Camellia

Oleh Hunterina

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🏆 VENCEDOR DO WATTYS 2023! 🏆 O Madre Cordélia era o internato dos sonhos, mas havia se transformado em um p... Lebih Banyak

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Oleh Hunterina

então erga seu copo se estiver errado

de todas as maneiras certas

todos os meus azarões

nunca seremos, nunca seremos nada além de barulhentos

(raise your glass)



O espaço de eventos onde aconteciam as formaturas do Colégio Interno Cruz e Souza era um casarão histórico que mais parecia um castelo. Um tapete grosso e vermelho foi estendido sobre as escadarias que levavam às enormes portas do salão.

Para todo o lado que Bianca olhava nos extensos jardins que circundavam a entrada, vestidos elegantes esvoaçavam e estudantes bonitos cumprimentavam seus pais ou colegas. Viu rostos conhecidos de meninas do Madre Cordélia, mas não encontrou nenhum dos seus amigos. Óbvio, chegara mais tarde do que haviam combinado — obrigada, Natalie, pelas duas horas que passou se arrumando.

— Ah, amor... — Sua irmã idiota falou para a cunhada incrível, que Bianca nunca entenderia como aceitou ficar com aquele pedaço de lixo. Segurou a mão de Esther, puxando-a mais para perto. — Lembra da nossa formatura?! Aquele foi o melhor dia da minha vida.

— Amor, faz só um ano! — Esther sorriu para a namorada e beijou seus lábios. — Mas você tem razão... foi o melhor dia da minha vida também, coelhinha.

— Bibi, eu já contei pra você sobre como eu fui uma das integrantes do comitê de formatura e...

— Sim, coelhinha, contou um milhão de vezes. — Bianca cortou, um pouco estressada enquanto mandava mensagem no grupo de amigos avisando que havia chegado. Felizmente, combinaram de se encontrar com antecedência, então não estava atrasada para o evento em si.

— Escuta aqui, bombonzinho...

— Ei, ei, ei! — Bianca ouviu a voz vindo atrás de si e já estava sorrindo feito boba antes mesmo de Daniel envolver sua cintura com o braço. — Quem te deu intimidade para usar o apelido que eu dei pro meu bombonzinho?

Natalie abriu a boca para retrucar, mas apenas estreitou os olhos:

— Hoje eu não vou te responder só porque é a sua formatura.

— Ô, meu menino! — André interrompeu a troca de farpas, abrindo um sorrisão e puxando Daniel para um abraço apertado. — Meus parabéns pela formatura! — Deu dois tapas nas costas do genro e estendeu um presente para ele. A sacola verde com o brasão do Palmeiras não servia para fazer suspense. — Muito sucesso para você, garoto! Eu e Sônia compramos esse presentinho, é para você usar no próximo jogo. E gostei do cabelo.

Pela primeira vez, os fios de Daniel não estavam platinados, mas num tom de ébano profundo, que combinavam com o terno escuro que usava. As olheiras que normalmente adornavam os profundos olhos azuis estavam muito mais sutis do que Bianca estava acostumada — ela acharia que era maquiagem, se não soubesse que ele estava cuidando melhor da saúde.

— Poxa, seu André, que isso?! Muito obrigado, mas não precisa-

Antes que conseguisse terminar, Sônia puxou o genro para um abraço que fez o ar escapar dos seus pulmões.

— Parabéns, meu querido! Você e a Bianca me enchem de orgulho. Saiba que amamos muito você, pode contar com a nossa família sempre que precisar!

Há alguns meses, Daniel teria chegado muito perto de chorar, mas já havia se acostumado um pouco com o carinho da família Conceição. Conhecer seus pais e sua irmã explicava um pouco como Bianca era uma garota tão incrível.

— Parabéns, Daniel — Esther sorriu e apertou a mão dele. — Não esqueça do que conversamos: vocês ainda são novos e têm todo o tempo do mundo para correr atrás de seus sonhos.

— Parabéns, cunhadinho... e o meu presente você já sabe bem qual é. — Natalie o puxou para um abraço, tendo um pouco de dificuldade em rodear seu corpo com os braços enquanto segurava duas capas de proteção enormes pelos cabides. Depois, entregou uma para Daniel e outra para Bianca. — Vocês vão ficar lindos!

— Ué, mas vocês já não estão prontos? — Sônia perguntou, olhando para o terno de Daniel (encomendado pela sua mãe) e o vestido marsala de Bianca.

— Longa história, mãe... — Bianca desconversou, nervosa. A maioria deles estaria ferrado com os pais depois do que fariam e ela só podia esperar que a mãe pelo menos entendesse. — Inclusive, acho que é melhor subirmos. Eu e o Dani precisamos terminar de nos arrumar e a cerimônia vai começar logo. Até depois!

Bianca nem ouviu a resposta da família e puxou o namorado pela mão em direção à entrada sinalizada para os formandos, que levava ao segundo andar do salão. Caminhava rápido, praticamente arrastando Daniel atrás de si.

Quando entraram, Bianca fez menção de seguir direto para a escadaria, mas seu namorado foi mais ágil quando a puxou pela cintura, desviando do caminho para a parte escondida embaixo da escada.

— Dani! — Bianca arfou de susto quando ele a empurrou contra a parede e não perdeu nem um segundo antes de colar a boca na sua. Fazia quase uma semana inteira que não se viam, porque as aulas do Cruz e Souza se estenderam até perto dos últimos vestibulares e Bianca tinha voltado para a casa dos pais antes. Ela retribuiu o beijo, instigada pela empolgação dele, mas teve decência de afastá-lo pelos ombros quando Daniel ergueu uma de suas pernas para se aproximar ainda mais. — A gente vai se atrasar!

— Foda-se, eles esperam um pouco — murmurou, descendo os beijos pelo pescoço dela. — Queria fazer isso desde o segundo que te vi. Você tá muito gostosa.

— Eu nem estou pronta e é a sua formatura, a gente não pode se atrasar! — Tentou protestar, mas sua voz já havia virado um suplício conforme sentia o aperto dele se intensificar em sua coxa, a boca nunca abandonando a pele.

— Depois da solenidade... — Daniel sussurrou ao pé do ouvido dela, a mão subindo pela perna, levando o vestido junto. — Você vai ter sorte se eu não rasgar o seu vestido e te....

— Sabem o que é engraçado? — A voz de Victor Hugo chegou como um balde de água e Daniel se afastou de Bianca como um gato escaldado. — Quando a Zoe falou que só faltava vocês dois, eu pensei "beleza, qual é o lugar mais escondido onde eles podem estar se atracando?" e acertei de primeira.

— Oi, VH... — Bianca murmurou, o rosto completamente vermelho enquanto evitava olhar nos olhos do amigo. — Ahn... parabéns pela formatura.

— Valeu, Honey Bee, mas será que os dois coelhos podem fazer um favor e andar logo, porra?! — Ele cruzou os braços, encarando os dois. — Falta 10 minutos pra começar a solenidade!

Antes que conseguissem se desculpar (ou ajeitar os cabelos bagunçados e roupas fora do lugar), Victor Hugo agarrou os dois pelos pulsos, praticamente arrastando-os escada acima:

— Não se preocupem, a hora da ousadia ainda vai chegar.



Como a maioria das cerimônias de formatura, aquela também foi um saco.

Bianca sentou com a família para assistir os formandos receberem seus diplomas, vestindo longas togas escuras. Gritou quando o nome de cada um dos seus amigos foi chamado — mas não tanto quanto André na hora que Daniel recebeu seu diploma.

As quase duas horas de solenidade foram encerradas com um discurso do diretor do Cruz e Souza, tão genérico quanto o resto da celebração, mas Bianca não ficou para ouvir até o final. Ela e Natalie correram para o banheiro, a fim de terminar de aprontar sua roupa e maquiagem para a entrada dos formandos, onde acompanharia Daniel.

Diferente do Madre Cordélia, os alunos do internato de Daniel não escolhiam uma temática ou decoração para a formatura e todas eram exatamente iguais. Com decorações elegantes, mas sem muita personalidade, seguindo o mesmíssimo roteiro: após a colação de grau no auditório do segundo andar, os alunos eram chamados pelos nomes e desciam a escadaria principal do salão, sozinhos ou com seus pares, sob os olhares de todos os convidados. Realmente se assemelhava a um baile antigo de debutante e as regras rígidas não ajudavam: a exigência do traje de gala obrigava os homens a usarem ternos, enquanto as mulheres deveriam escolher vestidos longos que evocavam graça e elegância. Não era uma regra, mas cores claras eram apreciadas.

Naquela noite, Bianca e os amigos trariam um pouco de personalidade para o evento.

A começar pela única participação dos alunos, que era o discurso de abertura da festa. Victor Hugo era o orador da turma e chamaria a lista de formandos por ordem alfabética dos sobrenomes, alternando entre homens e mulheres. O que, de maneira incrivelmente conveniente, colocava Daniel Beaumont como primeiro, seguido de Zoe Albuquerque e depois Henrique Bellini.

Os alunos do Cruz e Souza e seus pares estavam dispostos no longo corredor que levava até o salão de festas, ajeitando os últimos detalhes de suas roupas. Daniel e os amigos conversavam numa rodinha a alguns passos de onde Zoe ajudava Elisa com uma parte solta de seu cabelo. Bianca estava sentada no chão, terminando a maquiagem, alheia à atenção que atraía com seu sobretudo preto que cobria completamente seu vestido.

— Ei, você precisa de ajuda?

Ouviu a voz vinda de cima e ergueu a cabeça para encontrar com a menina que Daniel havia abraçado para lhe fazer ciúmes, Maria Alice, ou Ali, como era chamada. Seu sorriso era genuíno, se não um pouco curioso, vendo como a segundanista do Madre Cordélia espalhava cada vez mais sombra preta na pálpebra.

Sentiu vontade de rir da ironia. Lembrou como se sentiu péssima no dia — Daniel definitivamente tinha sido um babaca, mas se desculpou no final — ao se comparar com a menina lindíssima do Cruz e Souza. A garota com feições dignas de uma modelo estava com os cabelos castanhos presos num coque e parecia uma princesa medieval com o vestido rosé. Completamente diferente de Bianca.

— Na verdade... Eu agradeceria se você pudesse segurar o espelho para mim — pediu, um pouco sem graça. Ali sorriu e pegou o espelhinho, segurando-o na altura dos olhos de Bianca.

Estava terminando a maquiagem apenas alguns minutos antes de entrar, assim como outros alunos ajeitavam detalhes finais de suas roupas, porque ninguém queria chamar atenção dos organizadores antes da hora com suas peripécias.

Aliás, Bianca adorou como vários alunos abraçaram a ideia. Os burburinhos começaram com o grupo de Daniel, mas ao invés de ficarem bravos com a bagunça em sua formatura, a maior parte dos formandos apreciou a ideia de fazer algo para provocar os pais e representantes do colégio. Toda aquela opulência forçada e as regras sem sentido já os havia cansado. Além do mais, ninguém gostava das restrições sobre os pares e Nathan não era o único que não poderia entrar com o (atual) namorado por causa delas.

— O orador está pronto?! — Uma mulher segurando um tablet, responsável pela organização do evento, colocou a cabeça para dentro do corredor. — É hora do discurso!

— Bora, bora, bora! — VH gritou para os colegas que ainda não estavam prontos, batendo as mãos. — Vamos começar essa festa!

Os alunos o ovacionaram enquanto passava com os braços erguidos e Bianca conseguiu ver a parte interna e brilhante do seu terno desabotoado. Quando a organizadora voltou para o salão, ele piscou para Henrique Bellini e tirou o terno dupla face para vesti-lo do lado prateado cintilante.

— Rápido, Bianca! — A terceiranista apressou, enquanto ela terminava de esfumar a sombra. — Daqui a pouco ele vai chamar vocês.

— Relaxa, terminei — Bianca falou, mas mesmo assim parou para passar mais uma camada de batom. Então sorriu para o próprio reflexo.

— E aí, Ali? — Daniel cumprimentou quando voltou para o lado da namorada, que se levantava do chão, fazendo esvoaçar o pouco do seu vestido que dava para ver sob o sobretudo.

— Oi, Dani. — A colega sorriu para ele, então ajudou Bianca a guardar as coisas na bolsa enorme que deixaria ali. — Sua maquiagem ficou linda! Vocês dois vão arrasar, estou louca pra ver as roupas.

— Obrigada — Bianca sorriu de volta, sabendo o quanto toda a sua produção contrastava com as cores e tecidos delicados dela. Maria Alice era uma das alunas que preferiu se manter no padrão da formatura, mas não parecia nem remotamente chateada por aqueles que resolveram fazer algo diferente. — Você também tá incrível.

— O VH vai começar o discurso! — Ela acenou para o casal, antes de correr até o seu par. — Boa sorte para vocês!

— Anda, Dani, você tem que trocar a calça! — Bianca o apressou, enquanto desabotoava seu sobretudo. — E tira esse negócio ridículo.

O garoto riu e levou a mão até a cabeça para puxar a peruca escura. Ajeitou os habituais fios platinados que estavam recém-retocados.

— Não sei, eu achei legal. Quem sabe eu pinte mesmo.

Bianca revirou os olhos com a falta de pressa dele e se aproximou para lhe dar um beijinho. Mesmo com o salto que usava, precisava se esticar para alcançá-lo.

— Você fica lindo de qualquer jeito, mas agora precisa trocar de roupa, meu amor. — Bianca tirou a calça dele de dentro de sua bolsa e estendeu.

Finalmente Daniel tirou o terno "falso" (parecia errado chamar assim algo que certamente custara uma fortuna), que cobria sua roupa de verdade. Bianca não ajudou quando escorregou o sobretudo pelos braços, revelando o vestido que usava. Daniel perdeu vários segundos secando a namorada e tentando lembrar ao seu único neurônio funcional que não podia largar tudo para agarrá-la ali mesmo. Ele adorava a pele exposta que aquele vestido deixava, adorava como ela estava simplesmente deslumbrante, e adorava mais do que tudo o fato de suas roupas combinarem.

— Daniel?! — Bianca chamou. — Anda logo!

— Ah, desculpa. — Ele abriu um sorriso sem graça.

No instante em que Victor Hugo começou a falar, ele abaixou a calça.

— Desde que qualquer um de nós consegue se lembrar, estavam falando sobre o nosso futuro. — Victor Hugo falou ao microfone, sua voz ecoando por todo o salão. Do mezanino de onde desceriam os alunos, podia ver o olhar dos convidados sobre ele. — A maioria de nós teve o futuro decidido por outras pessoas antes mesmo de aprendermos a falar. Decidiram como agiríamos, com quem iríamos nos relacionar e com o que sonharíamos. Não deixaram espaço para erros, e nós apenas seguimos o roteiro, porque também foi decidido que não teríamos opção. Então, depois de tudo isso, vocês nos atrevem a perguntar o que queremos para o nosso futuro."

"Hoje, eu vou dar essa resposta: o que a gente quer é errar, e errar pra caralho. Queremos tomar decisões horríveis e não receber julgamentos quando inevitavelmente nos arrependermos delas; queremos nos apaixonar, ter nossos corações partidos e dizer que nunca mais vamos amar, só para repetir tudo na semana seguinte; queremos festejar até esquecermos o significado da palavra "futuro" e tirar fotos que vão nos fazer morrer de vergonha quando ficarmos mais velhos. Acima de tudo, queremos parar de acreditar em quando vocês nos disseram que os nossos erros vão nos acompanhar pelo resto da vida, porque nós finalmente descobrimos que é mentira."

"A verdade é que se não descobrirmos agora qual é o gosto de um erro, nunca vamos entender quando finalmente for um acerto. E se "errar" for fazer as coisas que vocês nos disseram para não fazer, vamos ter mais prazer ainda. Talvez esse seja uma das últimas oportunidades para muitos de nós de sermos tão inconsequentes quanto vocês tentaram nos impedir de ser a vida inteira, então tudo o que eu peço para os meus colegas é: vamos errar pra caralho hoje. E depois, continuar errando pelo resto de nossas vidas. Porque se apenas um desses erros acabar se tornando acerto, todo o resto vai ter valido a pena".

Muitas testas se franziram quando ele falou palavrões, alguns convidados comentaram entre si que não gostaram daquilo, mas Victor Hugo apenas continuou:

— Agora, eu convido os meus colegas formandos a entrarem e aproveitarem nossa formatura. Principalmente, convido vocês a serem exatamente quem vocês querem ser, independente de quem considere isso um erro. — Victor Hugo nem precisou olhar para a lista de nomes em suas mãos. — Convido o primeiro formando, Daniel Beaumont, acompanhado por Bianca Conceição.

Enquanto desfilava ao lado de Daniel pelo mezanino, Bianca teve seu primeiro vislumbre da magnitude do salão. O local decorado em tons de vermelho e dourado, assemelhando-se a um palácio real, estava completamente lotado com centenas de convidados. Antes mesmo que pensasse em encontrar algum rosto conhecido, os flashes a cegaram.

Daniel apertou levemente sua mão enquanto desciam para reassegurá-la e os olhos de Bianca se encontraram com os dele. Seus cabelos platinados estavam lindos, naquele meio termo típico entre bagunçados e alinhados. Os olhos azuis refletiam as milhares de luzes do salão como estrelas e o sorriso que dava para Bianca marcava a covinha que ela amava, mas nada, absolutamente nada, era tão chamativo quanto sua roupa.

O terno escuro que era semitransparente, feito em rendas pretas com um cintilar discreto, já seria provocante mesmo se uma parte de seu peito não ficasse à mostra, deixando sua corrente de prata bem à vista. O tecido da calça era o mesmo, criando um conjunto que parecia mais digno de uma passarela do que de uma formatura.

E se sua roupa gerou comentários, todos os suspiros ficaram reservados ao vestido de Bianca. Era longo como pedia a etiqueta, mas as camadas de tecido transparente e rendado, iguais aos da roupa de Daniel, deixavam a maior parte de suas pernas e braços expostos. Um body corset era a única parte realmente fechada da roupa que destoava dos vestidos longos das outras garotas. As peças trabalhadas de maneira delicada contrastavam com os coturnos de plataforma que usava, assim como sua maquiagem preta pesada nos olhos e lábios. Seus cabelos na altura dos ombros estavam num penteado propositalmente desfiado e davam um ar rebelde para a produção.

Os modelos feitos por Natalie eram lindos, mas provocantes e subversivos entre aquela decoração insuportavelmente pomposa — que era exatamente o que eles queriam. Se os pais presentes não acharam a roupa apropriada, os fotógrafos pareciam ter amado, pela chuva de flashes que o casal recebeu. Enquanto sorria para as câmeras, Bianca se sentiu como uma estrela do rock.

Os formandos deveriam descer os primeiros degraus até o centro da escadaria para posar para as fotos e era costume que namorados trocassem um beijinho rápido nesse momento, o que passava muito longe de descrever o beijo de cinema que Daniel deu em Bianca, segurando-a pela cintura enquanto se curvara sobre ela quase dramaticamente. Houve uma inquestionável ovação nessa hora por parte dos estudantes, que só se extinguiu quando a voz de Victor Hugo saiu pelos amplificadores:

— Convido a formanda Zoe Albuquerque, acompanhada pelo formando Yago Noronha... vulgo Twister.

Bianca sorriu vendo o casal de amigos entrando e, sem os flashes para lhe atordoar, ficava evidente a mortificação (misturada com empolgação, porque haviam muitos alunos entre os convidados) da multidão.

Quer dizer, provavelmente as roupas de Zoe e Twister seriam consideradas mais adequadas que as suas, ambos vestindo ternos brancos bem alinhados. Pelo menos, se as partes de baixo não invertessem as expectativas: Zoe estava com calças retas e Twister usava uma saia branca até o joelho, deixando as canelas à mostra.

Uma mulher atrás de Daniel murmurou "Que ridículo", mas ele assobiou com vontade quando Twister e Zoe posavam para a foto. A amiga puxou o garoto mais alto pela cintura, erguendo a perna dele na lateral do seu corpo enquanto sorriam para as câmeras. Uma mistura ainda maior de ruídos e ovações se estendeu.

Sorrindo para ela quando terminaram as fotos, Twister se curvou e beijou sua mão, mas somente ele desceu para o lugar perto de Bianca e Daniel, enquanto VH continuava:

— Convido agora o formando Henrique Bellini, acompanhado por Elisa Hae.

Para o alívio dos pais indignados, tudo parecia de acordo dessa vez. Bellini estava elegante em seu terno branco e Elisa desfilava com um vestido esvoaçante da mesma cor.

Mesmo que Bianca já soubesse exatamente o que eles planejavam, não foi menos surpreendente ver quando os dois chegaram até onde Zoe os esperava. Com aquele sorriso de quem ganhou na loteria, Bellini envolveu a cintura da garota mais alta da mesma maneira que fazia com sua acompanhante. O "beijinho rápido entre namorados" se transformou em três; primeiro entre Bellini e Zoe, depois Bellini e Elisa e, por fim, as duas garotas selaram seus lábios.

Foi quase cômica a expressão horrorizada do diretor do Cruz e Souza reclamando com a organizadora do evento, tão surpresa quanto qualquer um dos convidados enquanto os flashes iluminavam todo o ambiente. Indiferente a todos, Victor Hugo seguiu chamando os formandos. Alguns optaram pelas roupas elegantes e entradas tradicionais, mas outros seguiram a iniciativa do grupo de amigos, abusando de roupas escandalosas e atitudes que deixavam claro seu descontentamento com as regras. Os alunos ovacionaram quando a namorada de uma das formandas, que não podia entrar com ela até então, subiu as escadas para encontrá-la com um beijo de cinema diante dos suspiros da plateia.

— E agora convido não o formando, mas o namorado dele. Pode subir, Bernardo Rossi. — Victor Hugo fez sinal para o estudante do internato Nascimento no meio do público subir as escadas e entregou o microfone para ele. Àquela altura a relação que começou com alguns beijos na festa do Bellini já havia sido oficializada e todos os amigos conheciam o namorado de Nathan, assim como seus pais.

— Convido agora o formando e meu amor, Nathan Duarte — falou ao microfone, chamando pelo loiro que adentrou no salão com o rosto com o rosto completamente vermelho, mas um sorriso no rosto.

A chamada de formandos continuou arrancando reações variadas dos convidados até o fim, quando Victor Hugo deu o microfone para a cerimonialista meio contrariada chamar oficialmente pelo seu nome e anunciar a valsa. Daniel já sabia quem era a acompanhante dele, mas não deixou de revirar os olhos quando Emily Beaumont caminhou até seu amigo, a porcaria do um vestido tão brilhante quanto aquele terno idiota. Sabia que aquela dupla era resultado dos seus amigos querendo lhe incomodar (estavam conseguindo) e também porque Emily participou com eles durante todo o planejamento, então Victor Hugo resolveu convidá-la para participar, ainda que apenas como amigos.

A cerimônia seguiu com a valsa dos formandos, na qual Daniel teve todo o prazer do mundo em mostrar para a namorado que também sabia dançar, guiando-a impecavelmente pelo salão. Suas roupas pretas com rendas que cintilavam como um céu estrelado se destacavam entre a decoração de tons claros do salão e o vestido de Bianca esvoaçava como véus de noite a cada giro que davam. Ela estava deslumbrante e os olhos azuis não desviaram dos seus nem por um segundo.

Para o alívio do diretor, a cerimônia chegou ao fim depois que os formandos se reuniram para um último brinde e eles finalmente puderam abandonar as formalidades (que ninguém estava respeitando, para começo de conversa) e seguir com a festa.

O grupo de amigos se separou para que cada um pudesse se encontrar com suas respectivas famílias, receber felicitações dos parentes, mas, principalmente, ouvirem as inevitáveis broncas de seus pais.

Bianca ficou ao lado de Daniel enquanto Angela esbravejava com ele sobre "a falta de decência" e "o que vão falar sobre nossa família", mas Leonora parecia muito mais interessada em ignorar tudo para finalmente conhecer a cunhada. Elogiou as roupas deles, perguntou sobre seu ano no Madre Cordélia e quis ouvir todos os detalhes daquele namoro. Até mesmo Mario Beaumont, que estava presente, apenas felicitou o filho, cumprimentou Bianca e dispensou as reclamações da ex-esposa, alegando que "ninguém vai se importar com nosso filho adolescente fazendo um pouco de bagunça na formatura dele". Quando Ariele veio cumprimentar a antiga colega de escola, Daniel e Bianca aproveitaram a deixa para fugir dali, arrastando Emily junto.

Em contrapartida, Sônia não se importou nem um pouco com a entrada extravagante, apesar da encarada feia de Madalena sugerir para Bianca que ela seria engolida viva se pensasse em fazer algo do tipo na sua formatura. Natalie e Esther estavam a alguns metros dali, conversando com outras ex-alunas do Madre Cordélia — Bianca reconheceu até o característico cabelo laranja da irmã de Nicole, Lorena Molina. A ruiva com quem nunca tinha trocado qualquer palavra fez um gesto para ela e moveu os lábios formando um "arrasou" quando a viu.

Quando Bianca e Daniel finalmente voltaram para o meio de seu grupo de amigos, encontraram expressões que variavam entre apáticas e péssimas.

— Meu pai me deixou de castigo até os trinta anos — Victor Hugo murmurou. — E eu literalmente só fiz um discurso!

— Cara, minha mãe tá muito puta só porque eu não usei calças — Twister ergueu as palmas para cima, indignado.

— "Elisa Hae, eu não dou a mínima para o que você faz da sua vida ou para quem você beija, a única coisa que eu esperava era um pouco de decência!" — Elisa debochou do discurso da mãe, arrancando uma risada de Zoe. — E olha que nem é a minha formatura! Eu acho que ela nem me botou de castigo porque ainda tá pensando a que tipo de tortura medieval ela vai me submeter depois de hoje...

Nathan deu de ombros e trocou um sorrisinho discreto com o namorado, que conversava com seus pais a alguns metros de distância.

— Bom, meus pais amam o Bernardo, então eles não se importaram.

— Minha mãe disse que achou subversivo — Zoe deu de ombros, acostumada com a mãe caótica que tinha.

— Já a minha quer subverter a minha vida — falou Daniel.

— Porra, pelo menos já sei qual sogra eu tenho mais chance de agradar — Bellini abriu um sorriso, mas a expressão eventualmente se desfez em um suspiro pesado. — Caras, meu pai me deu um esporro... eu descobri que ele tá pra fechar negócio com a mãe da Elisa essa semana. O velho até tirou meu carro.

— Puta merda, sério? — Daniel perguntou.

— Sim. — Apesar da resposta, o loiro colocou a mão no bolso do paletó e puxou a chave de lá. — Mas ele ainda não pegou a chave. Querem vazar daqui?

— Pelo amor de Deus, sim! — Twister se animou. — Vamos sair na surdina.

— Mas essa não é a formatura de vocês? — Bianca ergueu a sobrancelha.

— Porra, quem quer ficar em uma festa cheia de velho chato? — Zoe abriu um sorriso. — A gente faz a nossa em outro lugar!

— Ahn... eu só tenho que avisar a minha mãe antes — Bianca deu um sorrisinho sem graça.

— Gata, você sabe que a ideia é justamente sair sem que nossos pais percebam, né? — Bellini provocou.

— Desculpa se a minha família não é maluca igual a de vocês!

— Ai... matou uns cinco aqui. — Zoe riu. — Vai lá, pirralha. Encontra com a gente lá fora depois depois.

— Tá, mas para onde a gente vai? — Elisa perguntou.

— Sinceramente, qualquer lugar é melhor do que aqui. — Daniel deu ombros.

Bellini abriu um sorriso malicioso:

— Pois eu sei de um lugar que está vazio agora.




Nota da autora:

Boa noite apenas para quem está vivendo à base de café e energético 😎

Vocês não imaginam a minha humilhação em escrever o título desse capítulo depois de falar mil vezes "esse livro está grande demais, não vai terminar com um especial imenso que nem Lilium" 🤡

Enfim, esta é a parte 1 do especial final de Camellia 🥰 espero que tenham gostado do que esse grupo entrega de melhor: CAOS.

Nossa, eu fiquei MUITO TEMPO procurando referências para as roupas do Dani e da Bi. Foi difícil encontrar algo chamativo mas que não fosse necessariamente de mau gosto demais (a ideia inicial era eles fazerem a mesma coisa que o Daniel e a Zoe fizeram com as roupas de leopardo no casamento da tia dele kkkkk mas acabei mudando)

Pensei em algo mais ou menos inspirado nisso:

Porém, o vestido da Bianca seguindo o padrão das rendas do terno do Daniel. Bem reizinhos góticos suaves 🥰 

Espero que eu tenha conseguido passar essa vibe com as descrições e não algo muito diferente!!

ENFIM, a maratona de escrita dessa mulher ainda não acabou, porque preciso terminar o último capítulo até amanhã para inscrever essa história no Wattys!! Torçam por mim 🙏

Lembrando que... existe a chance de não dar, mesmo que eu vá tentar muito!!! Então, se não rolar amanhã, esperem o último capítulo na sexta-feira.

Spoiler: tem hot, tropa do pau médio, quebra de regras e muito caos (em suma, um capítulo completamente normal).

E... talvez um pouquinho de choro, porque eu não estou pronta para me despedir. 

Amo vocês do fundo do meu coração 🖤


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