Flor da meia-noite

By ThalitaFagundes

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Dizem que quando estamos prestes a morrer, um filme da nossa vida passa na nossa cabeça. Mas não foi bem isso... More

1. Brisa de (i)realidade
3. Ninguém gosta de quem sabe demais
4. O que é ser um humano, afinal?
5. Visitas do passado
6. Asas. Magníficas... asas
7. Doses e algum Caído para acompanhar
8. A historia toda? Acho que não
9. Sofrimento adora companhia
10. Ligações perigosas
11. Quase uma rainha
12. Um adeus, a coroa, e o mestre
13. Barreira
14. Qual o seu tipo de psicose?
15. Anjos do FBI
16. Vamos esclarecer as coisas
17. Anjo da guarda?
18. Adina Hale
19. Um baile de máscaras é sempre um bom lugar para expor alguém
20. Não desista de mim de novo
21. O Mestre mente
22. Ache os Arcanjos. Mate Jordan Benacci
23. Marie Blake
24. Cinco minutos
25. Vamos jogar
26. A rainha do baile
27. Adina de Riverland
28. A última dança
29. A chave
30. Vingança é um prato que se come frio
31. Primeiro você sonha...
32. ... depois morre
33. Isso é magia, Allyson
34. Amor, eu so sirvo pra despedaçar o seu coração
35. Hora de voltar pra casa
36. Lar, terrivel lar
37. Não minta para um mentiroso
38. A nova ordem da esperança
39. Amor. Uma palavra cortante.
40. Pandemônio
41. Vida cega e inconsciente
42. O cadáver de Allyson Hale
43. Colcha de retalhos
44. Antes do pôr do sol
45. Eu sei o que você fez no verão passado
46. Terra Prometida
47. Ainda estou aqui

2. Adina Hale?

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By ThalitaFagundes

– Ei Adam, quer uma carona? – Levanto os óculos escuros quando avisto a figura do meu vizinho de porta caminhar até o ponto de ônibus.

Adam não mudou nadinha nesses anos em que passamos mais afastados. Ele ainda vai para a escola com a mesma mochila, ainda tem o mesmo andar preguiçoso e o mesmo cabelo desgrenhado. Parece que já se passou uma vida desde que fomos amigos, ou ao menos parecidos. Ele se vira para mim e finge surpresa, fazendo voz de garota:

– Ai meu Deus, Allyson Hale quer me dar uma carona!

– Para de ser idiota e entra logo no carro — Rio e ele bufa, então apoia os braços cruzados na janela aberta.

– Vai me deixar na esquina pra ninguém te ver comigo?

– Sabe que não é assim, poxa.

– Eu gostava mais de você no fundamental.

– Se você não entrar agora, eu passo em uma poça d'água perto de você, e sei que essa é a sua camiseta favorita dos Beatles — Reviro os olhos e ele desiste, tira os fones e abre a porta do carro – É isso aí – Sorrio e ele liga o rádio na estação da cidade – Você não entende, não é?

– O que eu não entendo?

– Posso te colocar no topo também, é só falar e faço acontecer. Sabe que faço acontecer.

– Eu não quero o topo, Ally, quero andar de bicicleta com você sem que se preocupe com a sua unha, isso que você não entende.

– E de novo, não dá pra conversar com você.

– É, acho que não dá mesmo.

Olho para os cabelos castanhos claros de Adam ao meu lado e sorrio. Esse cara que costumava ser meu melhor amigo de porta andava estressado e sensível, sem me dar nenhuma chance de redenção. Eu não sabia mais o que fazer pra recupera-lo sem manchar meu histórico. Somos todos atores fazendo parte da mesma peça, e temos que dançar conforme a música, seguir os padrões.

– Você vai assistir ao jogo de lacrosse? – Ele perguntou mexendo no chaveiro da mochila cheia de desenhos feitos com canetinha hidrográfica. Meu nome ainda estava assinado lá. Encarei minha mochila de couro bege no banco de traz e sorri. Quando foi que nós dois fomos parar em mundos tão diferentes?

– Bom, o Jake vai jogar, então...

– Claro, o Jake, eu esqueci que você é a cachorrinha do Jake– Ele murmura – Eu te vejo lá então?

– Sim. Vou torcer por vocês. E Summers, cuidado com a boca, posso te colocar no topo, mas não me irrite, ou vou te rebaixar ainda mais.

Ele ri e depois me encara.

– Ally...

– O que?

– Me desculpe por não ter ido a sua festa de aniversário, fiquei sabendo que a sua mãe fez tacos.

– Tá tudo bem, mesmo.

– Não infle o seu ego, Ally, é uma pena para mim, adoro os tacos dela – Meu sorriso fica ainda maior – Agora que você tem dezoito, tá sentindo alguma coisa estranha?

– Estranha como?

– Sei lá, só estranha.

– Sim, pra falar a verdade tem uma coisa muito estranha... – Ele se vira de novo e eu rio com sua expressão de curiosidade – Bom, é você. Você tá muito estranho.

– Ah, qual é – Adam sorri e eu junto as sobrancelhas. O que estaria acontecendo comigo que Adam poderia saber e ajudar? Eu poderia contar da sombra da janela e do vulto em meu quarto? Poderia contar das pequenas mudanças que estou sentindo no meu corpo? Ou era melhor conversar sobre isso com Jessica e Hazel? Jess me acharia uma retardada e Hazel diria que só estou distraída – Quais são os planos para a tarde?

– Tenho treino depois da aula, aí vou ao shopping com as meninas quando acabar e mais tarde vamos nos juntar para organizar a festa anual da Lissa do mês que vem, para só então ir ao jogo.

– Quer comer uma pizza em algum intervalo?

– Tenho que checar minha tabela de carboidratos, já vou comer no shopping. Espera eu fazer o cálculo, ok? Tenho que manter a forma.

– O quê? Na oitava série você comia mais hambúrguer que eu quando fazíamos aquelas competições no jardim da sua casa em dia de churrasco – Sua voz subiu um oitavo.

– Na oitava série me chamavam de Ally Balão. O estadual está chegando e não posso perder o foco. A treinadora Johanson até liberou a gente da aula da manhã ontem para um treino extra. Vamos, Adam, você também é atleta, sabe como são as coisas.

– Que droga, Allyson.

– Se em três anos você não se acostumou, não sei mais o que faço contigo.

– Me mate! – Ele joga a cabeça para trás e eu rio aumentando o som do carro.

════════ ◖◍◗ ════════

– Foi um ótimo treino, meninas, de verdade. Hale, mandou bem!

Sorrio, e ainda na quadra, guardo minhas coisas na bolsa esportiva para colocar no armário depois. Tiro os esparadrapos suados dos dedos e bebo toda a água da minha garrafa. O líquido gelado descendo pela minha garganta era um alívio depois de tanto gritar táticas por quase uma hora seguida. Desamarro meu cabelo apenas para ajeitar os fios e amarrar de novo logo depois.

– Valeu Ally – Mia toca meu ombro e segue com as meninas para o banho.

– Foi ótimo hoje, Ally.

– Obrigada, Cami – Pisco.

– É isso aí, mandou bem, piranha – Lindsay sorri me dando um tapa na bunda.

É aí que a maldita sensação no pé da nuca aparece de novo, como algo me puxando, uma corda invisível. Me viro para as arquibancadas e pego Jordan me encarando do banco mais alto. Ela sorri e levanta o polegar para mim, mas eu apenas o ignoro.

Quando ela apareceu na quadra essa tarde eu podia jurar que tinha vindo conversar com a treinadora sobre a possibilidade de entrar no time, mesmo que já tenhamos feito as seletivas antes do verão. Mas ela estava com as roupas usuais, não as de educação física, e apenas subiu os degraus da arquibancada para ficar observando. Eu ainda não to já descoberto qual era a dela, e estava cansada de me sentir encurralada para tomar uma decisão a todo momento.

– Ouvi dizer que a treinadora Johanson vai trocar ela de posição.

Escuto a conversa como se estivessem comentando do meu lado, mas a garota que estava fofocando está prestes a entrar no vestiário, e eu nunca as escutaria daqui. Nem mesmo se a quadra toda estivesse em completo silêncio.

Balanço a cabeça e pego a toalha de rosto, passando-a na nuca. Apenas ignore, Ally.

– Cadê a minha jogadora favorita? – Jake pergunta e eu me viro com um sorrio enorme no rosto, correndo para pular em seus braços e o beijar.

– Uh, você está suado – Sinto o gosto salgado na boca e faço uma careta enquanto ele ri me colocando no chão.

– Você também, estamos quites – Jake esconde uma mecha rebelde que insiste em sair do meu rabo de cavalo atrás da orelha – Mas não deixa de ficar linda.

– Nossa, você leva mesmo o lance de me mimar a sério – Me afasto de seu corpo e observo seu bíceps por baixo da camiseta de treino do time, que também está molhada de suor – Tá livre pra ir na minha casa às cinco? Meus pais vão ficar corrigindo provas na faculdade.

– Não ia sair com a Jessica e com as meninas do time?

– Sempre posso comprar roupa amanhã – Dou de ombros, ainda observando seu torno suado sob a camisa de treino.

– Adoro quando você pensa assim – Ele usa a voz sexy pois sabe bem do que estou falando – Eu vou pro banho, a gente se vê.

– Tudo bem, te amo – Mordo o lábio inferior como uma garotinha de quinze anos loucamente apaixonada pelo seu primeiro namorado.

Eu me lembro muito bem do meu primeiro beijo. Tinha acabado de voltar do verão alguns anos atrás, e Clara Mason, a manda chuva antes de mim tinha me notado. Ela prometeu que me levaria para uma festa e que me colocaria no topo. Eu nunca tinha ido a uma festa, e ela me ajudou com as roupas e com a maquiagem, me lembro de pensar que nunca tinha me visto tão bonita. Alex Wivers me cantou a noite inteira, e quando estava perto das duas da manhã, eu finalmente cedi.

Não foi o melhor beijo da minha vida. Foi molhado, nojento e muito acelerado. Só que depois daí eu fui em festas como aquelas por um mês, e aprendi como se fazia. O problema é que eu não gostava da pegação gratuita, eu queria Jake Miller, mas ele estava namorando com uma garota mais velha de outro colégio. Uma noite ele me viu, ele realmente me viu. A namorada dele não estava lá então conversamos por horas, e parecíamos perfeitos um para o outro.

Quando nos beijamos pela primeira vez, ele ainda estava namorando, mas não conseguíamos evitar, era como se uma força nos colocasse juntos todo o tempo. Esbarrávamos na sorveteria, nos corredores do vestiário, no refeitório, na fila da biblioteca. Estávamos apaixonados, mas ele era proibido. Acontece que eu disse que roubo das pessoas. Roubei ele da Amanda.

— Também te amo, Ally — Jake me beija e eu fico um tempo parada observando ele ir embora.

– Eu preciso ser madrinha desse casamento – Jess passa assobiando. Rio quando ela me tira do transe e corro para o vestiário.

– Vamos lá suas vadias fedidas, sem moleza, quero todo o equipamento guardado em vinte minutos! – Grito e sorrimos derrotadas depois de um treino cansativo.

═══ ◖◍◗ ═══

Há uns duzentos anos atrás, Benjamin Franklin compartilhou o segredo de seu sucesso com o mundo. Ele disse "Nunca deixe para amanhã o que você pode fazer hoje".

Eu não tenho ideia de porque a gente fica adiando as coisas, mas se eu tivesse que chutar, diria que tem muito a ver com o medo. Medo do fracasso. Medo da dor. Medo da rejeição. Às vezes, o medo é de apenas tomar uma decisão, porque... e se você estiver errado? E se você cometer um erro que não dá pra desfazer? Seja lá do que a gente tem medo, uma coisa é sempre verdade: com o tempo, a dor de não ter tomado uma atitude sempre fica pior do que o medo de agir. Acaba parecendo que a gente está carregando um tumor gigante.

E eu sabia bem o que estava adiando.

Ficar na cama com o Jake depois de uma tarde como essa, suados e carregando o cheiro um do outro na pele, parecia a melhor coisa a se fazer para a Ally da semana passada. Mas alguma coisa estava realmente acontecendo comigo, e não, não estou falando metaforicamente. Algo no meu corpo estava mudando.

Enquanto Jake mexia no meu cabelo, meus pensamentos me levaram direto para os olhos escuros de Jordan. A forma como ela parecia me encarar em todos os momentos que eu me pegava olhando para ela poderia ser considerado no mínimo estranho, para não dizer pior.

– Você tá muito distraída – Jake diz enrolando um fio de meu cabelo em seu dedo.

– Ah, é... são as primeiras provas, elas me deixam tensa.

– Mas você nunca fica tensa com as provas, e mesmo assim sempre garante nota.

– Talvez você só não tenha percebido antes – Tento sorrir e pouso a cabeça no seu peito nu – Minha mãe vai chegar daqui a pouco.

– Claro, estou indo. Te vejo no jogo?

– Estarei na primeira fila torcendo por você.

– Se fizer isso que você fez hoje sempre antes de um jogo, não sei se vou conseguir me concentrar. Aliás, onde você aprendeu?

Eu ri e o beijei antes de me virar de lado para observá-lo vestir a roupa.

– Tenho meus truques.

Mas a real era que eu não fazia ideia.

═══ ◖◍◗ ═══

Naquela noite, o campo estava envolto em sombras que faziam lembrar espíritos fugitivos. O ar estava gélido, cortante, e um fino tapete de névoa pairava por cima da grama. Os Tubarões de Lincoln High estavam se preparando para o jogo contra o maior rival das equipes da nossa escola, seria épico, eu sentia isso, só não sabia dizer se era bom ou ruim.

– Acha que eles vão ganhar? – Mamãe pergunta enquanto ajeito minha touca.

– Não sei, hoje o Adam volta para o time titular, então temos uma chance.

– E o Jake? – Meu pai pergunta.

– Ele se preocupa mais em derrubar os oponentes, não é muito bom pra atacar a bola.

– E em arrumar o cabelo, não se esqueça — Ouço a voz da Hazel e ela senta do meu lado esfregando as mãos – Oi Senhor e Senhora Hale, como vão?

– Oi Hazel! Estamos bem.

Adam se machucou em um jogo no semestre passado, no início da temporada, e tem ficado no banco desde então. Mesmo depois de o jogo começar, o treinador o deixa de fora por falta de confiança, mas depois vê que é necessário e as coisas começam a ficar interessantes.

Jake já parou três adversários na defesa e quando me dou conta, já estou de pé torcendo e batendo palmas. Retiro o que disse, hoje tinha que ser um dos dias bons, eu tinha que voltar à ativa de um jeito ou de outro. No intervalo eu e Hazel descemos as arquibancadas para falar com os meninos e dar um pouco de apoio moral.

– E aí, como estou? – Jake pergunta o cabelo do olho, jogando os fios suados para trás.

– Você foi ótimo – Sorrio e meu olhar encontra o do Adam. Eu aceno, mas ele revira os olhos, ansiando que eu fosse vê-lo ao invés de estar aqui.

– Sério, Ally? O Adam? – Hazel sussurra no meu ouvido e eu dou de ombros.

– O que posso dizer? Ele é meu amigo.

Nós somos seus amigos – Zack surge atrás do meu namorado e dá um soco de leve no meu ombro. Tento sorrir como sempre, mas não dá muito certo.

– A Ally está tendo umas crises existenciais ultimamente – Jessica aparece também, com a paquera da semana – Acho que é o preço de ser a predadora mais quente de Lincoln High – Ela faz um rosnado sexy e eu rio cruzando os braços.

– Ei, você – Puxo um cara que estava passando por ali quando Jake foi atrás do técnico. Se eu tinha que manter as aparências, era melhor fazer direito – Quer ser meu escravo hoje?

– E o que eu ganho com isso?

– Você é idiota ou o que? Escravos não ganham nada. Pega um refrigerante pra mim.

– Claro, Allyson, tudo o que você quiser – O menino diz em uma voz de tedio e refaz seu caminho até as barraquinhas. Volto minha atenção ao campo, mas uma voz me tira dos meus devaneios.

– Allyson...? – Me viro na direção do som, mas não vejo ninguém – Sei que pode me ouvir.

– Tá ouvindo isso? – Pergunto para Hazel, mas ela balança a cabeça, distraída dando mole para Zack.

– Atrás das arquibancadas – A voz diz de novo. Dou um giro de 360 graus, mas meus olhos não avistam absolutamente ninguém falando comigo – Talvez me encontre se eu te chamar por Adina.

É nessa hora que eu gelo completamente.

Não é segredo para ninguém que eu sou adotada. Meus pais biológicos me entregaram para a minha família adotiva pouco antes de morrerem. O segredo era o meu nome de batismo original, antes de virar Allyson Hale, e se alguém sabia dele além dos meus pais na arquibancada e Adam no campo, só podia significar encrenca.

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