Flor da meia-noite

By ThalitaFagundes

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Dizem que quando estamos prestes a morrer, um filme da nossa vida passa na nossa cabeça. Mas não foi bem isso... More

1. Brisa de (i)realidade
2. Adina Hale?
3. Ninguém gosta de quem sabe demais
4. O que é ser um humano, afinal?
5. Visitas do passado
6. Asas. Magníficas... asas
7. Doses e algum Caído para acompanhar
8. A historia toda? Acho que não
9. Sofrimento adora companhia
10. Ligações perigosas
11. Quase uma rainha
12. Um adeus, a coroa, e o mestre
13. Barreira
14. Qual o seu tipo de psicose?
15. Anjos do FBI
16. Vamos esclarecer as coisas
17. Anjo da guarda?
18. Adina Hale
19. Um baile de máscaras é sempre um bom lugar para expor alguém
20. Não desista de mim de novo
21. O Mestre mente
22. Ache os Arcanjos. Mate Jordan Benacci
23. Marie Blake
24. Cinco minutos
25. Vamos jogar
26. A rainha do baile
27. Adina de Riverland
28. A última dança
29. A chave
30. Vingança é um prato que se come frio
31. Primeiro você sonha...
32. ... depois morre
33. Isso é magia, Allyson
34. Amor, eu so sirvo pra despedaçar o seu coração
35. Hora de voltar pra casa
36. Lar, terrivel lar
37. Não minta para um mentiroso
39. Amor. Uma palavra cortante.
40. Pandemônio
41. Vida cega e inconsciente
42. O cadáver de Allyson Hale
43. Colcha de retalhos
44. Antes do pôr do sol
45. Eu sei o que você fez no verão passado
46. Terra Prometida
47. Ainda estou aqui

38. A nova ordem da esperança

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By ThalitaFagundes

Não dormi muito bem aquela noite, na verdade, não dormi nada bem aquela noite. Tive vários sonhos que me fizeram acordar ofegante várias vezes, eles estavam me atormentando há muito tempo e eu não sabia como fazê-los parar. Mas o pior de tudo eram as lembranças, com os treinamentos pesados, as memórias perdidas voltaram. Não só memórias de Ellicot ou do acampamento perdido, mas todas as memórias, memórias das garotas antes de mim.

Todas as formas das quais eu havia conhecido Jordan me dominavam por completo e eu estava enlouquecendo com isso. Eu não só me lembrava, eu sentia a paixão. Parece que foi ontem quando ela deu em cima de mim em um show de rock, ainda nem tínhamos celulares para trocar mensagens, e ela me chamou para encontra-la no parque em Amsterdã.

Lembro-me de ter ficado encantada, e também me lembro da roupa horrível que usei. Como nós usávamos aquelas roupas há alguns anos era um mistério para mim.

Passei as mãos pelo cabelo e suspirei pela milésima vez. Minha cabeça estava cheia, e não acho que caiba mais alguma informação aqui, mais alguma morte, mais algum...

— Hey, tudo bem? — Jordan pergunta abrindo um olho só. Sorrio e ela se senta como eu.

— Desculpe, foi só um pesadelo. Ahn... de novo.

— Tudo bem, Flor, uma hora isso vai acabar, e quando isso acontecer, nada mais vai te assombrar, porque eu não vou deixar.
— Esse é problema, J. Não sei se vai acabar, e não importa o que eu faça, sempre vou sentir o sangue em minhas mãos quando for me deitar.

— Tenta dormir um pouco, eu tô aqui, ok?

Ou Jordan não sabe de nada, ou ela interpreta muito bem, porque não importa o que eu diga, nada vai mudar a forma como as coisas são.

Sinto-me mal por mentir para ela de novo, mas acabei de reencontra-la, como eu poderia estragar o momento contando tudo o que eu estava planejando fazer? Contar que eu de novo, partiria em uma missão suicida sem ela. Todos estavam confiando em mim, e eu não podia falhar de jeito nenhum.

Me aninhei ainda mais em seus braços, sentindo o cheiro doce que vinha do seu cabelo.

— Escuta, mesmo que eu encontre outra pessoa, mesmo que você encontre também, é você. Sempre foi você e sempre vai ser você. E eu não sei onde estava com a cabeça quando eu dizia que não era.

— Eu sei, Allyson, eu sei — Jordan beija minha testa e volta se deitar. Sorrio quando ela me abraça pela cintura, como era acostumada a fazer, como naquela noite em 1998.

Depois de um tempo, me certifico de que ela pegou no sono novamente e me levanto, indo em direção ao guarda-roupa. Deslizo a porta para o lado e tiro a tábua solta do piso do móvel, revelando um punhado de roupas que deixei ali, coisas de Riverland que eu insisti em guardar.

Peguei a camisa vermelho-escura e quase chorei de alívio quando senti o objeto no qual ela estava envolvendo. A caixa era pequena, mas poderosa, gosto de pensar que ela é como eu. As engrenagens começaram a rodar quando toquei na superfície irregular daquele objeto tão significante. Rapidamente enrolei na blusa de novo e me levantei.

Eu estava mesmo sequer cogitando essa ideia completamente insana? Aquela caixa valia mais que o mais raro dos diamantes e estava em minhas mãos. Aquela minúscula caixa.

Desci as escadas na ponta dos pés e peguei a chave do meu carro no meio das outras penduradas na parede. Para a minha sorte, meu antigo carro não estava dentro da garagem. O liguei e só acendi os faróis apenas quando estava no fim da rua. Mandei uma mensagem para a pessoa que poderia me ajudar agora sem ficar me julgando. Prometi que nunca mais faria algo sem seu consentimento de novo.

Então estacionei na Colônia da Ballard.

Logo David apareceu na frente dos apartamentos e eu saí do carro, mas antes deixei a caixa em um compartimento escondido dentro do meu porta-luvas com uma instrução. Eu amava o fato de o meu mecânico ser muito bom com cofres.

— O que você veio fazer aqui? — Ele pergunta quando entro em seu conjunto.

— Como assim o que eu vim fazer aqui? Disse que precisava de ajuda com uma coisa, e também preciso mostrar outras — Sorri esfregando as mãos e olhando ao redor — Aqui ficou bem legal.

— É.

— Então, eu sei que andei te afastando, mas preciso que me diga...

— Ah, você jura? Primeiro você some para outro hemisfério do nada, sem me dizer quando voltaria, me deixou apenas uma carta porque era covarde demais para me dizer pessoalmente. Você nem teve a decência de me entregá-la em mãos.

— David, escuta, eu...

— Não, escuta você — Ele sorri e balança a cabeça — Eu passei um ano te esperando, um ano! E quando eu finalmente estava conseguindo recomeçar você surge do nada pra acabar com tudo o que eu estava construindo. Pensei mesmo em fingir indiferença, mas aí esqueci que você sabe que eu te amo. Fui a sua casa e lá estava a Jordan, como sempre, e então você me pede um tempo de novo, e volta a aparecer na minha porta. Como você quer que eu me sinta?

— Eu preciso de você, sabe disso — Respondo sussurrando de cabeça baixa, sabendo que ele estava certo.

— Descubra o que você quer, Ally, porque eu cansei de ser o seu estepe — David cruza os braços e franzo as sobrancelhas.

— Caso tenha esquecido, eu não pedi por isso! — Explodo jogando as mãos pra cima, me rendendo — Tudo o que eu fiz foi para te proteger, e se você não enxerga isso eu sinto muito. Mas muita coisa aconteceu, e em um segundo eu estava matando meus amigos. Eu fiz coisas terríveis, tive visões terríveis do meu futuro e todos os fardos foram direcionados para mim, eu não podia fugir mais de quem eu era.

— E aí fugiu de mim?

— Agora é a minha vez de falar — Coloco o dedo indicador em seu peito e sinto a fúria chegar — Eu quase matei o Adam em um piscar de olhos, e quando vi já estava em um avião. Como eu poderia trazer isso para você? Como eu poderia ficar com você se eu ainda não conseguia controlar isso? Se a pessoa que eu deveria amar tinha fugido de mim? Eu nunca me perdoaria se um dia te machucasse, David.

— Você machucou! Não tá vendo isso? Eu suportaria qualquer dor física para que você confiasse em mim, Ally!

— Me tornei uma arma — Cruzo os braços e respiro fundo — Estava confusa e me tornei perigosa. Todas as decisões que tomei no último ano foram pra te proteger da minha nova realidade, proteger todo mundo. Sei que para você eu estraguei tudo, e posso até ter estragado mesmo, mas eu fiz o melhor que pude. E só para reforçar, eu não pedi por nada disso. E já que está jogando as coisas na cara, mentiu para mim quando deveria contar que Jordan nunca tinha ido embora, porque sim, é claro que ela estava em primeiro lugar na minha vida. A outra Allyson se apaixonou por você, David, não eu!

— Sabe, eu só... — Ele balança a cabeça e se senta — Você me pediu um tempo, eu acho que eu dei, aí eu te pedi um espaço também, e você ainda tá aqui, entende? Cada vez que eu me viro, aí está você.

— Você nem ao menos quer ver o que eu trouxe? — Pergunto. David dá de ombros e faço que sim com a cabeça. Vou em direção à porta, mas paro na metade do caminho — Por que está fazendo isso?

— Fazendo o que?

— Me fazendo duvidar da única coisa na minha vida que eu tive certeza que foi real desde que voltei para meu corpo. Não me lembrava da minha cor favorita, mas me lembrava de você.

— Vai saber, não é mesmo, Rainha do baile?

Saio da universidade bufando de raiva, penso até em ligar para Kaleesa e dizer o que tenho em mãos, dizer a chave, mas ela tentaria me impedir e estou tão nervosa que não seria uma conversa amigável.

Olho para cima como se Deus pudesse me dar uma resposta e bufo de novo, batendo os pés como uma menina mimada. Sei que na verdade sou devota ao Anjo agora, não Deus. Mas preciso de uma resposta. Racional ou não.

Um barulho de passos atrai minha atenção e olho ao redor, mas não vejo nada. Preparo minhas mãos para o caso de ser algum Caído. Corro para carro, pelo menos assim protegerei a caixa do plano, se eu perder isso já era. Me tranco lá dentro e pego o celular novo do bolso da calça jeans.

Cai na caixa postal.

— Droga Hazel, sei que são quase três horas da manhã, mas eu preciso de ajuda, eles estão chegando, estão vindo atrás de mim, querem a Caixa, preciso que você... — Engulo em seco — Não tenho mais para onde correr, o tempo está acabando. Pegue a Caixa, a chave é a...

O vidro ao meu lado se estilhaça e eu protejo os olhos com o braço, deixando o celular cair perto do acelerador. Alguém me puxa pelo pescoço e sou jogada para fora do carro. Rezo para que Hazel escute a mensagem o mais rápido possível. Não consigo me defender pois sou pega de surpresa. E na verdade, nem sei se quero.

— O Mestre quer ver você — Estou no chão e com a respiração ofegante, mas ainda consigo enxergar a figura imensa que se ergue diante dos meus olhos.

— Mande o mestre ir pra puta que...

— Acho que não vai rolar — O homem diz, e sinto cheiro de Veratrum. Então alguém me agarra por trás e um lenço é colocado no meu nariz. Merda. Apago em segundos por conta da essência da planta.

Jordan

Parte do guarda-roupa estava revirado, e foi o primeiro indício de que eu deveria me preocupar por a Allyson não estar na cama quando acordei.

Desde quando ela tem um esconderijo no guarda-roupa? E o que pode ser tão importante a ponto de ela precisar fazer isso? Quem a Allyson havia se tornado nesse último ano? Eu não imaginava que a influência das Bruxas poderia ser tão forte.

O segundo indício foi quando eu finalmente percebi o quanto ela estava estranha ontem, e o fato de eu não ter dado a menor importância para esse fato me fez me sentir uma babaca. Eu devia ter insistido, devia ter ficado acordada até ter certeza de que ela tinha dormido.

Vesti a camiseta que eu estava quando chegamos e desci as escadas. Lana e Miriel estavam sentados na cozinha, ambos tinham canecas nas mãos e Miriel estava atacando sua omelete como se tivesse passado a semana sem comer.

— Alguém viu a Allyson saindo hoje de manhã? Dar uma caminhada, ou sei lá.

— Não, por quê? — Lana pareceu surpresa em me ver, mas ao mesmo tempo feliz.

— Ela não estava na cama quando acordei.

— Ai meu Deus, vocês... – Miriel questiona com uma expressão safada no rosto.

— Nós vou te dar essa informação — Respondo.

Então me viro para Lana, de sobrancelhas arqueadas.

— Acordei cedo e não a vi saindo – Ela disse.

— O guarda-roupa estava revirado e...

— Revirado? — Miriel larga a caneca na mesa e corre para o andar de cima. Ok, acho que agora é uma bora hora de se preocupar.

— Jordan? — Lana respira fundo — Onde está a minha filha? Por Deus, você disse que ia ficar de olho nela e agora ela fugiu de novo?

— Escuta, eu juro que não...

— Gente — Miriel desce de novo e coloca as mãos nos bolsos da calça jeans escura — A Caixa sumiu, temos um problema.

Hazel

Os primeiros raios de sol entraram pela minha janela, e resmunguei me virando para o lado. Meu mau humor logo desapareceu quando minha bochecha encostou no ombro nu de Zack, que ao contrário de mim, continuava dormindo profundamente.

Me levantei e fui fazer um café enquanto ligava o celular e checava as mensagens perdidas de ontem e hoje: Allyson às... três da manhã? Umas quatro de Jordan, uma do David... David? O que diabos ele queria me ligando? Eu já ia retornar quando percebi que Zack tinha acordado.

— Minha mãe acha que sou gay — Ele reclama e eu me viro sorrindo — Já que eu vivo dormindo na casa de um colega misterioso.

— Bom, você poderia me apresentar a ela — Me sento ao seu lado e mexo em seu cabelo — E contar que estamos juntos.

O celular toca na bancada e nós dois bufamos ao mesmo tempo. Minhas noites com Zack estavam cada vez menos frequentes, então tínhamos que aproveitar o tempo muito bem. Me levanto indo atender a quinta chamada de Jordan só naquela manhã.

— Espero que tenha um bom motivo para estar me ligando a essa hora. Temos um acordo, caso tenha esquecido.

— A Allyson sumiu, de novo.

— Zack, tranca tudo quando sair.

Quando cheguei a casa dos Hale, estavam todos lá, menos os Hale, e muito menos a filha dos Hale. Jordan andava de um lado para o outro, Miriel conversava algo com Kaleesa bem baixinho, Kyla, mesmo tensa, escutava atentamente os dois, e David parecia prestes a abrir um buraco no chão só com o olhar.

A mensagem da Ally me deixou intrigada, pois ela parecia apavorada, ela não se comportava assim há um bom tempo, tinha aprendido muita coisa em Riverland. Me senti culpada por ter desligado o celular para me envolver nos braços de alguém. Foi uma estupidez, levando em consideração o que estávamos passando. Zack fazia eu me sentir humana e isso não faz bem para mim. Não posso me distrair agora. Não podemos nos distrair. O quanto Zack me faz fraca? Quase morri por causa disso uma vez. Aliás, eu realmente morri. E não posso deixar a Allyson morrer por causa disso.

— Ótimo, você chegou — Jordan me nota e, consequentemente, os outros também — Martin e Lana saíram para um exame, então vamos resolver logo isso porque não quero levar outra bronca.

— Ela me deixou uma mensagem ontem — Recobro os sentidos e me sento no sofá. Ligo o celular e coloco a mensagem pra tocar no viva-voz:

Droga Hazel, sei que são quase três horas da manhã, mas eu preciso de ajuda, eles estão chegando, estão vindo atrás de mim, querem a caixa, preciso que você... Não tenho mais para onde correr, o tempo está acabando, pegue a caixa, a chave é a...

É possível ouvir o som de vidro se quebrando. Logo depois um grito fino. O som é abafado de repente e presumo que o celular tenha caído longe, mas consigo identificar uma voz masculina:

— O Mestre quer ver você.

— Mande o mestre ir..."

E então a mensagem acaba, creio que por causa do limite de tempo.

— Adam de novo?! — Jordan explode e eu me encolho — O que ele quer dessa vez? Temos que lidar com Darko!

— A culpa é minha — David sussurra olhando para o nada — Ela foi até mim e eu a mandei embora.

— Eu quem devia ter ficado mais alerta, devia ter prestado mais atenção no que ela estava tentando me dizer – Jordan encosta na parede, e parece como antes, todos nós juntos, mas a solfrona está vazia — Devia ter esperado ela dormir de novo.

A afirmação chama a atenção de David, e os dois se encaram.

— E se eu não tivesse desligado o celular provavelmente teria dado tempo de chegar e...

— Não é culpa de ninguém — Kaleesa intervém e arruma a franja — Adam quer a Caixa e Allyson a tem, é simples. Só que ela está instável esses dias, sabemos disso. Riverland mudou ela profundamente.

— Eu disse que não era uma boa ideia — Miriel se pronuncia — Tirar a Caixa da segurança de Riverland, é loucura.

— Não — Kaleesa franze as sobrancelhas — Ela sabe que era o único jeito, não foi por acaso.

— Mas que raios de caixa é essa? — Pergunto já irritada como toda aquela conversa paralela e interna.

— A Caixa de Pandora — David arrasta o livro que estava na mesa até mim — Ally trouxe a maldita Caixa de Pandora pra Ellicot e a escondeu, muito bem por sinal.

Allyson

— Sentiu saudade? — Pergunto quando sou forçada a sentar em uma cadeira de frente para o Adam, então olho para trás e encaro meu raptor da maneira mais ameaçadora possível, ele somente se afasta, então me viro para frente de novo — Qual é, Adam, foram apenas algumas horas. Achei que ia aguentar mais um pouquinho sem me ver acabar com todos os seus planos.

— Eu tenho a vantagem, Ally, então cale a boca.

— Falou o cara que precisa de Veratrum e um capacho de dois metros de altura para me pegar.

Rio e direciono o olhar para seus pulsos, agora enfaixados, e o pescoço ainda exibindo a cicatriz enorme que deixei nele. Fico feliz quando ele percebe o que estou fazendo e esconde as mãos debaixo da mesa.

— O que você ainda quer comigo? Vingança pelo que aconteceu agora a pouco? Porque minha lista tá maior que a sua.

— Você tem algo que eu quero.

— Aparentemente, Adam — Me inclino para frente — Eu sempre tenho algo que você quer. Mas o que é dessa vez?

— Você sabe o que é.

Finjo um bocejo e me recosto na cadeira de novo, pensando em como vou me livrar daquelas algemas que de algum jeito, parecem drenar toda a minha energia.

— Quero a Caixa de Pandora.

— Está me dizendo que a Caixa de Pandora existe e está comigo? Caramba, preciso contar essa pra minha mãe.

— Não brinque comigo, Allyson.

— Não estou brincando — Sorrio docemente.

Adam faz um movimento com a cabeça para algo no fundo da sala. Outro homem grande sai pelo corredor escuro que conheço bem, já que foi bem nessa sala que quase espanquei Jordan até a morte.

Meu corpo todo estremece na hora que percebo o que ele está segurando, um objeto parecido com controlador de gado, só que com apenas uma ponta, fatal se usado do jeito certo. Não, algo bem pior que a morte, intensificação. Foi com aquilo que Adam me torturou toda semana. Só que estava mais elaborado, moderno, aquele não tinha fios e era mais compacto.

— Olha só! — Adam ri como um louco e eu me viro para ele engolindo em seco — Vejo que se lembra do nosso brinquedinho.

— Você é tão covarde.

— Não me importa — Ele se levanta e anda devagar até mim, se inclinando perto do meu ouvido — Me entrega a Caixa e tudo isso acaba.

— Você nunca vai deixar isso acabar.

— E você continua inteligente.

— Para com isso. Não lembra do que a gente conversava quando era criança? Você é meu parceiro, Adam.

— Me dê a Caixa! — Ele grita e eu me encolho. A raiva cresce dentro de mim.

— Boa sorte procurando — Sibilo e cuspo em seu rosto.

Os dois Nephilins monstruosos me pegam pelos braços e me arrastam. Tentei lutar, espernear, gritar, mas o veratrum estava na minha veia me impedindo até de respirar normalmente a essa altura.

Eu juro que eu disse que não ia mata-lo, eu sei, mas agora não parece mais uma ideia tão ruim. Finalmente percebi que o amigo que eu tinha aos oito anos não estava mais ali, nunca mais, ele sumiu.

Adam estava testando minha paciência, e não vai ser nada bonito quando ela chegar no limite. Eu sou sim capaz de machucar aqueles machucaram, e vou machucar muito. Eu cansei.

Fiquei na mesma cela que da última vez. Era uma piada do universo, claro. Quase esperei escutar a voz de Jake me chamando. Lembro que ter pensado que nada mais importava porque ele estava de volta na minha vida, nada mais importava... Hoje eu mudei e percebi que era um pensamento de criança. Muita coisa lá fora continua importando.

O meu raptor entrou junto comigo e me pus de pé, endireitei as costas e me fiz de forte, sabia o que estava por vir, e mesmo assim, quando a dor chegou na minha cabeça eu gritei.

— Vamos Allyson! — Uma das bruxas grita e eu tento forçar meus joelhos a se levantarem, mas eles simplesmente cedem e caio de novo.

— Não consigo — Gemo quando a Bruxa entra cada vez mais dentro da minha cabeça. Queimando minha corrente sanguínea.

— Nunca mais quero ouvir isso de você, entendeu? — Ela vem até mim e me puxa pelo braço. Minhas articulações ardem com a dor que cortam fundo na minha alma — Quer que eu suba o nível? Soube que você gosta de jogar.

— Glin, por favor — Forço mais uma vez.

— Você veio por respostas, lute por elas!

— Estou tentando, estou... tentando.

Fiquei com vergonha por ter gritado, como se estivesse traindo Glin. Tudo o que me fizeram passar em Riverland era para ter me preparado para o que precisava suportar aqui, mas isso não se compara. Não é apenas a dor física, mas a dor emocional que as lembranças me trazem.

Adam entra depois de um tempo e eu continuo de pé. Se eu me abaixar, tudo aquilo que aprendi não terá valido de nada. Se eu me abaixar, serei a Allyson de Ellicot, não a de Riverland. Minhas pernas já estão doloridas, não sei que horas são, mas não me ajoelho.

A sala está clara quando Jeff (descobri seu nome) se afasta de mim e eu me apoio na parede com a respiração ofegante. Já está de dia?

— É, voltou bem mais durona do que quando partiu, isso é verdade — Adam sorri cruzando os braços e Jeff sai da sala — Quatro horas é mais do que achei que fosse suportar sem ceder, e olha só, você não cedeu.

— Por quê? — Consigo perguntar, lutando para manter os olhos abertos.

— Eu já disse o porquê. Como limpar o sangue? Onde está a caixa de Pandora?

— Eu não... sei.

— Ok — Ele tira o celular do bolso e o flash da câmera quase me cega, coloco as mãos na frente do rosto, mas ele as tira — Vamos Allyson, diga para os seus amigos, diga o que eu quero.

— Não faz isso, deixa eles em paz.

— Eles estão com a Caixa, você com certeza deixou com um deles, como vou deixá-los em paz? Diga o que eu quero, ou entrego você ao Darko.

— Me entregue então, eu não tenho medo. Faz tempo que estamos precisando levar um papinho.

— Eu sei que você não tem, mas será que se eu matar um deles hoje vai mudar sua posição?

— Não!

— Então fale!

— Não tragam a Caixa, não... — Recebo um tapa forte no ouvido e quase me deixo levar pela dor, mas continuo de pé e sinto vergonha de mim mesma — Eu... por favor, não.

— Que garota difícil — Adam estala a língua — Acho que é o suficiente pra dar um incentivo. Eu dou vinte e quatro horas para ter a Caixa, ou eu mato a... Jess! É, é uma boa escolha.

Então o flash some e arregalo os olhos. Jessica não, pelo Anjo, Jessica não.

— Por que quer machuca-la? — Consigo reunir forças para perguntar quando ele já está saindo.

— A Jess? Ah, não quero. Quero machucar você. Quero que veja o quão imprestável você é.

— Já a salvei uma vez, vou salvar outra.

— Tá aí, isso é o trágico de ser a Filha da Profecia — Ele volta a se aproximar de mim — Você sempre precisa salvar as pessoas. Mas assim que estiver fora do jogo — Adam faz um gesto com as mãos, como se espantando um mosquito, e depois abre os braços — Tudo desmorona. E todos esses... "felizes para sempre" viram pó, e sua vida inteira não significa... nada.

— A Caixa! — Grito quando ele anda de volta à porta — O que tudo isso tem a ver com você precisar da Caixa?

— Qual é, Ally, não se subestime, você conhece o mito de Pandora, sabe qual foi a única coisa que restou dentro da caixa.

— Esperança.

— Exatamente essa coisa insignificante, talvez ela devesse apenas ser... destruída, sabe, sobrar um espacinho lá dentro para o que realmente importa, além do mais, a Caixa tem algo que eu quero. Bom, agora eu vou andando, espero que seus amigos amem muito você. Jeff!

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