos pés abafados pela bota de salto. Ramiro não falha em abrir novamente a porta do passageiro para Kelvin, e agora, já dentro do veículo, o baixinho agradece aos deuses por poder tirar aquele sapato e abrir o botão da calça que havia ficado apertada.

Ao lado de Kelvin, Ramiro ainda está calado. Encostado à parte do motorista do banco único e olhando para a rua ao invés de olhar para o namorado, como uma criança entristecida, e Kelvin se sente a pior pessoa que já pisou nesse planeta.

— Rams, olha pra mim, por favor. — Kelvin pede levando uma de suas mãos ao ombro de Ramiro e o acariciando ali. Lentamente, o olhar do mais alto se volta para ele e encontra os olhos castanho-claro de Kelvin, mandando aquela onda de emoções pelo corpo todo que sempre acontece quando eles se conectam. — Eu amei o dia que a gente teve. Só fiquei confuso com você querendo fazer tantas coisas ao mesmo tempo. E também, cê me encheu de comida! — Ele finaliza tentando arrancar pelo menos uma risada de Ramiro, e tem sucesso na missão, pois o moreno dá um sorriso pequeno e acanhado.

— Vai, me conta o que tá acontecendo. Por que tudo isso de repente e o que a Luana tem a ver com a história? — O mais baixo pergunta quando vê que Ramiro está um pouco mais relaxado.

Os meses de namoro com Ramiro prepararam Kelvin para momentos como esse; conhecendo-o tão bem para saber exatamente quando é necessário que eles se isolem da multidão, quando tudo ao redor dele é tão estimulante, junto às inseguranças que ainda pairam de vez em quando sob a mente do peão, que apenas um local seguro e já conhecido é o suficiente para o colocar nos eixos. Dito e feito: os ombros de Ramiro ficam menos tensos com ele estando sozinho na caminhonete com Kelvin, com menos barulho e menos suposições que ele mesmo cria em sua cabeça.

Ramiro remexe os dedos sobre a calça jeans, buscando as palavras certas para descrever a situação. Então, murmurando, ele começa: — É que eu queria ter um encontro com o meu Kevinho. A Luana teve um naquele dia com o dotô, e eu pensei que a gente tinha de ter também... — Depois de dizer isso, ele olha de canto para Kelvin, meio amuado imaginando a reação que o namorado teria.

A definição que Luana deu para a palavra "encontro" foi a que ficou presa na cabeça de Ramiro, e foi a partir dela que ele mediu todas as vezes em que, na sua própria mente, deixou de ser um bom namorado para Kelvin por não se encaixar naquilo que ouviu.

Romantismo, para Luana, era o cavalheirismo de Rodrigo; ser tratada como uma princesa, fazer as coisas que os casais de comédias românticas fazem nos filmes mais clichês possíveis... Ramiro, ao ouvir tudo aquilo, se comparou a Rodrigo e viu que não era nem um pouco parecido com o outro. O jeito que ele trata Kelvin também não se parece ao que a Luana descreveu sobre o seu relacionamento, e aquele havia sido o gatilho que faltava para o peão.

— Ah, então era isso que cê tava escondendo de mim naquele dia? — Kelvin pergunta com uma risada leve, se aproximando mais um pouco de Ramiro para se encostar a ele e segurar as mãos grossas junto às dele. O moreno concorda com a cabeça, começando a se sentir levemente envergonhado depois de tudo ter passado. — Mas amor, a gente tem encontros. E a vez que a gente foi almoçar naquele restaurante chique e ficamos rindo tanto que os garçons já estavam começando a olhar estranho? Aquele dia que a gente foi tomar banho de rio? Ou quando a gente tomou sorvete derretido assistindo aquele filme de terror horrível?

Enquanto Kelvin começa a listar todas as vezes que se considerou em um encontro com Ramiro, a expressão do homem vai ficando cada vez mais surpresa. Kelvin não sabia o que diabos Luana falou para Ramiro, mas precisa tirar isso imediatamente da cabeça do namorado. Provavelmente não havia sido nada com má intenção, mas ele prefere ficar emburrado com a amiga – pelo menos por um tempinho – por ter deixado o seu amado tristinho.

— É que a Luana falou que encontro tem que ser romântico. — Ramiro explica, como se isso justificasse tudo o que aconteceu naquele dia, mas Kelvin o olha com a expressão ainda mais incrédula do que antes. Ele franze o cenho em direção ao namorado, não acreditando no que está ouvindo – aquela afirmação consegue ser ainda mais surreal do que a anterior.

— Mas os nossos encontros são românticos! — Kelvin rebate imediatamente, quase se sentindo ofendido por aquilo. Então, ele segura o rosto de Ramiro com as duas mãos e o faz olhar diretamente em seus olhos. Castanho-claro com escuro, juntos. — Rams, cê é a pessoa mais romântica que eu já conheci. Sabia, não? — Ele pergunta retoricamente, pois, para Kelvin, não há dúvida nenhuma no que havia acabado de proferir. É a mais pura verdade.

Ao ouvir aquilo, Ramiro dá uma risada depreciativa e desencaixa o rosto do abrigo das mãos de Kelvin. Ele balança a cabeça negativamente e diz: — Êeeh, Kevinho, eu sou bruto. Quando que eu já fui romântico c'ocê? — E o coração de Kelvin dói profundamente mais uma vez, pois mesmo depois de tanto tempo e de tantos avanços, Ramiro ainda tem dificuldade em ver as próprias qualidades.

Como uma medida drástica, Kelvin decide puxar o rosto de Ramiro novamente para si, fazendo-o olhar para ele mais uma vez. Ali, ele assume uma postura séria e se aproxima mais um pouco, disposto a fazer o amado acreditar em si. Kelvin acaricia o as bochechas e a barba de Ramiro, o acalmando do jeitinho que só ele consegue fazer e o dando conforto suficiente pra ouvir o que tem a falar.

— Quem foi que se ajoelhou no chão do meu quarto com uma flor amarela na mão pra me pedir em namoro? — Kelvin começa, já sentindo o próprio sorriso se formando no rosto enquanto ele lembra daquele momento. — Quem não saiu do meu lado por um final de semana inteiro, fazendo todas as minhas vontades, só porque eu tava resfriado? Quem expulsa o Zeza da cozinha pra fazer as comidas que eu quero? Hein, Ramiro?

O baixinho, emocionado com todas as lembranças revivendo na cabeça, não percebe quando o filete de uma lágrima desce pela bochecha, mas Ramiro nota e não demora a enxugar-lo com o polegar – e isso só prova ainda mais o ponto de Kelvin. Os olhos de Ramiro se fecham quando ele sente Kelvin se aproximar e deixar um selinho demorado em seus lábios.

— Só existe uma pessoa no mundo que faz tudo isso e mais um pouco por mim, Ramiro. E é você. — Kelvin deixa o mais claro possível o que quer dizer, não querendo que reste nem uma sombra de dúvidas para Ramiro. — Cê é romântico do seu jeitinho, amor. Você é o meu Rams, e a gente é do nosso jeito. Não precisamos ser igual à Luana e o Rodrigo, ou qualquer outro casal. Só dá pra ser eu e você. — Ele complementa com um sorriso satisfeito e um beijo mais profundo no moreno.

Há lágrimas envolvidas no beijo e Kelvin não sabe dizer se são suas ou de Ramiro, mas ele as aceita de bom grado. Uma das mãos grandes de Ramiro acolhe o rosto pequeno de Kelvin e o puxa para mais perto, colando-os juntos, quase formando um só, em uma posição que deveria ser estranha por causa do banco do carro, mas que é perfeita para aquele momento.

Enquanto vão se afastando aos poucos, Ramiro deixa selos rápidos, mas cheios de carinho e amor por todo o rosto de Kelvin. A testa de Kelvin é repleta de beijos, assim como as bochechas e as pálpebras do rapaz, que só consegue rir e rir. Então, aparentemente satisfeito depois de atacar o rosto todo do amado, Ramiro encosta ambas as testas e respira fundo.

— Eu amo ocê por demais, Kevinho... — Ramiro sussurra contra o rosto de Kelvin e a respiração quente dele o arrepia por inteiro. — Parece que eu vou exprodir de tanto amô por ocê. — Ele acrescenta e, dessa vez, olha diretamente nos olhos de Kelvin para proferir essas palavras.

Naquele momento, Kelvin pensa em como alguém poderia não ver a profundidade daquele homem em sua frente. Como poderiam deixar passar alguém que já foi maltratado de todas as formas durante a vida toda, mas que ainda está repleto de amor dentro de si? Que ainda enxerga o mundo como uma criança, conhecendo tudo como se fosse a primeira vez?

Kelvin acredita fielmente que se a reencarnação existir, ele está fadado a se apaixonar por Ramiro em todas as suas vidas – tanto as passadas como as que virão. Não há a possibilidade de existência de um mundo em que Kelvin não é perdidamente apaixonado por Ramiro.

— Tá vendo? Depois ainda tem coragem de dizer que não é romântico! — Kelvin brinca, mesmo que ainda sinta as lágrimas de paixão secando sobre a pele de suas bochechas. Ele se abraça a Ramiro, quase subindo no colo dele, enquanto o deixa encaixar o rosto em seu pescoço.

Uma risadinha baixa que Kelvin já conhece bem ecoa pela caminhonete e ele sorri junto, feliz por ter conseguido fazer Ramiro rir. Se pudesse, o manteria assim pelo resto da vida, protegido e feliz, mas sabe que isso é humanamente impossível. Então, Kelvin faz o que lhe é permitido naquele momento: acariciar os cachos que tanto adora e deixar beijos por toda a extensão daqueles ombros bem delineados.

Mais tarde, quando ambos já estão mais relaxados, Kelvin pergunta: — Mas diz aí, por que cê tava tão emburrado com a Lua mais cedo?

Os dois homens estão grudados um ao outro no banco do carro, abraçados e olhando para o céu pelo vidro do parabrisa. A Lua ainda está tímida, parcialmente escondida pelas nuvens que cobrem a cidade, mas Ramiro, agora, só consegue rir. Ele tem um braço por cima do ombro de Kelvin e faz um cafuné calmo no cabelo macio do namorado, que também o acaricia levemente na barba. Ambos não poderiam estar mais confortáveis do que isso.

— A Luana disse que era romântico passear com a luz do luar. — Ramiro explica em meios às próprias risadas, já aguardando a reclamação de Kelvin.

E ela vem, logo em seguida, sem falha: — Eu vou matar a Luana.

Ah, já se passaram duas horas do dia do aniversário da gauchekela, mas acho que ainda vale como presente, né? 😅

Obrigada pela leitura. Até o próximo! 💜

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