Camellia

By Hunterina

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🏆 VENCEDOR DO WATTYS 2023! 🏆 O Madre Cordélia era o internato dos sonhos, mas havia se transformado em um p... More

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By Hunterina

nós somos mais do que apenas bons amigos

é assim que a história termina

(sk8ter boy)




Do lado de fora, a chuva caía com toda a força, mas nem Bianca ou Daniel conseguiram ouvir os trovões por trás da música.

A jacuzzi do prédio de Natalie ficava numa área fechada, depois das piscinas, e mais parecia uma sauna com as paredes de vidro completamente embaçadas. A luz principal estava desligada e os leds coloridos da banheira eram a única coisa que iluminava o cômodo.

Bianca mexeu as pernas por baixo d'água e as cruzou sobre o colo de Daniel, então apontou a câmera do celular para elas.

— Vai postar? — Ele perguntou, erguendo a garrafa de cerveja para não deixá-la sair na foto, porque não caíria muito bem com os patrocinadores. Então pousou uma mão sobre a coxa dela, sem receio de deixar sugestivo.

— Aham. Tá todo mundo perguntando se eu estou bem depois que desliguei a live do nada.

— E você tá? — Daniel levou a mão até o rosto dela e acariciou sua bochecha antes de colocar uma mecha de cabelo para trás da orelha. — Tá se sentindo um pouco melhor agora?

Bianca quase quis rir da pergunta. Ele realmente tinha alguma dúvida, depois de tudo o que havia feito? Desde que saíram do evento, não tirou os olhos dela nem por um segundo, oferecendo-se para ajudar com tudo e sempre perguntando como estava se sentindo. Também teve o cuidado de explicar nas redes sociais o que tinha acontecido e justificado o sumiço repentino dela. Daniel não tinha muita paciência para aquele tipo de cobrança, mas sabia que Bianca se importava com os fãs e cuidava bem da própria imagem, então assumiu a tarefa para evitar deixá-la ansiosa.

A tempestade repentina os pegou de surpresa no meio do caminho, mas chegaram sem maiores problemas no apartamento. Natalie e Esther estavam na casa de uma amiga e avisaram por mensagem que esperariam a chuva passar antes de voltar (Bianca preferiu não contar o que houve para a irmã porque não queria deixá-la preocupada), então ficariam sozinhos até lá.

Assim que chegaram, Daniel a colocou na cama — "É sério, Dani, eu tô só um pouco tonta, consigo andar sozinha" — e foi fazer um chá. Bianca o chamou de exagerado, mas apreciou quando ele deitou do seu lado e mexeu no seu cabelo até que ela pegasse no sono. Como se não fosse o suficiente, encontrou-o ainda ali quando acordou, perto das oito horas da noite, pedindo pizza para jantarem. Daniel perguntou qual sabor ela queria e nem reclamou quando Bianca pediu lombo com abacaxi, que havia se tornado seu sabor preferido desde que provou junto com Emily.

A chuva ainda caía quando a pizza chegou e jantaram juntos assistindo aos melhores momentos do campeonato de LoL daquela tarde. Cada vez que algum jogador fazia algo errado, Bianca apontava e falava algo como "se fosse você, teria acertado", "se você estivesse no time, conseguiriam ganhar". Daniel sentiu mais vontade do que nunca de beijá-la e, pra ser sincero, o fez todas as vezes.

Ao mesmo tempo que o clima entre eles era o mesmo de sempre, também havia algo diferente no ar. As brincadeiras continuavam, assim como os flertes descompromissados, mas desde que passavam quase todas as horas de seus dias juntos, era como se tivessem perdido qualquer inibição.

Os amassos que antes eram ocasionais tornavam-se cada vez mais frequentes, elogios sussurrados já não carregavam mais a mesma culpa e, sinceramente, nenhum dos dois se importava mais com o quão sugestivas eram suas atitudes. Embora não tenham se atrevido a tocar no assunto, estava fresco em suas memórias as palavras sussurradas na noite anterior.

Quando terminaram de jantar, Bianca achou que a ideia da jacuzzi já tinha ficado para trás, mas perto das nove horas, Daniel perguntou se ela ainda queria ir. Bastou que ponderasse por alguns segundos para que ele imediatamente fosse trocar de roupa. "Por que você tá me mimando tanto hoje?" ela riu "Você merece ser tratada assim todos os dias" respondeu, antes de beijá-la e deixá-la completamente vermelha.

Dessa maneira, colocaram suas roupas de banho, roubaram algumas cervejas da geladeira das anfitriãs — "Pelo amor de Deus, Bianca, se elas perguntarem, a ideia foi sua!" — e foram passar o resto da noite tempestuosa relaxando na água quente. E trocando mais carícias do que dois amigos deveriam.

— Claro que estou — respondeu à pergunta. — Obrigada por cuidar tão bem de mim.

Daniel sorriu e Bianca perdeu um pouco o foco da conversa vendo como ele ficava lindinho com o cabelo bagunçado e algumas gotas de água escorrendo pelo pescoço.

— Vou cuidar de você sempre.

Então ela teve uma ideia. Deixou o celular de lado (depois de postar a foto, que em segundo já estava ganhando números) e colocou uma mão na têmpora, fazendo cara de dor. Daniel imediatamente se moveu em sua direção.

— Ai, Dani... eu tô tão tonta. — Ergueu os olhos e piscou para ele. — Acho que só uma massagem me faria ficar melhor.

Daniel se perdeu por alguns segundos com o quão linda ela ficava sorrindo. Então deixou um riso escapar e jogou água no rosto dela.

DANIEL! — Bianca bufou, esfregando os olhos. — Eu não queria molhar o cabelo, seu-

— Vem aqui, gatinha.

Deixou os protestos se perderem no ar quando o viu abrir as pernas para que pudesse se sentar entre elas. Sentiu o rosto esquentar, subitamente sem jeito, então ele abriu aquele sorriso idiota e a pegou pela mão, trazendo-a para perto.

Seu coração acelerou em antecipação enquanto se ajeitava entre as pernas dele e, quando sentiu as mãos quentes encostando em seus ombros, todo seu corpo se arrepiou. Quando Daniel começou a apertar seu trapézio, Bianca mordeu o lábio inferior para impedir qualquer som de escapar.

Ouvia o retumbar de seu coração nos ouvidos, mas não conseguia entender ao certo porque se sentia tão nervosa com aquela proximidade. Eles já tinham feito muito mais do que isso... mas, ao mesmo tempo, parecia diferente. Que nem o sexo na noite anterior. Estava de costas para Daniel, mas, de alguma forma, sabia que se estivessem olhando nos olhos, haveria aquela mesma intensidade de antes. Os mesmos toques que pareciam querer carregar palavras não ditas.

Por quase um minuto, o único som que acompanhou as gotas de chuva escorregando pelas paredes envidraçada foi a música eletrônica lenta que tocava na caixa de som, até Bianca quebrar o silêncio:

— Por que eu nunca soube que sua massagem era tão boa?

Ele deixou um riso escapar.

— Agora que você sabe, pode me pedir sempre que quiser.

— Pretendo abusar desse privilégio. — Bianca sorriu para ele por sobre o ombro e Daniel respondeu com um aperto mais forte que a fez sibilar. — Ai... Aliás, você ainda não respondeu à minha pergunta.

— Que pergunta?

— Sobre o que a gente tava falando antes. — Ela se virou novamente, olhando para o céu escuro pelo vidro embaçado. — Que superpoder você gostaria de ter?

Daniel abriu um sorriso. Antes da massagem, estavam conversando sobre seus super-heróis favoritos, então Bianca fez aquela pergunta que o pegou de surpresa.

Porque a resposta na ponta de sua língua sempre foi a mesma: ficar invisível.

Desde quando conseguia se lembrar, queria poder desaparecer. Como quando seus pais começavam a gritar um com o outro, ou conforme percebia que sempre que tentava conversar com Emily, o clima ficava cada vez mais desconfortável; ou até mesmo quando se sentia mal e não conseguia nem conversar com os amigos.

Desde aquela época, ele sempre sonhou em poder fugir. Pela primeira vez, começava a ver os motivos para ficar.

— Eu estava pensando, porque... sempre quis conseguir ficar invisível — murmurou, enquanto continuava apertando os ombros dela. — Assim, eu poderia desaparecer sempre que eu tivesse vontade. Só que, hoje em dia, acho que não quero mais tanto assim esse poder. Qual você teria?

Bianca abriu um sorrisinho, então deixou um grunhido de prazer escapar quando ele a apertou um pouquinho mais forte. Inclinou-se um pouco mais em direção ao toque, escorando-se no peito dele.

— Sabe o que eu responderia em outra época? — sussurrou, brincando com a cordinha do biquíni que roubou da irmã, porque não tinha trazido nenhum. — Conseguir me transformar em outras pessoas. Tipo a Mística, do X-men. Eu sempre quis poder ser qualquer pessoa que eu sonhasse. Acho que... porque eu via todo mundo como um super-herói, menos eu. — Sentiu o rosto esquentar um pouco por se abrir tanto, mas saber que era Daniel quem ouvia também lhe trazia certa tranquilidade. — Eu entendo você. Hoje em dia, acho que também não escolheria mais isso. Acho que eu comecei a gostar da Bianca.

— Então temos isso em comum. — Ele sussurrou ao pé do seu ouvido e ela se arrepiou com o hálito gelado contra a pele molhada. Daniel parou a massagem para envolver seu corpo com os braços e puxá-la para mais perto de si. — Porque eu também gosto muito de você.

Bianca respirou fundo e encostou as costas no peito dele enquanto seu coração dava cambalhotas. Ela adorava quando seus toques eram sugestivos e não tardavam a se transformar em amassos lascivos... mas havia algo particularmente gostoso naquele carinho.

Do lado de fora, a chuva se intensificou.

— Voar. — Bianca quebrou o silêncio, que não era silêncio de fato, pois a música continuava embalando a noite.

— Hã? — Daniel abriu um olho que nem havia percebido que fechou.

— Voar — ela repetiu. — Esse é o super-poder que eu gostaria de ter. Eu sei que é meio clichê, mas eu acho que a sensação deve ser incrível. Antecipação, frio no estômago e então... você levanta vôo.

Quase como se sentia quando estava com ele.

— Bom, acho que eu escolheria poder me teletransportar. — Daniel respondeu, sem pensar muito, apenas porque não queria deixá-la sem resposta.

— Tem certeza que não escolheria jogar que nem eu? — Bianca provocou, lançando-lhe um olhar por cima do ombro. Ele apertou sua cintura em resposta, fazendo-a se contorcer de cosquinhas. — Para! Desculpa! — Ela gargalhou. — Não, mudei de ideia! Meu poder seria te mandar fazer tudo o que eu pedisse. Aí eu poderia fazer você continuar com a massagem!

Ele foi obrigado a rir.

— Bianca, para de ser idiota. — Alertou, levando as mãos de volta aos ombros dela. — Você sabe que já tem esse poder.

Ela fechou os olhos de novo, aproveitando o toque dele, a proximidade tão quente quanto o vapor que subia da água e condensava ao encostar no vidro. Enquanto isso, Daniel se deixou levar pela batida calma da música, interrompida apenas pelos sons de satisfação que ela deixava escapar e lhe obrigavam a sorrir. A tempestade seguia com força total, mas seu coração estava em paz.

— Ei, Dani. — Bianca o trouxe de volta à realidade. — Afinal, por que você tá cuidando tanto de mim hoje?

— Porque você merece.

Mas não era essa a resposta que ele queria dar de verdade. Porque só queria que eles nunca tivessem que voltar, e queria que Bianca pensasse a mesma coisa.

No começo, ficou um pouco chateado por nenhum dos amigos ter disponibilidade para acompanhá-los no evento, mas agora, estava quase agradecido. De certa maneira, parecia que ele e Bianca tinham fugido daquela realidade juntos. Longe de toda a rotina corrida do internato, dos dramas... sentiu o gosto que teria quando finalmente a pedisse em namoro. E estava precisando se segurar muito para não o fazer naquele instante, porque ainda desejava que fosse algo especial.

Mas ele a amava e sabia que o sentimento era recíproco. Aquilo o contentaria por enquanto.

Bianca se mexeu repentinamente e ficou de joelhos para apontar em direção a uma das paredes envidraçadas.

— Meu Deus, acho que vi uma estrela cadente!

Daniel ergueu uma sobrancelha.

— Como assim, sua doida? Tá caindo o mundo lá fora, não dá pra ver estrela nenhuma.

— Mas eu juro que vi! — Ela apontou com mais intensidade para a janela e ele virou o rosto naquela direção.

— Bianca, é a luz da rua refletindo nas gotas de chuva. — Ele trancou o riso. — Acho que você tá precisando de óculos, Abelha. Ou tem um milhão de estrelas cadentes em volta da gente.

Ela sentiu o rosto esquentar, percebendo que provavelmente tinha sido só uma gota de chuva que escorregou pelo vidro, refletindo a luz amarela do pátio. Então cruzou os braços e se sentou no colo dele, fazendo bico.

— Talvez tenha mesmo — murmurou, só porque queria dar a última palavra.

Daniel riu e suas mãos escorregaram para a cintura dela sob a água quente.

— Talvez — concordou, o tom debochado. Então apertou a cintura dela de novo. — E o que você vai pedir para o seu milhão de estrelas cadentes?

Bianca deu um pulo com as cosquinhas e o fuzilou com os olhos.

— Vou pedir um milhão de vezes para você parar de ser insuportável! — Apesar do tom bravo, ela não conseguia segurar o riso e ele sorriu de volta. — E talvez eu peça para só uma delas pra você me beijar um pouco... mas só porque você é muito bonito.

O sorriso dele aumentou, destacando aquela covinha que era tão insuportável quanto ele. Daniel escorregou uma mão até a nuca dela e sussurrou, antes de puxá-la em sua direção:

— Seus desejos são muito fáceis de realizar, meu amor.

A palavra escorregou de seus lábios e os olhos de Bianca faíscaram para ele antes de grudar suas bocas num beijo intenso. Invadiu-o com a língua, como se não pudesse aguentar mais um segundo sem aquilo, e Daniel retribuiu com a mesma avidez. Suas mãos escorregaram pelo peito dele, arranhando-o de leve e arrancando sons que a fizeram se arrepiar.

Quando se afastaram, com as respirações pesadas e os corações acelerados, tiveram tempo de trocar apenas um olhar antes de tudo ficar escuro.

A música na caixa de som foi a única coisa que permaneceu depois que os leds se apagaram e a hidromassagem parou de funcionar.

— Ah não! — Bianca lamentou. — Não acredito que acabou a luz.

— Vamos esperar um pouco. Deve voltar logo.

Mas vários minutos se passaram depois que eles voltaram a se beijar, e continuaram no breu. E aquilo nem seria um problema, se a água da jacuzzi não tivesse começado a esfriar.

— Dani.... — Bianca chamou, a voz tão ofegante e tentadora que Daniel achou que enlouqueceria por já saber exatamente o que ela ia dizer: — Acho melhor a gente subir.

Ele se sentiu como uma criança que teve o seu doce roubado quando Bianca saiu da banheira para buscar as toalhas.

Relutante, soltou um suspiro e também saiu de dentro da água. Ele e Bianca passaram os minutos seguintes sob a lanterna do celular, ajeitando a bagunça que tinham feito na sala da jacuzzi.

O problema é que o que começou com um aborrecimento infantil não tardou em se transformar num sentimento péssimo. Porque Daniel realmente não queria que aquela noite acabasse. Que merda, estava tudo tão bom... queria continuar ali, embaixo da água quente, abraçado com a menina que amava, como se o resto do universo tivesse sido varrido pela tempestade e só restassem eles e paz.

Pior ainda, era pensar no dia seguinte. Domingos normalmente já eram ruins, mas pensar que era o último dia que tinha para ficar com Bianca fazia seu coração apertar de angústia. Mesmo ele, que não acreditava em nada daquilo, achava que tinha algo de mágico naquele final de semana.

Porque finalmente viu como seria uma vida em que se sentisse bem a maior parte do tempo.

Mesmo além da influência de Bianca: havia sido simplesmente surreal ver seus fãs — ainda era muito estranho pensar naquela palavra — pessoalmente, ouvir de tantas pessoas que ele era uma inspiração, que suas lives melhoravam seus dias; além disso, conversar com tantos jogadores profissionais e ouvir suas experiências lhe dava mais esperança do que nunca que era aquilo que ele sempre quis e que valia a pena se esforçar; até voltar para casa de Natalie era divertido, porque a irmã e a cunhada de Bianca eram simplesmente incríveis.

Mas nada daquilo chegava aos pés da garota maravilhosa que, desde o primeiro dia, fez seu coração empoeirado se encher de vida. Da garota que não parava de perguntar o motivo pelo qual ele estava fazendo tantas coisas por ela, sem conseguir enxergar que já tinha feito muito mais por ele. A garota com quem ele só queria viver o resto da sua vida exatamente daquele jeito.

— Ainda tá chovendo bastante... vamos deixar as coisas que não podem molhar aqui e eu volto com um guarda-chuva para buscar, ok? — Bianca murmurou, colocando os celulares e a caixa de som em cima de uma espreguiçadeira. Então virou para Daniel e franziu as sobrancelhas: — Ei, que cara é essa?

Ele deu de ombros, arrastando a mão pelos cabelos.

— Nada não... Só tava gostoso aqui.

Bianca abriu um sorriso e caminhou até ele, ficando na ponta dos pés para passar a mão carinhosamente em sua bochecha antes de puxá-lo para um beijinho.

— Tava mesmo — sussurrou. — Ei, como hoje foi o meu dia, e você fez tudo o que eu queria... que tal se amanhã for o seu? Sei que vamos embora à noite, mas me comprometo a fazer tudo ao meu alcance para te deixar feliz. Aliás, começando agora!

Daniel pensou em fazê-la entender que ela não tinha de fazer absolutamente nada de especial para deixá-lo feliz, mas apenas sorriu e a puxou para outro beijo. Bianca salvava todos os seus dias antes mesmo que ela pensasse em fazê-lo.

Aceitou quando ela esticou a mão, entrelaçou seus dedos e saíram juntos da sala da jacuzzi. A chuva caía sem parar e tiveram de correr para atravessar o pátio descoberto até o prédio.

Daniel se arrepiou quando sentiu a chuva gelada contra sua pele e Bianca deixou um gritinho escapar. Por alguns segundos, sentiu uma melancolia quase sufocante porque não queria que aquela maldita noite acabasse e, de alguma forma, sentia que voltar para o apartamento seria como o final do seu conto de fadas.

Então, o gritinho de Bianca se transformou numa gargalhada e ela olhou para Daniel por sobre o ombro. Seus olhos se encontraram no meio da tempestade e ele sentiu o coração bater mais forte quando viu o sorriso que ela abriu. Os cabelos que Bianca não queria molhar estavam encharcados e as mechinhas loiras grudavam no seu rosto que ainda estava corada pelo tempo que passaram na água quente.

Estava mais linda do que nunca e, contagiado pela risada, Daniel a acompanhou, pensando no quão ridículos eles deviam estar, correndo de roupa de banho no meio daquela tempestade.

A vontade de ficar na jacuzzi para sempre foi substituída por uma ainda mais forte de tomar um banho quente junto com ela e passar o resto da noite embaixo das cobertas, assistindo qualquer filme (o gosto deles era praticamente o mesmo, então nunca era muito difícil escolher). Não importava qual fosse, porque em alguns minutos esqueceriam dele para se beijar e, se Natalie e Esther ainda não tivessem chegado...

Um raio iluminou momentaneamente o céu e Daniel parou abruptamente. O som do trovão sacudiu o mundo ao mesmo tempo que a realização o acertava.

Ele podia fazer aquela noite durar para sempre.

— Daniel, você enlouqueceu?! — Bianca puxou a mão dele, sem sucesso em tirá-lo do lugar. Estavam no meio da tempestade e ainda faltava uns bons metros até chegarem no saguão do prédio. — Anda!

Ao invés de respondê-la, puxou-a para sua direção e juntou seus lábios. O calor do corpo dela contra o seu foi bem-vindo naquela chuva gelada e, apesar de achá-lo completamente doido, ela retribuiu o beijo sem hesitar. Quando se afastaram, ele não tirou os olhos dos dela:

— Bianca, eu te amo.

— Oi?! — Foi a única coisa que ela conseguiu responder depois de ser pega completamente desprevenida. Então deixou uma risadinha incrédula escapar. — Eu também te amo, Danie-

— Não, Bianca. Eu te amo muito. — Então foi a vez dele rir, porque percebeu como queria fazer aquilo há muito tempo. Beijou-a mais uma vez e soltou, como se fosse ar que segurava há muito tempo: — Eu te amo antes mesmo de saber que eu te amava. Você foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida. Eu não quero que essa noite acabe, eu quero que todos os instantes que estivermos juntos durem pra sempre. Você quer namorar comigo?

Então ele estalou a língua, como se tivesse se dado conta de algo. Bianca arregalou os olho quando ele se ajoelhou no pátio encharcado, sem soltar sua mão.

— Desculpa, eu queria que esse pedido fosse mais especial. Porra, eu passei a semana inteira pensando em como fazer algo a sua altura, mas... eu só não aguento mais, Bianca. Eu não aguento mais não poder te dizer tudo o que eu gostaria, ou ter que fingir que eu não penso em você do momento que eu acordo até a hora de dormir, só para ainda te encontrar nos meus sonhos. — Ele não soltou a mão dela nem por um segundo, enquanto falava como se fosse a primeira vez que respirasse: — Você transformou o meu mundo inteiro e me fez esquecer como era antes de te amar. Você é a minha tempestade particular, Bianca. Uma onde eu nunca me importaria de me afogar. Você aceitar ser a minha namorada também?

A respiração de Daniel estava pesada quando ele terminou, numa mistura de alegria, excitação e uma pitada de receio que tornava tudo dolorosamente real.

Os olhos de Bianca estavam mais brilhantes do que nunca e fizeram o raio que iluminou o céu se dissipar em segundos, envergonhado. O trovão não bateu mais forte que o coração deles.

— Dani, eu... — Ela começou, colocando a mão livre no peito. Não sabia nem o que dizer, piscando os olhos sem parar na tentativa de afastar as lágrimas. Então, começou pelo óbvio: — É óbvio, Daniel. Claro que aceito, eu... — Então o puxou para que se levantasse e o envolveu com os braços, beijando-o mais vezes do que as gotas de chuva caíram no chão. — Eu também te amo. Meu Deus, como eu vou falar alguma coisa a altura disso?! — Ela riu e o beijou ainda mais, porque nunca se cansaria daquilo.

Quando se separaram, quase sem ar, ele afastou os cabelos molhados do rosto dela.

— Nós vamos juntos no baile da minha formatura, ok? — Ele falou e percebeu que talvez nunca mais conseguisse parar de sorrir. — Aliás, foda-se isso. Nós vamos nos casar, tá bom? — Então desviou o olhar, subitamente corado. — Quer dizer, não agora, óbvio... mas um dia. Quer dizer, você quer se casar comigo um dia?

E Bianca compartilhava do sentimento de que talvez nunca mais conseguisse parar de sorrir. Ela envolveu o pescoço dele com os braços, ficando na ponta dos pés.

— Dani, eu vou dizer sim para qualquer coisa que você me propor. Pra sempre. — Repetiu, apenas porque o gosto das palavras sem a necessidade de escondê-las em brincadeiras era viciante: — Porque eu te amo.

— Eu também te amo. Meu Deus, acho que eu nunca vou cansar de te dizer isso. — Ele riu, como se não pudesse acreditar na sorte que tinha.

— Que bom que vamos ter o resto da eternidade para continuar falando isso um para o outro.

Daniel a puxou para mais um beijo, porque mesmo toda a eternidade era pouco tempo para tê-la em seus braços.

A tempestade continuou e o mundo estava em paz.




Nota da autora:

Caras, eu estou-

Eu juro acho que nunca escrevi coisas tão lindas quanto as que o Daniel falou pra Bianca 😭 

Eu passei a semana inteira tão nervosa com esse capítulo... a minha intenção sempre foi que esse pedido fosse algo super repentino, no meio do caos e repleto de emoção e eu estou TÃO FELIZ COM ELE 😭😭😭

Espero que vocês também estejam.

Alias, esse capítulo me lembrou de uma imagem que eu gosto muito:

"É uma noite em que as estrelas não se alinham / seus cadarços não ficam amarrados / está chovendo, você não consegue ficar seco / você não consegue encontrar sua chaves / você não sabe o que dizer, e / você percebe que está apaixonado"

Vocês sabem que eu amo uma pitadinha de desastre no meio das cenas fofas para dar essa sensação de realidade... então eu precisava de uma tempestade 😭

Ah caras eu nem sei o que falar eu só espero que vocês tenham amado esse capítulo tanto quanto eu amei 💜💜💜💜

Estou indo para o show no NX Zero agora (eu sei, aleatório) então por favor comentem muito para eu me divertir lendo tudo quando eu voltar!!!!!!!!!

Obrigada por tudo e espero do fundo do coração que essa história reflita o quanto sou grata pelo apoio de vocês.

I si eu falar........ que o capítulo que vem vai deixar vocês DOIDOS? 👀

Até lá 💜

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