Flor da meia-noite

By ThalitaFagundes

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Dizem que quando estamos prestes a morrer, um filme da nossa vida passa na nossa cabeça. Mas não foi bem isso... More

1. Brisa de (i)realidade
2. Adina Hale?
3. Ninguém gosta de quem sabe demais
4. O que é ser um humano, afinal?
5. Visitas do passado
6. Asas. Magníficas... asas
7. Doses e algum Caído para acompanhar
8. A historia toda? Acho que não
9. Sofrimento adora companhia
10. Ligações perigosas
11. Quase uma rainha
13. Barreira
14. Qual o seu tipo de psicose?
15. Anjos do FBI
16. Vamos esclarecer as coisas
17. Anjo da guarda?
18. Adina Hale
19. Um baile de máscaras é sempre um bom lugar para expor alguém
20. Não desista de mim de novo
21. O Mestre mente
22. Ache os Arcanjos. Mate Jordan Benacci
23. Marie Blake
24. Cinco minutos
25. Vamos jogar
26. A rainha do baile
27. Adina de Riverland
28. A última dança
29. A chave
30. Vingança é um prato que se come frio
31. Primeiro você sonha...
32. ... depois morre
33. Isso é magia, Allyson
34. Amor, eu so sirvo pra despedaçar o seu coração
35. Hora de voltar pra casa
36. Lar, terrivel lar
37. Não minta para um mentiroso
38. A nova ordem da esperança
39. Amor. Uma palavra cortante.
40. Pandemônio
41. Vida cega e inconsciente
42. O cadáver de Allyson Hale
43. Colcha de retalhos
44. Antes do pôr do sol
45. Eu sei o que você fez no verão passado
46. Terra Prometida
47. Ainda estou aqui

12. Um adeus, a coroa, e o mestre

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By ThalitaFagundes

Certa vez, passei em uma loja que tinha uma vitrine horrenda, mas resolvi entrar, e lá dentro tinha um mundo de souvenirs muito legais e me perguntei o porquê da dona não se interessar em atrair melhor os clientes dela através da vitrine, e cheguei a uma conclusão que deveria ter chegado bem antes. Eu entrei por sorte, mas imagina quantos clientes em potencial ela perdia diariamente por ter uma vitrine horrenda? As pessoas são atraídas primeiramente pela estética externa, ou seja, a vitrine é sua primeira impressão, e geralmente é a que fica.

Nós somos uma eterna vitrine, expostas para o mundo, se você não mostra uma vitrine legal, quem vai querer saber de você? Lembra que eu disse que vivíamos em um palco de teatro? Pois então vamos lá para mais um ato.

Meu coração parecia querer sair pela boca por tantos motivos que eu até perdi a conta. Passei anos tentando construir uma imagem e agora estava prestes a desistir de tudo por uma crise de identidade. Só que olhando para trás, percebi o quanto aquela situação parecia banal. Eu conseguiria ser uma presa, conseguiria jogar vôlei no ginásio público e conseguiria compreender melhor tudo ao meu redor se tivesse passado esse tempo todo com o Adam. Não teria conhecido Jessica e nem estaria tão devastada pela morte de Jake.

A encontrei sentada no nosso lugar de sempre, perto das máquinas de refrigerante, então respirei fundo e me aproximei. Deu para notar o quanto o clima estava tenso apesar de seus melhores esforços para animar o grupo. Levando em consideração tudo o que aconteceu e o que estava acontecendo, era de se esperar que os nervos de todos estariam à flor da pele, era uma tpm constante. E ela não estava ajudando.

— Olha só quem resolveu voltar de Aruba — Comentei cruzando os braços, e ela se levantou.

— Olha só se não é a rainha viúva.

— Não precisamos envolver o Jake nisso.

— Sabe que isso não vai resolver nossos reais problemas, Ally — Hazel sussurra atrás de mim e percebo que ela se aproximou junto com Jordan. Aí Adam surgiu, com uma pequena ruga entre as sobrancelhas, curioso quanto ao que estava acontecendo.

— Novos servos? Impressionante, Hale, você nunca fica pra trás.

— Eu não quero discutir, Clove, sério. Só estou passando pra avisar que eu cansei, cansei de ser o centro das atenções e o alvo de fofocas constantes. Então pode ficar com os meus restos, porque eu tô fora.

Os murmúrios aumentam, e a famosa roda começa a se formar ao nosso redor. É incrível o quanto as pessoas esquecem que têm mais o que fazer quando duas predadoras começam a brigar.

— Tá com raiva porque depois de anos, seu namorado se cansou e preferiu a mim.

— É, vai ver ele morreu de herpes, a que pegou de você — Eu sei, eu sei, disse que não envolveria o Jake nisso, e me arrependi na mesma hora que as palavras saíram da minha boca. Eu não queria desmerecer a morte do cara que amei na frente de toda aquela gente, mas nunca fui de baixar a guarda facilmente, e garanto que aquela não seria a primeira vez — Não quero mesmo brigar, então é isso, é a abelha rainha agora, obrigada — Faço uma reverência e levanto as mãos em sinal de rendição.

Caminho até minha sala com os três ao meu lado. Depois no que não éramos apenas quatro. Zack vinha logo atrás de Hazel, com April nos seguindo com um olhar sapeca no rosto, Sabrina e Lindsay também vêm, sabendo que aquilo nunca seria levado a diante.

— E eu achando que hoje seria um dos dias bons — Bufo me sentando no lugar de sempre.

Lindsay encostou o ombro no meu e sorriu:

— A gente tá contigo Ally, somos seus amigos.

— E eu vou pra onde essa mulher for, mesmo ela me chamando de humano toda hora, o que é muito estranho — Zack abraça Hazel e deposita um beijo em sua testa — Mas não se preocupe, também gosto muito de você.

Sorrio e balanço a cabeça, me sentindo um pouco mais aliviada. As meninas formam uma rodinha para conversarem e eu fecho os olhos, massageando as têmporas, até Zack chamar minha atenção de novo:

— Sabe, sinto muita falta dele também, mas o bom da vida é que ela segue, e a gente vai com ela sem precisar esquecer os que foram importantes pra gente. Não acho que ele te trocaria pela Jess. Tipo, eu mais do que ninguém sabia o quanto ele era louco por você, chegava a ser chato o quanto ele falava que você era especial, então...

— Obrigada Zack, de verdade.

Ele sorri e também se vira para frente, abraçando Hazel de lado. Jordan pega um livro na bolsa e começa a ler, então solto um longo suspiro tentando não pensar muito no assunto de ontem.

— Por que fez isso? Você tinha tudo, você... é Allyson Hale — Adam questiona e eu me viro.

— Tá vendo só? Esse é o problema, é exatamente disso que eu tô falando. As pessoas sempre olharam pra mim e viam o que queriam ver, e sim, eu sei que dei muitos motivos pra isso, mas eu não sabia o que queria de verdade. A predadora Allyson Hale, um mito. Um nome não define uma pessoa, finalmente coloquei isso na minha cabeça do jeito certo. E quando eu vi o Jake morrendo nos meus braços, quando começamos a treinar juntos, que eu vi no que estava me tornando, percebi eu me sentia um robô.

— E aí você desiste de tudo? Pra quê? Por que não mudar a forma de todo mundo pensar ao invés de jogar a merda no ventilador?

— Sabe que gosto do caos — Sorrio e tiro o caderno da bolsa, colocando-o na mesa.

— Posso te perguntar uma coisa?

— Claro.

— Onde eu entro nisso tudo, Ally? Porque... eu e David Barney fomos os caras que deram origem à grande divisão do Lincoln High, a que você inventou pra gente, e você...

— Ah Adam, te conheço desde pequena, vi você virar de um pirralho que roubava minhas tiaras a um homem incrível. Você foi meu primeiro parceiro de aventuras inacreditáveis, não quero te perder de novo, então quero estar do seu lado quando eu fizer meu último ato de coragem.

— E qual seria?

Lhe jogo um sorrisinho que queria dizer encrenca e ele ri, concordando mesmo sem saber do que se trata. Era isso o que eu mais amava em Adam, ele era leal sem pedir nada em troca. Me perdoou quando eu não merecia seu perdão e continuou ao meu lado quando eu disse que queria matar.

— Talvez tudo fosse diferente se eu tivesse passado esse tempo todo andando com você, se eu tivesse me lembrado de verdade de você. Andei pensando muito nisso esses dias.

— Não é tarde demais – Ele toca meu braço.

— Na verdade é sim, eu morri por dentro, estou trabalhando em uma nova Allyson, ou uma antiga Allyson com interesses mais apropriados. E falei sério quando disse que você é meu irmão de alma.

— Bom dia turma. O antigo professor teve um problema — Sinto alguém segurando meu braço com força, me virei e Hazel tinha um olhar assustado. Então encarei o professor e o sangue sumiu do meu rosto — Meu nome é Peter, Peter Blake, sou seu novo professor de história geral.

— Hoje definitivamente não é um dos dias bons — Jordan murmura, tentando segurar a onda para não partir pra cima do meu pai biológico na frente de uma das lotada.

— Que gato — Uma menina diz atrás de nós e eu me afundo na cadeira.

════════ ◖◍◗ ════════

— Viu? Não me atrasei tanto assim — Sorri, me sentando de frente para o meu pai na mesa de sempre no TacoPep — Tive que ficar na escola para um treino extra já que... — Calo a boca na hora assim que me lembro que não contei do incidente com a minha mão na Vic. Para os meus pais, eu tinha machucado de noite, enquanto fazia um sanduíche para curar a ressaca.

— Já que...? — Ele me incentiva a continuar.

— Já que fui burra o suficiente pra cortar minha mão com uma faca de manteiga. Então, como foi o trabalho? — Pego o cardápio e escolho o meu também de sempre.

— Não precisamos falar do trabalho.

— Sabe que é a área que eu quero seguir, pai, gosto de ficar conversando sobre essas coisas com você — Ele sorri, mas depois me encara, como se procurasse algo em mim — O que foi? Meu cabelo tá saltando do rabo de cavalo de novo?

— Seus olhos, eles não estão os mesmos. Geralmente você sorria até com eles, mas agora... estão escuros e vazios, ainda está doendo, não é?

Suspiro e bebo o refrigerante que acaba de chegar para a gente.

— É minha culpa. E agora eu descobri que Jake poderia estar me traindo no último mês.

— Ah Ally, não é não.

— É sim, pai. Essas... pessoas só foram atrás dele porque ele era importante pra mim, foram atrás da Zoe porque ela tinha conversado comigo e... é culpa minha, sinto como se eu tivesse cometido todos esses assassinatos. Às vezes eu acordo durante a noite e sinto o sangue nas minhas mãos, é aterrorizante.

— Não precisa ficar se culpando, tudo vai passar. Às vezes você não se sente bem de novo até que haja uma espécie de contrapeso — O garçom chega com os nossos tacos, e o que antes eu já atacava na hora, foi como um baque no meu estômago. A fome tinha se esvaído.

— Tipo o que?

— Em vez de pensar que está tirando uma vida, você salva uma, algo assim pode ajudar. Acho que o verdadeiro conflito que está vivendo agora é consigo mesma, é entre sua cabeça e o seu coração. A sua cabeça sabe que o único erro que cometeu foi "sobreviver", mas seu coração ainda acha que foi tudo sua culpa, e que não vai sarar nunca. Então, eu acho que você precisa fazer os dois se entenderem.

— Eu sinto que é mais do que a culpa, pai. Sinto como se... como se tivesse perdido algum detalhe importante, ele me tentou falar umas coisas, mas eu nem me dei o trabalho de escutar, fui egoísta, e não consigo... me recuperar.

— E não vai mesmo, mas recupera um pouco perdoando a si mesma, e isso nem sempre é a coisa mais fácil do mundo, então perdoe quem mereça perdão, porque só assim conseguimos seguir em frente – Meu pai segurou minha mão por cima da mesa.

— Alguém como a Jess.

— É, ela não sabe que o que está fazendo é errado, mas guardar essa mágoa vai corroer você por dentro.

— Conversar com você sempre me faz melhor.

— É um prazer ajudar, Majestade – Ele faz uma mini reverência.

Rio e só assim consigo comer meu taco, em uma conversa um pouco mais agradável, como tubos de ensaios, laboratórios e o vestibular para a faculdade da mamãe. Aqueles são os meus pais, independente não termos o mesmo DNA, são eles que me amam de verdade.

— Pai, ahn... pode ir na frente, te encontro em casa mais tarde, pode ser? Preciso pegar umas anotações com a Hazel.

— Claro — Ele me dá um beijo no rosto e dá a partida no carro enquanto inspiro o ar profundamente e ajeito o casaco caminhando até o cemitério que ficava perto do restaurante, então dava para ir a pé.

O cemitério de Ellicot estava com um ar macabro, como sempre. Estava vazio e eu me recusava a entrar lá sem uma companhia adequada. O letreiro dizia aquelas mesmas palavras desde que me entendo por gente: "Do pó viemos e ao pó voltaremos".

Escuto o barulho de uma moto se aproximando e me viro instintivamente, então noto que é Jordan. Fico meio hipnotizada quando ela balança o cabelo depois de tirar o capacete.

— Oi, tudo bem? Trouxe o que você pediu — Ela diz pegando algo de dentro da jaqueta: a rede do taco de lacrosse do Jake.

— Obrigada, de verdade. E me desculpa por ter me afastado nesses últimos dias. Tenho andado dividida e confusa.

— Eu sei, tá tudo bem. Então, Flor, o cemitério de noite não é bem o lugar que as pessoas gostem de visitar.

— Preciso fazer isso, vem comigo ou não?

— Vou até o fim do mundo.

Sorrio e ligo a lanterna.

Demoro um pouco para me acostumar com o caminho irregular, e me perco algumas vezes até finalmente encontrar a lápide com o seu nome. Não vim aqui desde o funeral e nem mesmo consegui encarar aquele dia, tudo o que aconteceu parecia uma névoa que se dissipava na minha mente. Mas Jake merecia isso de mim, mais do qualquer coisa.

Pego a rede das mãos de Jordan e fungo, pensando no que dizer.

— Oi, eu... achei que gostaria mais disso do que de rosas. Você nunca gostou de rosas, e sempre comprava as mesmas pra mim porque eu disse uma vez que gostava — Tento sorrir e me abaixo para colocar a rede no chão perto de onde seu nome está escrito — Obrigada por ter tentado me falar alguma coisa, mesmo que não tenha conseguido. Eu vou descobrir o que está acontecendo, e seu esforço não será em vão. Espero que esteja em lugar melhor que esse, porque aqui é um lugar horrível, e sei que deveria estar feliz com isso, mas sinto apenas que agora você realmente partiu e nunca mais vai voltar. E que não há nada pra fazer agora além de... — Um soluço forte irrompe minha garganta, sinto as lágrimas chegando. Jordan percebe e me abraça com força — Eu sinto muito a sua falta, e queria dizer que eu me perdoo, Jake, que eu te perdoo, e eu perdoo a Jessica. E acima de tudo, eu o deixo ir – Fungo e enterro o rosto na jaqueta dela.

— É uma bela declaração — Ouço uma voz estranha e me afasto, procurando o dono dela — Mas estão oferecendo uma recompensa muito boa pra te levar viva até o Mestre.

Alguém sai das sombras devagar, um homem com uma coluna que precisava urgente de um conserto pois andava mais torto que o corcunda de Notre-Dame. Ele devia ter uns quarenta anos e o rosto estava coberto por pelos. Quando abriu a boca, me assustei com as presas afiadas que saíam de lá.

— Mas parece que trouxe sua anjo da guarda – Os dentes deixavam sua fala ainda mais desajeitada e eu senti nojo daquele ser horrendo – Vou embora hoje, mas saiba que os jogos começaram, Allyson Blake.

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