Desci as escadas do salão alugado para a noite quando Don't let me down, do The Chainsmokers já estava quase no final, na melhor batida da música, e sorri quando a maioria dos olhares se voltaram para mim e Jake. É como David sempre fala, eu continuo sendo a Rainha do Baile.
A decoração estava incrível, e meu peito inflou de orgulho pelo trabalho perfeito que fiz com a April e o resto do pessoal.
Assim que terminamos nossa descida pela escada de vidro eu fui logo cumprimentar a todos. Hazel estava com o Zack no canto e eu sorri cinicamente acenando para ela.
— Vamos jogar, Jake — Sussurrei sedutoramente em seu ouvido, disfarçando para quem passasse por nós — Por que não vai pegar bebidas pra nós?
Depois de reclamar algumas coisas desconexas, porém sorrindo, ele saiu do meu lado e eu me vi sozinha no meio daquele enorme salão. Em cada canto eu podia ver meus fiéis escudeiros. Bom, meus e do Adam. Também deixei um na portaria para impedir a entrada de pessoas indesejadas, e com pessoas indesejadas eu quis dizer a Jordan. Eu podia sentir a energia escura dela a metros de distância.
Me virei para a escada a tempo de ver David descendo pela mesma, sozinho. Deixei escapar um suspiro quando nossos olhares se conectaram no meio daquele mar de gente, existia apenas eu e ele por um breve momento. O cabelo estava um pouco mais curto, a barba por fazer, e além disso, vestia um blazer azul, totalmente fora do formal e das cores que estipulei. Como ele gostava tanto de me irritar? Talvez porque sabia que era o único que podia fazer isso e sair vivo para contar a história.
— Gostaria? — Pergunta ele, e mal consigo ouvir sua voz naquela confusão, tão baixa que não passa de um sussurro.
— Gostaria de quê?
Meu coração está urrando, batendo em meus ouvidos, e ainda que haja muitos centímetros entre a minha mão e a dele, há uma energia zumbindo e murmurando que nos conecta, e pelo calor inundando meu corpo parece até que estamos colados um no outro, mão com mão, rosto com rosto.
— Dançar — Diz ele ao mesmo tempo que se aproxima, eliminando com aqueles últimos centímetros.
— Não acha que apenas uma dança comigo já não foi o suficiente?
— Dez não seriam o suficiente. Você é como um...
— Um cometa?
— Um cometa — Ele sorri. David foi sempre tão bonito?
Então, ele encontra minha mão e me puxa para perto; naquele segundo, a música soa uma nota aguda, e eu confundo as duas impressões, a mão dele e a elevação da música.
Dançamos.
Jake não volta por um tempo e quase me preocupo, se não fosse pelo calor da mão do David se espalhando por toda a minha coluna.
— Às vezes acredito que você ainda tem um lado bom — Ele sussurra e volto minha atenção para os seus olhos castanhos.
— É?
— Seu lado bom é ao meu lado.
— Eu não posso fazer isso — Murmuro me afastando — Achei que podia, mas nem uma intensificação muda isso.
— Eu sei que só tá me usando, mas me responde uma coisa, Allyson. A justiça é mais cega do que a paixão? Existe justiça na sua vingança?
— O que...?
— Você está abandonando sua família aos poucos, machucou sua melhor amiga, e tudo isso pra que?
— Glória. A Profecia diz que terei glória. E quero viver tudo o que posso viver antes de voltar para o vazio imenso, porque sei que vou voltar.
— Você não precisa de glória, não precisa de nada disso, desiste dessa ideia e volta para as pessoas que você ama.
— Não vai rolar — Balanço a cabeça e sorrio amarelo — Desculpa.
Eu podia desistir do vôlei e seguir carreira de atriz se quisesse.
— A gente se vê por aí, Rainha do Baile — David diz depois me beijar na bochecha e sair andando como se nada no mundo fosse o atingir, quando ele se tornou tão confiante? Quando ele se tornou esse homem que enfrenta os problemas de cara e fala de paixão para mim?
— Eu não fugi, então mereço uma recompensa — Jake diz atrás de mim com dois copos vermelhos na mão — Tipo me deixar fora dessa.
— Qual é, Jake, vamos jogar, vai ser divertido, confia em mim — Bebo o conteúdo do copo de uma só vez e sorrio — Além disso, você não quer destruir essa imagem linda que todos têm de nós — Lhe dou um selinho demorado e tiro um fio do cabelo que caiu no seu olho.
Hazel não parou de me rondar durante toda a festa. Jessica estava grudada com o Adam, mas sempre que me encarava, eu via a expressão de medo em seus olhos. Covardes. David não tirou o olho de mim com Jake e eu sorri internamente.
Saquei o plano deles na hora e saí do salão usando Persuasão no Zack para ele me seguir. Parei no corredor quando ele me achou e me forcei a respirar ofegante, me apoiando na parede, como se tivesse acabado de fugir de alguém.
— Ally? Tá fazendo o que aqui?
— Ai meu Deus, que bom que eu te achei — Suspirei — Não sei mais pra onde fugir, Zack, me ajuda.
— Vou chamar a Hazel.
— Não, espera.
— É rápido.
— Zack! — Grito quando ele começa a se virar e seu sorriso some quando ele percebe que tiro uma faca debaixo do vestido — Vamos conversar, ok? Sem a Hazel.
— Allyson... — Ele faz menção de correr e eu reviro os olhos, atirando a adaga em seguida. Acerto em cheio na lateral da barriga dele, e sem pegar nenhuma artéria fatal, ele cai com um olhar assustado.
— Acho que agora é a hora de dizer alguma coisa engraçada — Chego bem perto e ajoelho. Seguro a seringa que Adam me deu com firmeza e injeto o líquido verde no seu pescoço. Ele apaga — Mas eu não sou engraçada.
Me levanto e carrego seu corpo desmaiado até uma sala escura no fim do corredor. Depois coloco os dedos sobre suas têmporas e coloco comandos na sua cabeça pra quando ele acordar e tiro a faca da barriga, vai sangrar um pouco mas espero que ele não morra.
Depois de lavar a faca no banheiro, eu a devolvo para o compartimento na minha perna e volto para o grande salão. Entrei no labirinto de fotos e me certifiquei de que estaria sendo seguida. Parei na frente de uma foto minha e da Jessica de biquíni na praia nas férias de verão, quando fomos para a Califórnia. A tiramos no começo desse último ano e quase me senti melancólica. Quase.
— Sempre achei que as duas poderiam se matar pelo trono um dia — David diz. Ensaio minha expressão de aflição e me viro — Mas é claro que ninguém nunca teve coragem de te desafiar.
— Ela teve.
— Daqui a pouco vão anunciar o rei e a rainha.
— Suponho que você não vá me deixar ficar.
— Sinto muito, Allyson — Dito isso tudo fica escuro quando um saco preto é colocado sobre a minha cabeça e sou carregada pra algum lugar. Tento me soltar apenas para manter as aparências, mas a verdade é que estou ansiosa para chegar.
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Fui amarrada à uma cadeira na casa de Jordan e ri alto quando vi a próprio parada de braços cruzados na minha frente. Jessica e Hazel ainda com os vestidos da festa e David sozinho em um canto escuro.
— Meus amigos! É um prazer revê-los. Mas me digam, o que vocês acham que vão fazer comigo?
— Te deixar aqui até você voltar ao normal — Jessica resmunga.
— Boa sorte com isso, bem que você tentou manter seu pai em casa, mas se nem ele quis ficar, o que te faz pensar que eu vou? — Sorrio quando consigo arrancar uma expressão de raiva dela. Então me mexo na cadeira — Tudo bem, posso até ficar, só que esse vestido é muito desconfortável. David, se importa em tirá-lo para mim? — Quase não seguro a risada ao notar que a mandíbula de Jordan mexeu um centímetro — Vocês são tão chatos, eu hein.
— Cala essa boca, Allyson — Hazel diz colocando uma mão de cada lado da minha cadeira super desconfortável.
— Esse é o espírito! Viram? Ela sabe jogar — Mordo o lábio inferior com a cabeça inclinada, então me viro para ela de novo — Ei Hazel, vocês, Anjos de Luz sentem quando alguém que amam correm perigo, não é? Mesmo depois de perderem os dons, algo ainda grita lá no fundo. Acho que você vai precisar essa noite.
A respiração de Hazel fica ofegante e eu reviro os olhos, ainda amarrada à cadeira.
— Tá, tá bom, eu vou dar uma pista. O Zack está na escola.
— Vai — Jordan diz entre dentes e ela corre pela porta.
— Ah, tomara que ela chegue a tempo, seria uma pena ele morrer tão tragicamente — Jogo a cabeça para trás e rio de novo, flexionando os dedos, que doem um pouco por conta das amarras — Eu gosto da Hazel. Temperamento curto, compulsão homicida. É muito mais divertida que vocês, bobões, tentando salvar o mundo todo dia.
— Jordan – Jessica diz cruzando os braços – Você arranjou um jeito de prender ela em uma cadeira, mas tem alguma coisa pra boca?
— Eu tenho — Jordan tira um pedaço de fita adesiva e cola na minha boca assim que a estico em um sorriso cínico sem mostrar os dentes.
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Fico um bom tempo sozinha na sala, no escuro enquanto ouço os sussurros dos outros na cozinha. Depois de uns trinta minutos, Jessica vem até mim e fica de vigia.
Permaneço quieta, ciente de que tentar me soltar não vai adiantar nada e ficarei cansada. Uma lágrima cai e eu engulo em seco, fechando os olhos com força.
— Allyson? — Ela pergunta e eu afirmo com a cabeça, sem poder responder. Clove tira a fita da minha boca e mais uma lágrima cai, esquentando meu rosto.
— Sério? — Inclino a cabeça e arqueiro as sobrancelhas — Eu derramei uma lágrima, é fácil assim? Qual é, você não pode desmoronar tão rápido — Jessica abaixa a cabeça e eu sorrio — O que vai fazer quando todo mundo souber a verdade?
— O quê?
— Quando eles souberem o que você realmente fez quando o Adam estava te ajudando. Claro, beijar o meu namorado foi pouco. E aquelas duas semanas que você sumiu do mapa? Eu adoraria contar, mas aí perde a graça. Sabe quando tudo vai cair pra você? Quando a Ally acordar depois de ter matado todos eles e só sobrar você. Vou te deixar viva, pra conviver com si mesma. E eu sei que a culpa está te corroendo por dentro, porque eu te conheço, então...
— Essa não é você — Ela se levanta limpando as mãos no vestido, estava falando alto o suficiente. Parecia despreocupada, mas sua alma estava rodeada de arrependimento e consciência pesada.
— Agora é.
— Você é um monstro.
— E vocês trouxeram o monstro para casa, obrigada pela colaboração. Vou te dar uma dica, Jess. O que não te mata te deixa mais forte. Lembre-se disso, e vai se sair bem.
Jessica pega a fita adesiva e cola novamente na minha boca, só que com mais aspereza dessa vez. Grito querendo me livrar daquelas correntes de hospício idiotas. Quero matar todos eles!
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Depois de algumas trocas de turno, eu consigo dormir ainda atada aquela cadeira. Acordo assustada. Estou suada e exausta, e Jordan está sentada na minha frente.
— Oi Allyson — Ela diz e tira a fita da minha boca, mas estou cansada demais para conseguir fazer algum comentário maldoso agora, abro a boca para massagear a mandíbula, movendo-a para um lado e para o outro. Onde Adam se meteu? — Preciso que se lembre. Preciso que olhe pra mim e se lembre de quem você é.
A visão minha correndo pela areia volta à minha cabeça.
Respiração ofegante; inspira, expira; inspira, expira. Corro.
– Jamais esqueça quem você é! – A garota grita, segura meus ombros com firmeza e me sacode com força – Adina! Jamais esqueça!
É a primeira vez na lembrança que ouço meu nome ser chamado. Ainda não tenho imagens focadas, mas já é um avanço.
— Ally... — Ela toca minha bochecha e eu me afasto — Vamos, se lembre de quem você é.
— Você nunca me chama de Ally.
— E você nunca machuca seus amigos.
— Vocês não são meus amigos — Me mexo desconfortavelmente na cadeira e bocejo.
— Sabe — Ela chega para frente na poltrona e cruza as mãos, falando baixo, creio que pra não acordar ninguém já que a casa está escura e silenciosa — Você costumava me chamar de Plutão — Jordan me encara com tanta intensidade que quase derreto na cadeira.
— Por que Plutão? — Pergunto. Era a vez da Allyson ou da Adina? Com quem ela estava falando? Acho que Adina.
— Misteriosa, na minha, sozinha e fria.
— Ah é? E que planeta eu era?
— Na verdade, o sol.
— Mas são distantes demais.
— Exatamente.
— Olha Jordan, eu não sei onde você está querendo chegar com isso, mas não vai funcionar comigo — Sorrio — Então desiste, você já desistiu de mim uma vez, pode desistir de novo.
— Não vai dar, nós temos um acordo.
— Claro, o acordo no cemitério. A Allyson tem um acordo com você, eu não.
— Você vai voltar, nem que pra isso eu tenha que te manter aqui por um bom tempo — Ela se ajoelha na minha frente e pega minhas mãos, que estão atadas à minha perna.
— Você é ridícula se acha que conseguiu me pegar – Eu rio – Mas vamos aos fatos. Hazel deve estar ocupada lutando com o Zack, mandei ele queimar ela viva. Jessica é louca pelo Adam mesmo que as vezes não acredite nisso, acontece que até depois de o soro sair do organismo como fiz com ela, algo lá no fundo ainda diz que ela precisa seguir ele. Ah, e tem o David, ele me ama, e vai fazer tudo por mim — Jordan se levanta devagar começando a perceber o que está acontecendo, olha ao redor e deve ter notado a energia de muitos nephilins ao redor da casa — Se concentraram tanto em me tirar da escola e se esqueceram dos Nephilins indefesos que estavam lá. Você tá sozinho, e se não me soltar agora, vai se dar mal.
— Você ouviu o que ela disse — Adam entra pelos fundos com Jessica ao seu lado.
— Jordan, sinto muito — Ela diz.
— Allyson, não faz isso.
— Eu ganhei, J, e você perdeu — Sussurro junto a ela enquanto a observo me desamarrar. Me levanto e ajeito o vestido — Nos vemos na formatura.
— Adi...
— A Adina morreu — Sorrio e deposito um beijo no canto da sua boca.
— Podemos ir? — Adam pergunta enlaçando a cintura da Jessica com o braço.
Claro.
Sigo meu caminho para a hidroelétrica. Mas naquela noite eu tenho um sonho.