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By dayligzt

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By dayligzt

— É aqui — Azriel indicou a cabana no topo da montanha nevada, a única naquela região.

Depois que chegaram em Velaris, o Mestre Espião atravessou com Theo, Lucien e os Samudras para Illyria, onde o Grão-Senhor da Corte Noturna estava passando os últimos dias em segredo.

Olhando para a estrutura da cabana, Theo se lembrou das centenas de histórias que Azriel tinha contado a ela sobre os tempos em que viveu ali com Rhys e Cass, além da mãe e da irmã do primeiro.

Nalu tinha vestido um gibão de couro escuro para se proteger do frio, enquanto Kai estava com um casaco enorme de pelos marrons e brancos, que descia até seus calcanhares. O Imediato do Demônio do Mar estava ligeiramente mau-humorado devido ao frio, seus dentes brancos e um pouco grandes rangendo.

Lucien estava agasalhado apenas com uma túnica branca um pouco grossa. Seu cabelo comprido e liso era iluminado pelos raios de sol, deixando seu ruivo mais vivo.

Theo, no entanto, não precisou trocar de roupa. A fêmea não se lembrava da última vez em que sentiu frio em sua vida. O povo da Corte Outonal já tinha um corpo mais quente que os demais, mas depois que começou a ser usada para os experimentos de Brynjar, a Princesinha das Chamas conseguiu emanar ainda mais calor do que já possuía.

Algumas vezes, todo esse fogo quase a matou.

O vestido de Theo era verde claro, e apesar de um dos ombros não ter manga, havia uma comprida no outro, descendo larga até seu pulso. Havia em sua cintura um cinto de folhas avermelhadas com fundo dourado, ajustando o vestido em sua curva, além de várias outras pequenas folhas espalhadas pela saia. Como sempre, um vestido leve.

Os cinco caminharam em passos largos até a cabana e Azriel bateu na porta três vezes. Após alguns segundos, uma fêmea loira de vestido vermelho empunhando uma adaga abriu a porta e colocou a cabeça para fora. Theodosia a reconheceu.

Morrigan passou os olhos castanhos com atenção em cada um deles antes de abrir um sorriso tenso para Azriel. Ela, então, deu alguns passos para trás, indicando que os demais entrassem.

Azriel foi o primeiro a entrar, e Lucien passou pela porta logo em seguida. Theo respirou fundo passando os olhos de Nalu para Kai, e então entrou. Seus olhos dispararam para o casal que estava sentado de mãos dadas no sofá. Rhysand e a fêmea se levantaram assim que notaram a presença deles, exibindo sorrisos gentis, apesar de tensos, nos lábios.

— A princesa Theodosia Vanserra a maioria de nós já conhece — Azriel disse com a voz seca e um pouco desconfortável, antes de indicar os dois machos que ladeavam a ruiva. — Esses são Kai e Nalu...

— Nalu Samudra, o general mais forte que Prythian... que o continente já viu! — Cassian esbravejou ao passar por uma das portas que devia ser de um quarto. Estava sendo acompanhado por uma fêmea de cabelos claros e rosto duro.

O Comandante Geral da Corte Noturna exibia um sorriso brilhante, os olhos arregalados de tamanha empolgação. Ele cruzou o cômodo em passos largos e ansiosos antes de abaixar a cabeça em uma reverência á Nalu.

— Pelas tetas da Mãe! — Ele arfou, seu sorriso se tornando ainda maior quando Nalu também sorriu e estendeu a mão para Cassian. — Quando Azriel avisou que você viria, eu não acreditei. A ficha não caiu ainda. Você... Você fez história em Adriata! Você colocou ao menos oito monstros na Prisão, quatrocentos anos atrás. E tomou o comando da Ilha dos Corais para a Corte Estival!

— É um prazer conhecê-lo, Cassian — Nalu respondeu com gentileza ao sentir o macho apertar a sua mão e sacudi-lá com entusiasmo. — Também já ouvi sobre os seus feitos. Um dos illyrianos mais poderosos já nascidos, não é?

— Ah, isso não é nada — Cassian dispensou com a mão livre, ainda encantado com a presença de Nalu. — Li todos os livros a seu respeito quando comecei a me preparar para ser General. Pratico seus métodos de treinamento, me inspirei nas suas estratégias de guerra para criar as minhas. O senhor é meu ídolo! — Os olhos do illyriano brilhavam com admiração. — Merda, acho que nunca me senti tão feliz em toda a minha vida!

Cassian arregala os olhos e coça a garganta antes de olhar por trás do ombro, para a fêmea de olhos azuis-acinzentados que observava-o com as sobrancelhas arqueadas. Ele solta cuidadosamente a mão de Nalu e dá um passo para trás, ficando ao lado dela.

— O segundo dia mais feliz da minha vida — o macho se corrige ao enlaçar a cintura dela com o braço —, porque o primeiro foi quando tivemos a nossa cerimônia de parceria, Ness.

— Agora que Cassian terminou de babar o ovo do Samudra, podemos começar?

Theo finalmente notou a presença da pequena feérica que estava de pé ao lado do sofá. Olhos prateados que pareciam ser feitos de fumaça, pele pálida feito porcelana e cabelos escuros e curtos. Ela mantinha uma postura gélida e intimidadora.

— É um prazer conhecê-la, princesa Theodosia — a fêmea que estava ao lado de Rhysand disse com gentileza, se aproximando da ruiva junto com o Grão-Senhor. — Sou Feyre, a Grã-Senhora da Corte Noturna.

Theo entreabriu os lábios quando um suspiro escapuliu por eles. Uma Grã-Senhora. Uma verdadeira Grã-Senhora a sua frente.

A antiga Princesinha das Chamas jamais cogitou tal possibilidade. Sabia que Beron jamais permitiria tal coisa. Uma fêmea comandando uma corte? Ele escolheria morrer queimado no inferno a ver tal coisa. E no entanto, Feyre estava bem ali, exibindo uma bela coroa prateada repleta de estrelas.

— É uma honra conhecê-la — Theodosia admitiu, assentindo com a cabeça em respeito. Feyre sorriu para ela.

Rhysand direcionou seus olhos estrelados para Theo, chamando a atenção da ruiva, que abriu um sorriso meramente divertido, arqueando as sobrancelhas.

— Você mudou bastante desde a última vez que nos vimos, se me permite dizer — ela comentou, medindo o Grão-Senhor com o olhar.

— Tive duzentos anos para repensar algumas pequenas falhas na minha personalidade, acredito — Rhysand respondeu com um sorriso. — Naquela época eu era bem mais...

— Galinha. — Theo completou. — Não podia ver um rabo de saia que já corria atrás. É bom rever você — ela se voltou para Cassian —, e você também, Cassian.

— Princesa — Cassian cumprimentou com uma leve reverência, ainda sentindo o olhar aborrecido da fêmea ao seu lado. — Essa é Nestha. Irmã da Grã-Senhora e minha parceira. Também é uma Valquíria — ele apresentou a fêmea, empurrando-a delicadamente para frente.

— Valquírias foram extintas há muitos séculos — Nalu observou com curiosidade, um sorriso admirado brilhando em seus lábios cheios. — Lutei ao lado delas em algumas guerras.

— Talvez tenha que lutar de novo em breve, se Theodosia Vanserra não nos ajudar a matar Dastan e o resto da família — Nestha respondeu afiada, voltando seus olhos para Theo.

— Theo acabou de fazer uma viagem longa até aqui — Lucien deu um passo para mais perto da irmã, seu olho de metal rangendo levemente na direção da Archeron mais velha —, precisa descansar antes de começar a maquinar com vocês.

— Está tudo bem, Lulu — Theo respondeu com a voz exageradamente melosa, enviando-o um olhar divertido antes de abrir um sorriso para Nestha. — Eu mal posso esperar para ver meu querido pai castrado e tendo as bolas emolduradas no Salão de Baile do Palácio da Outonal.

A antiga Princesinha das Chamas mandou um aceno para Morrigan e a feérica pequena, as únicas que ainda não tinha cumprimentado oficialmente, e sentou no sofá onde Rhysand e Feyre estavam sentados inicialmente.

— Nunca mais me chame assim em público — Lucien murmurou para a irmã quando sentou ao lado dela.

— Prefere que eu te chame de raposinha fofucha, assim como a governanta te chamava? — Theo relembrou aos cochichos, as sobrancelhas arqueadas para o irmão.

Ela sequer saberia desse apelido se não fosse por Eris, séculos atrás, que fizera questão de contar a Theo sobre todo as vergonhas que o pequeno Lulu suportou na época da adolescência.

— Lulu está bom, Princesinha das Chamas — Lucien rebateu aos murmúrios.

Kai também se aproximou, sentando do outro lado livre de Theo, deixando-a ladeada por seus dois irmãos, que amavam e protegeriam-a, se necessário, durante aquele debate com os líderes da Corte Noturna.

— Um momento — Cassian pediu enquanto Feyre e Rhysand sentavam mas poltronas a frente do sofá.

Morrigan e e a feérica de cabelos escuros ficaram de pé, paradas atrás da poltrona da Grã-Senhora. Azriel e Nestha se posicionaram ao lado da poltrona em que Rhysand estava sentado. Cassian deixou o cômodo por um momento, e quando voltou, estava com um banco de madeira em mãos.

— Para o General não se cansar — Cassian comentou com um sorriso para Nalu antes de deixar o banco ao lado do sofá, ladeando Kai.

— Obrigado, Cassian — Nalu agradeceu com um sorriso elegante, assentindo para o outro General no cômodo.

O illyriano arrumou a postura antes de se posicionar atrás de sua parceira, Nestha. Todos ficaram em silêncio por um momento, esperando que o primeiro pronunciamento fosse da Grã-Senhora ou do Grão-Senhor, mas Theo foi mais rápida.

— Bom, eu tive alguns dias para pensar enquanto cruzávamos o mar para chegar até vocês — Theodosia começou, sua postura ereta e um sorriso brincando em seus lábios —, a respeito de como agiria por aqui.

— Como assim? — Rhysand perguntou, as sobrancelhas levemente arqueadas, a postura perfeita. Sua túnica preta era bordada em ramos de prata com algumas pedrarias nos ombros.

— O Encantador de Sombras disse que eu só precisava vir para ajudá-los com a elaboração de uma estratégia. Mas eu não quero fazer só isso, e acho que também não seria o bastante — Theodosia explicou calmamente, os lábios pintados de vermelho com um fundo alaranjado.

— Por que não seria o bastante? — Feyre quis saber, parecendo um pouco tensa. Pelo o que a ruiva pôde entender, Rhysand só estava na Corte Noturna para ter aquela conversa com Theo e depois partiria para seu esconderijo. Provavelmente a Grã-Senhora estava preocupada com o bem-estar de seu parceiro.

— Se tentarem atirar armas em Dastan, elas vão derreter antes mesmo de roçarem a pele dele. Se usarem barreiras de proteção, também derreterão e ele passará, sem problemas. Rhysand pode tentar atacá-lo com sua magia obscura mas é um risco que não vale a pena correr — Theo dizia calmamente, a postura firme de quem sabia do assunto como ninguém mais.

— Azriel conseguiu conter Dastan e o fogo por alguns segundos, no dia do ataque — Cassian comentou, indicando o irmão próximo dele.

— Como? — Theodosia direcionou seu olhar ao Mestre Espião, curiosidade pintando os olhos azuis-turquesa.

— Minhas sombras o envolveram e conseguiram contê-lo por um tempo. Durante um ataque eu poderia repetir o gesto, mas não sei por quanto tempo eu seria capaz de aprisioná-lo — Azriel explicou, sua voz grave e dura. — Minhas sombras pareceram enfraquecer o fogo de Dastan por um curto tempo.

— Tempo suficiente para que eu o mate — Theodosia disse, os olhos concentrados no illyriano antes de abrir um sorriso que passava de divertido para cruel. — Dastan pode até estar poderoso, mas tenho certeza que continua o mesmo covarde bebezão de sempre. Se você contê-lo com as sombras, eu posso torrá-lo facilmente.

— Isso seria ótimo — Rhysand comentou, um sorriso agradável nos lábios do Grão-Senhor —, e nós seremos eternamente gratos por estar se arriscando tanto, princesa. Garanto que estaremos em dívida com você.

— O que quiser nos pedir, é seu — Feyre garantiu.

— Agradeço, mas não quero nada de vocês. Nada material, pelo menos — Theodosia respondeu, dando de ombros antes de voltar seu olhar para o Mestre Espião mais uma vez —, mas eu tenho mais uma condição antes de começar a trabalhar contra o meu irmão gêmeo.

— Quando você disse que haveriam outras condições ao longo do tempo, não pensei que seria minutos após desembarcarmos do navio — Azriel rebateu, sarcasmo e aborrecimento mascarados na voz dura.

— Quero que chamem Eris. Antes de começar, quero ver o meu irmão — Theodosia avisou, os olhos focados no Encantador de Sombras com firmeza.

— Theo — Lucien falou, virando-se para a irmã —, não entramos em contato com Eris há anos. Ele sequer mora no Palácio da Outonal atualmente — ele se calou por um momento, a mandíbula tensa ao dizer: — e não acho que seja uma boa ideia envolver um traidor nesse esquema.

— Eu só quero ter uma conversa com ele. Durante todo esse tempo, tenho certeza de que você não tentou conversar com Eris para saber se ele realmente estava envolvido no que houve naquela noite — Theodosia disse com certo rancor.

— Eris talvez não esteja envolvido no que quer que vocês estejam conversando — Morrigan deu um passo à frente —, mas é responsável por muitas outras coisas repugnantes.

— Se o seu poder é realmente a verdade, já está na hora de enxergar que Eris não é culpado pelo o que aconteceu a você — Theodosia defendeu o irmão mais velho. — Quando vocês convidarem-o para Velaris, tenho certeza de que ele se explicará para você e Lucien e se provará inocente nas duas situações.

— Você passou duzentos anos ausente — Nestha se intrometeu, a voz afiada como uma lâmina —, acho que não está em posição de defender parentes que não vê desde sua juventude.

— Acho que como a vida do seu Grão-Senhor depende de mim, posso fazer o que eu quiser — Theodosia rebateu, um sorriso contente em seu rosto, como se houvesse apenas feito um comentário engraçado.

— Acredito que dar um voto de confiança a Eris por Theo não seja apenas um gesto bondoso, como também honrado — Nalu disse com sua voz séria, mas sempre agradável aos ouvidos.

Não tão agradável assim, pensou Theodosia, ao ver a postura de Morrigan enrijecer discretamente. Os olhos castanhos se voltaram para o Capitão do Demônio do Mar com rancor.

— Acredito que um General Desertor que largou sua corte durante tanto tempo e não moveu um dedo sequer diante de três guerras nos últimos duzentos anos, não tenha o direito de falar sobre honra — Morrigan cuspiu, os olhos descendo por Nalu com desprezo.

— Quer mesmo falar de honra quando o seu Grão-Senhor passou cinquenta anos com o apelido de Vadia da Amarantha? — Kai rebateu, sua postura dura.

Rhysand tensionou seus músculos, mas foi Feyre quem pareceu mais furiosa, os olhos azuis-acinzentados focados em Kai com um perigo claro em suas íris.

— Recebemos vocês em nossa corte com boa vontade e gratidão pelo esforço e consideração da Princesa Theodosia, mas não aceitaremos tamanho desrespeito — Feyre alertou, a voz cortante e ameaçadora.

Theo sorriu para a Grã-Senhora, certa admiração brilhando nos olhos azuis-turquesa. A ruiva assentiu.

— Controle seus cães que eu controlo os meus — Theodosia respondeu simplesmente. — Também não aceito que insultem minha família — ela se voltou para Morrigan, que continuou rígida, mas não se encolheu.

— Como você mesma disse, princesa — Morrigan começou com a voz arrastada —, meu dom é a verdade. E eu não disse nada além da verdade.

— Nalu ajudou Prythian durante as três crises que tivemos — Azriel surpreendeu a todos quando disse, os olhos passando do antigo General para Morrigan —, ajudou inúmeros humanos durante a guerra pela liberdade deles, deslocando-os pelo mar de uma corte a outra. Quando Amarantha se autoplocamou Grã-Rainha, acolheu no Demônio do Mar feéricos que estavam sendo perseguidos por ela.

— E também tiramos humanos das Terras Mortais e os levamos até Scythia, onde estariam seguros e longe da guerra iminente quando Hybern atacou, alguns anos atrás — Kai completou, antes de dar de ombros e enrugar o queixo ao concluir: —, não que nós devamos alguma explicação a vocês.

— Posso saber como conseguiu toda essas informações? — Nalu perguntou ao Mestre Espião, curiosidade e surpresa brilhando em seus olhos.

— Minhas sombras me passaram muitas informações a seu respeito enquanto estivemos em alto-mar — Azriel explicou, antes de desviar os olhos para Kai, depois para Theo —, a respeito de todos vocês.

Theodosia o observou de volta, notando que o illyriano ficou pensativo. As sombras começaram a se mover em torno dos ouvidos dele, como se tivessem incentivando-o a algo.

— O que quer me perguntar? — Theo usou um tom de voz pacífico dessa vez, o semblante leve.

— Você deu a entender que fazia anos que não vinha a Prythian, mas você voltou nessas três situações para ajudar — Azriel comentou, a voz grave, mas com um suave tom de curiosidade tímida.

— Eu estive perto de Prythian durante esses períodos, sim — Theo assentiu —, mas nunca deixei o navio. Eu ajudava com a elaboração de estratégias e cuidando dos feridos. Nunca coloquei os meus pés nessas terras nos últimos duzentos anos.

Azriel desviou os olhos para o chão a frente de Theo, para o carpete escuro um pouco manchado de tintas coloridas. Ele parecia estar traçando conclusões em sua mente, processando as informações que lhe foram passadas. Mesmo depois de tanto tempo, aquele macho continuava metódico, atento aos pequenos detalhes e com aquela vontade incontrolável de saber sobre tudo.

No entanto, no momento em que ele foi tão gravemente enganado, dois séculos atrás, sequer suspeitara de que Theo estava mentindo. Sequer desconfiava da gravidade dos segredos que ela mantinha consigo.

— Bom, acho que chegamos a um acordo, então — Rhysand concluiu, um sorriso voltando aos seus lábios quando chamou a atenção de Theo —, chamaremos Eris para conversar com você em Velaris.

— Isso será bom para todos nós — Theodosia garantiu, um sorriso satisfeito e vitorioso em seus lábios pintados —, é bom ter mais alguém além do Lulu para me dar dicas de como acessar minha magia depois de tanto tempo.

— Como assim? — Feyre juntou as sobrancelhas levemente.

Foi a feérica baixinha quem deu um passo à frente, os olhos feitos de fumaça prateada serpenteando pela figura da Vanserra, chegando a uma conclusão ao dizer: — Você não usa sua magia desde que incendiou a Casa na Floresta.

— Como conseguiu ficar tanto tempo sem usar seus dons? — Rhysand perguntou com choque. — Ficar apenas algumas horas sem usar pelo menos um resquício do meu poder é frustrante. Como...

— Não é muito difícil ficar sem usá-los, acredite. O difícil será retomar a prática — Theodosia interrompeu, não querendo entrar a fundo no assunto.

— É melhor ser cuidadosa com isso, Theo — Kai comentou, uma expressão preocupada em seu semblante. Ele coçou o queixo emoldurado pela curta barba escura quando continuou: — se não usar sua magia ás vezes te deixa daquele jeito, como vai ser quando você usá-la?

— De que jeito? — Nestha quis saber, seus olhos azuis disparando de desconfiança para Theo.

— Não fico mau-humorada pela falta de uso dos poderes, Kai, fico assim quando estou prestes a menstruar. Não confunda as coisas — Theodosia desconversou, um sorriso zombeteiro brincando em seus lábios. — Se isso é tudo, acho melhor Rhysand ser mandado para o exílio logo.

— Você está certa — o Grão-Senhor respondeu com um suspiro, antes de se voltar para Azriel —, pode buscá-lo, por favor?

O Encantador de Sombras apenas assentiu antes de se virar e deixar a cabana. A frente de Theo, Feyre apertou as mãos do parceiro contra as próprias, os olhos azuis esforçando-se para não deixar que lágrimas escapassem.

Rhysand sussurrou algumas palavras para a parceira antes de deixar um beijo no topo da cabeça dela e se levantar. Antes mesmo que estivesse completamente de pé, sua prima, Morrigan, já estava abraçando-o firmemente.

— Prometo que vamos cuidar bem da corte enquanto você estiver fora — garantiu a fêmea de vestido vermelho, com os braços envolvendo fortemente o Grão-Senhor.

— Eu sei disso, Mor — Rhysand sorriu, se afastando um pouco dela para segurar em seu rosto com as duas mãos —, prefiro que prometa deixar Cass longe da minha adega de vinhos.

— Ninguém pode prometer tal coisa — a feérica de olhos prateados se intrometeu, e a feição sempre tão dura e ameaçadora no rosto dela pareceu se abalar, seu semblante mostrando fragilidade e preocupação quando envolveu o quadril de Rhysand em um abraço —, não faça nenhuma idiotice.

— Eu não posso prometer tal coisa, Amren — o macho respondeu de forma travessa, os olhos estrelados descendo para observar a pequena feérica.

Do lado de fora, passos fortes, pequenos e apressados foram ouvidos por Theo, cruzando a terra forrada por neve antes que a porta da cabana fosse aberta por um garotinho de aproximadamente oito anos, de olhos azuis-cinzentos e cabelos tão escuros que quase pareciam azulados.

— Papai!

O garotinho correu em direção ao Grão-Senhor, suas pequenas asas membranosas sendo arrastadas tristemente pelo chão.

— Papai, por favor, não vá! — O filho de Rhysand estava chorando agora, seus olhinhos encharcados quando o macho o tomou nos braços e o embalou em um abraço firme e aconchegante.

— Eu não demorarei a voltar, meu amor — Rhysand garantiu, segurando a parte de trás da cabeça do menor antes de deixar um beijo demorado na testa dele.

— Não vou conseguir dormir sem suas histórias, papai — ele enxugou os próprios olhinhos.

— Ainda bem que você tem uma mãe tão criativa que vai te contar histórias muito melhores que as minhas todas as noites — Rhysand respondeu com um sorriso carinhoso.

Quando Theo viu Feyre se levantar do sofá com um sorriso frágil, também percebeu que Azriel estava de volta na cabana, junto de uma fêmea. A mesma que tinha recebido-o de braços abertos no Rio Sidra.

Elain.

Theodosia desviou os olhos para Feyre e Rhysand novamente, tentando esquecer a sensação corrosiva em seu estômago ao sentir, mesmo de longe, o cheiro do Encantador de Sombras e da Archeron do meio mesclados um no outro.

— Vou deixar o melhor vinho para tomar com você quando voltar, Rhysinho, eu juro — Cassian garantiu ao se aproximar do Grão-Senhor e do menininho que ainda estava nos braços dele.

O Comandante Geral da Corte Noturna abraçou seu irmão de lado, para não esmagar o garotinho, e depois bagunçou os cabelos dele.

Em seguida, Azriel quem se aproximou. O rosto mantendo firmemente a máscara neutra, mas os olhos cor de avelã...

Os olhos do Mestre Espião estavam inundados de tantos sentimentos que Theo ficava perdida só por tentar lê-los.

— Sei que pedir que não se preocupe conosco é perda de tempo, então, ao menos, tente não se preocupar tanto — Azriel pediu, segurando firme o ombro de Rhysand.

— Cuide deles, Az. Por favor — Rhysand pediu com um sorriso triste, e não era preciso ser muito inteligente para saber que ele se referia a Feyre e ao filho.

— Com a minha vida — Azriel garantiu, as sombras espiralando ao seu redor com uma ameaça velada a qualquer um que tentasse ferir a família real da Corte Noturna.

— Não precisa ser tão dramático, mas obrigado — Rhysand zombou com um sorriso presunçoso antes de puxar Azriel pelo ombro para abraçá-lo.

Ao invés de se afastar depois de poucos segundos, como seria em um abraço normal, Azriel permaneceu um pouco mais ali, abraçando seu irmão e tentando se manter firme. Por fim, ele deu um passo para trás, enviando uma sombra para brincar com o pequenino nos braços do Grão-Senhor.

— Venha, Nyx, deixe o seu pai se despedir — Feyre disse com a voz carinhosa quando pegou cuidadosamente o filho dos braços do pai e aconchegou-o no próprio.

Nyx, o herdeirozinho da Corte Noturna, abraçou o pescoço da mãe com força e chorou contra o ombro dela, as asas tremendo conforme ele soluçava.

Theo observou as outras duas Archerons se despedirem de Rhysand, depois Lucien se levantou e foi até ele para desejar-lhe sorte e apertar seu ombro. Nalu se levantou e gesticulou para que Kai fizesse o mesmo, e apesar de ser a contragosto, o Imediato do Demônio do Mar se despediu de Rhysand, assim como o Capitão do Navio.

— Em breve a cabeça de Beron estará pendurada em uma parede e você estará de volta — garantiu Theodosia ao ficar de pé e se aproximar do Grão-Senhor, um sorriso travesso brincando nos lábios pintados.

— Que a Mãe te ouça, Princesinha das Chamas — Ele respondeu com um sorriso igual ao dela, fazendo uma breve reverência.

Apesar de ter o pressentimento de que todos continuariam chamando-a por esse apelido, Theo não se sentia mais como a Princesinha das Chamas. Não se sentia mais uma princesa, e muito menos sabia usar seu fogo.

Ela era uma pirata e uma inútil no quesito poder.

Mas daria um jeito nisso.

Nyx deu um último abraço apertado no pai antes de voltar para o colo da mãe, e Rhysand deixou outro beijo na testa da criança. Depois, um nos lábios de Feyre. Os dois se olharam por alguns segundos, palavras não ditas passando de um para o outro apenas por suas orbes.

O Grão-Senhor estava com os olhos marejados, e Theo conseguiu assistir a uma lágrima escapulindo e caindo até seu queixo.

Ele deu um último olhar para todos os presentes antes de caminhar para fora da cabana.

O silêncio se instalou no cômodo, ninguém ousava proferir uma palavra sequer e o único som ali era o choro baixinho do pequeno Nyx.

— Vamos voltar para Velaris — Feyre falou, a voz embargada, mas firme. Os olhos azuis-acinzentados sufocados de dor.

Amren foi a primeira a sair em passos largos, como se quisesse evitar que os demais olhassem para o rosto dela por tempo demais. Morrigan a seguiu, tentando fazer companhia a pequena feérica. Nestha segurou a mão de Cassian com firmeza antes de guiá-lo para fora. Feyre saiu com o filho nos braços.

— Vamos — Elain murmurou para Azriel, os olhos de corça observando-o por um curto momento antes que ela passasse a frente para deixar a cabana. O Encantador de Sombras a seguiu.

Theodosia sentiu o olhar preocupado de Lucien queimando o topo de seu cabelo, mas ignorou e sacudiu a cabeça, dispersando os pensamentos intrusivos que tinham começado a perturbá-la.

— Vamos logo, temos um Vanserra para ver ainda hoje — ela avisou com um sorriso divertido antes de deixar a cabana em passos largos e animados. Viu Nalu e Kai trocando um olhar desconfiado e Lucien ainda observando-a quando olhou por trás do ombro.

[...]

— Fiquem a vontade — Feyre disse com o sorriso um pouco frágil. — Chamamos de Casa da Cidade. Os quartos ficam lá em cima. A dispensa é feita com mágica, então não precisam se preocupar em comprar comida. Coloquem suas roupas nos armários se preferirem, acho que dá menos trabalho do que arrastar os baús do Demônio do Mar até aqui.

— Nós podemos nos ajustar aqui sozinhos, não se preocupe — Theo garantiu, um sorriso simpático nos lábios —, obrigada pela hospitalidade, mas imagino que esteja cansada agora, não precisa...

— Eu estou bem — Feyre interrompeu, os olhos azuis-acinzentados um pouco afiados. Sua feição se suavizou depois de um momento, e ela pareceu tímida. — Desculpe.

— Tudo bem — Theodosia murmurou, desviando os olhos para algumas das pinturas nas paredes.

— Estou só... tentando manter as coisas sob controle agora. Não quero pensar muito sobre isso — Feyre ergueu a mão no ar, como se estivesse espantando o fato do parceiro estar distante. — Preciso cuidar das coisas sozinha agora e não sei se consigo.

— Mas você é a Grã-Senhora — Theo franziu o cenho ligeiramente —, com certeza vai conseguir lidar com isso.

— Sou Grã-Senhora e mãe — Feyre corrigiu, um riso nasalado sem humor antes de abraçar o próprio corpo —, não sei como conciliar as duas coisas sem Rhys. Sempre nos ajudamos em tudo. Sempre resolvemos as questões da corte e cuidamos de Nyx juntos.

— Acho que a Quebradora da Maldição é mais que capaz de segurar as pontas sozinha — Theodosia arqueou as sobrancelhas, um sorriso brincando nos lábios.

Feyre soltou um risinho, concordando com a cabeça. Nalu e Kai estavam descendo as escadas para chegarem a sala de estar onde as duas fêmeas estavam.

— Obrigado pela hospitalidade, Grã-Senhora — Nalu agradeceu cordialmente ao se aproximar com o filho, um sorriso nos lábios.

— Só Feyre — respondeu ela com um sorriso gentil. — Vou deixar vocês descansarem agora. Tenho que voltar para casa e ver Nyx. Se precisarem de algo, não hesitem em me chamar — a Grã-Senhora avisou.

Theo assentiu, e com mais um breve sorriso para os três, Feyre deu as costas e seguiu para a porta, quase esbarrando com Azriel, que estava parado fora da casa e prestes a bater. A fêmea só murmurou um cumprimento -e despedida- antes de passar por ele e seguir pelo jardim.

— Entre — Theo indicou, um sorriso ligeiramente sem graça conforme o Mestre Espião passava pela porta.

Antes que pudesse fechá-la, Nalu aproximou-se e segurou a maçaneta. Acenou em cumprimento para o illyriano.

— Eu e Kai vamos checar como os nossos marujos estão — o Capitão do Demônio do Mar explicou, já deixando a casa em passos largos.

— Quer vir, Theo? — Kai perguntou, olhando a fêmea por trás do ombro ao caminhar em direção a porta.

— Pode ir, vou terminar de organizar as minhas coisas por aqui — Theo dispensou a oferta com um gesto de mão. Abriu um sorriso zombeteiro. — Vou garantir a melhor suíte da casa para mim.

— Certo. — Kai assentiu antes de parar ao lado de Azriel, semicerrando os olhos para o macho antes de dizer com um tom um pouco mais alto e ameaçador: — eu volto logo, viu?

Theodosia revirou os olhos. Kai era superprotetor mesmo sabendo que ela era capaz de proteger a si mesma. Ele sabia que, se necessário, Theo podia se defender, mas preferia que ela não precisasse. Queria sua irmã segura e feliz.

O Imediato do Demônio do Mar deixou a casa e fechou a porta, deixando aquela sala de estar, de repente, silenciosa demais.

— Vim avisar que já chamei Eris — Azriel murmurou sem olhar para ela —, ele virá a qualquer momento.

— Está bem — Theo assentiu antes de dar alguns passos para poder sentar na ponta do sofá, perto da lareira apagada. — Onde Lucien está?

— Precisou ver Vassa e Jurian para avisar que passará um tempo aqui, por você — o Mestre Espião avisou no mesmo instante em que algumas sombras o deixaram para seguir espiralando pelo ar até onde a fêmea estava sentada —, disse que não ia demorar.

Theo abriu um sorriso alegre ao ver uma delas serpenteando até se esconder entre as mechas do cabelo ruivo. Outra se enrolou ao redor de seu tornozelo, enquanto mais uma apenas rodeava-a.

— Elas estão muito mais espertinhas — Theodosia comentou entre risadas antes de voltar o olhar para o Encantador.

Azriel nada respondeu, mas se aproximou e sentou no sofá de frente para o que Theo estava sentada, que era próprio para seres alados, como ele.

— É estranho — admitiu ela —, estar de volta — ficou alguns segundos em silêncio, antes de se curvar para frente e segurar os joelhos. — Uma parte de mim quer atravessar para longe, mas tem outra que nunca quis ter saído.

O illyriano permaneceu quieto, observando as próprias sombras brincarem com a fêmea. Seus olhos não focavam nos dela. Estava pensativo e parecendo ter algo na ponta da língua.

— O que quer dizer, Azriel?

— Depois que a guerra pelos humanos finalmente chegou ao fim — o Encantador de Sombras começou a falar, já tendo o incentivo que precisava —, eu comecei a treinar minhas sombras e a mim mesmo para a espionagem. Pratiquei minhas habilidades por dez anos até que Rhysand me nomeou o Mestre Espião da Corte Noturna.

— E? — Theo arqueou uma sobrancelha, sabendo que ele tinha mais a compartilhar.

— Eu decidi procurar por você. Depois que vi que estava pronto, fui atrás de você. Te procurei por muito, muito tempo, Theo.

Theodosia se empertigou, os olhos vacilando levemente quando focaram nos de avelã dele. Tão magoados e feridos.

— Mas, sempre que eu estava quase te alcançando, você me despistava. Toda vez. No início, pensei que você acreditava que era alguém contratado por Beron indo atrás de você, e por isso fugia. Pensei que, se soubesse que era eu, você me deixaria encontrá-la.

— Azriel... — Theo tentou falar, mesmo sem saber o que podia contar para ele. Mas, antes que pudesse decidir o que dizer, o Encantador de Sombras balançou a cabeça.

— Depois de alguns meses te procurando, percebi que era melhor desistir. Porque você claramente não queria ser encontrada. Nem mesmo por mim.

Azriel fixou aqueles olhos de avelã intensos em Theodosia, o semblante duro. A fêmea respirou fundo, desviando os olhos para o chão antes de concordar.

— As coisas que você disse eram mentira, não eram? — Uma pergunta e uma súplica.

— Sim. Eu precisava fazer você me deixar.

— Você quem me deixou — ele respondeu rapidamente.

— Você foi embora antes de mim — Theo retrucou. — Mas sei que só o fez porque eu mandei. E, acho que depois de duzentos anos, essas coisas não importam mais, corvinho.

Theodosia tinha um pequeno sorriso nos lábios, mas Azriel não pareceu apreciar o comentário. Ele apenas se levantou, comandando que as sombras voltassem para os ombros dele.

— Sim — Azriel concordou —, nada disso importa mais.

Ele não precisou explicar o motivo. Theo já tinha entendido bem as entrelinhas.

Azriel estava com outra pessoa. E estava feliz. Theo era uma intrusa ali que partiria em breve.

As sombras agruparam-se ao redor dos ouvidos do Encantador, que as ouviu atentamente antes de dizer: — Eris chegou. Está no jardim.

Theodosia sentiu seu corpo pesar quando levantou. Ela assentiu, passando pelo Mestre Espião em passos largos para deixar a casa. Assim que abriu a porta, avistou seu irmão mais velho parado acima da grama.

Lucien, Morrigan e Feyre estavam caminhando pela rua para chegar à Casa da Cidade, e os três ficaram tensos quando viram que a macho da Corte Outonal estava ali, mexendo as mãos nos bolsos das calças nervosamente enquanto encarava a irmã mais nova.

Theodosia caminhou pelo gramado até ficar a poucos passos de distância dele, que estava vestindo uma túnica marrom escura com bordados dourados. Os olhos castanho-avermelhados estavam com um brilho tenso e ao mesmo tempo vislumbrado.

Antes de dizer qualquer coisa, Eris abriu os braços e deu um passo à frente, mas Theodosia deu um passo para trás, erguendo a mão.

Eris ergueu um pouco as sobrancelhas, tristeza tomando seu semblante frágil, muito diferente do macho engraçado e irritantemente arrogante que ela conhecia.

— Theo.

— Antes de qualquer cumprimento caloroso, irmão — Theodosia tentou usar o bom humor, tentando disfarçar o bolo de sentimentos que girava em seu estômago —, temos algumas perguntas a fazer. Para decidir.

— Decidir o quê?

— Se você é ou não um traidor.

— Pode não ser traidor — Morrigan disparou, cruzando o gramado e se posicionando a frente de Theodosia —, mas é um maldito.

— Por favor, vamos acalmar os nervos — pediu Theodosia com um tom zombeteiro —, e fazer um interrogatório civilizado.

Theo indicou a entrada da casa com a mão. Lucien foi o primeiro a caminhar em passos largos, sem olhar para Eris, e parou no meio do caminho para murmurar ao pé do ouvido da irmã: — espero que saiba o que está fazendo.

— Eu sempre sei — ela respondeu de volta, ainda com um sorriso nos lábios. Pegou no ombro de Morrigan com um incentivo entusiasmado —, vamos logo, nunca fui juíza em um tribunal improvisado, estou animada!

Feyre também não parecia contente quando soltou um suspiro e passou por Eris, também sem cumprimentá-lo. Azriel acompanhou a Grã-Senhora para dentro, deixando Theo e o irmão sozinhos no gramado.

Eris continuou observando a irmã, notando as mudanças que ocorreram a ela nos últimos duzentos anos. Algo que parecia alegria surgiu no rosto dele. Por ver que Theo parecia mais saudável. Por ver que estava livre.

Sem mais, o macho seguiu também para dentro da casa. Theo se sentou no sofá em que estava sentada momentos antes, Eris sentou no outro. Os demais permaneceram de pé, incomodados com aquela situação.

— Droga, um martelinho seria útil para a minha interpretação de juíza — Theo murmurou com decepção. — Mas muito bem, vamos ao que interessa.

— E o que seria, exatamente? — Eris perguntou com uma ponta de aborrecimento, mas uma expressão sarcástica em sua face. — Estou sendo acusado por algum crime?

— Por alguns, na verdade — Theodosia corrigiu. — É melhor colaborar, eu sou a única nessa sala que não está morrendo de vontade de saltar no seu pescoço e te degolar que nem uma galinha.

Eris olhou ao redor, vendo Feyre parada atrás dele, entre Morrigan e Azriel. A segunda citada parecia prestes a matar Eris.

Não importa quanto tempo passasse, Theo nunca se esqueceria das coisas horríveis que teve que enfrentar por conta de Brynjar e Beron. Sabia que Morrigan sentia algo semelhante, devido às dores não completamente cicatrizadas de sua juventude.

— Eu não vou me explicar para nenhum de vocês — Eris se voltou para Theo —, adorei vê-la, irmãzinha, mas estou indo embora.

Eris estava pronto para se levantar quando Theo ergueu a mão, indicando que ele escutasse-a. Os olhos azuis focados no irmão a sua frente, mostrando a verdade nas palavras que estava prestes a dizer.

— Vamos derrubar Beron. Eu vou matar Dastan e preciso me preparar. E seria muito útil ter você me ajudando a reaver a prática dos meus poderes junto com Lucien — Theodosia manteve a postura firme e decidida ao dizer: — mas só será possível se provar sua inocência nas coisas que acusam você de ser responsável.

— E se eu não quiser provar coisa alguma? — Quis saber Eris, arqueando as sobrancelhas.

— Então, vou arrancar seu coração do peito e torrá-lo agora mesmo — respondeu Theo simplesmente. — Posso não saber conjurar as chamas, mas acredito que você se lembre que meu corpo fica muito quente quando estou brava.

— Você se tornou mais megera do que era duzentos anos atrás — Eris rebateu com certo humor, analisando a postura da irmã que abriu um sorriso ao assentir.

— Lulu disse algo parecido — ela comentou.

— Muito bem, Theo — Eris suspirou. — Me interroguem logo e decidam se vou ser tostado ou não.

— Vamos listar seus crimes por ordem cronológica, para ficar mais fácil — Theodosia explicou com um tom bem-humorado antes de apontar para Morrigan —, Senhorita Morrigan, apresente seu caso.

— Isso é ridículo — Morrigan ralhou.

— Ridículo ou não, está nas minhas condições para trabalhar com vocês — Theo retrucou calmamente antes de se voltar para o irmão. — Eris Vanserra, é verdade que foi responsável pela punição de Morrigan ao ser considerada inadequada para casar com você?

— Sim — Eris admitiu, simplista.

— Essa era a hora em que você apresentava a sua defesa — Theodosia murmurou. — Vamos tentar de novo. Eris Vanserra, é verdade que...

— Eu sabia que Morrigan não queria se casar comigo. E eu estava lá quando os pais dela descobriram que tinha perdido a virgindade com o illyriano. Eu aproveitei a oportunidade para cancelar o casamento e deixá-la em paz — Eris explicou, sem olhar para ninguém ali que não fosse Theodosia. — Pensei que estava... ajudando.

— Me arrebentaram e depois me largaram na sua floresta — Morrigan se sobressaltou, rosnando para Eris. Ela deu a volta pelo sofá onde o macho estava sentado para ficar de frente para ele. — Você me viu sangrando e com um prego cravado na barriga. E me deixou lá para morrer.

— Eu sabia que Rhysand mandaria alguém para te buscar — Eris respondeu rapidamente, olhando Morrigan dessa vez. — O que mais eu poderia fazer? Levá-la de volta à Corte dos Pesadelos para que terminassem de matá-la, ou levá-la para a Casa na Floresta para que nós casássemos? — Ele se calou por um momento, respirando fundo. Sua expressão facial se tornou mais suave ao dizer: — deixar você na floresta foi o melhor que pude fazer para ajudá-la.

— Não pode esperar que eu acredite no seu papinho miserável — Morrigan cuspiu.

— Seu dom é a verdade. Veja se estou mentindo — Eris falou com calma. Não para provoca-lá, apenas tentando convencê-la. — Não sou nenhum herói ou alguém digno do seu respeito. Mas juro pela Mãe que não queria causar-lhe nenhum mal.

Theodosia ficou em silêncio, observando Morrigan parecer abalada com o que estava ouvindo. Theo sentia empatia por ela. Não deve ser fácil acreditar que alguém que tinha tudo para ser culpado pelo seu sofrimento, na verdade não fora o responsável.

— Morrigan — Theo chamou baixo —, use seu dom para saber se...

— Ele está dizendo a verdade — foi tudo que a fêmea respondeu, antes de voltar a ficar ao lado de Feyre, que discretamente, segurou a mão de sua amiga.

— Muito bem — Theodosia murmurou, olhando para Lucien antes de coçar a garganta —, agora quanto ao outro caso...

— Você contou a Dastan que Jesminda estava comigo — Lucien cuspiu. — Por sua culpa ela está morta. E eu nunca o perdoarei por isso.

— Foi minha culpa — Eris admitiu. — Mas não fiz de propósito, Lucien — ele parecia disfarçar seu desespero agora, as mãos tremendo um pouco de nervosismo. — Dastan descobriu por mim, mas eu não contei a ele.

— Então como ele soube? — Lucien perguntou, a voz mais alta e dura.

— Eu tinha me encontrado com Jesminda. Estávamos conversando em um corredor interno dos humanos, no palácio. Estávamos planejando os detalhes — ele soltou um riso nasalado — da sua festa surpresa. Eu e Theo estávamos planejando uma coisinha simples para você na cabana da família. Só nós três e Jesminda.

— Eu e Eris íamos fazer um bolo para você e desenhar o seu rosto no topo — Theo murmurou com um sorriso, relembrando —, provavelmente ficaria uma merda.

— Dastan provavelmente viu e ouviu a conversa e depois contou à Beron. Mas eu juro, Lucien, que nunca trairia você desse jeito — Eris garantiu, antes de respirar fundo. — Mas sei que a culpa é minha. E também nunca me perdoarei.

— Ele está falando a verdade — Morrigan avisou em um tom baixo, os olhos concentrados nos pés.

Lucien nada respondeu, apenas desviou os olhos do Eris transtornado no sofá e focou em Theodosia antes de perguntar: — e agora?

— Agora, vamos tomar um belo chá da tarde e discutir como vocês dois vão ajudar para que eu reaprenda a usar minha magia — Theo se levantou com um sorriso satisfeito antes de olhar para Morrigan e Feyre —, obrigada por terem vindo.

Feyre sorriu assentindo, mas Morrigan nada disse ao deixar a casa em passos largos. A Grã-Senhora a acompanhou. Azriel continuou ali por um momento.

— Você também está dispensado — Theo murmurou sem olhar para ele, focada em enrolar uma mecha do cabelo entre os dedos. — Obrigada por ter chamado Eris.

Azriel não respondeu ao deixar a casa.

Theodosia se voltou para os dois irmãos. Agora,Eris estava de pé e a alguns passos de distância de Lucien. Aparentemente, os dois não tinham se entendido e não iriam se entender tão cedo.

— Bom, o trio Vanserra está de volta — comentou Theo com um sorriso zombeteiro.


‧₊˚ Oi gente! E então, o que acharam do capítulo de hoje?

‧₊˚ Rhys vai ficar um bom tempo sem aparecer na história, o que me deixa triste porque eu amo ele 😭

‧₊˚ Eu amo MUITO as interações da Theo com os Samudras e com os Vanserras, é lindo ver que apesar dela não ser de sangue, e ter ficado distante por tanto tempo, ambas as famílias a amam demais.

‧₊˚ O próximo capítulo é um dos que eu mais estou ansiosa para postar, vai ser uma torta de climão kkkkkk

‧₊˚ Até semana que vem!

——— F. 3 de agosto de 2023.

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