I wish I had a better voice that
sang some better words
—Twenty one Pilots
Eu percebi que não dava brincar com ele, no segundo em que vi Liam arrastar Ammybeth pelo braço, com expressões completamente infelizes.
Acho que, depois de ter escutado-a falar que o objetivo da minha vida era lhe infernizar, quis dar razão à sua proposição. Porque eu estava curioso para caralho, sobre aquele relacionamento de capa de revistas, e meio que quis acender uns fósforos.
Mas... o que eu estava esperando, era receber alguns xingamentos. Talvez, algum soco, porque, se eu tivesse no lugar de Liam, eu, provavelmente, me socaria.
Eu não esperava que eles, realmente, não tivessem a discrição de esperar que eu fosse embora, para começarem uma briga. E, por mais que ele tivesse puxado-a em direção ao andar de baixo, seus tons de vozes não eram baixos o suficiente.
Não escutei tudo, mas escutei algumas partes.
Escutei, inclusive, a primeira fase, que consistiu no mais famoso e esperado "Ammybeth, que porra é essa?"
Me sentei no sofá, e tentei fingir que eu não estava prestando tanta atenção, enquanto pegava a guitarra de Ammy e começava a afiná-la.
Alguns sussurros inaudíveis e um "Me diga, o que diabos eu posso fazer? Você está vendo! Está vendo que ele é insuportável para cacete, e lidar com isso já está sendo difícil. Se você, ao invés de me ajudar a ficar calma, começar a surtar, também, não vou aguentar."
O meu coração parou, por um instante. Estava sendo difícil mesmo, para ela?
Eu sei que não estou sendo um companheiro agradável, e que vejo as narinas de Ammy dilatarem o tempo inteiro, por minha causa. Mas, honestamente, o que tinha de tão difícil? Me aguentar sendo irritante?
Ammy chegou pontualmente ao estúdio, e ficou lá até que eu obrigasse-a sair, quase todos os dias. Estávamos nos ajudando a criar sons completamente insanos. E, ela não sabe disso, mas eu a ouvi comentar com Jesse, que aquela inquietude estava a inspirando.
Não estava sendo tão horrível assim, fala sério.
"Como eu vou ficar calmo, se você está passando 10 horas por dia, com esse idiota?"
"Cacete, Liam, de que você tem tanto medo?"
Isso, Ammy. Você acabou de fazer a pergunta certa!
Não vou deixar de admitir que eu amaria ouví-lo dizer que estava com medo de ser traído. Seria música para os meus ouvidos. Acho que aumentaria o meu ego em uma porcentagem absurda.
Mas não ouvi nada, por alguns instantes. Apenas alguns burburinhos difíceis de decifrar. Até que, veio um lindo trecho:
"Preciso que você confie em mim. Mas, se você não está disposto, eu não posso fazer nada. Estou trabalhando, Liam. Estou fazendo algo que vale a pena o esforço e... nunca estive tão segura com minhas próprias músicas. Até porque, acredite, esse idiota reclama de tudo. Quando ele diz que estão boas, eu sei que realmente estão."
Bem, verdade. Eu reclamava de tudo mesmo. Mas eu era perfeccionista, e estava deixando as nossas músicas (três, até agora) perfeitas.
"Vou subir. E vou começar aquilo, e tentar terminar o mais rápido possível. Se quiser ficar conosco, tudo bem. Você vai apenas presenciar hostilidade. Não acho que vale a pena, mas não me incomodo também."
Oi? Ela estava chamando-o para nos fazer companhia, durante um processo criativo? Ammy estava brincando, não era?
Tipo. Eu meio que estava no apartamento deles, então ele deveria ter o direito de transitar por onde quisesse, mas isso não mudava o fato de a ideia ser tenebrosa. Eu não conseguiria me concentrar, enquanto um pateta americano estivesse me encarando, como se eu fosse o diabo reencarnado.
Mas, para minha sorte, depois de alguns poucos minutos, eu a vi subindo às escadas, sozinha. E ouvi uma batida de porta, meio forte.
Eu não gostava daquele cara. Eu não lhe tirava a razão, quando o assunto era se irritar por conta de toda essa circunstância, mas... Ele não me descia.
E, ver Ammy com aqueles olhos chateados, me fez perceber que eu não tinha apenas ultrapassado os limites, como eu tinha escorraçado-os. Tudo bem. Acho que as provocações deveriam se restringir aos momentos que estivéssemos a sós.
Olhei para ela, e me odiei por ter quase sorriso, quando notei aqueles pés, cobertos por pantufas de ursinho.
Não uma pantufa, na verdade. A pantufa.
Aquilo me distraiu por um instante, mas ela me levou de volta ao foco.
—Está satisfeito?
Neguei com a cabeça. Ela achou que eu estava sorrindo por ter feito-os brigar, mas... não era isso.
Eu tinha visto Ammy, por um instante.
Não Betty Brown. Mas a Ammy de 20 anos, que se apegava a objetos meio infantis, e tratava-os como se fossem patrimônios importantíssimos. A Ammy que usaria os mesmos calçados por 7 anos, apenas porque os considerava adoráveis.
—Não acredito que você ainda tem isso. -sussurrei.
Ammy ficou quieta, quando percebeu do que eu estava falando. E, então, se sentou, à minha frente.
—Me passe o cabo, à sua direita. -ela me cortou, completamente.
Eu obedeci, percebendo que sua face tinha perdido o ar de irritação. Ela apenas parecia impaciente, e meio frustrada.
A mulher mandou-me exportar o arquivo para a tela à nossa frente, e eu o fiz. Vi-a mexer um pouco as mãos, naquele computador gigante, acoplado à mesa de som, e o seu silêncio me deu uma oportunidade de tentar decifrar o rosto.
Os fios de cabelo, que costumavam ser loiros escuros, agora tinham um perfeito tom de ruivo. Nunca achei que aquela cor pudesse combinar com Ammy, mas percebi que ela ficaria bonita, até se pintasse-os de verde limão.
Parte deles estava meio presa, por algo que eu não sabia o nome, mas tinha... dentes. Ainda assim, as mechas frontais continuavam a cair em seu rosto. Ela suspirou, por conta da demora no carregamento do arquivo, e uma delas se moveu, junto ao movimento do ar.
—Hmmmm... O cabo à esquerda, agora.
Saí daquele transe, apenas para obedecê-la. Então, perguntei:
—O que ele está achando das músicas?
Ammy pareceu meio confusa, o que fez com que eu me sentisse na obrigação de esclarecer.
—O seu namorado... ele está gostando?
—Por que a pergunta?
—Só quero saber se ele é sensível o suficiente, para perceber que nossas sonoridades combinam. E que Jesse não estava louco, quando afirmou que isso poderia ser bom.
Não estava. A minha voz e a de Ammy eram boas juntas, mas nada se comparava aos momentos, dessa semana, em que nossas mentes entraram em sincronia.
Acreditem se quiser: Esses momentos aconteceram.
Nós brigamos muito no estúdio. Mas, também tiveram os instantes em que eu nos percebia entrar nos mesmos estados de espírito, quanto às produções. Algumas vezes, nós colocamos os fones de ouvido, e apenas deixamos a nossa alma ficar quieta e tomada pelos sons.
Acho que a música tinha o poder de unir até mesmo pessoas como eu e ela.
—Por que você aceitou? -Ammy me impressionou, quando perguntou aquilo.
Parei, por um instante.
—Eu aceitei, porque os meninos me pediram. -não era mentira- Mas, deixei de repudiar essa ideia, porque sei que você é boa e que, quando fizemos isso juntos, uma vez, foi um sucesso.
—Os tempos eram outros.
Eram. Eram mesmo. Nós éramos outros também. Mas, cada vez que eu via as novas letras e melodias de Ammy, eu percebia que não havia como ignorar aquela oportunidade.
E eu sabia que íamos quebrar a Billboard, mais cedo ou mais tarde.
—E você?
Ammy engoliu em seco.
—Porque eu odeio a maior parte das minhas músicas, mas gosto das suas.
Eu realmente não estava esperando aquela resposta, mas, fez sentido, com o que ela tinha acabado de relatar a Liam, sobre estar segura com composições, pela primeira vez.
Sempre soube que era difícil ser confiante, para Ammybeth. Ela não tinha tido um início de carreira parecido com a maior parte das pessoas.
Ammy começou cantando nos palcos com a minha banda, apenas uma música. E, o fato de nós dois estarmos namorando, naquela época, fez com que a divulgação daqueles shows aumentasse para caralho. Todo mundo ficou curioso, e não por menos.
Ela tinha ficado famosa, porque eu tinha colocado-a na frente do público. Ammy apareceu na BBC, pela primeira vez, quando eu pedi para Mark fazer aquilo acontecer. E, o primeiro álbum que ela lançou, era sobre mim.
Sua carreira começou no topo. Ela sempre teve os holofotes, desde que começou a fazer aquilo, de verdade.
Isso pode parecer bom, mas não é. Porque Ammybeth não foi se acostumando com a fama de maneira gradativa, muito menos com as críticas. Foi tudo uma explosão só, depois de o "GHOST" -seu primeiro álbum- vir ao mundo.
E ela teve que aguentar, de uma vez, um monte de gente dizendo que sua carreira só aconteceu, por minha causa.
Eu quem era o principal envolvido, e nunca pensei aquilo. Eu nunca duvidei da capacidade dela como compositora, desde a primeira vez que coloquei as mãos em seu caderninho rosa de glitter, onde estavam guardadas um milhão de letras e de cifras.
Ammy era talentosa. Ponto. Mas eu não podia dizer que era incompreensível, àquela visão que tinha de si própria, porque não era.
—Foi isso que eu disse a Liam, quando ele ameaçou terminar comigo, no dia em que aceitei a proposta de Jesse. -a mulher suspirou- Eu disse a ele, que eu queria um Grammy.
—É assim que...
—Não se meta com ele. -Ammy me interrompeu- Quer me provocar? Tudo bem. Mas, deixe-o em paz. Ele tem um humor muito mais sensível que o meu, e não vai levar nada na esportiva, tá bom?
Eu já tinha percebido aquilo.
E, para ser honesto, eu nem queria que ele levasse na esportiva, mesmo. Eu faço brincadeiras com os meus amigos, e não com caras feito ele. Com Liam Reynolds, o meu objetivo era irritar, mesmo.
—Além do mais, não. Ele não tem a sensibilidade musical, para perceber que isso -ela apontou para nós dois e, depois, para a cifra, por cima da mesa- É bom.
—Por que está com ele? -não me segurei- Até agora, você não fez nenhum elogio, então...
—Tenho vários elogios a fazer. Mas não lhes dizem respeito.
Bem, é verdade.
—Deixe ele em paz. E Deixe Maya em paz, também.
Deixar Maya em paz? Como é? Eu sequer tinha o telefone daquela mulher, ou planos de ir atrás dela.
Havia sido um beijo completamente insignificante. Bom. Bem bom, porque ela definitivamente sabia o que estava fazendo, mesmo que estivesse um pouco inquieta, mas não teve nada naquilo.
Maya e eu mal nos conhecíamos, cacete. Por que ela se incomodava tanto?
—Não pretendo perseguir a sua amiga. -quase ri.
Eu poderia responder muitas outras coisas. Coisas mais ácidas, ou mais perigosas, mas decidi que, por hoje, basta. Eu só queria terminar a minha musiquinha.
—Ótimo.
—Ammybeth, por Deus. Não teve nada demais naquilo.
—Não quero saber.
Perfeito. Porque eu não queria me justificar.
—Parece que quer, sim.
—Não quero.
As bochechas dela estavam vermelhas. Que gracinha.
—Oh, Jesus... você está com ciúmes?
Ammy soltou uma risada, e, finalmente, olhou em meus olhos.
—Não estou com ciúmes de você. Nem um pouco. -acho que sua voz era tão rígida, que iria me fazer rir- Na verdade, espero que você transe com tantas pessoas e se divirta tanto, que precise ficar de quarentena.
Tudo bem. Esse é o exato oposto de como uma pessoa sem ciúmes soa.
—Mas, deixe a minha amiga fora dessa.
Meu. Deus. Agora eu era o errado e o sem moral?
Por favor, né? Não fiz nada de errado. E se elas duas tinham algum acordo sobre situações como essa, tal qual eu sempre tive com meus meninos, era problema delas.
—Talvez, ela não queira ficar fora dessa. -falei, baixinho, com um pouco de medo de levar um tapa de Ammy.
—Como é que é?
Ufa. A Ammybeth irritadinha estava de volta.
—Isso mesmo que você ouviu. -respondi, como se eu fosse uma criança- Você achou que colocando o meu nome das músicas, e me chamando de adjetivos perigosos, as mulheres não iam ficar loucas por mim?
Por mais que o meu tom fosse de chacota, eu não estava mentindo. Ammy meio que encheu a minha cama, ao longo dos anos.
—Elas adoram uma causa perdida... -sorri.
—Não adoram não.
Acho que nem ela acreditava nisso.
Mas, também, quando Ammy, sem querer, empurrou o mouse do seu computador, o que fez a imagem dos graves, agudos e da intensidade sonora surgirem, nós meio que esquecemos aqueles outros assuntos.
Pelo menos, por enquanto.
Surtei e postei capítulo novo uahahah
Encurtei um pouco esse, para postar logo, porque estou meio ansiosa com umas coisas. Vocês vão saber, em breve ❤️