Flor da meia-noite

By ThalitaFagundes

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Dizem que quando estamos prestes a morrer, um filme da nossa vida passa na nossa cabeça. Mas não foi bem isso... More

1. Brisa de (i)realidade
2. Adina Hale?
3. Ninguém gosta de quem sabe demais
4. O que é ser um humano, afinal?
5. Visitas do passado
6. Asas. Magníficas... asas
7. Doses e algum Caído para acompanhar
8. A historia toda? Acho que não
9. Sofrimento adora companhia
10. Ligações perigosas
12. Um adeus, a coroa, e o mestre
13. Barreira
14. Qual o seu tipo de psicose?
15. Anjos do FBI
16. Vamos esclarecer as coisas
17. Anjo da guarda?
18. Adina Hale
19. Um baile de máscaras é sempre um bom lugar para expor alguém
20. Não desista de mim de novo
21. O Mestre mente
22. Ache os Arcanjos. Mate Jordan Benacci
23. Marie Blake
24. Cinco minutos
25. Vamos jogar
26. A rainha do baile
27. Adina de Riverland
28. A última dança
29. A chave
30. Vingança é um prato que se come frio
31. Primeiro você sonha...
32. ... depois morre
33. Isso é magia, Allyson
34. Amor, eu so sirvo pra despedaçar o seu coração
35. Hora de voltar pra casa
36. Lar, terrivel lar
37. Não minta para um mentiroso
38. A nova ordem da esperança
39. Amor. Uma palavra cortante.
40. Pandemônio
41. Vida cega e inconsciente
42. O cadáver de Allyson Hale
43. Colcha de retalhos
44. Antes do pôr do sol
45. Eu sei o que você fez no verão passado
46. Terra Prometida
47. Ainda estou aqui

11. Quase uma rainha

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By ThalitaFagundes

Como no meu último sonho, eu era apenas uma observadora na cena. Meus olhos demoraram pra se acostumar com a escuridão do cômodo até eu perceber que apenas algumas velas estavam acesas. Eu estava em um quarto enorme, três ou quatro vezes maior que o meu, havia uma cama de dossel grande, em tons de branco, dourado e rosa claro, com longas cortinas de seda branca.

Há uma escrivaninha de madeira escura ao lado da cama com vários livros empilhados e papéis espalhados. Uma porta do outro lado imagino ser o closet, e a outra, o banheiro. O quarto todo é forrado com um tapete, assim, percebo que estou descalça.

Uma garota surge no meu campo de visão, lendo algo ao pé da cama, com um vestido cor de marfim. Não, ao que parece é uma camisola, longa, cobrindo seus pés. Seus cabelos escuros estão presos em um coque bem feito, mas ainda assim folgado e despojado. Seu rosto não é muito diferente do meu, consigo reconhecer alguns traços, como se fizéssemos parte da mesma família, mas os olhos... os olhos são completamente iguais. Ela é linda.

Alguém bate na porta e ambas nos assustamos, mas um sorriso surge nos lábios da garota ao passo que eu fico apreensiva. Ela corre graciosamente até a porta, segurando parte da barra da camisola.

— Benacci — Ela diz radiante.

— Alteza.

Jordan também está com uma camisola, mas a sua não é tão trabalhada quanto a da garota.

— Receio que seu turno de trabalho não tenha se estendido até essa hora da noite – Ela se
apoia no batente.

— Vim checar como minha futura rainha estava bem – Jordan cruzou as mãos na frente do corpo – Precisa de mim?

— Sempre preciso de ti — A menina puxa Jordan para dentro do quarto e o rosto dela é iluminado pelas belas.

— Nunca fomos boas em sermos formais, não é mesmo, Ames? — Jordan sorri e beija a mão da menina, que começo a me convencer que talvez possa ser eu, uma eu mais antiga, em uma outra época, assim como ele me explicou.

— Amo quando me chama de Ames.

— E me ama com tal intensidade, Princesa?

— Mil vezes mais.

— Como está se sentindo para a cerimônia de amanhã?

— Ah, sinto como se meu coração fosse sair pela boca a qualquer minuto — Ames puxa Jordan pela mão até a cama e as duas se sentam — Estou muito apreensiva, e nervosa, e...

— Estarei ao seu lado.

— Você sempre está.

— Não é todo dia que se faz dezoito anos, Amélia.

— Me causa indignação que eu esteja prometida àquele patife convencido do Oliver, meu pai insiste que fazer um casamento para juntar os reinos é a melhor opção para Tarsus.

— Seu pai é um rei sábio.

— Ele é um rei muito sábio prestes a vender sua única filha. Ah, se ele soubesse de nós...

— Por favor, não insista em contar, vamos achar uma saída, já conversamos sobre isso.

— Podemos fugir. Podemos fugir agora mesmo.

— Você é a princesa de Tarsus, não seria uma tarefa fácil.

— Mas poderíamos tentar — A garota, Amélia, parecia suplicar, agarrada ao tecido fino da roupa daquela outra Jordan, quase prestes a chorar.

— Amanhã tudo vai mudar, confie em mim. O que precisa saber agora é que eu te amo, e que a protegeria com a minha vida se fosse possível.

— Você tem andado estranha a semana toda. Já algo de errado que não quer me contar?

— Não há nada de errado, Alteza, tente dormir.

— Não consigo sem você ao meu lado. E Jordan, há algo que eu quero...

— Sim?

— Quero que passe a noite comigo amanhã, quero ser sua, não suporto mais esperar.

— Eu prometo, Ames — Jordan a abraça e a garota pousa a cabeça em seu peito — Tudo vai mudar.

Em literalmente um piscar de olhos, me vejo sentada em um banco de igreja. Parecia ser um outro dia, já que os raios de sol penetravam as janelas pintadas de um mosaico muito delicado. Estou com o mesmo vestido longo branco, de uma seda muito simples, e de novo, estou descalça. Ninguém parece me notar, estão todos sentados, absortos pela imagem de Amélia em um deslumbrante vestido dourado, cheio de camadas e um decote que me deixou com inveja.

Ela estava sorrindo, parecia radiante e feliz enquanto entrava na igreja e falava com todos, logo se ajoelhou diante de um bispo e pude notar a riqueza da situação. Um homem quase velho, com barba bem feita, embora branca, e uma mulher linda de cabelos escuros estavam do seu lado direito. Jordan estava do seu lado esquerdo com um vestido impressionante, com um olhar sério e quase preocupado, mas atrás de toda a formalidade, eu podia ver o brilho de admiração em seus olhos, e também o medo.

— Hoje, Amélia Bennet atinge sua maioridade, e com ela, a coroa — O homem velho começa a falar e eu imagino ser seu pai — Estamos muito felizes por poder comemorar esse momento tão especial com o povo de Tarsus, é com imensa alegria que...

Seu discurso é interrompido quando a princesa tosse, respingando sangue no altar.

— Querida? Está tudo bem?

Jordan corre ao encontro da menina e eu aproveito para me aproximar da cena. O rosto dela agora começa a ficar roxo enquanto ela aperta o peito desesperadamente, tentando tirar a dor que eu suponho que não vá passar. A igreja, que antes estava em absoluto silêncio, se torna um caos de gritos e desespero.

— Jordan... — Ela sussurra quando cai em seus braços — Quando você disse que tudo ia mudar...

— Me perdoe, Ames, me perdoe.

— Alguém chame o curandeiro! Minha filha está tendo um ataque!

— Vou te encontrar de novo, Adi — Jordan sussurrou no ouvido dela enquanto acariciava seus cabelos — Sempre vou te encontrar.

— Eu... Eu... — Ela tossiu de novo, e o sangue manchou um pedaço de seu vestido perfeito — Eu amo... — E então, o pior. Os olhos paralisaram em algum canto do rosto de Jordan e ficaram assim por um tempo até todos perceberem que tudo tinha acabado ali.

Senti um remorso, e um gosto ruim na garganta, como se quisesse vomitar, e quando quase fiz isso, a escuridão me tomou de novo, me levando para outra época.

Dessa vez eu estava em um cais, e a fumaça que saía dos navios dificultava minha visão e deixava tudo... sujo. Mas agora já sabia o que procurar, então comecei a andar em meio à multidão.

A encontrei sentada no chão, escondida dos homens suados que passavam por ali. Seu rosto estava coberto de fuligem, e suas vestes, gastas. Os ossos da clavícula estavam mais que aparentes e os dedos eram finos. Ela toda era fina. Mas isso não abalava sua determinação e confiança, ela parecia centrada em um único objetivo, seus olhos azuis diziam que nada poderia aparecer no seu caminho.

— É o que estou dizendo, algumas moedas não vão pagar esse estrago — Ouço a voz de Jordan e me viro.

— Claro, Benacci, verei o que posso fazer.

— Ótimo, obrigada Earl. Eu não sei o que faria sem você, meu amigo.

Como na última lembrança, ela permaneceu a mesmo, enquanto minha outra eu tinha cabelos negros como a noite, tão longos e lisos que batiam na cintura. Eu a vi se levantando de onde estava, consideravelmente longe, e andar a passos firmes. Um homem gordo nojento sujo de graxa a parou, começando a fazer gracinhas. Me parece que Jordan ouviu sua voz, que também permaneceu a mesma, pois tirou as mãos da calça e se virou, arfando quando viu de quem se tratava, então logo correu até lá.

— Ei, pare de incomodar a moça, está bem? Ela está trabalhando para mim.

— Ok, Benacci, odeio quando rouba todas as meretrizes para você.

— Elas fazem um serviço melhor pelo meu navio. Agora vá trabalhar pra variar um pouco, não esqueça que ainda sou a capitã dessa tripulação — O homem sai e ela segura a menina pelos braços — Tudo bem contigo? Quantos anos tem? Qual seu nome?

— Não pense que direi meu nome pra você.

— Parece que ela é meio durona nessa vida, Jordan — Hazel aparece com um vestido pomposo azul e um leque na mão, que não combina nem um pouco com a minha Hazel — Me diga, criança, o que acha de um belo banho quente e um quarto limpo?

— Quem são vocês? O que querem comigo?

— Preciso do seu nome — Jordan insiste.

— Porque eu deveria confiar em você? Eu não estou a venda, não adianta discutir.

— Lhe garanto que não, senhorita — Ela sorri, e as covinhas aparecem, deixando seu sorriso ainda mais bonito.

— Queremos ajudar — Hazel diz estendendo a mão. Ela olha desconfiada para as duas e depois relaxa os ombros.

— Meu nome é Aura, tenho dezesseis anos.

— Ótimo, terá muito tempo dessa vez, Jordan, não desperdice — Hazel cantarola guiando-os pelo caminho.

— Encantada — Ele diz beijando a mão de Aura, logo depois ela faz uma reverência desajeitada.

Reviro os olhos quando os cantos de minha visão ficam escuros e espero o solavanco de ser puxada para outra realidade. Mas quando os abro, estou de volta ao jardim da minha casa, no século XXI, segura e confusa.

— Por que fez isso? — Digo tirando a mão de seu rosto com certa grosseria.

— Porque você precisava ver.

— Pra quê?! Quer que eu me apaixone por você? O quer que eu pense? Como quer que eu me sinta, Jordan?!

— Não, não é por causa disso.

— Olha, tudo bem que não é o que você ou minha mãe ou o resto do mundo quer, mas eu vou atrás do Peter, não vai me impedir. Se tem alguma forma de eu impedir que coisas como a que o Jake sofreu aconteçam, eu vou correr atrás. Eu prometi.

— E você prometeu a ele que ficaria segura. Não acha que está na hora de pensar nisso também? — Jordan jogou uma bomba no meu colo, e percebeu pela minha expressão que aquele era um assunto íntimo demais. Então suspirou — Sei que está magoada, todos sabemos, mas se vingar de quem quer que tenha feito isso não trará Jake de volta.

— Não se trata de vingança – Me afasto prestando atenção no balanço das árvores e tento controlar a respiração.

— Então do que se trata?

— Não posso ficar lamentando a morte dele, ele sofreu, nos meus braços! Chamou a Jessica ao invés de mim, mas sabe o que ele disse no final? Que me amava. E eu não disse de volta porque prometi que aquele não seria um adeus, e estou disposta a cumprir essa promessa.

— Tudo bem, mas olha pra mim. Allyson, olha pra mim — Relutante me virei em sua direção e abracei as pernas, notando de repente que o sol começava a se pôr — O que você notou de igual nessas duas lembranças e no que você é hoje?

— Meus olhos, eles são iguais, completamente iguais.

— Eles são a sua essência, se você ir atrás do Peter, ele vai deixá-los verdes, você vai ser um experimento. Ele vai roubar sua identidade e tudo o que você é, vai roubar você de você mesma.

— Isso é verdade?

— Eu não mentiria pra você, Flor. Tenho escutado coisas, sobre... sobre alguém em Ellicot que quer o seu sangue.

Fecho os olhos, não querendo acreditar na força daquelas palavras, não queria deixar que elas me atingissem como estão me atingindo.

— O meu sonho, de quando eu era um bebê, foi você quem o colocou na minha cabeça.

— Foi. Eu precisava que você pensasse um pouco, que saísse do seu mundo de casa da Barbie por um tempo. Precisava que fosse Adina de novo.

— Serei obrigada a te desapontar, sou só Allyson, não todas essas garotas que te amaram antes de mim. Como você mesma disse, nasci diferente dessa vez. E não vou cair no seu charminho.

— Esperava que não caísse mesmo. E continuo esperando que não volte a ser Allyson Hale porque as pessoas não têm do que falar. Ou a Allyson que afasta os amigos por vingança. Deixe todos verem a Allyson que cola páginas de livro na parede. Dê uma chance à Hazel — Jordan se levanta e limpa os joelhos da calça jeans, me dá um beijo na testa e entra na casa, se despede de minha mãe e vai embora.

De repente sou tomada por uma saudade imensa e finalmente choro como deveria chorar pelo luto de Jake. Independentemente do que e como tudo aconteceu, eu o amava, tinha certeza disso como tinha certeza que o céu era azul no verão.

Choro pelo arrependimento, e choro pelo seu corpo sem vida em algum lugar do cemitério de Ellicot City. Sei que de alguma forma eu não sou humana, mas não lutei contra meus instintos dessa vez, eu simplesmente... chorei como uma garotinha, com soluços violentos e espasmos na garganta.

Eu mal consegui dormir naquela noite, continuava com aquela sensação de que algo grande estava pra acontecer, algo que mudaria tudo ao meu redor e traria consequências desastrosas. Pensar em como fui em todas as "vidas" antes dessa também me tirava o sono, em como quase fui rainha, e em como eu parecia suja e abandonada alguns anos depois de toda aquela riqueza.

O que consequentemente me levou ao Jordan, e a forma como ela pareceu me encontrar e me amar em todas elas sem nenhum esforço. Mesmo que eu só tenha conhecimento de duas delas, não sei por quanto tempo isso se estendeu até chegar na situação de hoje. Mas uma coisa era certa, ela tinha me achado de novo, e se Hazel sempre esteve com ela, por que não apareceu com ela assim que o ensino médio começou?

Seria tudo diferente? Eu teria assumido alguma coisa que ainda não sabia? Teria... me apaixonado por uma garota? Por que ela queria que essa vez não fosse como as outras? Por que ela não queria me amar?

Parecia que eu mal tinha fechado os olhos quando o despertador do celular tocou debaixo do meu travesseiro. Estava frio lá fora, e tirei essa conclusão quando um vento gelado fez os pelos do meu braço se arrepiarem. Automaticamente soltei uma risada debochada.

Quando ela vai aprender a fechar a janela depois de sair?

Fiz a minha rotina matinal o mais lentamente possível, tentando fazer o dia durar um pouco mais, tentando torná-lo normal. Escovei os dentes encarando meu reflexo mórbido no espelho. Meus olhos estavam opacos e com grandes olheiras ao redor. Meu cabelo não estava na melhor situação e meus ombros estavam curvados. E como tudo o que venho fazendo acaba dando errado, não iria conseguir tomar café em casa pois estava epicamente atrasada.

Quando cheguei no andar de baixo, encontrei apenas meu pai lendo o jornal e tomando café puro em uma das xícaras pequenas do jogo da mamãe para visitas. Espiei a primeira página e lá estava a foto de mais um adolescente desaparecido misteriosamente.

Estremeci e tentei soar normal:

— Cadê a mamãe?

— Saiu mais cedo, sabe como é a semana de provas.

— Ah, é mesmo, é que tem acontecido tanta coisa que mal prestei atenção na normalidade em si – Coloco o leite pra esquentar enquanto pego o capuccino em pó no armário.

— Eu imagino — Ele fecha o jornal com um sorriso mínimo e toma mais um gole da xícara, me olhando por cima da borda — Como está?

— Melhor — Suspiro e me apoio na bancada, me sentindo culpada por não ter sido muito sincera quanto ao que realmente está acontecendo, como a noite na Vic — Bem melhor, pai.

— Fico aliviado. Sabe Ally... — Ele sorri — Estive pensando que faz um tempão que não jantamos, então como sua mãe vai trabalhar até tarde...

Antes mesmo de o meu pai terminar a frase coloco a mão atrás das costas e ele faz o mesmo.

— Um, dois, três! — Digo e revelo minha mão imitando uma tesoura enquanto ele mostra a dele aberta como papel — Rá! Ganhei, escolho comida mexicana.

O micro-ondas apita e eu despejo o leite na garrafa térmica, misturando o capuccino. Fecho bem, pego a mochila, as chaves do carro e mando um beijo para o meu pai por cima do ombro, ele pisca um olho enquanto sigo apressada pela porta.

— Te espero para o jantar! Não se atrase!

A agitação do pessoal é tão notável que bufo antes mesmo de sair do carro. Alguma fofoca está esquentando os corredores e parece ser das grandes. Quando desligo o carro depois de estacionar na vaga de sempre e quase todos os olhares se voltam para mim, me preparo para o bombardeio. Eu deveria ter pensado bem antes de desejar que o dia de hoje fosse normal. Eu deveria saber que o normal e eu não estamos nos estendendo muito bem. E ele exagerou.

Encontrei a Hazel logo na entrada do prédio e ela tratou de me puxar pelo braço até a primeira sala vazia que encontrou. Se eu estava em dúvida quanto à validade da nossa amizade, ela estava agindo como todos os dias, como se não fosse um Anjo com mil anos de idade. Jordan já estava lá, encostada na parede com os braços cruzados. Automaticamente me senti desconfortável com a nossa história, não sabia se encarava ou não seus olhos escuros.

— É a Jess, ela meio que voltou — Jordan diz primeiro.

Meio que voltou? Então o que estamos esperando? Vamos falar com ela, descobrir o que Jake queria dizer.

— E... tá espalhando que Jake estava ficando com ela nas duas semanas antes do ocorrido, sabe, daquele jeito – Ela continua.

— Então é verdade? — Acho a cadeira mais próxima e desabo cansada — Eu meio que estava esperando que não fosse. Mas tá tudo bem, isso sempre acontece, a Hazel sabe, não precisa de tanto alarde. Daqui a pouco ela esquece essa história e volta a me seguir. Uma vez ela inventou que eu tinha uma DST.

A única alternativa ao contrário de me verem como frágil, era acharem que eu não estava nem aí, mas aquilo doía. Imaginar Jake e Jessica juntos era tão repulsivo que me dava dor de cabeça, porque... e se Jake não me amasse? E se tudo de bom que eu visse nele fosse uma mentira?

Jamais vou esquecer quando vi Jake pela primeira vez, no primeiro ano: ele usava aparelho nos dentes e ainda não tinha ganhado altura e ombros largos. Mas bastou olhar para as covinhas e os olhos azuis da cor do céu do verão que eu soube. Jake era o cara certo para mim, ele só não tinha me visto ainda. Não era o momento certo para nós dois. Ele ter ficado muito bonito foi um bônus.

Hazel limpa a garganta quando vê que estou perdida em pensamentos:

— Jordan e eu notamos uma vibração diferente nos seus pensamentos, é como se estivesse brigando por controle, ficou diferente desde que voltou dessa viagem repentina, não sabemos, é... estranho — Ela comenta com cautela enquanto mexe na mão do esqueleto em cima da bancada principal.

Ela sabe que as coisas entre nós ficaram estranhas e não quer admitir. Hazel era mestre nisso. Mas o quanto eu conhecia da verdadeira Hazel? A minha Hazel gostava de chocolate amargo quando estava triste, não se decidia entre dois garotos e sempre usava um creme de pele que cheirava a cereja.

— Mas espera aí — Me endireito na cadeira — Tá me dizendo que podem ouvir os pensamentos das pessoas?

— Não, é primitivo — Jordan se apressa logo em dizer se afastando da parede, mas continuo de boca aberta. Ela suspira e começa a andar em círculos — Não se preocupe com sua privacidade, não podemos usar, há um bloqueio. Mas sentimos quando a pessoa está conflitante ou oscilando entre emoções fortes. O importante é que não é uma habilidade em comum que temos com os Caídos.

— Ah, muito obrigada, estou aliviada — Deixo a ironia bem presente na minha voz e cruzo os braços — Tudo bem, já sei o que fazer.

— Sabe?

— Clove sempre quis uma coisa, e vou dar exatamente o que ela quer, será como um teste, vai depender da reação.

— E o que ela quer? — Jordan se inclina para frente.

Hazel resmunga por mim:

— O trono de Lincoln High.

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