— Tem certeza disso? Se trabalharmos mais e...
— Jully por favor, faça o que estou mandando.
— Não podemos continuar produzindo essas peças, não podemos, temos que começar agora a criar coisas novas, nossa reputação já está sendo manchada Alan.
— Jully se eu estou mandando você falar para todos continuarem, é porque é para todos continuarem. Não entenda o que está na minha cabeça. — Passo as mãos pelos cabelos, soltando um leve suspiro. — Não temos tempo para pensar em criar roupas novas, não temos material, não temos verba, não temos nada entendeu.
Literalmente, não tínhamos nada, não tenho dinheiro suficiente, os desvios estão aumentando cada vez mais, e isso é frustrante, não tenho o Lucca para contar, e muito menos Diana, pois está em Paris, e ocupada com o que havia lhe pedido.
Estou me afundando cada vez mais, estou no limite, ou tudo dá certo, ou abro falência e fecho minha marca. Não tenho outra opção, não tenho outra saída.
— Não deveria ter confiado nela. — Expõe.
— O que disse?
— Não deveria ter dado tanto poder para uma mulher que acabou de conhecer, olha como estamos agora Alan... Olhe para você, parece um morto vivo, só vindo para essa empresa esperando a hora de decretar falência... Confiou demais nela.
— E porque isso te incomoda tanto?
— Tenho parte nessa empresa.
—Jully, você claramente não precisa do valor que recebe aqui, tem outros negócios espalhados pelo mundo todo, não entendo ainda o por que, se faz tão presente em algo que claramente te dar pouco retorno, e muito estresse.
— Você não entende nada mesmo né? Eu te amo Alan, acha mesmo que ia ficar nessa empresa por que gosto daqui? Gosto de você desde a faculdade, te apoiei em tudo, literalmente tudo, mas nunca recebi uma atenção diferente de você.
A surpresa se fez presente em mim, e estava absorvendo tudo que ela acabou de me revelar. Nunca notei nenhum indicio que ela gostava de mim, sempre mantemos nossa relação somente em uma amizade, foi isso que combinamos. Nunca cheguei a ousar ver ela com outros olhos a não ser o da amizade, e no ambiente trabalho, decidimos manter algo extremamente profissional.
— Sabe que nunca te dei esperança de nada né? Combinamos em manter algo profissional, combinamos em manter uma amizade.
— Você acha mesmo que ia ficar todo esse tempo por amizade? Achei sim que um dia você iria olhar para mim, até aparecer com a Daisy.
Precisei conter o meu corpo, não posso tomar nenhuma atitude precipitada. Controlo minha respiração, e tento me manter o mais calmo que consigo.
— Ela não tem nada haver comisso.
— E ainda defende ela... Jura, mesmo depois dela ter passado tudo para o Harris? Não vou mais discutir isso com você... — Caminha até a porta. — Mas você ainda vai ver que eu sou a mulher certa para você.
Escuto a porta da minha sala bater com força, e automaticamente passo as mãos pelos meus olhos, soltando um pequeno suspiro.
Acho que se esse dia piorar mais um pouco eu enfarto.
Escuto alguém bater em minha porta, e quando autorizo para entrar, vejo que se trata do Lucca.
Acho que pensei cedo demais.
— Não achei que iria aparecer aqui.
— Pelo visto Harris falou com você.
Não o convido para sentar, porem ele mesmo se dirige a uma das cadeiras a minha frente e se senta. Sua postura está bem firme, seu rosto é bem neutro, não expressa nenhum sentimento, o que o torna muito difícil de ler, mas Lucca sempre foi assim, é por isso que é tão bom no que faz, ninguém consegui decifrá-lo, e isso fazia com que as outras pessoas caíssem primeiro que ele em qualquer tribunal. Um ótimo advogado, isso é um fato que não posso negar.
Só que ele me traiu.
Esse é um fato que não posso negar, ele se aliou ao lado do Harris, se aliou ao lado da pessoa que estávamos lutando juntas para derrubar.... Não sei mais o que pensar, tudo está se virando para mim de uma maneira tão rápida, que é difícil absorver o impacto das coisas.
— Queria conversar com você. — Diz quebrando o silencio que havia reinado sobre nos.
— Desde quando trabalha com o Harris?
— Desde que vi, que essa era a única saída.
— A única saída para o que Lucca? Claramente não te entendo.... Achei que estávamos juntos.
Eu realmente achei que estávamos unidos, que ele iria nos ajudar como sempre faz, mas não, agora, depois de anos ele decidiu mudar de lado, e isso eu não entendo, depositamos tanta confiança nele.... Tudo, literalmente tudo.... Está nas mãos dele.
Não tinha parado para pensar nisso. E se ele passou tudo para o Harris, ou para outra pessoa? Preciso saber.
— Fico impressionado que ainda não tenha passado as nossas informações para o Harris. — Falo na intenção de que ele revele um pouco.
— Sabe o bom de te conhecer tanto tempo Alan, e que eu consigo identificar, quando você quer tirar uma informação de alguém....
— Se sabe, então responda.
— Não vou responder Alan, tire suas próprias conclusões, e não estou aqui para ser seu amigo, estou aqui pois recebi ordens.
— Aaa que maravilha, você some, deixa eu e meus irmãos na mão, deixa uma família que te ama tanto, e nem vem para dizer o motivo, vem, pois, foi mandado.
Essa situação é muito inacreditável, não consigo acreditar, me recuso a aceitar. Me recuso a aceitar que anos passando ao nosso lado, crescendo com a gente, tenha sido jogado no lixo.
— Não quero conversar sobre isso. Harris só me pediu para lhe dar dois alertas.
— Então diga.
Já está tudo tão ruim, que um problema a mais, ou dois, não vai nem fazer diferença no balanço final.
— A primeira coisa, é que Harris quer que você arrume um outro advogado, não estarei mais trabalhando para você, e nem para os seus irmãos.
— Isso eu já estava imaginando, desde o dia que ele veio aqui... E a segunda coisa? — Pergunto já sem paciência.
Quero que toda essa conversa termine logo, não o quero mais nessa sala, cada segundo que passo em sua presença, pior me sinto, ainda estou sem acreditar.
— Me pediu para que lhe amostrasse esse vídeo.
Lucca tira de sua bolsa, um tablete, e abre o único arquivo que havia naquele aparelho.
O que passa pelos meus olhos é inacreditável, sou eu, porem ao mesmo tempo não sou, por que nunca fiz o que está constando nesse vídeo... Bom, no caso eu fiz, mas não nesse nível.
O aparelho mostrava uma cena de briga, entre eu e Harris, porem eu o estava espancando, batendo muito forte em locais precisos, enquanto ele apenas se defendia dos meus ataques. Havia dado um soco, apenas um soco no Harris em toda minha vida, e foi quando ele ameaçou Daisy, agora isso que estou vendo, não sou eu... Mas ao mesmo tempo parece tanto.
— Não sou nessa filmagem... Eu não fiz isso.
— Bom, como pode ver, é você sim.
— Eu não fiz isso, não podem me acusar por algo que não fiz.
— Bom, para todos é você aqui sim, colocado digitalmente no meio de uma briga real, que ensaiamos e gravamos.
— O que?
Não consigo acreditar nisso... Ele está querendo me acusar de uma agressão que eu não fiz...
Olhei com mais atenção o videio, e para todos eu estou ali, e literalmente estava, não tem como negar, a edição desse videio está perfeita. Dá para ver Harris se aproximando de mim, no início da filmagem, como se estivesse vindo me cumprimentar, porém depois parece que eu me estresso na filmagem, entretanto, não consigo ouvir nada, o vídeo não tem som. Seguindo mais adiante, é possível que eu dou o primeiro passo, eu que começo a distribuir socos no Harris, no início ele tenta se defender, porem é sem sucesso, acabo derrubando ele no chão, e aí piora tudo. Os socos que aparecem eu dando, parece ser grave, e qualquer pessoa que ver isso vai pensar a mesma coisa...
— Vocês projetaram tudo isso, acha que vão acreditar nisso, se verem que Harris está perfeitamente bem, sem nenhum arranhão?
Tento falar com a máxima confiança que tenho, tento acreditar nas palavras que digo, pois essa é minha única saída mediante a isso. Não consigo provar minha inocência agora, é apenas a minha palavra conta um vídeo, perfeitamente editado.
— Acha mesmo que não temos tudo isso resolvido? É mais ingênuo do que eu pensei Alan.... Harris agora está internado em um hospital, gravemente ferido por você, em uma situação de quase morte.... Sabe aí está um motivo para ter mudado de lado.... Nada vocês pensavam, eram muito ingênuos, tudo era plano meu, tudo era nas minhas costas, eu tinha que ser advogado de vocês, tinha que ser o espião, o coletor de informações, tinha que me envolver com a máfia, mesmo não querendo, só para ajudar vocês.
Tudo foi despejado sobre mim. Todas as suas reclamações, todas as suas insatisfações... Não imaginei que ele se sentisse assim.
— Nos sempre preguntávamos se você podia fazer, e você sempre aceitava de bom grado.
— E queria que eu fizesse o que? Recusasse todas as propostas.... Você não entende nada.... Preciso ir agora.... Não acho que aqui seja hora nem lugar para falarmos sobre esse tipo de informação.... As paredes, e os objetos tem ouvidos.... Aaaa— Se vira para mim antes de abrir a porta, eu sei o que aconteceu com a Daisy, o que aconteceu entre vocês dois.... Sei a verdade... Cuidado com ela. — A última para ele não falou em voz alta, apenas deixou que seus lábios dissessem sem emitir nenhum som.
Estou aqui, parado, há um bom tempo depois que Lucca saiu, tentando entender tudo que aconteceu hoje, tudo que ele me disse, tudo que ele me mostrou... O vídeo, as fases mandas por Harris através dele... O aviso silêncio sobre a Daisy, que fez meu coração disparar por algum motivo, e tive que lutar contra a enorme vontade de ligar para ele, de ver como ela está, de saber se ela esta bem... Mas não posso fazer isso, não posso deixar minhas emoções controlarem minhas atitudes... Estamos melhor assim.
O que será que ele quis trazer, me mostrando aquele vídeo... O que será que ele pretende fazer...
O medo aflora dentro de mim, pois não esperava que ele fizesse isso, não contava que ele iria tão baixo assim , que iria inventar tantas coisas, só para acabar comigo... Isso está escapando do meu controle, não sei a profundidade que estou me afogando, só sei que não vejo o fundo, e nem vejo como posso voltar para a superfície de novo... Estou sozinho, e perdendo a pouca esperança que me resta.
Isso está ficando muito difícil de suportar.
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Oiee, vim trazer o ultimo capitulo do dia.
vejo voces amanha, bjss