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LUANNA
NUNCA ME SENTI tão mãe quanto agora e não só porque tem duas bombas em cada mamilo meu, sugando o leite de dentro de mim para poder levar lá pra cima onde meus filhos estão e assim misturá-los com os suplementos que os bebês precisam para que fiquem fortes e gordos o mais rápido possível e, dessa forma, saiam logo desse hospital.
Sim, estou antenada a tudo que está relacionado aos meus filhos. Sei a hora que acordam e a hora que vão dormir. Mesmo sem estarmos o tempo todo juntos porque ainda não podemos, não deixo de buscar informações sobre eles.
Mas nem é por isso que me sinto tão mãe. Na verdade, é por causa disso também.
A real é que me sinto mãe porque eu acordo pensando nos meus filhos, fico o dia inteiro sentindo o cheirinho deles em mim mesmo não estando juntos e meu último pensamento do dia é se eles estão dormindo bem.
Tudo é sobre esses bebês. E, olha, que eles só tem dois dias de vida. Imagina quando tiverem um ano. Ou dez anos. Imagina quando essas crianças forem adultas. Meu Deus. Meus bebês vão ser adultos um dia. Isso nem parece real. Para mim, eles serão pequeninos para sempre.
— Isso aí dói? — Gabriel me pergunta.
Ergo a cabeça e o vejo em pé com os braços cruzados e os olhos atentos naquelas bombas sugando meus seios.
— Um pouco — respondo. Na primeira vez doeu pra caralho, parecia que estavam enfiando agulhas nos meus mamilos. Eu até chorei. Mas Dona Maria já estava lá para me ajudar, controlando o vácuo das bombas até eu me acostumar. Agora é só uma sensação desconfortável. — 'Tá tranquilo. Acho que a ansiedade está me incomodando mais do que isso aqui.
Ansiedade por dois motivos.
O primeiro, está quase na hora da visita dos bebês e eu vou ficar lá a manhã toda se possível. E o segundo é que hoje é o dia da minha alta.
Quero muito ir pra minha casa e dormir na minha cama onde eu sei que eu terei conforto de sobra. O grande problema disso tudo é que vou deixar meus filhos nesse hospital pois ainda não receberam alta, e essa ideia me deixa aflita e agoniada.
— Não fique pensando demais, mãezinha — Maria me diz, me ajudando a retirar as bombas agora bem cheias de leite. — Olha só, hoje saiu bastante.
— Me sinto uma vaca leiteira.
Gabriel começa a rir do que eu digo.
— Não vou nem falar o que eu pensei — ele diz, abaixando a cabeça. Posso imaginar o que passa na cabeça dele. Deve estar relacionado a putaria porque esse já virou o segundo nome do Gabriel.
— Ótimo — Maria me ajuda a me cobrir. — Antes de ir, seria bom que você caminhasse um pouco pra se exercitar, sabe? Não pode usufruir da cadeira de rodas para sempre.
Depois que pari, eu me sinto mais inchada do que antes. Meus pés estão enormes e eu quase não consigo me movimentar sem sentir dor.
Mas desde ontem estão me forçando a me mexer para eu me acostumar. Pelo que vi, vou ficar inchada por mais algumas semanas ainda. Sem contar o fato da minha barriga estar tão grande que nem parece que os bebês saíram daqui. Será que ficou alguém pra trás? Não é possível que eu esteja sem bebê nenhum aqui dentro e ainda esteja desse tamanho.
Deus, já pode me dar um corpo maravilhoso, né?
Eu mereço. Trouxe ao mundo duas crianças.
O Senhor aí de cima pode retribuir me tornando gostosa. Uma bunda bem grande, já que os seios parecem que vão cair no chão. Isso você pode deixar. Eu só preciso da minha barriga bem chapada, os braços menores também e as coxas musculosas porque agora só parece que eu comi demais.
— Eu ajudo — Gabriel se oferece, estendendo o braço em minha direção e me dando apoio para que eu fique em pé. — A gente dá uma voltinha e depois sobe para ver os bebês.
— 'Tá.
— Eu vou indo na frente — Maria rapidamente avisa, colocando o leite nos potinhos e tampando antes de levá-los aos saquinhos. Metade disso aí será levado para o freezer. — Para alimentar as ferinhas e espero os papais lá, tudo bem?
— Tudo ótimo — Gabriel e eu dissemos ao mesmo tempo e nos entreolhamos pela conexão. Viramos pais e agora pensamos as mesmas coisas? Eu só não ando pensando tanta putaria quanto Gabriel porque eu realmente não tenho força pra nada.
— Agora você me ajuda a sentar de novo — digo assim que só tem nós dois no quarto e eu já estou me apoiando na cama.
— Oxi — Gabriel franze o cenho, sem entender. — Não vai andar?
— Ah, não — nego de imediato. — A gente finge que eu andei. Não 'tô me aguentando.
— Então 'cê vai mentir? — Ele se indigna e eu fico surpresa. Pensei que iria me acobertar sem pestanejar.
— Gabriel, eu não 'tô me aguentando — repito, me vitimizando mais uma vez e usando o drama a meu favor. — Eu fico uns cinco minutos sentadinha aqui, de boa e depois a gente sobe.
— Nada disso, lindona — ele não me deixa sentar de novo, segurando minha cintura e me mantendo em pé. — 'Cê tem que se movimentar, Luanna.
— Eu 'tô cansada, com dor, capenga. Deixa a mãe dos seus filhos descansar, por favor. Olha pro tamanho dos meus pés — aponto para os pães que já foram bem úteis no meu corpo e hoje não servem para nada além de me causar dor. — Eles nem entram mais no tênis. Tenha piedade!
Ele ri de mim e eu lhe dou um tapa no braço por achar graça da minha desgraça.
— Você só vai se sentir melhor depois de caminhar, preta. — Que merda, ele não vai abraçar meu drama e, muito menos, burlar as regras para que eu me sinta bem. — É só uma caminhadinha e vou estar do seu lado. Pode se apoiar em mim o quanto quiser.
— Eu não quero andar.
— Luanna.
— Que saco — começo a andar pra fora daquele quarto quase que para fugir de Gabriel por não fazer minhas vontades, mas do jeito que estou nunca vou ser mais rápido do que ele, e ele já está ali me ajudando. — Eu te odeio.
— Não odeia nada — ele debocha, entrelaçando o braço no meu e dando um passinho de cada vez para seguir meu ritmo naquele corredor comprido que só a desgraça. — Eu te dei dois filhos, como pode me odiar?
— Dois filhos, dois pés inchados, uma barriga enorme, seios cheios de leite e um corpo tão inchado que eu acho que posso explodir se cair no chão.
— Nem é pra tanto, vai.
— Nem é pra tanto? — Lanço um olhar bem raivoso na direção dele. — Pra você é fácil falar, não é uma vaca leiteira com dor nas pernas.
Ele ri, a mesma risada de antes quando pensou besteira, o que me faz pensar que sua mente deve estar poluída uma hora dessas, outra vez.
— Luanna, 'cê fica me provocando e eu nem posso fazer nada.
— Eu 'tô te provocando? — questiono.
— Fica falando essas coisas e eu nem posso fazer o que estou pensando.
— E o que você está pensando?
Não sei porque perguntei, era óbvio que ele ia falar putaria.
Gabriel abaixa a cabeça na minha altura para poder sussurrar:
— 'Tô doido para comer a vaca leiteira.
Solto uma risada espontânea que sai do fundo da minha alma. Alta e exagerada que me obriga a tampar a própria boca para não atrair a atenção de ninguém mesmo que estejamos sozinhos naquele corredor.
— Que coisa feia — digo ao me recuperar das risadas. — Se aproveitando da pobre coitada que não consegue nem andar.
— Não 'tô me aproveitando — ele abafa uma risada. — 'Tô só querendo, mas 'tô ligado que vou ter que esperar o resguardo.
— Ah, eu vou demorar para voltar com o meu corpinho.
— E daí? — Gabriel me lança um olhar de dúvida, sem entender o porquê de eu estar falando assim. — Luanna, se você soubesse...
— Soubesse o quê? — Ele me olha daquele jeito, como se já estivesse me comendo.
— Do quanto você está gostosa! — Ele falta bufar.
— Para, né? Não precisa forçar — e nem ter gentileza. Eu tenho muito conhecimento da minha trágica situação. — 'Tô só o pó. Toda capenga. Inchada.
— Ah, cala boca, véi — Gabriel revira os olhos impaciente e nós dois paramos de andar para ficar se encarando. — Porra, seus peitos estão enormes, já reparou?
— Também, o tanto de leite que eu ando produzindo.
— Juro pra você, eu nunca quis tanto ser uma bombinha de leite — dou risada do que diz. — Será que o gosto é muito ruim? Nem vou me importar, só quero cair de boca que nem um neném.
— Meu Deus, Gabriel. Se controla, homem.
— 'Tô me controlando — ele respira fundo e abaixa os ombros, me puxando para mais perto e voltando a andar. — 'Cê não faz ideia do tanto que eu 'tô me controlando. É que já faz muito tempo, né? 'Cê lembra quando foi a última vez?
— Não sei. Mas acho que eu nem tinha o barrigão ainda.
— Luanna, a última e única vez que eu transei com você sem que 'cê estivesse grávida, eu 'tava bêbado e nem lembro. — Puta merda, pior que nem é mentira. Engravidei no dia que eu conheci esse cara. — A gente merece um agrado agora. Sinto como se eu tivesse o dever de te conhecer de verdade assim, 'tá ligado?
— Você parece uma cadela no cio — brinco só para que ele caia na gargalhada e me pegue de surpresa ao passar o braço pela minha cintura e decidir me dar apoio assim agora.
Esperto. Pois isso me confunde e sua proximidade me faz ficar estranhamente ofegante. Talvez seja pelo esforço de estar caminhando do que pela forma como me olha e me segura.
— Vai falar pra mim que não 'tá sentindo saudade? — Ele me pergunta num tom malicioso, praticamente encostando a boca em minha orelha o que me arrepia. — Não sente saudade de revirar os olhos enquanto eu meto em você?
— Me surpreende sua capacidade de pensar besteira no estado que me encontro — digo a ele, mas eu claramente estou envergonhada com que me diz, afinal minhas bochechas estão quentes e devem estar vermelhas. — Já olhou para mim?
Gabriel afasta a cabeça e me dá uma boa olhada, fico ainda mais envergonhada, principalmente ao lembrar que estou horrorosa.
— Uma gostosa? — Ele faz uma careta engraçada de dúvida. — 'Tô pensando onde eu quero enfiar minha cara primeiro. Nos seus peitos ou no meio de suas pernas.
— Meu Deus! — puxo o braço dele e tiro força de onde não tenho para sair arrastando esse homem quando claramente era uma função dele me carregar. — Vou te castrar.
— Nada disso, preta! — Ele bufa como uma criança mimada. — Eu ainda preciso fazer mais dois filhos em você.
— Precisa o quê? — Chega me engasgo com a saliva. — Por que 'cê 'tá achando que eu vou ter mais filhos? Tenho duas ferinhas lá em cima pra criar, esqueceu?
— E vai ter mais duas. Aí já pode fechar a fábrica.
— É, pelo visto, além de vaca leiteira, virei a própria parideira.
Gabriel ri, me olhando com os olhinhos quase se fechando pelo riso e as ruguinhas de cansaço desses dias aparecendo bastante agora.
— Você e sua capacidade surpreendente de criar apelidos.
— É um dom — me gabo, entrando na onda.
A gente está passando pelo hall de elevadores quando duas pessoas em pé ali nos chamam a atenção.
— Gabi — Fabinho rapidamente se pronuncia. — E Lua. Que bom ver vocês.
— E aí, Fabio? — Cumprimento olhando para aquele outro homem ao seu lado e me surpreendendo dos dois estarem juntos. — Vocês podem ficar aqui numa boa?
— Subimos para falar com vocês — informa Raphael Veiga, me dando um beijo na bochecha logo em seguida e fazendo meu parceiro revirar os olhos com aquele ciumes e ranço clássico de Gabriel Barbosa. — Como você está?
— Bem. Cansada e cheia de dor, mas bem.
— Até que as olheiras não estão tão escuras para quem tem dois filhos.
— É porque não passo a noite com os bebês.
— Já tem data para a alta deles? — pergunta Fabio, curioso e preocupado. Todo mundo que vem aqui nos visitar sempre conversa com aquele clássico tom de preocupação na voz.
— Depende de como o Ravi vai reagir sem o respirador e se os dois se adaptarem com meu leite.
— Mas eles estão bem?
— Sim — Gabriel responde com orgulho. — São meus filhos, né? Fortes e saudáveis. Daqui a pouco 'tão em casa, chorando e sem deixar a gente dormir.
— A Dhio 'tá lá em cima com eles — informa Raphael e Gabriel estreita o olhar antes de assentir. Se não o conhecesse bem o suficiente, com certeza deixaria passar sua reação, mas aquele olhar é gritante demais para eu não entender que ele sabe de algo que ainda não sei. — Pegou o primeiro horário da visita.
— Nós vamos lá agora também — digo, tentando não deixar a curiosidade falar mais alto e perguntar para o Gabriel o que ele ainda não me contou. — 'Tô com saudade já.
— Eu preciso falar com o Gabi — Fabio rapidamente se intromete. — Questão de urgência.
— Só com o Gabi? — pergunto, nem um pouco interessada em ficar aqui embaixo. — Porque se for o caso, ele é todo seu.
— Ela me trata assim porque me ama — Gabriel diz com um sorriso bobo. — Mas eu fico e depois subo.
— Então eu vou indo.
— Vai querer que eu te ajude a subir? — Gabriel se oferece antes mesmo que eu possa me soltar dele. — Depois eu desço, sem problema.
— Não — nego, sorrindo para ele. — Eu consigo.
Aliás a caminhada de agora e o bom papo sobre sexo e cio foi bom para me dar uma acordada. Já me sinto até mais forte.
— Certeza?
— Sim — sorrio mais uma vez e ergo a cabeça para conseguir depositar um selinho em seus lábios. — A gente continua o papo depois.
Gabriel fica meio sem jeito com isso, mas nem dou muita liberdade, apenas ofereço uma piscadela e me afasto. Pegando o elevador e subindo para ver meus bebês e ficar com o cheirinho maravilhoso deles impregnado no meu nariz o dia inteiro.
GABRIEL
LUANNA É LOUCA de me deixar na vontade assim, ainda mais depois de falar um negócio desse. "A gente continua o papo depois". O que isso quer dizer? Que ela quer só continuar o papo ou que vai rolar alguma coisa? Meu Deus, eu estou muita na vontade. Estou realmente parecendo que estou no cio.
Porém limpo a garganta e tento agir que nem gente para conversar com os dois que ficaram ali comigo.
— Já conversamos com a polícia — Fabio nem hesita em me informar o que eu claramente estava no aguardo em saber. — Já temos muita coisa da investigação.
— O que você já sabe? — Cruzo os braços e fico totalmente sério agora. Porra, o foco é sobre o que aconteceu com a Luanna lá no Maracanã e que se eu descobrir que foi mesmo coisa da imprensa, o bagulho vai ficar bem louco.
— Sabemos que foi um ataque — diz Veiga tão sério quanto eu. — E que não foi diretamente aqueles jornalistas. Bom, a polícia está interrogando todos que estavam naquela roda.
— Ela foi vítima de um ataque mesmo — informa Fabinho com a postura ereta. — Os jornalistas foram empurrados. Temos gravações que mostram exatamente como tudo aconteceu. Luanna deu o passo pra frente e eles todos foram pra cima dela porque estavam sendo empurrados. Identificamos três sujeitos desconhecidos no meio da imprensa. Vamos investigá-los e prendê-los.
— O que não faz sentido é o motivo de terem feito um absurdo desses com uma mulher grávida. — Veiga fala, indignado. — E nem tem como eles justificarem o contrário. Todo mundo tem noção da gravidez da Luanna, é o assunto do momento. E a barriga dela estava enorme, não tinham como não ter visto. Por que fariam algo para feri-la propositalmente?
— Não sabemos.
Eu sei. Infelizmente eu sei a resposta.
— Porque eles acham que a Luanna me prejudica — falo em voz baixa, mas eles não deixam de me ouvir. — Por causa da má fase.
— E o que eles queriam? — Veiga fica meio puto. — Atingir ela pra te dar uma lição? Porra, isso nem faz sentido.
— Nós sabíamos que eles viriam atrás dela. — Fabinho balança bem a cabeça, pensando e falando. — Ela já estava sendo atacada antes, nas mídias. Depois ela foi inventar de socar a cara daquele fã. Lembra? Isso só manchou ainda mais a imagem dela. Eu te disse para mantê-la em casa, o mais longe possível do caos até que a poeira baixasse. Era óbvio que eles buscariam vingança.
— 'Tá me falando que foi aquele filho da puta que tava no Cristo?
Me irrito, já sentindo meu sangue ferver em pensar que pode ser o desgraçado que provocou a minha mulher e levou um soco por ser inconveniente. Ele não pode buscar vingança por uma coisa besta dessa.
— Não temos certeza — Fabio tenta me tranquilar. — Mas não deixa de ser um suspeito.
— Eu não quero saber. Quero esses caras mortos, entendeu? Todos! — Bufo, irritado. É tiro na certa. — No mínimo, atrás das grades.
— A gente só tem o nome de um deles.
— Quem? — Olho ansioso pra Veiga.
— O nome do cara é Marcos, não temos muita informação, mas a polícia está indo atrás.
Marcos? Porra, nome comum do caralho. Pode ser todo mundo.
— E falando na polícia — Fabinho pega o celular que está vibrando do bolso e rapidamente atende. — Se me dão licença.
Logo meu empresário se retira deixando Veiga e eu sozinhos.
Eu devia ficar bem puto por estar no mesmo lugar que Raphael Veiga. Andamos tendo uma rivalidade bem gritante nos últimos tempos depois que comecei a me envolver com a Luanna. E em todas as nossas interações, nós dois saímos na mão. Ou eu sendo a vítima, ou ele como foi na última vez.
O mais engraçado é que agora não sinto vontade alguma de socar a cara dele. Muito pelo contrário. Estou sentindo uma empatia do caralho. Estou quase abrindo os braços e abraçando ele. O que Dhio me contou não foi uma dor só para ela. Conheço pouco o Veiga, mas tenho noção de seu sonho em ser pai.
— Ei, cara — chamo a atenção do Veiga que vira em minha direção com os olhos fundos e confusos. — Sinto muito.
Ele fica meio sem jeito, mas me trata com a mesma empatia.
— Eu que devo te dizer isso, cara — ele rapidamente diz, dando uma batidinha em meu ombro. — Tudo isso foi uma loucura completa. Ainda bem que a Luanna está bem. Vou continuar orando para que os bebês saiam do hospital logo.
— Obrigado — agradeço de coração. Qualquer tipo de energia positiva, eu estou aceitando. Não quero que meus filhos fiquem muito tempo internados aqui. Quero eles em casa. Comigo. Saudáveis. — Mas não 'tô falando disso.
Veiga estreita o olhar e fica ainda mais confuso, por isso me explico:
— Dhio me contou sobre o bebê.
— Ela te contou? — Veiga fica realmente surpreso e eu percebo suas pálpebras pesarem e a forma como desvia o olhar, totalmente sentido com esse assunto. — Pensei que ela esperaria um pouco.
— Ela me contou antes da partida de quinta — informo. — Está arrasada. Imagino como deve estar sendo difícil pra você também.
— Saber que eu perdi um filho me dói, ainda mais por ter sido uma surpresa — ele diz e eu sinto sua dor. Não consigo me imaginar perdendo meus filhos e só em pensar nisso, meu coração começa a doer. — Mas toda vez que lembro daquele dia, eu vejo a sua irmã cheia de sangue e isso me assusta mais do que qualquer outra coisa.
Fico meio confuso com suas palavras, mas Veiga decidiu desabafar por isso permito que continue falando:
— Foi assustador. E enquanto eu a levava pro hospital, a única coisa que eu conseguia pensar era... — ele fecha os olhos por um momento. — Era que eu ia perder ela... — Isso diz muito sobre o que ele sente e eu não esperava ouvir isso assim. — E nem pensei em filho na hora. Eu só pensava nela. Depois que me falaram do bebê foi... foi...
— Eu entendo você — Veiga olha para mim e vejo seus olhos marejados. De todas as pessoas do mundo eu nunca pensei que quem seria a pessoa destinada a minha irmã seria o Raphael Veiga. — Quando a gente ama alguém, tudo que a gente menos quer é que a pessoa se machuque.
Veiga assente, abaixando a cabeça, sentido com esse assunto.
— Graças a Deus, Dhio está bem — continuo falando. — Mas vocês perderam um bebê. E essa é uma dor terrível.
— Estou disposto a tentar de novo — Veiga me pega de surpresa. — Sei que vai ser difícil, mas eu... eu quero isso. Com a sua irmã. Quero ficar com ela.
— Olha, cara — toco no ombro dele e digo as palavras do fundo do meu coração —, nunca pensei que um dia eu te diria isso. Mas... você é da família. Não queria. Mas você é. 'Tá consagrado. E eu quero que minha irmã fique com você porque... 'tô ligado do que sente.
— Valeu, cara.
E, em seguida, faço uma coisa que eu nunca pensei que iria fazer na vida. Eu dou um abraço de livre e espontânea vontade em Raphael Veiga. Porque é disso que ele precisa. De um abraço. De consolo. E de apoio. Chega de socos.
Boa interação dos cunhados? Temos, sim.
Um casal cheio de fogo porque ninguém é de ferro? Também!