Vendido + Perdido

By iamnanaschue

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Vendido - (disponível agora no Spirit) Loui é um ômega, o que não o ajuda muito. O clã dos Dauphiné não é nad... More

capítulo 1 -Loui
capítulo 2-Stephan
Capítulo 3-Família Potterfield
capítulo 4 -Novo membro da família
Capítulo 5- Música dos noivos
Capítulo 6-Finalmente, casados!
Capítulo 7-Cegonha
capítulo 8-anunciação
capítulo 9-Vida de casado
capítulo 10 -Turbulências
capítulo 11-Fugir pra viver
Capítulo especial-A Fuga
capítulo 13
capítulo 14
Capítulo 15-Vadia Triste
capítulo 16
especial
Capítulo 17
Capítulo 18
PERDIDO
cap 1 - Inferno acima
cap 2 - Nós não precisamos dançar
cap 3 - a estrada pro inferno foi pavimentada em linha reta
cap 4 - adereços e caos
cap 5 - como gosto de cloro
cap 6 - meu imortal
cap 7 - eu desejo ouvir sua voz
cap 8 - dormindo com sirenes
teaser
cap 10 - vamos fazer isso durar para sempre
cap 11 - o futuro está a algumas batidas de coração do desastre
cap 12 - eu morreria todos os dias para te encontrar
cap 13 - as vezes as paredes do quarto se tornam minhas únicas amigas
cap 14 - Viena espera por você
cap 15 - James Dean e Audrey Hepburn
especial - de Alfa para Alfa
cap 16 - Aguente Até Maio
cap 17- Não olhe Para o Passado com Raiva
cap 18 - as coisas que eu queria, apenas um final feliz (capítulo final)
agradecimentos
Nunca Se Esqueça de Mim (Miguel - Brian)

cap 9 - sou apenas eu, desgraçado como eu

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By iamnanaschue

título: May These Startle You In Your Sleep Tonight- Pierce the Veil
Gente, socorro.

Autora sumida? Nunca mais. Escrevi 3 capítulos hoje. Os próximos foram escritos no mesmo dia desse, então ficou bem continuo. O que acham dessa frequência de toda quarta? Querem antes na semana ou depois?

Preferem capítulos longos ou curtos? Se forem curtos, consigo atualizar duas vezes na semana, fica com vcs

/Alex/

Se achei que estava preparado pra cuidar de Brian depois do sequestro, estava terrivelmente enganado.

Ninguém está preparado pra ver alguém querido passar por tanta coisa.

Já se passaram três semanas que Brian está de volta. Os pontos já foram retirados e ele continua com algumas ataduras e imobilizações, mas não é o dano físico que faz me sentir despreparado, na verdade, é tão simples quanto na época de residência médica.

Mas também é tão complexo quanto na época de residência médica. O emocional, a autoestima e a sanidade do meu irmãozinho se foram completamente desde a última vez que nos vimos.

Brian não é difícil por dar trabalho. É justamente pelo contrário. Ele está fácil demais.

Estamos finalmente de alta. Resolvemos voltar todos para a casa da nossa infância pra que ele se sentisse confortável. Fazer escolhas não era algo que ele conseguia fazer ultimamente.

Achei que ele falaria muito. Muito pelo contrário. Brian não falou quase nenhuma palavra desde que saiu do hospital.

Seus dias consistem no quarto escuro, deitado com seu filho ou na sala olhando o nada incessantemente.

Agora são 2:50 da manhã. Ainda estou acordado, pois daqui há 10 minutos, é o horário da sua medição pra dor. Do meu quarto, consigo ouvir seus soluços angustiados e balbucios de Vincent. Decido não atrapalhar-los, pois isso irritava Brian e o fazia não levantat o dia seguinte inteiro.

O despertador de meu telefone toca. Me levanto e saio do quarto, me dirigindo até a cozinha para buscar um copo d'água e a medicação que estava sob minha supervisão.

O psiquiatra achou que Brian poderia apresentar comportamento suicida depois de tudo, então resolveu que alguém ficasse responsável por isso.

Abro o frasco de remédios e pego um, rompo o lacre de outra pílula agora da suplementação hormonal e despejo em um potinho. Coloco um canudo em se copo de água e quando me viro, não estou mais sozinho na cozinha.

Brian está parado no escuro contra a luz do corredor. Seus cabelos estão embolados e o pijama está torto sob seus ombros. O braço imobilizado, está na posição errada e o ferimento em seu pescoço que costumava ser vermelho, ganhou uma coloração arroxeada. Mas não é isso que me assusta. Em uma das mãos, Brian está seguando um garfo. A malha branca do pijama me permite ver sangue em suas coxas. Aí céus... de novo não...

-Bry... O que está fazendo acordado? -Pergunto me aproximando. Seus olhos estão vazios. Ele solta uma garfo no chão fazendo um tintilar metálico e desaba começando a chorar.

Embora tenha uma lesão severa na patela, ele dobra seus joelhos de uma forma que imagino ser muito dolorosa para ele, mas as lágrimas com soluços me fazem esquecer da medicação naquele momento.

Me abaixo a sua frente tocando seu ombro. Ele me responde com um tapa na mão tentando me afastar. Já me acostumei com aquilo. Me sento a sua frente e o puxo para meu colo, apesar de estar se debatendo e tentando me morder.

-Sh, sh sh.... -Sussurro tentando acalmar meu irmãozinho. Posiciono ele com o peito contra o meu e no instante ele para de se debater. Seus soluços se tornam mais altos por torturantes minutos, em seguida, se tornam um choro silencioso como na maioria das vezes. Não consigo o apoiar completamente contra mim. Sua barriga começou a crescer recentemente. E por estarmos tentando que ele ganhe peso, está super saliente comparado ao resto do corpo.

Seu braço livre se enrosca em meu pescoço e sua cabeça em meu ombro. Ele está retomando a consciência. Me levanto com ele no colo, sentando-o no balcão da cozinha.

-Posso? -Pergunto alcançando o elástico de sua calça. Ele concorda secando os olhos com a manga. Abaixo o suficiente para ver o estrago. Sua carne está dilacerada, e por baixo, cicatrizes arroxeadas cobrem quase que completamente. Me afasto o suficiente para pegar um pano de prato limpo. Umedeço e começo a limpar o sangue que se acumula. Seu rosto nem sequer muda de expressão. Pego acima da cabeça dele, o kit de primeiros socorros.

Desde a recomendação do psiquiatra, tínhamos um em cada cômodo da casa praticamente. Abro uma pomada cicatrizante e aplico por cima dos ferimentos. Cubro com gaze e logo em seguida enfaixo com cuidado para não apertar demais. Noto que ele está fugindo de meu olhar. Pego seu rosto com as duas mãos e faço-o olhar pra mim.

-Ei. Está tudo bem. Eu sei que você está tentando. Foi na verdade minha culpa, me desculpe. -Falo me referindo ao garfo. Por um descuido, um garfo de metal foi parar no quarto de Brian, o que desencadeou o gatilho. -Vou comprar novos de plástico pra você, okay? Não quero que você se machuque mais. Você é muito importante pra mim. Você é o mundo dos seus filhos. Todos aqui te amam e ninguém mais vai te machucar, okay? Não vamos deixar.

Acaricio a cabeça dele. Não sei se ele me entendeu. Seu silêncio é torturante. Não sei o que se passa em sua mente. Não sei como resolver. Dou a medicação a ele com todo cuidado para que não engula seco. Em seguida, pego ele novamente no colo para irmos para seu quarto.

Sinceramente, não sei como ele desceu as escadas sozinho. Mas sabia que ele havia sido muito forte pra conseguir aquilo. Subo com ele em completo silêncio no colo. Abro sua porta e me deparo com o caos que está seu quarto. Roupas, pacotes de comida, pacotes de fraldas, uma pilha de cobertores e almofadas no chão...

Deito ele na cama enquanto ele me encara em silêncio. Vincent está dormindo tranquilo agora em seu bercinho abraçado em uma pilha de bichos de pelúcia.

Diferente das coisas dele mesmo, Brian estava cuidando muito bem das coisas de Vincent. Suas roupinhas estavam penduradas perfeitamente no closet. Vincent dormia apenas em cobertores limpos, diferente de Brian, que estava usando o mesmo desde o hospital e se recusava que trocassem sua roupa de cama.

Quando alguém veio trocar sua roupa de cama, encontramos ele deitado no chão da lavanderia no meio de seu lençol molhado.

A televisão estava ligada em algum show antigo do Nirvana. Kurt estava tocando About a Girl em um volume baixo. Quando ia me virar para sair, Brian segura firme minha mão. Entendo aquilo como um pedido de que eu fique.

Suspiro e me deito ao lado dele. Ele se aninha em meu peito, de costas para mim e de frente para Vincent.

As vezes eu acho que ele só está assim comigo e Alice pela falta de um Alfa. Segundo o médico que estava acompanhando sua gestação, ele poderia fazer isso em busca dos feromonios.

Brian além de ômega, tinha o agravante de ser recessivo. Provavelmente estava sentindo falta de sua Alfa.

Eu li tantas vezes a descrição dos policiais que o encontraram que seria capaz de descrever perfeitamente a Alfa de Brian.

Catalina Platckenko, mulher, Romena, Alfa de 37 anos. Nunca havia se casado antes. Nenhuma passagem pela polícia. Uma lavradora que havia juntado dinheiro o suficiente pra comprar uma família. Cada centavo era racionado, por isso, eles venderam Vincent. Vincent teria nascido em casa, sem registro ou acompanhamento médico. Muito provavelmente, Brian teria parido a criança sozinho.

Passo a mão por cima de seu corpo, chegando até sua barriga. Ele estremesse, mas me surpreende virando de barriga para cima e subindo o pijama.

-Oi bebê... Espero que você esteja confortável aí dentro... Poxa, o titio foi bobo. Vacilou feio com sua mamãe. Sua mamãe não consegue mais falar comigo, estou ficando assustado. Será que você pode me dar uma ajudinha? -Falo me sentando e me aproximando de sua barriga. -Estou tão ansioso pra te conhecer... Você é uma luz nas nossas vidas. Imagina que presente não foi saber que sua mãe também estava carregando você quando voltou pra casa!? Espero que você venha com muita saúde sabe? É tudo que a gente pede. Você é menino ou menina? Hm? -Pergunto. Brian está quase dormindo. Dou um beijinho suave em sua barriga e em seguida beijo sua testa.

-Vai ficar tudo bem. -Falo acariciando seus cabelos. Sua respiração está mais tranquila. Deixo-o dormir e tento me manter acordado para vigia-lo. Abraço-o firmemente ao ponto de que se ele tentasse se levantar, me acordaria.

E isso de fato acontece. Acordo com Brian se virando na cama de frente para mim. Seu novo celular está em suas mãos e um barulho de joguinho está saindo do aparelho.

-Bom dia, Bry. -Dou um beijinho em sua testa me sentando na cama, já me sentindo completamente acordado. Pego meu celular no bolso e vejo o horário. Quase 10 horas da manhã. Em algumas horas, teríamos outra consulta com o obstetra.

Não foi fácil achar alguém que Brian deixasse o tocar. Nenhum outro Alfa além de mim, Alice ou Papai, nenhum ômega além de Mamãe. Nenhuma mulher beta além de Su, Louisa ou Ju. Homens beta pareciam ser a escolha certa.

Na escolha errada, ele começava a chorar, se debater e era tudo que estávamos tentando evitar. Brian ainda tinha ossos para regenerar e isso não era saudável nem sequer para ele ou para o bebê.

-Bom dia. -Ele me surpreende com suas palavras e um meio sorriso. Esse era o efeito da medicação. Fazia ele não agir no piloto automático.

-Quer ir tomar café fora ou na cozinha? -Brian escolhe a segunda opção. Ele sempre escolhia. Me levanto da cama e me abaixo na frente dele para conferir a imobilização de seu joelho. Quando confirmo que está bem presa, ajudo ele a levantar. Andando devagar, ele anda até o berço e pega com cuidado Vincent que já estava acordado, enchendo seu rostinho de beijos.

A risadinha aguda ecoa pelo quarto enquanto o bebê segura nos cabelos de Bry brincalhão. Bry o ajusta perfeitamente em seu colo e saímos do quarto. Quando chegamos a beira da escada, pego Vincent no colo para que Bry pudesse descer as escadas se apoiando quase que completamente no corrimão de mármore.

Chegamos na cozinha de novo. Julia já está na mesa com o laptop aberto. Ela digita alguma coisa, apenas levanta o olhar quando a voz de Bry sai para dizer um singelo "Bom dia". Mamãe que estava colocando Mike na cadeirinha com um sorriso.

-Bom dia, Bry. -Diz e em seguida volta a prender o pequeno na cadeira.

Bry olha para Mike com curiosidade. Eles mal haviam tido contato e Bry estava acostumado com ser o mais novo sempre... Tomo um susto quando uma mão vem parar em meu ombro. Papai está com um sorriso, uma mão em meu ombro e depositando um beijo no topo da cabeça de Bry, mas Bry não se assusta. Se vira sorrindo tranquilo.

-Bom dia, meus meninos!-Papai acaricia a bochechinha de Vincent com um sorriso.- Bom dia, pequeno! -Novamente nos surpreendendo, Bry entrega Vincent a papai com um sorriso tranquilo. Papai segura o pequeno com facilidade e um sorriso surpreso. Bry nunca entregava voluntariamente Vincent a ninguém. -Ah filho, obrigado. -Papai vai até a mesa sorrindo vitorioso e se senta na sua cadeira de sempre com Vincent no colo. Brian se senta no lugar diretamente na frente e eu sento no lugar do lado. -Olha, querido! Tira uma foto!

Papai fala animado por Vincent estar pegando pedaços de sua torrada e comendo desajeitado.

-Hmpf, que avô mais babão... Vai deixar o menino mimado... -Vincent agora está tentando morder a torrada direto do prato, papai ri entregando a torrada para ele.

-Pai! Isso tá fora da dieta dele! -Fala Alice se levantando

-Eu ein, deixa meu neto. Ele tá com o avô. Né? -Vincent olha pra papai rindo enquanto segura a torrada.

-Pode deixar, Lice. Ele gosta de torrada. -Bry fala em um tom tranquilo, está sorrindo, com a mão pousada em cima da própria barriga. Hoje seria um bom dia para ele. Ve-lo feliz dazia a casa toda ficar feliz.

Ouço um barulho do outro lado da cozinha. Mamãe está debruçado na bancada tentando fazer alguma coisa. Me levanto e vou até ele. A mesa parece mal notar que me levantei.

-Precisa de ajuda, mãe? -Pergunto me aproximando. Mamãe se assusta um pouco e vejo o que ele está fazendo.

Um bolo está em sua frente, decorado com um desenho de flores e um fundo verde.

-Alex! Que susto. -Ele fala pondo a mão sob o peito rindo, mas ainda falando baixo.- Estou só tentando acender as velas, relaxe. -Mamãe fala tranquilo mexendo novamente no isqueiro. Olho novamente para o bolo. O número 17 está posto em velas. Me pergunto mentalmente quem tinha 17 anos em casa.

Mas logo associo. Era a idade que Brian não havia completado antes do sequestro. Olho o calendário na parede. 14 de abril. Aniversário de Bry.

-Mãe... Ele tem 22 anos... -Sussuro de volta.

-Ele me disse que não está confortável com essa idade. Que quer viver os anos que perdeu. Então para nós, ele tem 17. -Mamãe me responde brevemente. Não poderia duvidar que não era a vontade de Bry. Papai estava olhando para nós dois e confirma com a cabeça suavemente para que apenas nos percebessemos. Mamãe pega o bolo com as duas velas acesas e anda até a mesa, deixando o bolo na frente de Bry.

Seu sorriso se ilumina no mesmo instante. Ele vira para nós sorrindo como uma criança animado.

Mas ele não é uma criança. Brian tem 22 anos, dois filhos. Ele precisa crescer.

Mas ele perdeu 6 anos.

-Muitos anos de vida!- Terminamos de cantar. Bry trava por alguns segundos em seguida assopra as velas de olhos fechados. Batemos palmas enquanto mamãe o entrega uma faca de plástico para cortar o bolo e ele começa a cortar.

Apenas saio do meu pensamento quando o vejo de pé com um prato com um pedaço de bolo nas mãos apontando para mim. Mamãe me empurra levemente para receber o pedaço.

-Poxa, Bry... Obrigado. -Abraço ele suavemente, sentindo seu corpo rígido sob meu toque. Me afasto e pego o pedaço de bolo. Me sento novamente no meu lugar e continuamos normalmente com o café da manhã.

De tarde, deixei Brian dormir para estar bem para a consulta. Mamãe e eu arrumamos os documentos e exames anteriores enquanto as meninas distraiam Vincent.

-Mãe... Você tem certeza que isso é o certo a se fazer? Deixar ele viver na mentira? -Pergunto baixo enquanto arquivo os exames do bebê na pasta. Mamãe suspira, me olhando por cima dos óculos. Ele os tira e passa as mãos pelo cabelo.

-Eu não sei, Alex... Ele passou por coisa demais. Acho que podemos conforta-lo um pouco... Mas a situação não pode ir tão longe. No máximo pelo próximo ano, okay? Seu pai já está me perguntando o que vamos fazer sobre a educação dele, mas eu duvido que ele vá querer concluir o ensino médio em algum supletivo ou algo do tipo. Mas também não conseguiremos uma escola tradicional que vá aceita-lo com dois filhos e 22 anos para concluir os três últimos anos...

-Acho que temos que ser adultos nessa história. Não podemos deixar ele se deprimindo. Eu amo Bry, mas ele não pode ser um vegetal pelo resto da vida por conta do que ele passou...

-Alex, pega leve com ele. Tem apenas 3 semanas que...

-3 semanas que a gente mal dorme. Três semanas que ele mal se levanta. Três semanas que ele só sai de casa a força. Tem que ter alguma coisa que levante ele...

Mamãe não me responde de imediato.

-Que tal um sistema de recompensas? -Ele pergunta. Levanto a sobrancelha não entendendendo direito. -É... tipo. Ele vai hoje com você e Alice, não é? Se ele ficar bem, oferecemos algo que ele queira. Seja uma hora a mais de sono ou uma noite inteira sem Vincent o acordando, algum CD, coisas que sabemos que alegram ele.

-Hm... certo... -Começo a juntar os papeis quando ouço um grito do quarto de Brian. Já estávamos acostumados. Pesadelos eram algo constante agora.

-Deixa comigo. -Papai fala passando pela porta e indo direto para o quarto de Bry.

/Brian/

Estava deitado em meu colchão mofado. Olho em volta e estou no porão. Me levanto com dificuldade pois sinto muita dor. Pelo pequeno basculante, noto que está de noite. Ando de um lado para o outro afim de acabar com uma cólica infernal que estou sentindo.

Me apoio no sofá quando fica impossível de aguentar. Me sento, sentindo como se algo estivesse me partindo no meio. Mordo o forro velho para não gritar alto demais e acordar minha esposa. Mas não certo.

Segundos depois, ela está na porta, me olhando. Estou de joelhos no sofá tentando achar uma posição que doa menos, mas é impossível. Olho para ela com lágrimas nos olhos, porém ela só tem um sorriso no rosto.

Na hora, sinto vontade de arranca-lo com as unhas de seu rosto. Por que ela fazia isso comigo? Se hoje eu morresse, seria um livramento. Eu não estava entendendo, será que ela havia me envenenado? Por que tudo dói tanto?

Ela desce as escadas com seu sorriso diabólico e vem até mim, me obrigando a agachar no chão. Sinto um alívio na hora. Minha cabeça pende para trás e segundos depois que o pico da dor passa, ela me levanta no colo. Começo a chorar em desespero. Ela abusaria de mim até o meu último segundo de vida, até quando eu morresse. Eu iria morrer.

Ela passa direto da sala para um pequeno banheiro no primeiro andar. Me deixa sentado no vaso enquanto vai arrumar algo fora. Nem se eu quisesse, eu conseguiria levantar de onde ela me deixou. A dor era tanta...

Mas logo ela aparece. Com uma régua em mãos e uma caixa de luvas, uma toalha e um casaco. Ela bota o casaco sob meus ombros e coloca luvas nas duas mãos. Em seguida, puxa meu quadril para baixo, tirando minha cueca e analisando minha entrada. Me sinto desconfortável respirando ofegante tanto pela dor quanto pelo medo. Sinto seus dedos nas laterais da minha entrada, em seguida, ela retira a mão e compara com a régua. Okay, não estou entendendo qual o feitiche dela ou o que ela está fazendo comigo. Ela me drogou para me dilatar? Por isso estou sentindo tanta dor?

-ept... -Ela diz. Não entendo, mas concordo com a cabeça. Ela se levanta, tirando as luvas e jogando no lixo do banheiro. Ela pressiona minha cabeça contra seu peito e logo minha dor se dissolve um pouco. Era como se os vermes tivessem parado de se mexer dentro de mim. Ela me pega novamente no colo, me levando para a sala. Me deita sobre o tapete coberto de toalhas. A lareira está ligada. O calor me faz sentir menos desconforto, mas de tempos em tempos, o pico da dor cresce.

Horas se passam. Vejo pela luminosidade das cortinas que agora está de dia. Ela vem fazer o mesmo processo novamente, agora, ela parece satisfeita. Não consigo pensar muito até sentir a dor escruciante de algo de fato me partindo no meio. Uma das mãos dela empurra minha barriga para baixo. Involuntariamente, minhas pernas se dobram abertas para facilitar a presença do outro braço dela diretamente na frente de onde ela ejaculou tantas vezes. Ela parece animada. Paro para respirar e ela para comigo, mas essa pausa dura poucos segundos, até que suas duas mãos são sentidas na parte interna da minha coxa e... um choro.

Choro de bebê. Demora a cair a ficha, mas tudo começa a se conectar. Minha visão fica turva enquanto ela me entrega o bebê chorão.

-Não, não, não, não

-NÃO! -Sento na cama assustado. Junto meus joelhos e os puxo contra meu peito chorando audivelmente. A porta se abre me assustando, mas não levanto a cabeça. Alguém está falando algo comigo, mas não consigo parar de repetir "não". Catalina deve estar assustada. Ela toca meu ombro e eu me debato para ela se afastar. Seus braços vem ao meu entorno, mas são mais fortes. Levanto a cabeça.

Não é Catalina. É papai. Estou em casa. Suspiro ainda chorando. Mal consigo entender suas palavras. Uma de suas mãos desgruda cabelos grudados em meu rosto e a outra me mantém firme em seu abraço. Subo em seu colo e ele me segura. Choro em seu peito audivelmente até entender o que ele estava me falando.

-Filho, cheira a flor e assopra a vela. Vamos, você consegue... -Ele diz pacientemente, levantando minha cabeça. Olho em seus olhos tentando imitar o que ele estava fazendo.

Quando fico mais calmo, começo a me sentir de fato triste. Lembro do meu filho e de como nunca seria uma boa mãe para ele. Eu nunca seria como a minha mãe.

Papai me mantém imobilizado em seu abraço enquanto eu choro.

-Sh sh... Tá tudo bem agora... Você está aqui, não está? Você foi tão corajoso... Você aguentou todos esses anos... Você é incrível, filho. Ninguém aguenta mais te ver sofrer... -Sinto seu beijo em minha testa suada. -Você está um pouco febril... Toma um pouco de água, que tal? -Papai alcança a garrafa na minha mesa de cabeceira e me entrega já com o canudo. Começo a tomar a água sedento. Sua mão segura a garrafa enquanto a outra me mantém sentado na vertical em seu colo. Quando termino de beber, ele bota a garrafa de lado. -Quer me contar sobre o que foi?

Quero. Quero conseguir dizer, mas antes que eu consiga falar, lágrimas brotam dos meus olhos de novo.

-Sh sh... ei... Não precisa, okay? Estamos cuidando de você... um passo de cada vez, okay? Seja gentil com você mesmo...

-Isso tá me assombrando, papai... Eu não posso mais viver assim. -Falo entre soluços. Ele me abraça firme.

-Vamos superar isso juntos, okay? Eu só preciso que você não perca a fé em você, okay? Nunca. -Sinto sua mão em minha coxa.-Nos vamos buscar métodos melhores pra você se sentir bem, pra matar essa dor okay? Eu só preciso que você não se machuque, Bry. -Ele me abraça firme e sussurra em meu ouvido- Você é muito mais que só um garoto. Você tem alma de guerreiro. Você nasceu para viver e você vai ter uma vida linda, meu filho. Você vai criar os seus filhos, vai achar alguém que te ame por quem você é, vai ter um futuro de sucesso por que você não é escuridão, Bry. Você é luz por um lindo vitral, filho. Eu só preciso que você não perca sua fé. Por mim.

Suas palavras ficam em minha cabeça enquanto nos mantemos em silêncio.

-Eu prometo -Sussuro de volta ainda abraçado com ele.

Papai se levanta da cama ainda comigo em seu colo.

-Preciso que você faça algo importante hoje, okay? Você vai escolher as suas roupas. -Não questiono enquanto ele me leva até o closet. Ele me deixa no chão e fica na porta me observando. Paro por alguns segundos esperando ele vir escolher. -Pode ir, Bry. Escolhe.

Demoro a processar. Respiro fundo e começo a procurar entre as camisetas alguma mais larga. Pego uma do Blink-182 e em seguida me abaixo com cuidado para escolher um crocs azul claro e meias brancas.

-Filho, está esquecendo a calça. -Papai me lembra. Concordo com a cabeça e pego leggins cinza para combinar com a blusa. Demoro mais do que deveria, mas papai me esperou. Viro para ele sorrindo e ele sorri de volta.

Ele me ajuda a trocar de roupa e logo em seguida prende novamente minhas imobilizações. Noto enquanto ele calça minhas meias o quanto meus pés estão inchados. Mexo os dedos enquanto ele coloca meus crocs e quando ele termina, me levanto. Olho no espelho o quanto meu cabelo está embolado. Mas papai já resolveu isso.

Ele está com uma escova nas mãos e um pote de elásticos na outra. Me sento no banco de frente pro espelho enquanto ele pacientemente desembaraça meus cabelos. Com cuidado, ele pega o topo do meu cabelo e reparte, fazendo um penteado parte em um rabo e parte solta. Ele faz uma trança no rabo e faz mais algumas na parte solta do cabelo.

-Ouvi dizer que os vikings faziam tranças para seus guerreiros. Que são as batalhas que eles venceram. Você merece muitas tranças. -Ele diz tranquilo terminando meu cabelo. Estava para me levantar quando ele diz para eu ficar. Continuo sentado enquanto ele sai e volta com uma bolsinha cheia de produtos. Ele abre um desses produtos e começa a corrigir minhas olheiras de noites não dormidas, tomando cuidado para não esconder minhas sardas. Ele sela com um pó branco e ilumina minhas bochechas, meu nariz e o canto dos meus olhos. Delinea meus olhos e da um jeito em meus cílios. Fico um pouco surpreso quando noto que é de uma tonalidade ruiva, como meus cílios.

-Prontinho, filho. Está lindo. -Papai fala segurando meus dois ombros. Olho pelo reflexo do espelho e Wow... ele fez um ótimo trabalho. Me sentia...? Atraente? Coro um pouco sorrindo envergonhado. -Ah, você é tão parecido com sua mãe... Ele era exatamente assim na sua idade... Mesmo rostinho, mesma postura, mesmos olhos... Parece que estou vendo uma foto de nosso casamento.

-Deixa disso. Bry sempre teve menos sardas que eu. As dele ficam menos marcadas no sol. -Não reparamos mamãe escorado na parede do closet. A blusa de moletom, provavelmente de papai, escorregando pelo ombro e a calça jeans skinny contrastando perfeitamente com sua silhueta perfeita. As vezes eu queria ser mais como minha mãe, mas desde que cheguei, estou magro demais e, por consequência, com uma barriga grande demais. Sou cerca de 10 centímetros mais alto que ele, o que faz muita diferença pesando os mesmos números.

-Você tá brincando né? Você que fez todas essas obras de arte e não se acha lindo? -Papai pergunta estendendo a mão para mamãe. Mamãe pega enquanto ele o conduz a uma leve dança, o rodopiando até parar em seus braços. Papai beija o topo da cabeça de mamãe enquanto seus olhos ainda estão em mim.

Estou vermelho, olhando através do espelho a cena de romance de meus pais. Abaixo o olhar e reparo que estou com as duas mãos sobre a barriga. Olho para minha reflexão no espelho em seguida pros meus pais. Suspiro.

Estou sozinho, com dois filhos e agora tenho que ter forças de cria-los. Eu escolhi seguir com a gravidez então vou fazer isso.

-Filho... Eu sei que pode ser difícil, mas você pode fazer uma coisa por mim? -Sou tirado de meus pensamentos por mamãe. Me viro de frente para eles. Mamãe se agacha em minha frente exatamente como fazia quando eu era criança e queria me dizer algo sério, como quando vovô "descansou para sempre". -Preciso que você vá com Alex e Lice para uma consulta.

Fecho meus olhos e pressiono os punhos, suspirando. Antes de abrir os olhos, sinto a mão de mamãe em minha bochecha esquerda.

-Por favor filho... Pro seu bebê, okay? Não está animado para descobrir se é menino ou menina? -Paro para pensar pela primeira vez nisso. Mal havia me tocado disso. -Ouvir o coraçãozinho... Ver a imagem dele ou dela...? Hm? -Sua mão vai de encontro com minha barriga. Ele acaricia suavemente com um sorriso. -Por favor filho... Pelos seus bebês... -Suspiro novamente.

-Tá. Eu vou. -Minha voz sai mais aguda que o normal. Mamãe sorri, se levantando e em seguida me ajudando a levantar.

Passamos por todos os cômodos da casa até chegarmos na garagem. De longe, dentre os carros, vejo Alice colocando Vincent na cadeirinha de um Volvo Prateado. Alex não estava em meu campo de vista até passar á minha frente.

-Que bom que decidiu ir, Bry. -Ele me diz. Sorrio de canto andando ao seu lado até o carro. Ia me sentar atrás, quando Alice me expulsa, mandando eu sentar na frente pois tinha o adaptador de cinto. Sabia que era desculpa para ficar com Vincent, mas não reclamo. As vezes ele me esgota.

Alex dirige para fora de casa em silêncio, o que me ajuda a tentar entender o que está no rádio. Reconheço a voz de Vic Fuentes, vocalista da minha banda favorita no meio de muito auto tune, mas não reconheço a música. Alex sabe, pois está murmurando baixo.

Separete me from my own two hands I've killed so many times
But I can't save the world from the creatures that don't die

"Me separe das minhas duas mãos, eu matei tantas vezes
Mas não consigo salvar o mundo das criaturas que não morrem"

Reconheço aquele verso do meu caderno de poemas. Olho para Alex e ele sorri me dando uma piscadela

Kinda like the way you tell me
"Baby please come home
I need you here right now
I'm crying under water so you don't hear the sound"

"Meio que gosto do jeito que você me diz
"Bebê por favor, volte para casa
Eu preciso de você aqui agora
Estou chorando debaixo d'água para que você não ouça o som"

Olho para trás buscando explicações de Alice. Ela me levanta os ombros e eu fecho a cara.

-Tá, tá- diz rindo- Bom, quando fez um ano que você sumiu, Alex contatou Vic e enviou seus poemas. Pra quando você voltasse, tivesse essa homenagem. A gente achou que seria uma música ou duas, mas ele fez um álbum! Não é que ele se identificou com você?

Quase morro com o que ela está falando. A minha banda favorita? Tem um álbum? Em minha homenagem? Com letras? Minhas? Olho de um para o outro alfa de queixo ainda caído.

-Eu preciso ouvir o álbum. -Falo simplesmente. Alex ri.

-Está tocando desde que você entrou. Você só percebeu agora. Quer que eu ponha de novo? -Concordo com a cabeça animado. -Okay. Siri, coloque o álbum "Collide With The Sky" da banda Pierce The Veil. -Logo uma música instrumental começa a tocar. Fico prestando atenção quando Vic começa a declamar um poema. MEU. Declamo junto com ele.

"If you wanna to set me free
Why the fuck wouldn't you say something?
I was just over seventeen
May the poison, cave in free
Oh no, please don't abandon me
Mother, father I love you so
But this is just me, disgused as me
I am the killer who burned this home!"

"Se você queria me libertar
Então por que caralhos você não fala alguma coisa?
Eu acabei de completar dezessete
Deixe o veneno penetrar livre
Mãe e pai, eu os amo muito
Mas esse sou apenas eu, desgraçado como eu
Eu sou o assassino que queimou essa casa."

Lembro-me da situação que escrevi isso. Não tinha a parte dos 17 anos. Creio que seja adição de Vic, mas escrevi após uma briga feia com papai e mamãe, onde mamãe ficou do meu lado e papai estava muito muito bravo. Me senti, no fundo, um assassino que destruiu a família. Na época, eu era o último filho. O que fizeram eles pararem. Começo a chorar emocionado enquanto as outras músicas dos meus poemas combinam exatamente com o que eu quis dizer.

Resolvo pegar meu celular. Tiro uma foto do painel do carro com a capa do álbum aparecendo e a música "Hold on Till May", a última do álbum.

Abro o Instagram pela primeira vez desde que sumi. Muitas notificações e muita coisa diferente. Passo meu celular para Alice afim de que ela me ajudasse.

-post novo? -Pergunto me debruçando sob o banco.

-ah, aqui.-Ela clica em alguns botões. -Stories ou feed? -Pergunta me deixando confuso.

-Alice, vai no que ele conhece, feed. -Fala Alex ainda prestando atenção na estrada. Ela me passa de novo o celular. Edito a foto com um filtro pra deixar mais em destaque a capa do álbum. Aperto a seta azul e aparece uma tela para escrever

Obrigado @ piercethevic @ ptvjaime e @ tonyperry  pelo álbum. Estou encantado. Estar em casa é muito melhor quando sua banda favorita te nota. Muito obrigado, amei cada segundo.

Fico curioso por não achar o Instagram do Mike, baterista da banda, mas sigo com o post, postando logo em seguida. Mais notificações surgem no meu celular. Resolvo checar depois, pois olhando pela janela, vejo que estamos quase na cidade. Fico prestando atenção nas luzes até que finalmente chegamos na clínica.

Alex para o carro na vaga mais próxima da porta, sendo o primeiro a sair. Alice sai logo em seguida. Enquanto Alex vai tirar Vincent, Alice me ajuda a sair do cinto e a me levantar. Saio do carro e fico de pé para respirar enquanto Alice fecha a porta e Alex tranca o carro. Alex sai de trás do carro com Vincent no colo. Ele está semi-acordado com cara de quem vai chorar. Estico meu braço para ele e Alex me entende, deixando-o no meu colo. Apoio ele em minha barriga e o prendo bem com o braço bom.

Sigo meus irmãos para dentro da clínica, onde sento e eles se sentam cada um do meu lado. Alex e Alice de fato se parecem muito. De toda a família, eu sou o único que não se parece tanto. Além de ser o único ômega, além de mamãe, óbvio. Olho por cima de Vincent para as outras pessoas na sala.

Um casal de mulheres parece estar muito feliz com algum resultado, pois não param de sorrir. Um senhor está sentado ao lado do que acredito ser seu filho, grávido ao lado da esposa de seu filho. E um homem, beta, está olhando pra a porta do banheiro feminino ansiosamente. De lá, sai uma mulher com aparência indiana segurando um potinho com um líquido amarelado. Presumo que seja xixi. Torço o nariz meio incomodado. Eu não vou fazer xixi em um potinho.

-Brian Potterfield? -Reconheço a voz de meu médico quando ele me chama de um corredor. Alex se levanta, pegando Vincent do meu colo enquanto Alice me levanta. Sigo o caminho tão conhecido até o consultório, escoltado por meus irmãos.-Pode se sentar, Brian. -Ele indica uma cadeira na minha frente. -Alexander, certo? -Alex concorda com a cabeça- E...?

-Alice. Alice Potterfield. Irmã mais velha dos dois. Mamãe veio na última, agora foi minha vez.

-Certo... e o rapazinho domindo?

-Meu filho, Vincent. -Respondo. Olhando para Alex ainda de pé ao lado da minha cadeira.

-Certo. Alexander, Alice, Brian e Vincent... Bom. Seu pai me enviou seus exames e meus parabéns. Você está bem melhor do que da primeira vez.

-Doutor, Bry anda tendo algumas oscilações no humor, alguns picos de baixa autoestima, isso é normal?

-Poxa, imagina que seu corpo está funcionando para produzir órgãos. Um inteiro novo indivíduo dentro de outro. O corpo dele está funcionando menos de 50% para ele. -Dou de lingua para Alice e ela me vira novamente para frente. O médico está digitando algo, clica em mais algumas coisas no computador e começa a ler atento. Minha mão vai em direto a minha nuca, forçando minha cabeça para baixo. Estou ansioso. Tremendo um pouco, mas tento manejar.

-Brian... Brian... -Levanto minha cabeça em um movimento brusco. Alex está ao meu lado, me abraçando de lado. -Precisamos que você responda, okay? Se não conseguir, está tudo bem... -Concordo com a cabeça hesitante. O médico se levanta e empurra a mesa, se sentando em minha frente com a prancheta na mão.

-O pai das crianças. Possuía alguma doença física que você possa achar que é hereditário? -Nego com a cabeça. -Certo. Depois que chegou, você fez testes para IST's? -Concordo com a cabeça.

-Negativo para tudo. -Alice responde por mim, colocando a mão em meu ombro bom. Me sinto mais seguro com os dois ali.

-Você teve assistência médica no parto de Vincent? -Sinto as lágrimas queimarem meus olhos. Abaixo a cabeça negando. Ouço ruído da caneta riscando o papel- E após?

-Não... E... eu nunca havia saído da casa... -O aperto de Alex se intensifica. Alice está tensa.

-Certo... Sua idade agora é...?

-Vinte e...-Alex começa, mas Alice o interrompe.

-Dezessete. -Suspiro mais tranquilo. O médico olha para os dois em silêncio, concorda com a cabeça e volta a escrever.

-Certo, mocinho... Você é muito novo pro que passou... Eu lamento muito. Vamos fazer com que essa criança venha de forma diferente okay? Preciso que você confie em mim para fazermos um exame de imagem, okay?

-Por que? -Respondo logo. O médico se ajoelha na minha frente.

-Olha, Brian... Não sei como te falar isso, mas tenho suspeitas quanto a o que está acontecendo aí dentro. -Ele toca minha barriga. Me assusto um pouco. -devido às condições em que você pariu Vincent, pode ser que a antiga placenta ainda esteja se decompondo dentro de você e afetando seu bebê... Por isso todo esse volume.

Olho para Alex com os olhos marejados pedindo pra que aquilo não seja real.

-Fica tranquilo, Bry... Nada vai acontecer com vocês. Precisamos de um exame de imagem justamente pra saber o que fazer okay? -Alex me explica, mas não consigo parar de chorar

-Não, não, não, não... -Repito abaixando a cabeça. O médico se levanta e Alice entra no meu campo de visão. Com uma mão, ela segura a minha evitando que eu me debata e outra posa em minha bochecha me trazendo novamente aos meus sentidos

-Brian, precisamos que você colabore, okay? Não vamos sair do seu lado. Se não quiser perder o seu filho, você vai fazer esse exame, okay? -Ela fala firmemente usando a voz de comando comigo. Me sinto paralisado e me vejo obrigado a concordar com a cabeça. Ela me abraça com cuidado. -Ai Brian... Eu te amo tanto, sabe? Queremos o seu melhor, okay? Vamos te recompensar depois, tá? Milk-shake assim que sair daqui? -Concordo com a cabeça ainda choroso. Ela se afasta um pouco apenas para afastar meus cabelos de meus olhos e beijar minha testa. Com cuidado, ela me pega no colo como uma criança enquanto segue o médico. Vejo Alex logo atrás de nós segurando Vincent com cuidado. Ele estende uma das mãos e faz um cafuné em minha cabeça.

Ouço o barulho de uma porta e entramos em uma sala escura. Alice me deita em uma maca de estofado reforçado e uma textura de papel. Alex se posiciona do outro lado de Alice. Seguro as mãos dos dois encarando o médico enquanto ele prepara um instrumento esquisito e bota um tipo de gelatina.

-Pode subir a blusa para mim, Brian? -Seguro a barra da camisa para baixo com força o encarando.

-Bry... -Alex diz usando a voz de comando. Queria gritar com ele, mas subo a blusa até ficar com a barriga completamente exposta. Me sinto ridículo assim, mas logo, meus irmãos seguram minhas mãos.

Assim que o objeto gelado toca minha pele, começo a me arrepender. Quero correr dali. Tento me virar de lado, mas Alice está me segurando ali e ela é mais forte que eu.

-Sh sh... Olha só o seu bebê, Bry! -Alex fala tentando me distrair mostrando no monitor uma imagem preta, branca e cinza. Fico encarando a imagem até ver algo como o que via nos livros de biologia. Ele estava de lado, com duas mãos fechadas. Parecia muito pequeno. Pequeno demais para o tamanho. O médico desliza mais para baixo e a imagem demora a ficar nítida. Havia outro borrão branco. Não conseguia imaginar o que era. -Oh... -Alex olha para Alice enquanto eu estou encarando os dois confuso. Os médicos eram eles.

O próprio médico estava confuso e parecia não querer falar.

-Doutor, então? -Alice tem a feição séria

-Acho que sim, eu não sei... Eu nunca tive um caso natural, ainda mais sob essas condições...

-Não temos nenhum caso na minha família... Temos sim. Nossos tios por parte de pai, mas não de Brian. -Olho confuso para Alex em seguida para o médico e para Alice, sem saber o que estava acontecendo.

-Isso é possível? -Alice pergunta parecendo ansiosa.

-Sim, mas... É tão raro, que... Não contamos que isso aconteça...

-O que?! -Pergunto confuso. Eles parecem finalmente perceber minha existência no cômodo.

Alex e Alice se entreolham, mas quem resolve falar, é o médico, deslizando o aparelho por minha barriga novamente.

-Aqui, Brian. Está o seu bebê. Ele está saudável, em um tamanho razoável para o tempo de gestação e aqui atrás temos a placenta deles. Não consegui achar a placenta de Vincent, então provavelmente você expeliu sim e não sabia...

-E o que está de errado?

-Não tem nada de errado, maninho. -Alice fala acariciando meu ombro. Ela acena pro médico continuar e ele segue descendo. Vejo a o borrão branco novamente.

-Então o que é isso.

-Bry... Não é o que é isso. É quem é esse. -Alex diz. Olho para ele confuso.

-Meus parabéns. São gêmeos completamente independentes um do outro. Eles nenhum deles vai entrar em sacrifício pro final da gestação. Meus parabéns Brian.

Quando ouço aquilo, minha visão começa a ficar turva, tanto pelas lágrimas tanto pelos pontos pretos que vão crescendo e logo não consigo mais ver. 

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