Flor da meia-noite

By ThalitaFagundes

2.3K 269 80

Dizem que quando estamos prestes a morrer, um filme da nossa vida passa na nossa cabeça. Mas não foi bem isso... More

1. Brisa de (i)realidade
2. Adina Hale?
3. Ninguém gosta de quem sabe demais
4. O que é ser um humano, afinal?
5. Visitas do passado
6. Asas. Magníficas... asas
7. Doses e algum Caído para acompanhar
8. A historia toda? Acho que não
9. Sofrimento adora companhia
10. Ligações perigosas
11. Quase uma rainha
12. Um adeus, a coroa, e o mestre
13. Barreira
14. Qual o seu tipo de psicose?
15. Anjos do FBI
16. Vamos esclarecer as coisas
17. Anjo da guarda?
18. Adina Hale
19. Um baile de máscaras é sempre um bom lugar para expor alguém
20. Não desista de mim de novo
21. O Mestre mente
22. Ache os Arcanjos. Mate Jordan Benacci
23. Marie Blake
24. Cinco minutos
25. Vamos jogar
26. A rainha do baile
27. Adina de Riverland
28. A última dança
29. A chave
30. Vingança é um prato que se come frio
31. Primeiro você sonha...
32. ... depois morre
33. Isso é magia, Allyson
34. Amor, eu so sirvo pra despedaçar o seu coração
35. Hora de voltar pra casa
36. Lar, terrivel lar
37. Não minta para um mentiroso
38. A nova ordem da esperança
39. Amor. Uma palavra cortante.
40. Pandemônio
42. O cadáver de Allyson Hale
43. Colcha de retalhos
44. Antes do pôr do sol
45. Eu sei o que você fez no verão passado
46. Terra Prometida
47. Ainda estou aqui

41. Vida cega e inconsciente

23 4 0
By ThalitaFagundes

Jessica me deixou na colônia da Ballard ao invés de me deixar em casa, afinal eu precisava pegar meu carro. Jordan não desce comigo, e mal me encara, mas aposto que me esperaria na poltrona do meu quarto quando eu chegasse. Jake me prometeu que conversaríamos sobre aquele assunto. Eu sabia o que era, mas me recusei a responder.

David destrancou meu carro e me entregou a chave. Suspirei quando não vi vidro nenhum protegendo a janela. Sorte a minha que o campus era bem seguro quanto à furtos, ou estaria sem locomoção a essa altura. David ficou surpreso quando não entrei no veículo, e sim passei por ele entrei no prédio. Pouco tempo depois, ele sobe as escadas atrás de mim e me encontra na porta. A abre e então entramos.

Eu sabia que deveria ir para casa, mas tinha assuntos a tratar com ele. Tinha que saber se ele tinha encontrado a Caixa.

— Posso tomar um banho?

— Claro, claro — Ele logo vai atrás de uma toalha, um moletom e aponta o banheiro, feliz em ser útil — Quer conversar?

— Não — Sigo a passos pesados até a última porta do curto corredor.

Ligo o chuveiro e deixo a água quente correr pelo corpo até o ralo, tentando fazer com que ela me limpe de toda sujeira da minha mente. Mas isso não acontece. Assim que fecho os olhos, as visões chegam. O homem de olho vermelho, chegando perto, usando uma espada grande para acertar meu coração e drenar meu poder para si.

Abro os olhos, mas o sufoco no meu peito não desaparece, aquela dor que parece quer me rasgar de dentro pra fora, que me consume e que me cega, ela não escorre pelo chão.

Visto a roupa do David, uma camisa preta que vai até a coxa e uma calça de moletom cinza que tenho que dobrar a barra pra não tropeçar, mesmo sendo alta, ele é mais. E assim eu já me sinto infinitamente melhor. Os frascos que roubei fazem barulho no jeans, e eu o dobro bem antes de deixa-lo em cima do sofá.

— Seu celular está no balcão — David comenta quando reapareço na sala — Liguei para sua mãe e avisei que está tudo bem, mas ela quer que vá ao hospital.

— Obrigada.

— Ela parecia preocupada.

— David, eu não...

— Eu sei, me desculpa — Ele toca meu ombro e diz com uma voz tão mansa que me acalma de meus pensamentos impróprios — Fiz um chá, precisamos conversar.

Sentamos nos sofás, um de frente para o outro, e eu uso a caneca pra esquentar as mãos. O frio nunca me deixa, nunca vai embora. David parecia tenso e eu já sabia do que se tratava, quase sorri. Quase, porque até sorrir doía depois do que passamos.

— Segui suas pistas.

— Imaginei que seguiria, me preocupei por não ter dado tempo de te passar a chave, mas fico feliz que tenha conseguido — Bebo um gole do chá e fecho os olhos.

— Mas eu entreguei a Caixa ao Adam.

— Eu sei.

— Como?

— Aquela Caixa era falsa — Digo com calma e ele franze as sobrancelhas — Eu nunca deixaria a Caixa de Pandora tão exposta, é valiosa demais. Foi tudo proposital. Eu sabia que se dissesse que não, você iria atrás para tentar me salvar. Agora Adam vai ficar ocupado um tempo tentando descobrir como abri-la e a gente pode se concentrar em outra coisa. E eu precisava entrar para checar onde estavam os Nephilins.

— Mas... meu Deus, Ally, você me manipulou de novo, tá vendo isso? E se eu não fosse? O que você faria?

— Eu sei que iria, esse é o tipo de coisa que você faz — Deixo a caneca na mesinha e vou até ele, me ajoelho na sua frente e pego suas mãos — David, não perca de vista quem você é. Você é doçura e luz. É por quem eu me apaixonei, por quem a próxima garota vai se apaixonar. Então não fique empilhando tragédias, eu mais do que ninguém sei que isso não vale a pena.

— Eu não quero nenhuma outra garota — Ele faz o mesmo e fica na mesma altura que eu — Você tem uma puta de uma sorte, Ally, eu não me perdoaria se não tentasse agora.

— Você é uma das pessoas em que eu mais confio, e sei que não posso confiar em ninguém, mas eu sinto que te conheço até a alma. Você foi meu herói de novo.

— Fiquei com tanto medo.

— Eu também, ainda estou com medo — Minha voz vacila mais do que eu queria e eu me deito olhando o teto, um modo de não precisar encará-lo — Não quero decepcionar ou machucar mais ninguém, como a morte do Zack hoje, não quero ver mais alguém me encarando como a Hazel me encarou.

David deita também e a mão dele encosta na minha perna. Mas ele não a toca com urgência. É apenas um lembrete: estou aqui.

— Mas acima de tudo... — Fico sem fôlego, que agora pende no fio afiado da verdade. — Tenho medo por mim. Tenho medo do Intensificador, de sentir aquela dor de novo. Tenho medo do que Darko vai fazer se chegar até mim. Sei que sou mais valiosa do que os outros da pequena lista, por causa do que fiz quando era Adina e do que posso fazer. De novo, meu nome e meu rosto têm tanta força quanto... — Abro as mãos e a luz branca emana como um lembrete reconfortante — E isso me torna importante. Faz de mim um troféu — Faz de mim uma pessoa solitária — E odeio pensar desse jeito, mas ainda penso.

O que começou com o colapso de David acabou se transformando no meu. Numa noite escura, numa estrada densa, cercados por um abrigo prestes a desmoronar, cuspi todos os meus segredos nele. Não passava da garota que fez dele gato e sapato. Agora o inverno se aproxima, e sou a garota que roubou a vida dele.

A pior das minhas confissões ainda está guardada. Agita-se no meu cérebro como um pássaro numa gaiola. Bate contra os meus dentes, implorando para sair. Tenho que dizer antes que faça alguma coisa estupida, antes que me arrependa das decisões que o envolveram.

— Sinto falta dele — Sussurro, incapaz de encarar David nos olhos, mas sei que seu rosto se vira para mim — Sinto falta de quem pensei que ele fosse.

A mão na minha perna se fecha e emana calor. Raiva. É fácil ler David, o que é um descanso bem-vindo depois de tanto tempo fechada num covil de lobos. Saber que ao contrário dos outros, ele também quer vingança ao invés de justiça.

– Não sei o que tornaria mais fácil esquecê-lo. Pensar que não foi sempre assim, que alguém o envenenou; ou que ele simplesmente nasceu um monstro – Sei o que estou dizendo, sei que a possibilidade me assusta mais do que tudo.

– Ninguém nasce um monstro – Ele se pronuncia, e mesmo assim quase não ouço sua voz, é aquela dor no meu peito de novo, minha visão embaçando, fazendo minha cabeça latejar. Mas eu desejaria que fosse assim. Seria mais fácil odiá-lo, matá-lo, esquecer seu nome – Nem Adam.

Sem pensar, deito sobre ele, coração com coração, ignorando a dor e o trauma que seu braço em minhas costas me traz. Eles batem em sincronia, refletindo as lembranças de um garoto de língua afiada e olhos verdes. Inteligente, esquecido, compassivo. Jamais verei aquele garoto de novo.

Vou para casa apenas para trocar de roupa e pentear melhor o cabelo, passar um perfume, pegar a bolsa com as minhas coisas e sair de novo. E antes de estacionar na frente da casa da Hazel, coloco gasolina no carro.

Percebo que Jessica está lá quando vejo seu carro parado não muito longe, ela deve ter vindo depois de deixar todo mundo. Eu devia estar aqui também, devia estar confortando-a, mas o que Adam disse na hidroelétrica uma vez começa a fazer sentido: quando as coisas apertam, eu nunca me lembro dos meus amigos ou da minha família.

Mas não hoje.

Suspiro criando coragem e bato na porta, quem abre é Jessica, e respiro fundo.

— Oi, cadê a Hazel? — Cruzo os braços e espio o interior da casa.

— Demorou hein — Jess checa o relógio e abaixo a cabeça — Dá um tempo pra ela, Ally, ela não quer te ver.

— Por favor, me deixa falar com ela.

— O Zack morreu, você sabe bem como é isso. E se a Hazel precisa de alguns dias para processar, então a gente deve dar esse tempo a ela.

— Ela sempre me ajudou, Jess, por favor, me deixa ajuda-la também.

— Desculpa Ally — Ela diz de novo. Viro o rosto e encaro a rua vazia. Quase esperei ver um monte de feno passando — Eu sei que você quer ajudar, mas se coloca no lugar dela. Tudo o que aconteceu hoje foi para salvar você, e tudo bem, por que ela ama você, acredite Ally, mas, de algum jeito, ela sempre acaba se ferindo, todos sempre acabamos nos ferindo.

— Tá, você tem razão — Tento segurar o choro, mas falho miseravelmente. Jessica tem mais do que razão, é por isso que tenho que fazer algo a respeito, mas sem colocar todos em perigo de novo — Eu vou ao hospital agora, mas eu volto, só... diz que eu a amo, tudo bem? E que sinto muito.

— É claro que eu digo.

Faço que sim com a cabeça e fungo, demorando um pouco mais do que o esperado pra sair de lá. Segundos? Minutos? O tempo parece se estender de forma irregular agora, e só consigo pensar que é demais para um dia só, mas ainda irei ao hospital, e mais coisa vai me bombardear, eu sinto.

Quando chego lá, já são quase duas da manhã, e sigo direto para a Oncologia. Eu mando uma mensagem para minha mãe, perguntando qual era o quarto, e enquanto espero a resposta fico no corredor, escorada na parede, ainda muito cansada de horas atrás. Noto uma porta que me chama atenção:

Medicamentos e instrumentos cirúrgicos

Área restrita

Eu não devia fazer isso, eu não devia fazer isso, eu não... 

Olho para os dois lados e coloco a mão sobre o sensor do cartão de acesso sorrateiramente. Em segundos a luz que antes estava vermelha pisca e fica verde. Um suspiro de alívio me escapa e entro rápido.

Tento me lembrar das aulas de química ao procurar um calmante forte. Coloco três ou quatro frascos na bolsa e também mais duas seringas ainda no plástico. É, bem mais seguro para o que vou fazer. Levanto a mão para pegar outra coisa quando meu celular vibra no bolso da calça jeans.

Checo o número do quarto e saio da sala.

— Ally! Meu Deus — Minha mãe grita, o que faz meu pai acordar sorrir para mim. Eu o abraço forte, e quando me afasto, noto imensas marcas roxas nos seus braços e círculos escuros ao redor dos olhos — Me prometa que nunca mais fará isso.

— Não posso prometer nada — Dou de ombros quando ela suspira, arrancando um riso gostoso do meu pai, mas ainda assim fraco — E como você está? Pronto para voltar para casa? Planejei muitas coisas pra gente fazer enquanto a mamãe está na universidade, vou até deixar você escolher o jantar e o canal de esportes.

— Na verdade... — Ele começa tossindo e logo me coloco na defensiva.

— Te chamamos aqui para se despedir — Minha mãe se põe ao meu lado e coloca a mão calejada e fina no meu ombro.

— Você vai para Rússia ou algo assim? — Me sento sorrindo ao seu lado na cama, e mesmo sabendo do que se trata, algo dentro de mim ainda espera que minha pergunta seja séria, e que a resposta para ela seja sim.

Meu pai ri, e quando o faz, tosse de novo. Consigo ver as gotículas de sangue voarem até o lenço, o manchando de vermelho, e algo mais, algo mais escuro. É a doença o corroendo de dentro para fora. Como as visões e o cansaço estão fazendo comigo.

— Não se preocupe, Ally, isso não é hereditário — Não consigo rir da piada, ao contrário, me deito sobre seu abdômen e começo a chorar — Vai ficar tudo bem — Ouço minha mãe soluçar e depois sair da sala — Estar com você agora me faz esquecer um pouco da dor, tá tudo bem.

— Eu te amo, pai, sinto muito por isso, por tudo.

— Não importa agora, nada mais importa agora.

════════ ◖◍◗ ════════

Uma das coisas mais estranhas ao respeito da vida é que ela continua. Digo, cega e inconsciente. Mesmo enquanto mundos particulares, pequenas esferas, estão se desfazendo. Um dia, você tem tudo, no dia seguinte, é só mais uma estatística. Um dia, você tem um lugar e um caminho, no dia seguinte, está perdido em um porão imundo. Um dia, você é alguém normal, no dia seguinte, carrega corpos nas costas. Um dia, você tem dois pais e uma mãe. No seguinte, só te sobra um.

E, ainda assim, o sol nasce, as nuvens se acumulam e flutuam, as pessoas fazem compras, dão descarga, abrem e fecham cortinas. É quando você percebe que a maior parte das coisas, a vida, o implacável mecanismo da existência, não gira em torno de você. Sequer o inclui. Ela seguirá em frente mesmo depois de você ser jogada de um abismo. Mesmo depois de você morrer.

Quando caminho para o centro de Ellicot pela manhã, em direção ao cemitério depois do velório na igreja, é isso o que mais me surpreende: o quão normal tudo parece. Não sei o que eu estava esperando. Não achei realmente que os prédios cairiam durante a noite e que as ruas se derreteriam formando montes de borracha, mas, mesmo assim, é um choque ver um rio de pessoas carregando maletas, comerciantes abrindo suas lojas e um carro solitário tentando passar por uma rua lotada.

Parece absurdo que eles não saibam, que não tenham sentido nenhuma mudança ou tremor enquanto minha vida virou de ponta-cabeça.

Jordan está me esperando na porta quando chego, ela usa um vestido preto e fez uma trança simples no cabelo, contrariando a imagem que tenho dela na minha cabeça. Ajeito o meu vestido e entro quando ela coloca o braço ao redor da minha cintura. Pouso a cabeça em seu ombro, buscando um conforto que nunca chega.

Os túmulos no cemitério de Ellicot são novos, marcados pela terra recém cavada e algumas coroas de mato. As rochas conhecidas fazem as vezes de lápides, cada uma delas gravada cuidadosamente.

Quando descemos o caixão do meu pai, com toda a minha família de pé à beira do buraco, me dou conta de que temos sorte. Pelo menos temos um corpo para enterrar. Muitos não têm esse privilégio. Ruth não tem esse privilégio.

Hazel se abraça para se proteger do vento frio, mas se recusa a vestir o casaco. A família de Zack também está presente para o enterro do filho. Para a minha surpresa, Kaleesa fica ao lado dela, passando um braço pela cintura da minha amiga. Quando Hazel permite isso, quase caio para trás, chocada. Hazel era difícil, Ka mais ainda. Não sabia que as duas eram amigas assim, e aqui estão, parecendo tão íntimas. Claro, fiquei fora da vida das duas por longos meses, e elas também se encontram na época de Adina, milhares de anos atrás. De algum modo, por baixo da minha tristeza, consigo sentir um pouco de inveja.

Jake se senta numa elevação mais adiante, longe o suficiente para que ninguém o veja chorar. O enterro de Zack é demais para ele. Ele enterra a cabeça entre as pernas de vez em quando, incapaz de ver o irmão do melhor amigo começando a jogar terra na cova.

Volto minha atenção ao túmulo do meu pai. Não dizemos nada. É difícil demais. O vento passa direto por mim, uivando, e desejo calor. Desejo um calor que possa me confortar. E apesar de Jason estar bem aqui, meu corpo congela. Olho para trás pra observar David mais uma vez. Ele me encara sem vacilar, como se pudesse me incendiar apenas com o olhar. Que desperdício. Já não há nada pra queimar em mim.

Minha mãe joga a última pá de terra. Seus olhos estão secos, já sem lágrimas para oferecer. Ao menos temos isso em comum.

"Martin Joseph Hale" é o que está escrito na lápide. As letras parecem arranhadas, entalhadas por algum animal selvagem, e não pelo cemitério. Parece errado enterrá-lo aqui. Meu pai não merecia esse destino. Zack não merecia esse destino.

Um pensamento sombrio ocupa minha mente.

Talvez seja mais uma troca, mais uma barganha. Talvez tenha sido o melhor destino possível para os dois. Meu pai, que sempre me salvava, que sempre sabia o que dizer. Como este pode ser o melhor fim? Como pode ser justo?

Mas sei melhor do que a maioria que nada é justo neste mundo.

Minha visão fica turva. Continuo olhando a terra batida por sabe-se lá quanto tempo, até restarmos apenas Hazel e eu no cemitério. Quando levanto a cabeça, ela me encara, e sua expressão é uma tempestade de raiva e dor. O vento bagunça seu cabelo, que cresceu bastante ao longo dos últimos meses, e agora está quase na altura da cintura. Ela o joga para trás com tanta violência que fico com medo de que os arranque.

— Ouça, me desculpe — Começo me aproximando como se ela fosse um cão raivoso. Ela apenas faz um gesto com a mão, dispensando minhas desculpas.

— Não é de você que tenho raiva, Allyson — Ela se esforça para dizer. Só posso assentir.

— Então...

— Se você estiver planejando ir até o Adam ou Darko sozinha, eu vou com você.

— Eu entendo que...

— Não, não entende — Hazel desdenha — Eu não poderia me importar menos com a minha própria segurança, não agora.

Seus olhos voltam a pousar sobre a cova. Uma lágrima solitária escapa, mas ela não percebe. Rezo para que seja algum truque de ilusão de novo. Sei que ela também. O vento sopra os cabelos pelo seu rosto, quase ocultando o brilho de esperança nos seus olhos. Esperança e vingança. Uma mão se espalma sobre seu estômago. A outra toca meu ombro.

— Espero que a gente saia disso vivas, Ally, de verdade. Principalmente você. Eu já vivi demais.

Então ela me dá as costas e não olha para trás. Quando saio, alguns minutos depois, também não olho.

════════ ◖◍◗ ════════

Em casa, sentamos eu e mamãe na sala, é estranho não ter meu pai aqui para assistir tv comigo enquanto esperamos a chuva passar. Depois de um longo momento, me dou conta de que estou tremendo. Então deito no colo da minha mãe e a deixo me abraçar por um longo tempo. Faço o possível para não chorar. Bom, o possível não basta, e soluços tomam conta de mim.

Mamãe sobe para seu quarto e vou para a cozinha pegar um sorvete, mas uma batida na porta da frente me interrompe.

— Oi — David está ali com um saco de papel na mão.

— Oi! — Devo parecer patética com essa cara de choro e surpresa, mas sorrio mesmo assim quando ele espera na porta — Tudo bem?

— Sei que deveria ter ido falar contigo no enterro, mas não consegui porque... sei lá, mas resolvi vir pra saber como você estava.

— É, estou bem, já me acostumei com a quantidade exorbitante de tragédias na minha vida.

— Ah, também vim te trazer isso — David tira da sacola uma embalagem de comida mexicana. Ri com a cena.

— Já vi homens trazerem bombons e flores paras as mulheres, mas taco é novidade.

— Eu sou uma caixinha de surpresas — Ele entra sem cerimônia e deixa a embalagem em cima da mesa — Mas não é só isso — Do saco ele tira uma embalagem de fini — Tacos de camarão e molho inglês, é o seu preferido, né?

— É sim — Sorrio triste. Era o preferido do meu pai também — É muita gentileza sua — Cruzo as mãos na frente do corpo enquanto ele tira a comida dos saquinhos para viagem.

— Antes de se animar — Ele acrescenta enquanto pego os pratos — Acho que devia esquentar, eu devia ter pedido pra reforçar o embrulho, mas estava com um pouco de presa pra te ver.

— David, não precisava fazer isso, é sério. Quanto te devo? — Pergunto já procurando a bolsa, mas ele me impede com a mão em meu braço, nós dois nos encaramos intensamente, então ele quem disfarça primeiro.

— Nada, não precisa.

— Você já faz tanto por mim.

— E faria muito mais — Ele sorri e eu abaixo a cabeça.

— Ah, tem sorvete.

— Na verdade, acho melhor eu ir, vai passar Ghost na tv, e Holden insistiu que eu assistisse com ele.

— Parece divertido — Sorrio apoiando as costas no balcão.

— Eu acho que você não me entendeu, eu disse que ia passar Ghost na tv — Rimos e afirmo com a cabeça — Tchau, a gente se vê — David se aproxima e aproxima os lábios da minha testa, fico na ponta do pé pra facilitar o processo, já que aquilo é tão familiar.

— Bom, já estou atrasado — Ele começa a caminhar em direção a porta — Até mais, Hale.

═══ ◖◍◗ ═══

Não há tempo para sentir decentemente a morte de meu pai ou dos outros, nunca há tempo. Vou até o local onde a alcateia de Jake está no dia seguinte, ele parece mais calmo quando me encontra na porta do galpão e me acompanha até um carro estacionado.

— Eu soube que esteve procurando pelos gêmeos.

— Sabe o porquê?

— Na verdade não — Ele cruza os braços e duas pessoas se aproximam, uma garota e um garoto — Melhor assim.

— Então ela é a Filha da Profecia? — A menina diz — Ela parecia mais intimidadora quando você a descreveu.

— Ally, esses são Nick e Daniel Fell.

— Os herdeiros de Licaão — Sorrio com um brilho sapeca nos olhos — Temos muito a trabalho fazer.

Continue Reading

You'll Also Like

135K 3.7K 25
Warning: 18+ ABO worldကို အခြေခံရေးသားထားပါသည်။ စိတ်ကူးယဉ် ficလေးမို့ အပြင်လောကနှင့် များစွာ ကွာခြားနိုင်ပါသည်။
45K 701 16
DELULU & GUILT PLEASURE
36.7K 596 11
This story is based on village story with lots of smut...
308K 15.4K 47
Ruby King is your average young woman who is starting to attend college full time. Everything is going great until she notices that there seems to be...