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By dayligzt

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By dayligzt

Azriel estava tendo aquele mesmo sonho de novo. O céu noturno, a figura em chamas no terraço. Mas dessa vez, todo o sonho parecia ter um senso de urgência maior, tudo estava mais desesperador. Ele ouvia pessoas gritando ao redor do fogo, tentando se proteger.

O Encantador de Sombras também conseguia ouvir gritos vindos da pessoa dentro do círculo de fogo. Era um misto de ira, pavor e dor naquela voz ainda não identificável.

Estava tudo uma bagunça, e tudo quente demais. Mesmo estando em um sonho, Azriel podia jurar sentir gotas de suor descendo por suas costas, grudando na camiseta.

E em meio aos gritos da pessoa cercada pelo fogo e os gritos assustados de quem estava do lado de fora, uma música começou a ressoar.

O illyriano levou a mão á uma das orelhas, tocou o lóbulo e depois ergueu os dedos a frente do rosto, vendo sangue pingar pela polpa do dedo indicador. Os ouvidos latejavam diante de tantos sons altos, a música sobressaindo a tudo, infiltrando-se nos ossos do macho e embaralhando seus pensamentos.

"Pulmões cheios de fumaça
Peso na minha cabeça, cheia de sonhos
Estou me escondendo aqui para viver durante o meu sono, e eu nunca vou voltar,
nunca vou voltar."

A voz era doce e perdida, cantando uma música que Azriel se lembrava de ter ouvido uma vez, muitas décadas atrás.

"Estou a caminho do País das Maravilhas
Tiro meu terno e me pergunto
Aqui por um instante
Ou ficar pelo resto da minha vida?"

— Azriel! — Um chamado alto e assustado interrompeu o sonho, fazendo o Mestre Espião abrir os olhos e se sentar eufórico na cama. Elain estava de pé, as costas contra a parede e segurando uma grande caixa nas mãos.

Azriel respirava ofegante, olhando ao seu redor. As sombras estavam uma bagunça, espiralando freneticamente a frente de seu rosto, atrapalhando sua visão. Ele fechou os olhos, concentrando-se em acalmar a respiração e controlá-las.

Depois de alguns segundos com os olhos fechados, ele sentiu que as sombras, lentamente, estavam se acalmando. Podia ouvir melhor o coração exasperado de Elain e alguns grasnados constantes vindos da janela.

Quando abriu os olhos e virou o rosto, viu cinco corvos empoleirados na janela, grasnando para o cômodo e focando os olhinhos escuros em Azriel.

Elain viu que o macho tinha conseguido acalmar um pouco as sombras e largou a caixa por cima da cama antes de dar a volta pelo quarto para sacudir uma das mãos na direção dos pássaros, expulsando-os.

A Archeron não havia dormido ali, ele notou. As lembranças da noite passada voltavam a sua cabeça, fazendo-o perceber que a fêmea havia dormido na Casa do Rio.

Elain estava vestida com um vestido rosa-claro com alguns babados e corações bordados de vermelho. Seu cabelo estava preso em uma trança simples e os olhos de corça estavam cansados.

— Elain, sei que temos que conversar — Azriel disse com a garganta seca ao se levantar da cama, ele indicou o corpo coberto apenas pelo calção antes de seguir até o armário —, deixe que eu me vista para que tomemos o desjejum e...

— Azriel — Elain engoliu em seco, parecendo nervosa —, eu só vim para... buscar algumas coisas.

Ele olhou para a caixa em cima da cama, com algumas roupas e pertences da fêmea. Estava tão absorto no próprio sono que não se deu conta que ela estava ali.

— Está se mudando — Azriel concluiu em um sussurro. Ele piscou lentamente antes de voltar a encara-lá — se isso é por ontem a noite...

— Não é apenas por ontem. Ultimamente eu e você estamos... estranhos — Elain explicou, os olhos concentrados nas próprias sapatilhas.

— Então, não devíamos... tentar conversar a respeito? — O illyriano disse, suas sobrancelhas franzindo levemente ao vê-la soltar um risinho nasalado desanimado.

— E desde quando conversamos, Azriel? Você mal fala comigo. A única coisa que você quer discutir é sobre o que fazer com as sombras — Elain disse com certa rispidez.

— Quero discutir sobre o destino das sombras porque parece ser o único assunto que importa para você — Azriel rebateu com a voz mais dura do que gostaria. — É tudo o que você quer conversar comigo, Elain.

— Então, vamos conversar sobre outras coisas, mas não hoje — a Archeron disse com a voz tensa —, preciso pensar primeiro.

— E não pode conviver comigo enquanto pensa? — Azriel perguntou com um tom ferido, indicando a caixa com os pertences da fêmea.

— Creio que não — ela murmurou.

Azriel abriu a boca, mas nenhuma palavra conseguia deixar sua garganta. Haviam frases em sua mente mas nenhuma conseguia sair. Ele apenas observou Elain se aproximar da cama e pegar a caixa, abraçando-a contra si.

— Cassian vai me descer — Elain avisou baixinho, os olhos finalmente focados nos dele, parecendo um pouco triste pela situação, mas decidida de que seria melhor.

E sem nada mais, um adeus ou um aceno, a Archeron se virou e deixou o quarto em passos largos, também deixando o Encantador de Sombras para trás.

Azriel não foi atrás dela.

O macho apenas se sentou na cama, apoiando os cotovelos nos joelhos e virando o rosto para janela, onde já haviam dois corvos empoleirados novamente.

Ele não sabia como melhorar as coisas com Elain, mas também não queria admitir que os últimos oito anos lutando por ela e aquele amor podiam terminar daquela maneira.

Rhysand podia estar certo, no fim das contas. Azriel não a merecia.

Ouviu passos vindos do corredor e soube que era Nestha. A fêmea parou a frente da porta do quarto, os braços cruzados e o rosto duro.

— Estava falando sério quanto a parceria com Theodosia Vanserra? — A Archeron mais velha perguntou, a voz firme e os olhos ferozes.

Azriel não disse nada, apenas assentiu com a cabeça. Os olhos focaram no chão e ele assistiu aos sapatos escuros de Nestha arrastando pelo piso até que ela ficasse a frente dele.

— Se eu ver Elain com os olhos chorosos por sua causa mais uma vez, vou arrancar suas bolas e fazer você comê-las — Nestha avisou.

Azriel ergueu a cabeça para encara-lá. A fêmea não estava brincando.

— Nunca tive a intenção de magoá-la — Azriel respondeu entredentes, o tom baixo.

— Mas magoou — Nestha rebateu ao sentar ao lado do macho na cama. Depois de alguns segundos, virou o rosto para medir a postura exausta do illyriano ainda vestindo apenas o calção. — Se vista e resolva as suas merdas.

Apesar da voz dura e autoritária, Azriel sabia que Nestha estava tentando ajudá-lo também. Sua prioridade sempre seria o bem-estar de Elain, mas isso não significava que ela não se importasse com ele também.

A fêmea se levantou e foi até o armário, abrindo-o e tirando dele o traje illyriano do Encantador de Sombras, jogou-o na cama.

— Cassian já deve estar voltando. Tome o desjejum conosco antes do treino das Valquírias — Nestha mandou antes de abrir um sorriso perverso. — Hoje, vou acabar com você no ringue.

— Disse isso da última vez e acabou estatelada no tatame — Azriel respondeu com um pequeno sorriso ao se levantar.

Nestha semicerrou os olhos para ele com ameaça antes de dar as costas para o macho e deixar o quarto, fechando a porta.

Depois do treino das Valquírias -em que Nestha não conseguiu acabar com Azriel no ringue-, o macho fez algumas missões de campo, levando suas sombras para as fronteiras da Corte Outonal para obter mais informações sobre Brynjar e as peças necessárias para sua engenhoca. Também se reuniu com alguns de seus espiões e deu-lhes dados dos novos disfarces para que se infiltrassem no exército da Corte Outonal e conseguissem vigiar Aidan Vanserra por ele.

Dastan ainda era um mistério, não havia notícias sobre ele desde que atacara Rhysand no aniversário de Nyx, semanas atrás.

Já tinha passado das oito da noite quando Azriel chegou a Velaris. Estava voando para a Casa do Vento quando sentiu Feyre se infiltrar em sua mente.

Venha aqui na Casa da Cidade — a voz da Grã-Senhora não parecia autoritária ou irritada, apenas... chocada.

O que aconteceu? Você está bem? — Azriel perguntou dentro de sua mente, mas antes mesmo que Feyre pudesse responder, as sombras sussurraram ao pé de seus ouvidos que ela estava bem.

Estou, mas quero saber como o meu Mestre Espião não descobriu e me passou essa informação — Feyre respondeu parecendo levemente chateada, mas ainda chocada com algo.

Azriel perguntou do que Feyre estava falando para as sombras, mas elas nada responderam. Ultimamente, as sombras não estavam respeitando muito o Encantador.

O illyriano desviou da rota para a Casa da Cidade e mergulhou na cidade, desviando dos prédios. Levou pouco tempo para que pousasse no gramado da Casa da Cidade.

Feyre seguiu até ele em passos largos, os olhos arregalados. Lucien e Theodosia também estavam no jardim, parados a frente da porta da casa. A fêmea estava com a boca aberta em choque e Lucien não parecia muito diferente.

Quando Azriel olhou para trás, viu Eris com um sorriso carinhoso, olhando com olhos apaixonados para uma fêmea que estava ao seu lado, com o braço cruzado ao dele.

Uma fêmea grávida.

— Essa é Selene — Eris disse ainda mirando a fêmea loira e alta, os olhos mais pretos que Azriel já tinha visto na vida. O Vanserra se voltou para os irmãos alguns metros à frente — ela é minha esposa.

Azriel virou o rosto para Feyre, franzindo um pouco as sobrancelhas com indignação.

— Me fez vir aqui por causa de uma fofoca? — O Encantador de Sombras perguntou.

— Você é meu Mestre Espião! Vamos ter que pensar se não merece ser rebaixado depois de não ter descoberto uma coisa dessas — Feyre falou com diversão na voz.

Azriel desviou os olhos para Theodosia ao vê-la cruzar o gramado com choque completo em seu semblante. Lucien acompanhou-a um pouco atrás, o rosto franzido como se estivesse entendendo toda aquela cena errado.

— Oi, Selene, não é? — Theo falou com um sorriso para a fêmea ao lado de seu irmão. — Talvez você tenha... batido a cabeça em algum momento e esteja confundindo um pouco as coisas. — Com gentileza, a ruiva apontou para Lucien atrás de si. — Esse é o Lulu, ele que é o irmão romântico e legal que ama mulheres. Tipo, Lucien idolatra mulheres. Você poderia tatuar seu nome na testa dele que ele não se importaria.

— Por que você não consegue me elogiar sem, ao mesmo tempo, me ofender? — Lucien quis saber com um tom sarcástico, olhando para a irmã de soslaio.

— O Eris é esse aqui — Theodosia aponta para o Vanserra mais velho —, ele é um cafajeste que não vale a cueca suja que usa!

— Em primeiro lugar: mantenho minhas cuecas bem limpas. E em segundo: obrigado por tanta consideração, Theodosia — Eris disse com escárnio.

— Eu digo isso com amor — Theo respondeu ele com um sorriso zombeteiro antes de voltar a olhar para Selene. — O que quero dizer é que, eles são bem parecidos, então é compreensível que você se confunda...

— O que quer dizer? — Selene olhou com confusão para Theodosia, alisando a barriga que aparentava estar nos momentos finais de gestação.

— Ela quer dizer que você pensa que está casada comigo, mas está com Lucien, porque, aparentemente, Theodosia me acha incapaz de ser um macho decente o suficiente para ser o marido de alguém — Eris respondeu pela irmã com um sorriso irritadiço nos lábios.

— São suas palavras, não minhas — ela retrucou com as mãos erguidas em redenção.

— Ei, eu não estou casado com ela — Lucien se defendeu, antes de se voltar para Selene e coçar a garganta —, não me entenda mal, você é uma fêmea muito bonita.

— Por favor, peço para que não tente flertar com minha esposa na minha frente — Eris pediu com um falso tom educado para Lucien.

— Não estou tentando flertar... — Lucien respondeu entredentes, semicerrando seu olho saudável para o meio-irmão.

— Céus — Feyre arfou olhando para a confusão que se desenrolava entre os Vanserras e a pobre Selene —, eles são assim o tempo todo?

— É assim que os Vanserras demonstram o amor uns pelos outros — Azriel tentou explicar, vendo Lucien abrir os braços com exaspero para repetir que não estava flertando com Selene.

— Se está em perigo, Selene, pisque três vezes — disse Theodosia como quem estivesse cochichando, mas qualquer um ali pôde ouvir.

— Theodosia! — Eris esbravejou. — Pare de falar como se eu fosse algum criminoso!

— Ah, por que você é um anjinho, não é, Eris? — Theo rebateu com deboche e sobrancelhas arqueadas.

— Você é a única pirata saqueadora por aqui — Lucien se intrometeu.

Theodosia arregalou os olhos para Lucien com uma indignação profunda.

— Não acredito que está do lado dele! — Esbravejou Theo.

— Não estou!

— Pelo o que eles estão brigando agora? — Feyre perguntou aos cochichos para Azriel.

— Eu — Azriel observou Theodosia largar os dois irmãos para se aproximar de Selene e começar uma conversa agradável com a fêmea, deixando que os outros Vanserras continuassem discutindo e agindo como se não fosse ela quem tivesse começado aquele pandemônio —... eu desisti de entender a dinâmica deles há muito tempo.

Feyre suspirou antes de piscar devagar e se virar de costas para aquela bagunça. Entrelaçou seu braço com o de Azriel e os dois começaram a caminhar para a calçada.

— Vim aqui para ver se Theo e os Samudras precisavam de algo e me deparei com... aquilo — Feyre se explicou. — Mas preciso voltar para colocar Nyx na cama.

— Eu te acompanho — Azriel sugeriu educadamente, caminhando ao lado de sua Grã-Senhora. Depois, iria para a Casa do Vento e faria seus relatórios antes de tomar banho e dormir. Estava tão exausto que estava pensando seriamente em pular o jantar.

— Esperem! — Eris esbravejou para os dois. — Esperem aí!

Feyre trocou um olhar cansado com Azriel antes de abrir um sorriso educado e se virar de frente para os Vanserras. A contragosto, o Mestre Espião também se virou.

— Sim, Eris? — A Grã-Senhora perguntou.

— Eu vim aqui para apresentar Selene, sim — Eris sorriu para sua esposa, que retribuiu antes de deixar um beijo no ombro dele —, mas também porque eu e Lucien decidimos que já está na hora de vocês verem como a magia de Theo avançou ao longo da semana.

— Seria ótimo, por que não nos mostram amanhã de manhã? — Feyre sugeriu com um sorriso gentil.

— Por que não hoje? — Theodosia quis saber, girando os ombros. Um sorriso entusiasmado tomou os lábios pintados de vermelho alaranjado. — Por favor, todos aqui são jovens demais para irem dormir tão cedo.

— Está bem — Feyre disse, assentindo. — Mas preciso buscar Nyx em casa. Acho que ele também gostaria de ver.

Azriel pensou em como o sobrinho estava tristonho nos últimos dias. Talvez as demonstrações de magia fossem anima-lo, e se não, com certeza o bom humor e simpatia de Theo fariam isso.

— Precisamos de um espaço maior. O quintal da Casa da Cidade está longe de ser suficiente para o que vamos mostrar a vocês — Eris disse com orgulho de seu desempenho como tutor de Theodosia.

— Posso perguntar a Cassian e Nestha se eles nos deixam usar o terraço da Casa do Vento — Feyre sugeriu.

— Perfeito! — Theodosia bateu palmas animadas. — Vá buscar seu menininho, Feyre. Nós somos quatro — ela se referiu a si mesma e os irmãos, além de Selene —, e também tem Nalu e Kai que estão chegando do Demônio do Mar. — A fêmea se virou para Azriel, olhando-o pela primeira vez desde que ele havia chegado. Um sorriso cresceu nos lábios dela ao perguntar: — quantas viagens até lá em cima consegue fazer, Encantador de Sombras?

Azriel queria poder dizer que não se importava por Theodosia estar agindo como se aquele jantar terrível não tivesse acontecido, mas seria mentira. Como ela conseguia continuar tratando-o com tanta casualidade e traços de indiferença, mesmo depois de todos já saberem a verdade?

— Vou pedir que Cassian desça para te ajudar — Feyre disse para o Encantador de Sombras antes de se virar com um aceno de cabeça aos demais e seguir para a própria casa para buscar o filho.

Azriel também tinha que buscar alguém.

Depois de deixar as proteções da Casa da Cidade, as sombras envolveram o illyriano e o atravessaram para a frente da cafeteria de Elain. Ela já estava na calçada, usando as calças marrons e a blusa com sua logo. Os cabelos presos em um rabo de cavalo balançando conforme a fêmea trancava a porta.

— Oi — Azriel murmurou baixinho, e observou Elain dar um pulinho de susto antes de se virar de frente para ele —, desculpe. Não quis te assustar.

— Oi — a Archeron respondeu com um sorriso arfado de susto. Ela coçou a garganta nervosamente, os olhos ficando tensos ao dizer: — mais cedo eu falei que precisava de espaço...

— Eu sei, mas Eris quer reunir todos na Casa do Vento para que Theodosia mostre sua evolução com a magia — Azriel explicou em um tom baixo, controlando ao máximo suas sombras para não espiralarem tão agitadas, querendo evitar assustar Elain. — Pensei que você talvez quisesse ir.

— Está me chamando para assistir a sua parceira usando magia? — Elain perguntou com as sobrancelhas tão arqueadas quanto fosse possível, a voz mostrando sua incredulidade.

— Pensando assim não parece uma boa ideia — Azriel murmurou, os olhos de avelã concentrados na fêmea. Coçou a garganta — mas todos estarão lá. Provavelmente Cassian vai pedir a Casa por alguns vinhos e qualquer bobeira que venha na cabeça dele. Pode ser... divertido.

Elain mordiscou o lábio inferior, desviando os olhos castanhos para o chão, pensando. Ela ajeitou a alça da bolsa rosa em seu ombro antes de voltar a encarar o Encantador de Sombras.

— Acho que... pode ser divertido — ela concordou, abrindo um pequeno sorriso para o illyriano.

Aquele sorriso poderia ser um bom sinal. Pelo menos, já era um começo. Quem sabe Elain decidisse vê-lo para conversar mais cedo do que o esperado e os dois pudessem se resolver.

O Mestre Espião levou a Archeron para a Casa do Vento, e depois, desceu junto com Cassian para subir o restante do grupo. Amren também estava indo, mais para analisar a evolução de Theo para fazer uma estratégia por cima disso do que para se reunir com os demais.

Por fim, só faltavam subir Theodosia e Lucien, que permaneciam de pé no gramado da Casa da Cidade. Azriel foi na direção da fêmea, não pensando com clareza, mas Cassian, talvez por intervenção divina, se colocou à frente do irmão.

— Elain ver você carregando sua parceira pelos céus não vai melhorar muito sua situação — Cassian murmurou antes de indicar Lucien ao lado da ruiva. Ele abriu um grande sorriso para Theo ao se aproximar — não tem medo de altura, tem, Princesinha das Chamas?

— Depois de sobreviver ao mar durante as tempestades, Cassian, acho que posso dar conta de um voozinho pela cidade — Theodosia respondeu enquanto o General a erguia nos braços. — Inclusive, por que não fazem passeios aéreos assim como entretenimento? Atrairia muitos turistas para Velaris.

Enquanto Theodosia e Cassian conversavam sobre turismo, Lucien voava nos braços de Azriel com uma carranca e segurando os ombros do illyriano como se sua vida dependesse disso -o que, naquele momento, até poderia ser verdade.

Quando chegaram ao terraço, Nestha estava vestindo um robe preto por cima da camisola, esfregando os olhos cansados com as costas das mãos.

Azriel deixou Lucien no chão e seguiu para ficar perto de Elain. Enquanto isso, Theodosia se aproximava de Nalu e Kai.

— Tem certeza que está tudo bem? — Nalu perguntou com uma voz baixa, tentando não chamar atenção de ouvidos curiosos, como os de Azriel, a alguns passos de distância.

— O que quer dizer? — Theodosia perguntou calmamente, tirando do rosto algumas mechas de cobre selvagens.

— Ele quer dizer que, ontem, você mal conseguia esquentar milho saltitante, e agora, teve uma evolução tão grande ao ponto de fazer uma apresentação — Kai respondeu pelo pai, se colocando a frente de Theo, parecendo sério demais. — Você não acha isso estranho?

— O que seria estranho, Kai? — Theodosia franziu as sobrancelhas, os braços cruzados ao dar mais um passo para perto do Imediato do Demônio do Mar. — É estranho que eu seja capaz de usar os meus poderes? Acha que eu não dou conta da minha magia?

A pele da fêmea estava ficando vermelha, os olhos parecendo irritados, os lábios tensos. Não parecia a mesma pessoa que, minutos atrás, voava alegremente nos braços de Cassian.

— Não foi o que eu quis dizer — Kai respondeu também se aproximando dela, usando um tom baixo. — Estamos preocupados com essa mudança repentina, só isso.

— Você tem que admitir, Theo — Nalu disse gentilmente, se colocando entre os dois —, que está estranha nos últimos dias. Mais agitada.

— Vocês não conseguem simplesmente torcer por mim? Precisam desmerecer meu esforço para retomar a prática com a magia, não é? — Theodosia parecia verdadeiramente aborrecida. Ela ergueu as mãos para o ar. — Querem saber? Continuem pensando o que quiserem, vou mostrar como evoluí e como estou pronta para acabar com Dastan e tomar aquele trono.

— Chegamos! — Feyre disse assim que pousou no terraço. As asas desapareceram de suas costas em seguida.

Nyx pousou ao lado da mãe, ajeitando seu pequeno gibão escuro que havia sido bagunçado pelo vento. Ele olhou Theodosia do outro lado do terraço com os olhinhos azuis-acinzentados atentos.

— Princesa Theodosia — Nyx chamou ao se aproximar da fêmea.

Feyre olhou o filho com curiosidade, o cenho franzido levemente. Theodosia se virou para o menino abruptamente, as ondas ruivas compridas esvoaçando no ar. Ela abriu um sorriso.

— Príncipe Nyx — Theo cumprimentou educadamente, fazendo uma reverência para o garotinho. O sorriso ainda iluminando seu rosto.

— Quis vir me apresentar porquê, quando nos vimos pela primeira vez, eu estava chorando muito — Nyx franziu o rostinho em uma feição pensativa —, não era essa a impressão que eu queria passar à senhorita.

Theo arqueou as sobrancelhas rindo, surpresa com o fato de Nyx parecer mais um monarca em miniatura do que uma criança de fato. Ela olhou para Feyre alguns passos atrás do menininho com uma pergunta nos olhos.

— Nyx é um pequeno prodígio, eu sinceramente não sei de quem ele puxou isso — Feyre disse com um ar cansado, mas rindo para o menininho que olhava-a por trás do ombro.

— Gostaria de te fazer um pedido, Princesa Theodosia — Nyx falou, observando a fêmea se curvar a altura dele.

— Pode falar — Theo respondeu com gentileza, mas o corpo ainda avermelhado.

— Ajude a trazer o meu pai para casa mais cedo — Nyx pediu, os olhinhos não tão esperançosos. — Sinto muita falta dele.

Feyre se endureceu atrás do filho, as narinas dilatando como se ela estivesse se segurando para se manter firme. Se aproximou mais do filho, afagando o ombro de Nyx com doçura.

— Theodosia está fazendo o melhor que pode para nos ajudar, meu bem — Feyre disse com gentileza.

— Prometo que seu pai estará em casa o mais rápido possível, está bem? — Theo respondeu com um sorriso ao se endireitar. — Você vai ver, Nyx! Minhas habilidades já melhoraram muito, já estou pronta para enfrentar Dastan!

— Ei, ei, vamos com calma — Eris disse com uma risada tensa, se colocando na frente da irmã. — Você evoluiu, irmã, e está indo bem. Mas não vamos colocar a carroça à frente dos bois, certo?

— Vamos logo mostrar a eles! — Theodosia falou animada, já se afastando do irmão.

— É melhor se afastarem um pouco — Lucien avisou para Selene, Feyre e Nyx, que ainda estavam próximos do centro do terraço, bem onde Theo estava.

Nalu e Kai ficaram perto de Amren, Cassian e Nestha, do lado contrário em que Azriel, Elain, Feyre, Nyx e Selene estavam.

Eris e Lucien ficaram a alguns metros de distância do centro, onde Theo estava posicionada.

— Pronta, Theo? — Lucien perguntou, já erguendo a mão para ficar próxima da de Eris, ao seu lado.

A femea assentiu, ainda sem conseguir disfarçar o sorriso em seu rosto. Ela ergueu as duas mãos a frente do corpo, esperando que os irmãos tomassem a iniciativa.

Eris e Lucien trocaram um olhar antes de que chamas começassem a escapar de suas mãos próximas. Com o fogo dos dois unidos, uma rajada foi atirada na direção de Theodosia.

O fogo seguiu em linha reta para a fêmea, forte e rápido demais, mas ela já estava pronta, os braços erguidos quando suas próprias chamas deixaram as palmas de suas mãos e serviram como barreira contra o ataque deles dois.

Ela sorria com orgulho do próprio feito, os olhos brilhando de felicidade depois de tanto esforço na última semana para conseguir melhorar. As mãos permaneciam estendidas, combatendo Lucien e Eris.

— Pronta? — Eris quem perguntou dessa vez e, quando a irmã assentiu, ele e Lucien ergueram as outras mãos na direção de Theo.

O que antes era a força de uma mão de cada um deles dois, agora era das quatro mãos, o fogo forte, intenso e brilhante sendo atirado contra Theodosia, que permanecia com chamas menores e mais fracas.

Os pés de Theo derraparam um pouco para trás, ela mal conseguindo se manter no lugar diante da força do poder dos irmãos. Ela semicerrou os olhos diante daquela luz, o maxilar tenso enquanto ela se concentrava.

Theodosia urrou do que parecia ser esforço quando suas chamas foram intensificadas, seu corpo conquistando espaço e ela conseguindo dar um passo para frente. Seu fogo estava mais forte que o dos irmãos dessa vez, empurrando-os para trás.

Azriel sentiu uma sensação quente e aconchegante assomando-se em seu peito, parecida com orgulho.

— Boa, Theo! — Eris disse com orgulho, mas ainda mantendo os braços erguidos na direção da irmã.

— Isso é incrível — Feyre elogiou com gentileza, olhando para Theodosia com um sorriso.

— Acho que já é suficiente — Nestha avisou, os olhos semicerrados e sensíveis por conta da luz forte do fogo. — Estão começando a queimar o piso do Casa, e ela não vai ficar feliz com isso.

— Está bem — Lucien concordou, mas ainda com as mãos erguidas na direção da irmã, sem encerrar as chamas —, pare primeiro, Theo, ou eu e Eris vamos acabar torrados.

Theodosia nada respondeu, apenas continuou com os braços esticados na direção deles, e piscou repetidamente, como se sua visão estivesse embaçada e ela estivesse tentando limpa-lá.

Isso não parecia bom.

— Já exibimos sua evolução o suficiente, Theo — Eris avisou, seu corpo e o de Lucien sendo empurrados para trás uma segunda vez. — Pare, Theo.

Mas ela não pareceu ter ouvido. Seus olhos agora estavam arregalados, parecendo aterrorizados. O fogo contra Lucien e Eris ficou mais intenso, empurrando-os contra a parede.

Azriel deu um passo para frente, as asas arqueando-se nas costas por reflexo, como se ele estivesse pronto para disparar até ela.

— O que... o que estão fazendo aqui? — Theodosia perguntou com a voz ferida, assustada. As mãos tremendo e as chamas aumentando.

— Theo! — Eris chamou, esforçando-se para usar seu próprio fogo como barreira contra a fêmea.

— Eris! — Selene segurava a barriga, os olhos escuros envoltos de preocupação pura quando deu um passo para frente, mas não sabia como ajudá-lo. Ela olhou para Feyre ao lado, uma Grã-Senhora. — Faça alguma coisa! Ela vai matá-los!

— Theo, chega! — Lucien esbravejou, um arquejo de dor escapulindo entre seus lábios quando o poder da ruiva começou a atravessar o dele, queimando as palmas das mãos do macho.

— Está acontecendo — Kai murmurou para o pai, os olhos arregalados de preocupação. — Theo!

Kai estava seguindo em direção a fêmea, e ela virou o rosto na direção dela. Os olhos azuis pareceram furiosos com o que viram.

— Seu maldito... seu... seu covarde maldito! — Ela esbravejou com lágrimas no rosto quando abaixou as mãos.

Eris e Lucien soltaram arquejos de alívio quando deslizaram até o chão com as costas contra a parede. Os corpos encharcados de suor. O mais novo ergueu as mãos na direção do rosto, vendo que as palmas estavam em carne viva.

Theodosia se virou de frente para Kai, ódio em sua face. Ele ergueu as mãos como em redenção, dando um passo cauteloso na direção dela.

— Ei, Theo. Sou eu, Kai. Está tudo bem — ele falava calmamente, se aproximando da fêmea.

— Você só está confusa, Theo — Nalu se colocou à frente do filho, protegendo-o, mas também querendo ajudá-la. — Precisa respirar fundo.

Theodosia balançou a cabeça repetidamente, parecendo em pânico. As mãos vermelhas brilhando de poder.

— Nyx, volte para casa. Agora — Feyre disse ao filho, colocando-o atrás de si. O menininho continuou parado, os olhos arregalados na direção de Theodosia. — Agora, Nyx!

— Theo, respire fundo... — Nalu voltou a falar.

— Cale a boca! — Theo gritou, o corpo brilhando de suor.

Dessa vez, ela não precisou erguer as mãos. Não precisou mover um único músculo antes de fogo deixar seu corpo e ser arremessado na direção de Nalu e Kai.

Nalu empurrou o filho para longe, mas pulou tarde demais, soltando um grito de dor quando as chamas atingiram sua perna. Quando caiu no chão, sua perna direita estava completamente queimada, em carne viva.

Partes do tecido das calças haviam ficado esburacados, expondo a carne vermelha por baixo. Os dedos trêmulos de Nalu tentavam tocar a própria perna, o rosto envolto de dor.

— Pai! — Kai urrou com os olhos arregalados, arrastando o pai para perto de si e protegendo-o com o próprio corpo.

— Nyx, vá — Feyre disse para o filho, os olhos vidrados em Theodosia.

Azriel se retesou.

Nyx olhou com preocupação e medo para a mãe antes de erguer as pequenas asas e se jogar para o ar, despencando da Casa do Vento antes de se estabilizar no ar e voar para a Casa do Rio.

Feyre já estava pronta para enviar uma rajada de ar na direção de Theodosia, quando os olhos da Princesinha das Chamas focaram nos da Grã-Senhora.

— Feyre, não! — Azriel se colocou na frente dela, a mão estendida na direção da amiga.

Enquanto tentava impedir Feyre, Cassian já estava se aproximando de Theodosia com uma espada em mãos.

— Cassian, pare — Azriel disse com a voz grave, uma mão estendida ao irmão com um aviso.

— Só quero imobiliza-lá, Az — Cassian respondeu, a espada empunhada na direção da fêmea.

Theo se virou para o General, e fogo irrompeu de seu corpo mais uma vez. Nestha gritou quando Cassian foi atingido e arremessado para trás, tão forte que foi atirado para fora do terraço.

Feyre conjurou suas asas antes de tomar impulso pra os céus e mergulhar em direção a Cassian. Lucien e Eris estavam se levantando, olhando para a irmã com pavor. Selene correu até o marido.

— Me deixem em paz! — Theodosia chorou, abraçando o próprio corpo. — Me deixem em paz, me deixem em paz...

— Vá lá para dentro — Eris disse a Selene em um tom baixo.

— Não sem você! — A esposa do Vanserra rebateu.

— Theodosia — Lucien chamou, tentando usar uma voz calma.

— Não! — Ela gritou, os olhos intensos na direção do meio-irmão. — Não vou para o subsolo! Nunca mais! Eu não vou voltar para aquela câmara!

Azriel sentiu como se tivesse sido atingido, observando a fêmea curvar-se com o semblante ferido e amedrontado, o corpo febril e luminoso.

Ele começou a sentir-se quente também, começando em um ponto no peito, acima do coração, e então, espalhando-se por todo o corpo.

Sangue começou a escapar pelas narinas de Theodosia, depois, por seus olhos. As lágrimas misturavam-se com o fluido carmesim enquanto ela gritava.

Ele sentiu, junto com ela, quando Theo começou a se preparar para explodir.

— Para trás! — Azriel esbravejou segundos antes das chamas explodirem de dentro para fora da ruiva, o fogo sendo uma barreira grudada a pele dela, que a protegia e isolava do restante deles.

O chão estava chamuscado. Ela gritava de ódio e medo e dor.

E então, as chamas descolaram do corpo de Theo e formaram um círculo ao redor dela, alto e tão intenso que era quase impossível vê-la lá dentro.

Feyre atravessou com Cassian para o alto da Casa do Vento e os dois caíram no piso. Nestha correu até os dois. Os olhos furiosos e inundados de pânico ao ver todo o peito queimado do parceiro quase inconsciente.

— Matem-a — a Archeron mais velha disse.

— Feyre, traga a água do Sidra para cá e jogue tudo pela garganta dela — Amren sugeriu com desespero na voz. — Afogue-a.

Theodosia iria queimar toda a montanha se não agissem logo. Do chão, ferido, Nalu chamou pela Grã-Senhora.

— Por favor, por favor, não — ele implorou pela vida da Vanserra.

Theodosia gritou, prestes a explodir mais uma vez, de forma irreparável.

Azriel deixou o lado de Elain e seguiu em passos largos até o círculo de fogo. Gotas de suor pingavam da testa do illyriano.

Ele guiou as sombras para as brasas, sentindo o toque frio delas deixar seu corpo para se mesclar ao calor crepitante.

As sombras se enlaçaram às chamas, misturando-se naquele círculo, tentando domá-las.

Theodosia era muito mais poderosa que Dastan. Azriel sentia sua cabeça latejar conforme se forçava a levar seu poder ao limite.

Suas mãos escureciam conforme o fogo diminuía, deixando a fêmea mais aparente dentro do círculo. Ele sentia o breu subir por suas veias de forma gélida, enquanto as chamas eram vencidas aos poucos.

Ele entrou no círculo, vendo uma Theodosia de olhar assustado, perdido e desequilibrado.

— Fique longe de mim! — Ela gritou, e as chamas voltaram a ganhar força, prendendo-o dentro daquele círculo de fogo.

As vozes de Elain e Feyre do lado de fora estavam abafadas, mas ele sabia que estavam chamando por ele, preocupadas e apavoradas.

— Theodosia, escute...

— Não vou voltar para a câmara! Eu não vou! — Theodosia gritou, e sua mão foi erguida na direção de Azriel.

Chamas foram arremessadas para o illyriano, mas as sombras se colocaram na frente, servindo como uma barreira protetora.

A ruiva estava prestes a arremessar outra bola de fogo quando Azriel se aproximou e agarrou os pulsos quentes demais, tendo que ignorar a dor. Ela se debateu, se jogando contra ele com a pele ardente. O macho arfou de dor, mas não a soltou.

Enquanto ela se debatia gritando, as sombras envolveram aos dois, girando em volta de Theodosia e fazendo carícias frias no rosto suado da fêmea. Acariciando seus tornozelos, seus braços.

Theodosia pareceu ficar mole contra o corpo do Mestre Espião, seu corpo finalmente ficando cansado. Ela agarrou a camisa dele com as mãos quentes.

— Não me leve para a câmara, por favor — ela soluçou contra o peito dele. — Me mate. Me mate, mas não me leve...

O círculo de fogo desapareceu quando Theo não conseguiu mais sustentar a si mesma e despencou. Azriel segurou-a pelo quadril, sentando no chão primeiro para poder apoia-lá sobre si.

As costas de Theodosia ficaram apoiadas contra o braço de Azriel, e ela ainda parecia estar delirando, as mãos torcendo a camisa dele.

Kai ajudou o pai a se levantar e se aproximar mancando deles dois. Feyre também se aproximou, mas Nestha e Amren permanceram com Cassian. Elain ficou ao lado da irmã mais nova, e os Vanserras se juntaram também próximos da ruiva, assim como Selene.

Theodosia estava olhando para o céu estrelado acima de sua cabeça, os olhos cansados piscando devagar. Um sorriso pequeno se abriu nos lábios molhados de sangue e lágrimas.

A fêmea começou a murmurar algo baixinho, como se estivesse fazendo o ritmo de alguma música. Os olhos permaneceram focados no céu.

— Pulmões cheios de fumaça — Theodosia sussurrou.

— O que disse? — Azriel perguntou, o cenho se franzindo levemente para a fêmea em seus braços.

— Peso na minha cabeça, cheia de sonhos — ela continuou com a voz arrastada e áspera, seus olhos pareciam pesados de exaustão —, estou me escondendo aqui para viver durante o meu sono... e eu nunca vou voltar... nunca vou voltar.

O Encantador de Sombras endureceu, lembranças do sonho que teve invadindo sua mente. A figura em chamas, o círculo de fogo, a música...

— Eu não quero ouvir, eu não quero ficar — Theodosia cantava baixinho, os olhos concentrados no céu, mas a cabeça balançando de um lado para o outro, delirante — Eu não quero sentir isso, leve tudo embora... Eu ainda sou a mesma criança que costumava ser. E estou fugindo de tudo...

Kai e Nalu olhavam para Theodosia com a mais profunda tristeza, a mais profunda preocupação. Lucien e Eris estavam atordoados e confusos, também pesarosos pela irmã.

Azriel estava observando Eris abraçar Selene por trás, segurando na barriga cheia de vida da esposa quando Theo puxou-o pela camiseta.

Quando os olhos de avelã se encontraram com os azuis-turquesa dela, Theodosia abriu um sorriso pequeno. Mas Azriel nada disse, e ela reprimiu os lábios em o que parecia ser agonia, apertando a camisa dele mais uma vez.

— Canta — ela pediu com a voz ferida e sonolenta, os olhos cheios de lágrimas, ainda avermelhados.

O Encantador de Sombras olhou para aquela pequena multidão ao seu redor, mas coçou a garganta, apertando os dedos levemente nas costas de Theodosia, confortando-a em seus braços. Com a mão livre, tirou do rosto dela uma mecha ruiva que estava cobrindo um de seus olhos.

— Estou a caminho do País das Maravilhas — Azriel murmurou baixinho, ninando Theodosia nos braços, balançando-a levemente. Continuou cantando para ela aos sussurros: — tiro meu terno e me pergunto: aqui por um instante, ou ficar pelo resto da minha vida?

Theodosia o observava com um sorriso cansado no rosto, parecendo ainda instável, e então fechou os olhos, adormecendo rapidamente nos braços do illyriano.

[...]

— Como ela está? — Kai perguntou à Feyre assim que a fêmea deixou o quarto de hóspedes da Casa do Vento, para onde Azriel levou Theodosia.

Todos estavam sentados na sala de estar, esperando pelas notícias da Grã-Senhora que já havia usado sua magia de cura em Cassian, Lucien e Nalu.

— Estava um pouco febril, mas já está melhor. Está dormindo — Feyre explicou. — Amanhã de manhã, trarei Madja aqui para examiná-la.

— O que foi que aconteceu com ela? — Lucien perguntou para ninguém em específico, a cabeça baixa. Estava sentado numa das pontas do sofá, ao lado de Selene.

Azriel estava de pé, entre as poltronas em que Elain e Amren estavam sentadas, os olhos focados em Nalu e Kai, tão silenciosos ali.

— Vocês sabem de algo — Azriel disse, chamando a atenção de todos. A voz estava brutal ao perguntar: — o que aconteceu com ela?

Nalu e Kai trocaram olhares antes do mais novo assentir com a cabeça, os dois também sentados no sofá. O Imediato ao lado de Eris e o Capitão na ponta.

— Como vocês já sabem, Theo ficou duzentos anos sem usar a magia — Nalu explicou calmamente. — Mas, como puderam perceber, ela tem poder demais. Não é algo que você possa simplesmente se negar a usar sem que haja consequências.

— Do que está falando? — Feyre perguntou.

— Uma magia forte como essa precisa ser usada, todo o dia. Essa fonte de poder implora por isso. E Theo se recusava a gastar a magia.

— Mais ou menos a cada três meses, a inutilização da magia deixava Theo... mais agitada. Eufórica. Nervosa. — Kai disse. — Ela brigava com todos, ficava mais agressiva, às vezes mais emotiva também.

— Ao longo do tempo, descobrimos algumas formas de ajudar Theo a aliviar a tensão. Ela pode ficar horas dentro de banheiras congelantes, ou lutar contra nove ou mais machos de uma vez só, ou pular do barco em alto mar e nadar até alguma ilha sozinha... — Nalu contava com cansaço na voz. — A exaustão e a dor geralmente ajudavam-a a recobrar a consciência.

— Assim que ela começou a ter os treinos de magia com Eris e Lucien, eu notei que ela estava diferente. Mais elétrica e animada. — Kai passou a mão pelo cabelo trançado, depois, alisou a barba do queixo, pensativo.

— Theo ficou tempo demais sem acessar o poder e isso custou muito a ela. Ficamos preocupados que, se Theo não usasse sua magia moderadamente, acabasse perdendo o controle — Nalu suspirou pesado. — Como, de fato, aconteceu.

— Então, o que faremos? — Lucien perguntou.

— Theo não pode continuar o treinamento aqui — Feyre avisou. — Sei que ela não faz de propósito, mas não posso colocar a vida dos meus cidadãos em risco.

— Não sei se afastá-la é suficiente — Amren disse. — Onde quer que vá, vai se descontrolar.

— Azriel devia treiná-la — Nalu sugeriu.

Azriel viu todos olharem para Nalu com surpresa e curiosidade, com exceção de Elain. A fêmea se retesou na poltrona.

— Lucien e Eris tem o mesmo poder que ela, sim, e poderiam ensiná-la a usá-lo, mas não é disso que Theo precisa — Nalu explicou, antes de voltar os olhos para o Encantador de Sombras. — Ela sabe usar os poderes, sabe como acessá-los. Tudo o que Theodosia precisa é de controle, precisa aprender a domá-los.

— Meu poder é sobre as sombras, não tenho contribuição alguma em relação a fogo — Azriel respondeu, mas o Capitão do Demônio do Mar balançou a cabeça.

— Você foi o único aqui que conseguiu acalmar as chamas de Theodosia. Suas sombras enfraquecem o fogo, e é disso que ela precisa, de alguém para ajudá-la a manter o controle. Se Theo estiver em contato com suas sombras, creio que ela não perderá a consciência. — Nalu disse.

— Acho que todos nós precisamos descansar — Feyre falou, dando um sorriso fraco para o Samudra mais velho. — Preciso voltar para Nyx.

Kai e Nalu se levantaram, assim como Lucien, Eris e Selene. Azriel se aproximou.

— Posso descer-los — o illyriano se prontificou.

— Obrigado, e pense no que eu disse — Nalu sorriu, antes de fazer uma reverência breve à Feyre e se despedir dos demais com um aceno.

— Nos avise quando Theo acordar — Kai pediu para a Grã-Senhora, os olhos atordoados.

— Pode deixar — Feyre garantiu, assentindo. Os Samudras seguiram para o terraço quando ela deu um passo na direção dos Vanserras. — Vocês não preferem passar a noite em Velaris?

— Sim — Lucien concordou rapidamente. — Seria bom já estar aqui assim que Theo acordasse.

— Como Theo está aqui, há um quarto sobrando na Casa da Cidade — Feyre disse.

— Você se importa, Sel? — Eris perguntou gentilmente. — Se ficarmos aqui essa noite?

— É claro que não — Selene negou com a cabeça, segurando a mão do marido —, sua irmã precisa de você.

— Deixe o quarto da Casa da Cidade para eles dois — Lucien indicou o casal —, Selene precisa de conforto e de um bom descanso.

— Ainda tentando flertar com minha esposa? — Eris perguntou em um tom divertido, mas Lucien não retribuiu à piada.

— Theo está no único quarto que sobrou por aqui — Nestha disse ao chegar à sala de estar, tinha passado os últimos minutos observando o sono de Cassian, certificado-se que ele estava bem. — Mas temos esse sofá, se servir.

— Não quero incomodar — Lucien balançou a cabeça, mas Nestha dispensou o comentário com um gesto de mão.

— Vou buscar uns cobertores. Elain, pode me ajudar? — Nestha perguntou, já seguindo para o corredor dos quartos.

Elain olhou de Azriel para Lucien por alguns segundos antes de se levantar e acompanhar a irmã mais velha em passos largos.

Feyre, observando uma troca de olhares do illyriano com o herdeiro da Corte Diurna, coçou a garganta ao dizer: — Amren, eu desço você. Azriel, por favor, desça os Samudras, Eris e Selene.

Azriel assentiu para a Grã-Senhora e caminhou para o terraço, onde Nalu e Kai já o esperavam.

Depois de descer quatro vezes para deixar todos na Casa da Cidade, o Encantador de Sombras aterrissou no terraço. Algumas partes de sua camisa estavam queimadas e ele também estava cheirando a queimado.

Quando adentrou a sala de estar, viu Lucien forrando o sofá com um lençol branco. O ruivo virou o rosto na direção do illyriano.

— Só estou aqui para me certificar de que Theodosia está bem — Lucien avisou.

Azriel não respondeu, apenas seguiu caminhando para o corredor dos quartos, mas parou ao ouvir a voz do macho uma segunda vez.

— Obrigado por conter Theo hoje — Lucien agradeceu baixo. — Sei que vê-la naquele estado deve ter angustiado você.

— Faria aquilo por qualquer outra pessoa — Azriel se defendeu rapidamente, como se Lucien estivesse acusando-o de algo.

— Sei que o laço de parceria enlouquece nossos sentidos, às vezes. Mesmo que você não queira de verdade, vai sentir vontade de proteger e cuidar de Theo, agora que voltou a conviver com ela — Lucien explicou como alguém que tinha muito conhecimento sobre o assunto.

Era óbvio que ele tinha, a parceira dele estava dormindo no quarto a alguns passos da sala de estar.

— O que está querendo dizer? — Azriel perguntou.

— Não quero dizer nada. Só estou aliviado por saber que Theodosia, apesar da situação conflitante, pode contar com você. Foi a única pessoa que conseguiu acalma-la.

— Minhas sombras fizeram isso — Azriel corrigiu Lucien.

— Suas sombras controlaram o poder dela, mas não foram elas que acalmaram Theo — Lucien retrucou calmamente, e então, voltou sua atenção para o sofá, posicionando o travesseiro.

O ruivo deitou e se cobriu, agora que tinha dito o que precisava, podia ignorar a presença de Azriel e dormir.

O Mestre Espião seguiu pelo corredor dos quartos e parou a frente do quarto dos hóspedes, onde Theodosia estava dormindo. A mão segurou a maçaneta por alguns segundos até o illyriano decidir girá-la.

Azriel colocou a cabeça para dentro do quarto, apenas para se assegurar de que Theo continuava dormindo tranquilamente, e que estava bem.

De onde estava, ele podia ouvir os batimentos tranquilos do coração da ruiva adormecida. O semblante relaxado e os cabelos de cobre espalhados acima de sua cabeça feito uma grande coroa.

Ele deixou o quarto e fechou a porta, chegando à própria suíte em passos largos. Elain estava usando uma camisola rosa-bebê e escovando o cabelo castanho, sentada na ponta da cama.

— Vai voltar a dormir aqui? — Azriel perguntou baixinho ao fechar a porta do quarto.

Elain soltou um suspiro ao deixar a escova por cima da mesa de cabeceira. Ela não olhou para Azriel por um longo tempo.

— Por hoje, sim — respondeu a Archeron, erguendo os olhos para encontrar os dele —, queria ver se você está bem.

— Por que não estaria? — Azriel seguiu em direção ao armário e tirou um calção de uma das gavetas.

— Porque sua parceira passou por uma situação muito complicada — disse Elain. — É normal que você tenha se preocupado com ela, e que esteja... perturbado.

Elain falou como quem tivesse experiência no assunto. E óbvio que tinha, já que o parceiro dela estava dormindo no sofá, a alguns metros de distância.

— Eu estou bem — foi a única resposta de Azriel antes de entrar no banheiro e se banhar.

Depois que estava pronto para dormir, o Encantador de Sombras voltou para o quarto, já vestido apenas com o calção. Elain já estava deitada na cama, bem na ponta esquerda, tensa.

— Você está bem? — Azriel perguntou com o cenho levemente franzido. Ele se sentou na ponta direita da cama, observando-a se sentar.

Elain ficou alguns segundos em silêncio, mordiscando o lábio inferior, os olhos concentrados no cobertor.

— O que está te incomodando? — Azriel quis saber, preocupado.

— Você cantou para Theodosia.

Elain ainda não olhava-a nos olhos. O cenho do Mestre Espião ficou ainda mais fundo.

— O quê?

— Você — Elain finalmente o encarou, os olhos castanhos duros e investigativos —, você cantou para Theodosia, Azriel.

Havia algo brilhando nos olhos de Elain agora, um sentimento doloroso. Traição.

Azriel balbuciou, virando-se mais pra ficar de frente para Elain, sem saber o que responder, sem entender qual o problema daquilo.

— Cinco anos, Azriel. Estamos juntos há cinco anos, e nunca te ouvi cantar — Elain respondeu às perguntas que haviam na mente do macho. — Nunca. Sequer sabia que você cantava. Na verdade, acho que nunca te vi ouvindo música.

— Isso não é nada demais, Elain...

— Vocês dois tem... alguma coisa. Alguma coisa mal resolvida. E eu não estou gostando de estar no meio disso — Elain disparou, o tom sério.

— Algo mal resolvido como o que você e Lucien tem? — Azriel rebateu.

— O quê?! — Elain arqueou as sobrancelhas, soltando um riso sem humor. — Eu recusei a parceria cinco anos atrás, Azriel, para ficar com você.

— Eu vi como olhou para ele — o Encantador de Sombras respondeu. — Durante os últimos cinco anos, Elain, a presença de Lucien ainda afeta você, ainda chama sua atenção.

— Talvez seja porque Lucien consegue conversar abertamente, como uma pessoa decente. Ele não se isola dentro da própria cabeça.

Azriel se retesou, os olhos focando no colchão, a mandíbula ficando tensa. Elain arfa, os olhos mostrando arrependimento.

— Me desculpe — Elain disse, se esgueirando pela cama timidamente para ficar ao lado de Azriel. — Azriel, desculpe. Não devia ter falado assim.

— Está tudo bem — Azriel respondeu, os olhos ainda concentrados no colchão.

Elain não disse mentira alguma, de toda forma. Ele ficava preso nos próprios pensamentos, nunca foi bom em se expressar.

A única época em sua vida em que conseguia falar abertamente porque sempre era incentivado a expor seus pensamentos, foi quando ele ainda estava com a...

Bom, tinha sido há muito tempo.

Elain segurou no rosto de Azriel, sentindo a barba que despontava discretamente em seu rosto e deu um beijo em sua bochecha.

O illyriano virou o rosto para ela, inspirando o cheiro doce que a fêmea emanava. Os olhos de corça ainda pareciam culpados pelo que tinha dito, mas também, agora tão próximos do macho, desceram pelo abdômen nu dele.

Azriel conseguiu sentir o cheiro de desejo que se apossou de Elain naquele instante, apesar de toda a tensão entre os dois.

Ele, lentamente, ergueu a mão e tocou o rosto de Elain. Os olhos castanhos se voltaram para os dele, a fêmea tremeluzindo sob os cílios e suspirando quando Azriel ergueu cuidadosamente seu queixo, aproximando-o dele.

O Encantador de Sombras deixou um beijo nos lábios de Elain, tão leve que os lábios mal se tocaram, apenas testando se ela recuaria, se tentaria afastá-lo. Mas não, ela permaneceu ali, querendo mais dele.

Então, Azriel a beijou uma segunda vez. Um arquejo baixinho escapou entre os lábios delicados, e Elain parecia estar prestes a entreabri-lós para permitir a passagem da língua do illyriano, quando uma sombra espiralou perto demais da bochecha dela.

Elain se afastou, soltando um suspiro antes de se deitar na outra ponta da cama, cobrindo-se com o cobertor escuro.

Azriel não disse nada quando também se deitou, encolhendo as asas ao máximo para não encostarem na fêmea.

— Boa noite — ela murmurou.

— Boa noite — ele respondeu.

Ele estava deitado em uma ponta, e ela, na outra. Com uma distância entre eles muito maior do que a física, muito maior do que entre seus corpos. Havia um abismo fundo e extenso entre eles dois. E Azriel não sabia como criar uma ponte que ligasse-os um ao outro.

O illyriano não conseguiu dormir. Ficou se concentrando na própria respiração durante um tempo, observando suas sombras e ouvindo seus sussurros, tentando adormecer, mas não conseguia.

Sempre que fechava os olhos, o rosto apavorado e furioso de Theodosia vinha a sua mente.

"— Não me leve para a câmara, por favor — ela soluçou contra o peito dele. — Me mate. Me mate, mas não me leve..."

Pela Mãe, como Azriel não percebeu o quanto Theodosia estava sofrendo naquela época? Como permitiu que ela enfrentasse todo aquele horror sozinha? Como não fez nada para ajudá-la?

E Azriel ainda não sabia nem metade da história. Ela era usada para experimentos todas as noites, mas ele não tinha maiores informações. Não sabia quanto tempo cada sessão demorava. Não sabia a quais procedimentos Theo era submetida. Não sabia quanta dor ela suportava.

Devia ter insistido em saber o que ela fazia durante as madrugadas, devia ter questionado sua saúde sempre tão fragilizada. Azriel pensou que deixá-la manter seus segredos para si mesma era o melhor, era algo certo, mas isso custou madrugadas incontáveis de tortura para ela.

Azriel era o parceiro de Theodosia, havia um laço inquebrável entre os dois, e no entanto, ele não a protegeu quando ela mais precisou. Por isso Theo o mandou embora tanto tempo atrás, por isso não pediu para que ele fugisse com ela.

Azriel não tinha sido capaz de protegê-la, como um parceiro deveria fazer. E Theodosia percebeu que merecia mais.

‧₊˚ O que acharam do capítulo de hoje?

‧₊˚ Com muito alívio posso dizer que Azriel e Elain estão chegando ao fim, ô glória kkkkkkkkk.

‧₊˚ O Nalu implorando pela vida da Theo, sério. Eu amo o fato de, apesar de não ser de sangue, ele trata a Theodosia como uma filha e ama tanto quanto ama o Kai.

‧₊˚ No próximo capítulo terá uma conversa entre dois personagens que vai ser bastante esclarecedora. Imaginam com quem vai ser?

‧₊˚ Adicionei mais três músicas a Soundtrack, uma delas sendo Baby Blue do Luke Hemmings, e foi a música mencionada nesse capítulo.

‧₊˚ Por hoje, é isso!

——— F. 17 de setembro de 2023.

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