Camellia

Av Hunterina

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🏆 VENCEDOR DO WATTYS 2023! 🏆 O Madre Cordélia era o internato dos sonhos, mas havia se transformado em um p... Mer

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Av Hunterina

é o estado de alegria que faz você pensar que está sonhando

é a felicidade interior que você está sentindo

é tão bonito que faz você querer chorar

(innocence)




Elisa afastou as espessas cortinas vermelhas alguns centímetros para espiar entre elas e Emily se aproximou para ver por cima da garota mais baixa.

— Tá cheio! — A Beaumont sussurrou, virando-se para as amigas.

— Por que eu deixei você me convencer a fazer isso, Bianca? — Elisa gemeu, segurando a própria barriga, como se estivesse prestes a vomitar. — Eu nem sei dançar.

— Acho que eu esqueci completamente a coreografia! — Luana colocou as duas mãos na cabeça, em desespero.

Bianca não conseguiu conter o sorriso enquanto olhava para as amigas. O figurino da apresentação consistia num macaquinho justo e brilhante como base, e cada garota tinha um detalhe diferente, entre saias assimétricas, calças largas e casacos ou moletons streetwear.

— Parem com isso! — Emily as repreendeu. — Vai ser divertido, eu prometo.

Ela e Bianca trocaram um sorrisinho cúmplice, porque dentre o grupo de amigas, eram as únicas acostumadas com apresentações de dança. Já era normal que Emily perdesse um pouco da sua timidez quando estava prestes a subir no palco, mas Bianca achou que a energia dela naquele momento era de alguém pronta para dominar o mundo.

O shorts curto do figurino deixava à mostra as tatuagens recentes da amiga, que cobriam as marcas de cicatrizes que antes haviam ali. Em uma coxa estava o ano de nascimento do irmão, 2002, escrito em fonte cursiva; na outra, um arranjo delicado de flores. Combinavam com as de Daniel, que tinha tatuado "2003" no pulso direito, a fonte gótica funcionando bem com as rosas do esquerdo, cujas roseiras circundavam até metade do antebraço.

Bianca adorou aquelas tatuagens. Sabia que os dois irmãos tinham restabelecido a relação fragilizada pelo tempo, mas definitivamente não esperava que Daniel a convencesse a fugir de uma festa de família particularmente insuportável para irem juntos ao estúdio. Nem o surto de Angela Beaumont fez com que qualquer um dos dois se arrependessem das tatuagens.

— Emily tem razão. — A professora Lana se aproximou, com um sorriso no rosto. — Além disso, todas vocês se dedicaram bastante durante os últimos meses. É normal sentir um pouco de nervosismo antes de subir no palco, mas tenho certeza que vocês vão arrasar!

A mulher colocou os braços em volta de Emily e Elisa, que estavam mais próximas dela, e deu um sorriso repleto de carinho para as alunas. Bianca nem estava muito nervosa, mas apreciou o gesto. Era indescritível como ela era mil vezes melhor do que a antiga professora, Gisele.

Devido à troca de instrutoras na metade do semestre, o grupo de dança do Madre Cordélia não conseguiu se preparar a tempo para participar dos concursos estaduais, mas mesmo assim Lana garantiu algumas apresentações em festivais menores. Nicole sempre reclamava que a performance ficaria uma porcaria com tanta "amadora", mas logo aprendeu a não fazê-lo na frente da professora, quando foi mandada diretamente para a diretoria da primeira vez. "Eu não permito que ninguém faça pouco caso do esforço dos outros na minha aula e não importa a experiência que você ou qualquer aluna tenha, todas são exatamente iguais aqui" foi o que Lana disse.

Dizer que o Madre Cordélia estava livre de bullying seria um pouco utópico, mas desde que Ariele exigiu tolerância zero de todos os professores e preceptores que flagrassem ataques entre os alunas, desincentivou um pouco principalmente aquelas que apenas ecoavam os insultos de pessoas como Nicole.

Desde a última conversa que tiveram, quando Nicole tentou se desculpar e Bianca disse que apenas queria distância dela, praticamente não houve mais nenhuma interação entre as duas. Às vezes Nicole cuspia uma provocação, mas era ignorada — e Bianca pediu que todas as amigas fizessem o mesmo, independente do que saísse da boca dela. Depois da segunda vez que foi recebida apenas por um silêncio constrangedor e uma risada nervosa das garotas que estavam do seu lado, acabou desistindo.

Seu grupo de amigas também havia mudado bastante desde o começo do ano; Marcela continuava ao seu lado, pois eram amigas desde muito novas, mas desde a confusão na festa no começo do ano, Vanessa não falava mais com ela; Emily e Elisa nunca se sentiram muito bem ao lado de Nicole, então não era uma surpresa que se dessem muito melhor com Bianca, Luana e Agnes; mesmo outras segundanistas, como a colega de quarto de Elisa, Ingrid, pareciam ter perdido a adoração que tinham por Nicole. Não que estivesse sozinha, ainda era considerada popular e sempre estava com uma rodinha de amigas; talvez genuinamente gostassem dela, talvez apenas tivessem interesse no seu status, mas sinceramente? Bianca não dava a mínima. Haviam preocupações maiores.

Observou um homem com uma prancheta em mãos se aproximar da professora e murmurar algo para ela. Lana assentiu e virou para o grupo ansioso de alunas:

— Queridas, a abertura começa em cinco minutos. Somos o primeiro grupo, estejam preparadas! — Sorriu mais uma vez para as meninas e se afastou para desejar boa sorte para os outros grupos.

Bianca e suas amigas se juntaram para continuar jogando conversa fora, numa mistura de expectativa e ansiedade. Repentinamente, Agnes abriu um sorrisinho malicioso e cutucou Emily com o cotovelo, apontando com a cabeça para algo atrás de Bianca.

— Entrega para você, amiga — Elisa falou, rindo.

A princípio, Bianca não entendeu e virou para trás procurando pelo motivo do alvoroço. Seus olhos encontraram as familiares íris azuis do seu namorado, que havia acabado de passar por uma das cortinas que separava o palco. Estava com os dois braços nas costas e sorria para Bianca.

— Daniel, o que você tá fazendo aqui? — fingiu repreendê-lo, mas seu sorriso denunciava a alegria em vê-lo ali. Saltitou até ele para lhe dar um selinho. — Como você entrou?!

— Ahn... deixaram a porta de acesso aberta.

Bianca estreitou os olhos.

— Você subornou o vigia, Daniel?

— Eu?! Não! — insistiu, mas nunca conseguia mentir bem para Bianca. — Talvez... Mas era importante! — Então tirou uma mão das costas e estendeu para ela o buquê que segurava. Era grande e repleto de flores coloridas; Bianca reconheceu camélias, rosas e lírios. — Isso é pra te desejar boa sorte e isso é pra você dividir com suas amigas depois da apresentação. — Junto com o buquê, estava também uma caixa de bombons suíços.

Bianca estava pronta para reclamar do jeito que ele chegou ali, mas sua boca apenas pendeu aberta quando viu os presentes.

— Dani, amor... — começou, a voz mansinha, sem saber como começar a agradecer.

Assim que Bianca pegou as flores e os chocolates, Daniel usou o mesmo braço para puxá-la pela cintura e lhe dar um beijo na boca.

— Eu te amo, você é a mulher mais incrível do mundo e a melhor dançarina de todas — sussurrou para ela. — E tá muito gata com essa roupa. Eu te pediria em namoro, se já não fosse a minha namorada.

— Meu Deus, eu te amo! — Bianca estava sorrindo tanto que suas bochechas começavam a doer. — Por que você é tão perfeito?!

— Tô só tentando chegar aos pés do que você merece. — Deu mais um beijo nela, então a soltou. — Desculpa, só um segundo que eu tenho algumas entregas para fazer. Lisa?

Finalmente a amiga pôde parar de fingir que não ficou o tempo todo olhando para eles. Daniel se aproximou do grupo de meninas e tirou uma rosa embalada das costas para dar pra ela.

— Essa é do Bellini. — Então puxou outra de trás das costas. — E essa é da Zoe. — Daniel olhou para outra garota da roda: — Luana, né? — Então pegou outra rosa e entregou para ela. — Essa é pra você. Alias, não sabia que seu namorado também era do CZ.

Elisa e Luana receberam suas flores com sorrisos tão bobos quanto os de Bianca no rosto.

— Seu irmão desejou boa sorte. — Daniel virou para Agnes, estendendo a rosa dela. Então olhou para Emily: — E isso é meu, pra você.

Ao invés de tirar algo das costas, Daniel colocou a mão dentro do bolso do moletom, apenas para tirá-la mostrando o dedo do meio para a irmã mais nova. Emily cruzou os braços e revirou os olhos, pronta para mandá-lo a merda, então Daniel abriu um sorriso e estendeu uma flor para ela também.

— É brincadeira, mana. — Puxou-a para um abraço e deu um beijinho em sua testa. — Amo você. Boa sorte.

— Meninas, está na hora de... — Lana falou alto enquanto voltava para onde as meninas estavam, mas franziu o cenho quando viu Daniel. — Mas o que é isso?

— Ih, desculpa! Eu já estou indo embora — explicou, apressado. Então acenou para as garotas. — Boa sorte! Quebram a perna delas... ou algo assim. Tchau! — E disparou em direção à saída, parando por alguns segundos para dar outro beijo em Bianca. — Te amo! Estou indo, não quero atrasar vocês. Boa apresentação! Não comecem até eu voltar pra plateia!

Bianca estava com o rosto quente e o coração acelerado, ainda abraçada no seu buquê de flores e na caixa de bombons. Lana apenas ergueu uma sobrancelha para ela, que foi correndo guardar os presentes (assim como as amigas). Quando passou por Nicole, ouviu uma bufada em conjunto com o revirar de olhos, mas ela não falou mais nada, nem Bianca se deu ao trabalho de olhar para ela.

— Vamos logo, garotas! — Lana bateu palmas. — Se preparem, as cortinas vão se abrir.

Bianca voltou para o seu lugar, fechou os olhos e inspirou profundamente, ouvindo por trás das grossas cortinas a plateia conversando. Lembrou da apresentação frustrada na metade do ano e, por um segundo, sentiu vontade de rir. E pensar que há alguns meses atrás, achava que as coisas nunca iriam melhorar.



Bianca chutou uma pedrinha para longe, levantando um pouco de areia.

— Já chegaram no hotel? A Nini e a Esther também? Que bom — falou, segurando o celular na orelha. — Vocês voltam para casa amanhã cedo, né? Tem certeza que querem vir para a formatura do Dani? Não precisa... Que?! É o pai que quer? Tá bom, tá bom, podem vir, claro. — Bianca sorriu sozinha, parando diante dos balanços do parquinho infantil. — Sim, vamos ficar aqui só um pouco e voltamos para o internato. O que estamos fazendo? — Bianca olhou de relance sobre o ombro, vendo o grupo de amigos brindando com cervejas na pista de skate. — Ah, você sabe, só conversando um pouco, andando de skate... Sim, mãe, eu sei que ainda têm aula essa semana. Prometo que não volto tarde. — Bianca revirou os olhos, mas não conteve o sorriso enquanto ouvia o mesmíssimo discurso que Sônia já havia lhe repetido outras mil vezes. — Tá bom, mãe. Eu te aviso quando eu chegar... Também te amo. — Ouviu a voz de André gritando ao fundo e gritou de volta, como se assim ele pudesse ouvir: — TAMBÉM AMO VOCÊ, PAI! Obrigada por virem assistir a apresentação. Boa viagem amanhã! Beijo, mãe, tchau!

Bianca desligou a ligação, ainda com um sorriso no rosto, e inspirou profundamente antes de sentar no balanço. Estava exausta depois daquele dia. Não, depois daquela semana... Aliás, daquele ano! Mas simplesmente não podia evitar de sorrir ao apoiar a cabeça na corrente do balanço e olhar para o céu estrelado.

Tecnicamente, ainda havia uma semana inteira de aulas até o final oficial do semestre, mas todas as suas notas estavam acima da média, então não tinha muito com o que se preocupar — diferente de Elisa, que precisaria fazer algumas recuperações, mas Bianca se comprometeu a ajudá-la com os estudos. O importante era que, naquela noite, elas mereciam aproveitar um pouco.

A apresentação havia sido incrível e Bianca sentiu aquela euforia que apenas subir no palco era capaz de lhe oferecer. Ver seus amigos ovacionando (muito mais alto do que o resto do público) e soltando assobios de doer o ouvido no final lhe deixou ainda mais alegre, mas não tanto quanto ver seu namorado subindo nos ombros de Bellini para erguer um cartaz perguntando se Bianca aceitaria namorar com ele. Virou uma piada interna entre eles Daniel continuar lhe pedindo em namoro para "garantir que não estava sonhando".

Sim, eles eram um casal meio vergonha alheia — e Bianca amava aquilo.

O problema foi fazer seu pai entender que era só uma brincadeira e que ela e Daniel não tinham terminado em momento nenhum. Felizmente, quando ele e Emily apareceram para cumprimentar os pais de Bianca, André já tinha abandonado as idéias homicidas e voltado a tratar o genro como seu melhor amigo.

Dona Sônia conheceu o resto das amigas de Bianca e se reencontrou com Mi-Cha, mãe de Elisa, sua amiga desde a passagem de Natalie no Madre Cordélia. O clima não poderia estar mais divertido enquanto as dançarinas e suas famílias conversavam no salão principal da casa de eventos, até Angela Beaumont aparecer.

Quer dizer, nada fugiu do controle quando a mulher se aproximou dos dois filhos e cumprimentou Bianca, naquele tom que parecia educado, mas que ela aprendeu que podia se tornar venenoso a qualquer segundo. Era a primeira vez que estava conversando com a mulher como namorada do seu filho, e era a primeira vez que seus pais conheciam algum dos Beaumont.

Suou frio quando Angela perguntou, numa inocência fingida, se Bianca já estava namorando com Daniel quando passou a noite em sua casa (nem seus pais sabiam daquilo), mas como se fosse uma super heroína chegando para resgatá-la, Ariele Cordélia apareceu para parabenizar ela e suas amigas pela apresentação. Para melhorar, estava acompanhada por ninguém menos que Madalena Cordélia, a ex-diretora do Madre Cordélia.

As duas envolveram Angela Beaumont e Sônia Conceição em uma longa conversa, onde não pouparam elogios gratuitos às suas filhas. Em determinado momento, os olhos de Ariele se encontraram com os de Bianca e a mais velha deu uma piscadinha discreta, como quem garante que estaria ali para lhe dar apoio.

Provavelmente porque sabia como era lidar com os pais de Emily e Daniel. Angela não mudou muito depois do divórcio; ora era carinhosa e agia como se tudo estivesse perfeito, ora voltava a criar caso com os filhos e falar as coisas mais cruéis que podia por nenhum motivo plausível. Já Mario Beaumont... Daniel dizia que estava "sob observação". A vontade de consertar a relação com os filhos parecia genuína nas poucas vezes que se encontravam, mas nenhum deles forçava nada. O tempo ia dizer se daria certo ou não.

Enquanto isso, os pais de Bianca precisavam ser controlados para não tentar adotar Daniel e Emily. Depois de se encantar pelo genro, Sônia também caiu de amores quando conheceu a amiga da filha. Chegava a ser cômico o contraste entre as famílias. Às vezes Bianca se perguntava se algum dia seus pais conseguiriam se dar bem, assim como Sônia e André viraram amigos da mãe e irmã de Esther, ou se permaneceria aquele clima estranho...

Enquanto Ariele e Madalena mantinham suas mães ocupadas, Daniel esticou a mão para segurar a de Bianca, quase como se lesse seus pensamentos, e ela soube que o importante é que tinham um ao outro, independente do que precisassem enfrentar.

Claro que aquela foi a hora perfeita para Natalie e Esther chegarem, a irmã agarrando Bianca e Elisa pelos pescoços, beijando a bochecha de cada uma enquanto gritava o quanto estava orgulhosa delas. Até acabou chorando quando lembrou de como as coisas deram errado para Bianca no começo do ano e ficou emocionada ao ver como a irmã superou tudo — o que lembrou Sônia de que não estava presente no dia da última apresentação e a fez se sentir mal de novo. No fim, as duas caíram em lágrimas enquanto abraçavam Bianca, que provavelmente odiaria a sua família — se não a amasse tanto, claro.

Todos acabaram se separando na hora do jantar, mas o grupo de amigos combinou de se encontrar na pista de skate para comemorar o "quase final do ano letivo" (e na semana seguinte, fariam a mesma comemoração para o "final final do ano letivo").

O último evento do ano era a formatura do Cruz e Souza, que sinceramente podia muito bem ser a sua, considerando que seus pais viriam para prestigiar o genro, Natalie e Esther aceitaram acompanhar Ariele e Madalena Cordélia (que não tinham escolha além de estar ali, representando Madre Cordélia) e todos os seus amigos também estariam presentes; tanto os que se formariam, quanto as meninas do Madre Cordélia.

Natalie entregou naquela noite as roupas que Bianca e Daniel usariam e eles sequer tiveram tempo de provar, mas bastou um vislumbre quando a irmã abriu os zíperes das capas de proteção para deixá-los sem palavras. Há dois meses atrás, quando fez o pedido para Natalie (e Daniel fez questão de pagar por tudo), deixou bem claro que o objetivo era que ninguém conseguisse tirar os olhos deles... e a irmã definitivamente não tinha poupado esforços nisso. Quer dizer, era uma baita oportunidade para ela, afinal todas as famílias influentes daqueles alunos estariam presentes e seria incrível se suas peças autorais fossem as que mais chamassem atenção na noite... o que com certeza aconteceria.

Bianca deu um pulo de susto quando ouviu o som de passos se aproximando, voltando à realidade. Não precisou virar para trás para saber que eram do seu namorado. Conseguia ouvir, um pouco mais ao longe, as vozes altas dos seus amigos rindo e conversando por cima da música que tocava no carro de Bellini. Provavelmente dali a pouco precisariam desligar, conforme a noite se estendia, mas aproveitariam ao máximo até lá.

Ela sentiu as mãos de Daniel na sua cintura e se segurou no balanço quando ele a puxou um pouco para trás, apenas para dar um beijo em seu pescoço. Estavam de costas para a pista de skate e tudo o que havia diante deles era a cidade vazia iluminada pelas luzes noturnas e incontáveis estrelas no céu.

— Por que você tá chorando? — sussurrou, preocupado.

Bianca franziu a testa e levou a mão até o rosto, só então percebendo que seus olhos estavam um pouco úmidos. Fungou, apesar do sorriso que se formou em seus lábios.

— Eu não percebi que estava chorando... Tá tudo bem, acho que só estou feliz por tudo o que aconteceu hoje.

Então Daniel a empurrou gentilmente, embalando-a no brinquedo.

— Você estava maravilhosa no palco hoje — comentou. — Eu não sei se falo o suficiente o quanto você é impressionante em tudo o que faz.

Bianca riu.

— É óbvio que fala. — Quando o balanço estava voltando na direção de Daniel, virou a tempo de lhe roubar um beijo rápido. — Você também é. Além de ser o melhor namorado do mundo.

Ela estava de costas, então não conseguiu ver o sorriso bobo que se desenhou no rosto dele. Não era nada mais do que justo que o deixasse assim às vezes, em comparação a todos os sorrisos bobos e borboletas no estômago que ele lhe causava.

Nem acreditava que tudo aquilo começou com um campeonato de LoL na lan house. Quer dizer, ele não foi exatamente o responsável pelos beijos trocados na festa, muito menos por Daniel se esgueirando até seu dormitório, mas afinal merecia algum crédito.

— Nossa, eu vou sentir saudades disso — Bianca deixou escapar, enquanto Daniel se sentava no balanço do lado do seu. — Não quero que esse ano acabe nunca.

— Não? — ele sorriu. — Eu mal posso esperar para nunca mais ter uma aula de redação na vida.

Bianca não conseguiu conter a risada com a quebra de expectativa. Enquanto seu balanço parava, ela virou na direção de Daniel, que já estava com os olhos nela:

— Você não tem medo do futuro, Dani?

Ele respirou fundo, pensando em como responder:

— Sei lá, tenho, mas ao mesmo tempo acho que cansei de ter... — Também apoiou a cabeça nas correntes do balanço, sem tirar os olhos dela. — Quer dizer, eu passei a maior parte da minha vida com medo de viver ela, e pela primeira vez eu estou vendo como vale a pena... Acho que agora só quero tirar o máximo proveito dessas coisas boas.

Bianca sorriu, genuinamente feliz de ouvir aquelas palavras vindo dele. Estendeu a mão em sua direção e Daniel a segurou, antes de continuar:

— Não se preocupa, tá? Ano que vem eu não vou estar mais morando com meus pais, e não vai ser longe daqui. Vou dar tudo de mim para virar um jogador profissional, e você vai continuar sendo a melhor streamer de todas. Vamos realizar nossos sonhos juntos e ser aquele casal que todo mundo olha e pensa "será que algum dia eu vou encontrar alguém e ser tão feliz assim?" — Bianca observou os olhos azuis virarem na direção das estrelas enquanto ele falava. — E se alguma coisa não der certo, a gente vai continuar tendo um ao outro.

As bochechas de Bianca doíam de tanto sorrir — um problema recorrente quando estava perto de Daniel.

— Eu e você contra tudo.

— Claro — ele concordou. — Afinal, somos o melhor duo.

Daniel e Bianca dividiram mais alguns minutos de uma conversa tranquila, sonhando com o futuro que compartilhariam, antes que as vozes de seus amigos os chamando chegassem até eles.

— É melhor a gente voltar, mas antes... — Daniel se levantou, sem soltar a mão dela. Então abriu o sorriso da covinha que fez Bianca se apaixonar no dia em que o conheceu. — Eu acho que nunca te perguntei isso... mas você aceita namorar comigo?

Ela não conteve o riso enquanto se levantava e envolveu a cintura dele com os braços, como se não pudesse imaginar um mundo em que estivesse longe dele.

— Eu aceito.

Quando se beijaram, o brilho do oceano cintilante de estrelas sobre eles se tornou apenas um plano de fundo irrelevante. O tempo deixou de existir, e as batidas de seus corações se tornaram a nova eternidade.




Nota da autora:

😭😭😭💜

Esses dois merecem essa paz;

O capítulo tá com gostinho de final porque... tecnicamente esse é o capítulo final de Camellia.

Lembram que eu disse "nesse livro não vai ter especial de formatura"? Pois é, estou nesse momento escrevendo o especial de formatura. 

Acertei o número final de capítulos, então eu tinha que errar em alguma coisa, né?! 

Agora, me digam: qual foi o momento favorito de vocês? 🥺

Eu reli esse livro inteiro essa semana para encontrar o final perfeito para ele (espero ter conseguido!) e sinceramente... ainda não consigo decidir. O dia do pedido de namoro alugou um triplex no meu coração, mas o Daniel se escondendo no quarto da Bianca foi simplesmente o ápice dos meus romances de internato kkkk Não vou nem comentar o quanto eu amo os capítulos da Tropa do Pau Médio, e a reviravolta que foi a Bianca ficando com o Bellini 🤪

Esse livro me proporcionou tanto caos e eu amo ele por isso....

Eu definitivamente não estou preparada para colocar o ponto final, mas se o Daniel não tem medo do futuro, sabendo que eles sempre estarão juntos, nós também não devemos ter! 

Obrigada pelo prazer de me acompanharem no decorrer dessa história e eu só posso desejar que ela tenha sido tão preciosa para vocês quanto foi pra mim 💜

Sobre os dois capítulos finais de formatura: eu quero muito terminar eles até terça-feira para conseguir inscrever esta história no Wattys a tempo, mas sinceramente ainda é um mistério se vou conseguir. Segunda-feira vem a primeira parte e vou saber se vai ser humanamente possível terminar a tempo, caso contrário, encerramos na sexta.

Aproveitem o final de semana por mim, porque eu vou me trancar no quarto e escrever sem parar!

Um beijo, e até o final 💜

Fortsett å les

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