Sweet Temptation

By brokenwngx

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[A short fic] Choi Beomgyu, um jovem movido pela desilusΓ£o, certa noite, em seu momento mais sombrio, Γ© surpr... More

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By brokenwngx

Na noite mais fria e sombria já vista em todos os tempos, um acordo foi selado. Os fortes raios e trovões no céu negro, as nuvens pesadas e os tornados se formando, eram a prova mais verdadeira de que o mal estava mais próximo do que nunca. E naquela mesma noite, havia um garoto solitário, que caminhava sem pressa alguma de volta para casa debaixo da pesada chuva, desejando que um raio caísse sobre sua cabeça.

Desiludido e deprimido, o garoto de cabelos castanhos chorava por ter todos os seus mais belos sonhos mortos da forma mais cruel. Estava sozinho no mundo, largado à própria sorte. Seu bem mais precioso estava sendo tirado de si por puro capricho do universo. E que universo maldoso! Desejava que tudo explodisse em chamas, e no meio daquele temporal, talvez fosse possível.

Entrou em seu apartamento e nem ao menos tirou os sapatos ou se importou em deixar rastros de água e sujeira de seus tênis. Não fez questão de acender as luzes, não havia mesmo nada para ver ali. Não se queixou das vezes que trombou em algum móvel ou pisou em falso nas escadas, apenas seguiu seu caminho até o que antes era seu lugar de conforto. O garoto parou na porta e, através da fraca luz da lua, essa escondida sob as nuvens pesadas, pode ver cada pedacinho daquele cômodo. A cômoda perfeitamente arrumada com um vaso de rosas vermelhas e seu diário ao lado, o tapete azul fofinho que cobria boa parte do cômodo, a cama ainda um tanto bagunçada com os lençóis caindo sobre o chão, e o guarda-roupas branco em estilo provençal antigo. E foi através do reflexo dos grandes espelhos do guarda-roupas que viu algo estranho na janela.

Uma silhueta peculiar, agachada, com algo pontudo no que seria a cabeça, e um sorriso diabólico. Alarmado, o garoto correu para acender a luz, mas no mesmo instante, um alto trovão foi ouvido e a lâmpada simplesmente explodiu. E no mesmo instante, ouviu sussurros estranhos e amedrontadores fazendo cócegas em seus ouvidos, e a presença sentida ao seu lado, a mesma que sentia há dias sempre o acompanhando para todos os lados, arrepiou cada pelo de seu corpo. E abruptamente, tudo parou. Silêncio total, apenas o som da chuva caindo lá fora. Mesmo assim, o garoto ainda não ousou olhar para a janela, e desejou que o que quer que estivesse ali fosse fruto de sua imaginação. Uma doce ilusão. E repetiu mentalmente até que começou a acreditar, mas tal ilusão foi por água abaixo ao ouvir seu nome sendo chamado com tanta imponência. A voz soava grave, mas ao mesmo tempo doce e suave, quase sedutora, tentadora.

"Choi Beomgyu."

Em meio a um surto de coragem, Beomgyu virou-se para a janela e viu a criatura. Estava escuro, e a única coisa que pôde distinguir da estranha criatura fora o grande par de chifres e os olhos vermelhos penetrantes, esses que brilhavam em meio a escuridão daquele quarto. A criatura pediu que se aproximasse, e Beomgyu o fez sem pestanejar. Encarou a criatura, era... curiosa, e não mais tão amedrontadora. Chegou perto, mas não o suficiente para tocá-lo. E mais uma vez, aquela doce e imponente voz se fez presente.

"Venha comigo."

"Para onde?" – O garoto perguntou.

"Para um lugar onde não há preocupações. Não há responsabilidades ou qualquer tipo de problemas sem solução. E ninguém para lhe dizer o que deve ou não fazer. Como deve ou não ser. Ninguém para lhe aborrecer. Um lugar mágico onde pode viver e ser o que quiser." - Falou naquele mesmo tom doce, aproximando-se do garoto, rondando-o.

"Existe um lugar assim?" – O garoto retrucou, sentindo-se atordoado perante a presença da criatura.

"Sim. No meu mundo. Venha comigo se quiser ter uma vida sem tristezas ou arrependimentos." – Parou atrás do garoto, e sussurrou mais uma vez em seu ouvido, fazendo-o arrepiar-se a cada lufada de ar:

"Esqueça-os, Beomgyu. Esqueça todos eles e venha comigo."

"Sim."

Beomgyu sentiu um suave toque de lábios macios e surpreendente doces sobre os seus, como uma doce tentação. E gostou de ser tentado pelo diabo. Queria mais, e mais, e mais... Não se arrependeria. Ficaria tudo bem. Seria feliz.

Tendo sua mão sendo segurada pelo diabo, deixou-se ser guiado até a janela sem se queixar, e juntos pularam do quinto andar. Beomgyu esperou sentir o baque de seu corpo atingindo o chão, mas tudo o que sentiu foi a leveza em sua alma, flutuando, voando para longe. Aquele peso que carregava já não existia mais. Estava livre. Completamente livre.

(...)

Beomgyu despertou ao sentir algo molhado respingar em sua face, e abriu os olhos devagar dando de cara com águas no mais belo tom de azul, como vira apenas em filmes. Com calma, o garoto de cabelos castanhos sentou-se e espreguiçou-se na areia, olhando em volta, notando estar à beira do mar. A água límpida tocava seus pés, e era quente, era bom. Não sabia onde estava ou como havia ido parar ali, e tentou puxar na memória alguma lembrança que respondesse sua pergunta, e tudo que veio em mente foi a noite passada onde selou um pacto com o diabo. A lembrança não o assustou, e a beleza aparente daquele lugar apenas o instigou a explorar cada canto. O diabo lhe prometeu um mundo novo, e ali estava ele. Foi pensando nisso, que correu às margens do oceano límpido, sentindo a brisa fresca balançando seus cabelos e levado embora os resquícios do que era antes de chegar ali. Correu até que perdesse o fôlego e riu. Riu maravilhado, aquilo era real, estava longe de tudo, de todos. Estava enfim livre.

O garoto apenas não sabia que estava sendo observado, não até ouvir aqueles mesmos sussurros da noite anterior. Era quase como se entrasse em transe. Não entendia o que diziam, apenas sentia que deveria segui-los. E assim o fez, caminhou para dentro da vasta floresta, por minutos, sem rumo, enfeitiçado pelas vozes estranhas falando todas ao mesmo tempo em seus ouvidos. E não viu quando seu pé enroscou em galhos e caiu rolando ribanceira abaixo. Isso o fez imediatamente despertar do transe, e nem ao menos teve tempo de pensar o que estava acontecendo. Uma hora estava na praia, e no minuto seguinte prestes a morrer. E estava perto de colidir contra uma enorme pedra quando sentiu seus braços sendo suspensos, levantando-o no ar. Mesmo que estivesse com medo de olhar, olhou, e viu cerca de seis criaturinhas brilhantes segurando seus braços com dificuldade. Beomgyu tocou o chão em segurança graças as criaturinhas, e não deixou de agradecê-las, notando então o que de fato eram: fadas.

Beomgyu mal podia acreditar que estava diante de tais criaturas. Quase parecia um sonho do qual desejava nunca acordar. As observou bem. Eram tão pequenas que cabiam perfeitamente em sua mão. O brilho dessas era tão forte que precisou de um tempo para que sua visão se acostumasse e pudesse ver melhor. Eram todas coloridas e soltavam brilhinhos ao voarem ao seu redor. De fato, encantadoras. Dentre elas, havia uma diferente, era um garoto. O pequeno tinha diversas flores nos cabelos pretos cacheados e folhinhas sobre suas roupas, sem contar as orelhas pontudas. Beomgyu achou aquilo deveras interessante, sempre achou que fadas eram todas mulheres.

Curiosas, as fadas aproximaram-se de seu rosto, lhe analisando e sem querer lhe fazendo espirar devido ao pozinho mágico, o que tirava gargalhadas das pequenas fadinhas.

Os dias que se seguiram, Beomgyu criou uma amizade com as pequenas criaturinhas e aprendeu a comunicar-se com elas, dado ao fato de que elas possuem um idioma próprio, e assim descobriu os nomes de cada uma das criaturinhas. E essas estavam sempre por perto, acompanhando-o em sua exploração naquela Terra até então desconhecida por si. Aquele mundo era de fato mágico. Descobriu que os animais eram dóceis e amigáveis em sua maioria, descobriu também que as águas eram as mais puras que poderiam existir, e as frutas as mais doces, mas não tanto quanto a tentação do diabo. E também não deixou de estranhar não ter nenhum outro humano por perto.

Em um dia de suas explorações, encontrou uma caverna escondida atrás de uma cachoeira no centro da floresta, essa que estava muito bem escondida, mas Beomgyu tinha olhos de águia, e a viu por entre os galhos e pedras que a cobriam. As fadas ainda tentaram o alertar, mas o garoto não deu ouvidos. Sua curiosidade sempre falou mais alto que alertas de perigo. Destemido, adentrou então a caverna e pôde ouvir um choro ecoando por todos os lados. As fadas mais uma vez tentaram o alertar, e mais uma vez ele não deu ouvidos, seguindo em frente agora apenas na companhia de uma única criaturinha brilhante. A fadinha Ningning, o garoto, escondia-se por entre os fios castanhos do humano, com medo. Mas mesmo com medo, não o deixaria sozinho. Beomgyu caminhou ao longo da caverna, essa que mais parecia um labirinto, até que o encontrou. Um garoto de fios negros quase tão brilhantes quanto a pequena fadinha, encolhido no chão frio e molhado, preso em diversos galhos envoltos em seu corpo e flores roxas sobre a cabeça que pareciam o machucar. Mas estava quieto, chorando, nem ao menos tentava se soltar. Talvez estivesse tentado tanto que terminou por desistir. Seu rosto e braços estavam cobertos de arranhões e sangue... Sangue roxo. "Ele só pode ser outra criatura mágica, humano nenhum tem sangue dessa cor" Beomgyu pensava. Cauteloso, não querendo assustar o garoto, aproximou-se devagar.

ㅡ Olá?

O garoto moveu-se assustado de forma a afastar-se, mirando o acastanhado com os olhos marejados e vermelhos devido ao choro excessivo. Mas o movimento brusco rendeu-lhe um pequeno corte dos espinhos dos galhos envoltos em seu pescoço.

ㅡ Calma, não se mova. – Pediu tentado aproximar-se de novo, mas o outro apenas moveu-se mais, agitado. ㅡ Eu não vou te machucar, está tudo bem. – Alentou indo até ele.

Beomgyu abaixou-se ao lado do moreno e começou a retirar a armadilha de galhos e flores com cautela, temendo machucá-lo mais do que já estava. E sentia os puxões que Ningning dava em seus cabelos, numa tentativa frustrada de lhe tirar de perto do outro garoto. Durante todos os dias naquela Terra, Beomgyu nunca havia presenciado Ningning ou qualquer das outras fadas tão agitadas.

ㅡ Pronto, está feito. – Falou retirando o último dos galhos. ㅡ Então era por isso que estava chorando. – Constatou.

ㅡ Eu não estava chorando. – Pela primeira vez, o moreno se pronunciou, emburrado com um bico nos lábios, passando as costas das mãos sobre os olhos tentando limpar cada resquício de lágrimas.

E como passe de mágica, Beomgyu, boquiaberto, observou cada ferimento do outro se fechar em segundos. Estava certo, ele era uma criatura mágica.

ㅡ Uau! O que você é? – Perguntou chegando perto, tão perto que o moreno conseguia sentir sua respiração em seu rosto, mas não se afastou.

ㅡ Sou um perdido.

ㅡ Hein?

ㅡ Um perdido. Um menino perdido.

ㅡ Um humano? Como eu? – Questionou, e recebeu um aceno em confirmação. ㅡ Mentira! Humanos não se curam assim tão rápido e nem têm sangue dessa cor. – Completou indignado, voltando a sentar-se afastado.

ㅡ Eu sim, está me acusando de mentiroso? – Devolveu irritado cruzando os braços.

ㅡ Não, claro que não. Me desculpe. – Falou depressa. ㅡ Mas o que está fazendo aqui sozinho?

ㅡ Minha sombra me prendeu aqui.

ㅡ Sua sombra? – Questionou confuso.

ㅡ Sim. É uma brincadeirinha nossa. Ela diz que sou mau, e que devo ficar aqui para o meu próprio bem, e eu digo o mesmo a ela. – Explicou descontente.

ㅡ Então por isso a armadilha... – Constatou consigo mesmo. ㅡ Que brincadeira estranha. Sua sombra é mesmo má.

Beomgyu estava intrigado com aquele garoto à sua frente. Ao mesmo tempo em que parecia de fato um humano comum, o fenômeno que presenciou minutos atrás, sem mencionar o sangue de coloração anormal, apontavam o contrário. E queria saber mais. Desejava mais.

ㅡ Qual seu nome? O meu é Beomgyu. – Falou um tanto animado.

ㅡ Yeon... Yeonjun.

Beomguy achou adorável como o garoto, desde o momento que o encontrou, estava sempre com um bico fofo nos lábios. Se assemelhava à um filhotinho de raposa irritado.

Juntos, os dois dirigiram-se para fora da caverna sem dificuldade alguma em encontrar a saída em meio àquele labirinto. E Beomgyu notou como a pele de Yeonjun brilhava sob a luz do sol em alguns pontos, como pequenos diamantes. Os cabelos longos e sedosos caindo sobre os olhos e o sorriso genuíno nos lábios de quem parecia estar redescobrindo algo... Estava encantado. Queria tocá-lo para ter a certeza de que era mesmo real.

ㅡ Yeonjun? Quanto tempo ficou preso daquele jeito? – Indagou curioso.

ㅡ Mais que o suficiente. Mas estou livre agora. – Replicou olhando o céu, respirando aquele ar puro.

Enquanto Beomgyu sentia-se cativado pela figura peculiar do garoto perdido, Ningning mantinha-se encolhido entre os cabelos castanhos do humano, também observando-o, nervoso. E arrepiou-se inteiro ao notar o sorriso voltado para seu Beomgyu. Um sorriso que aos seus pequeninos olhos, parecia um tanto... perverso.

(...)

Beomgyu não soube quanto tempo se passou desde o dia na caverna. Não sabia se foram dias ou semanas, ou até meses. E não se importava. Yeonjun lhe serviu de guia, e juntos, sem esquecer Ningning, viram cada canto daquela floresta. Yeonjun lhe contou histórias sobre cada local, e como as nuvens eram feitas de algodão. E como poderiam voar com pensamentos felizes e um pouquinho de pozinho mágico das fadas. Contou também como uma sereia poderia afogá-lo sem misericórdia ao se sentirem ameaçadas. Beomgyu amou cada história, amou também saber que havia mais humanos naquela Terra. E Yeonjun prometeu que o levaria até eles.

Certa tarde, sobre a espécie de seu amiguinho de orelhas pontudas que não saía de seu lado, Beomgyu pediu que tanto o garoto perdido quanto a fadinha contassem histórias. Mas Yeonjun teve uma ideia ainda melhor, e com muito custo, convenceu Ningning a levá-los ao lar das fadas para que Beomgyu pudesse ver algo mágico. E só conseguiu com a condição imposta pela fada: manter-se longe. E de fato, Beomgyu presenciou a cena mais pura e mágica que poderia em toda a sua vida: um baile de fadas. O baile acontecia em uma grande árvore muito bem decorada de flores das mais variadas cores, que Beomgyu podia ver através dos buracos. E a música tocada pelas criaturinhas de 15 centímetros, de alguma forma, ecoava por todo o local naquela parte da floresta. Beomgyu viu quando uma fada puxou outra para dançar e flutuavam na dança, brilhantes, fascinantes. Yeonjun aproveitou a oportunidade, e em um pedido mudo, levou o garoto à uma dança. E ao som da melodia feita pelas fadas, sob a luz do luar, nos braços daquele encantador garoto perdido, Beomgyu flutuou pela primeira vez. Flutuou alto alcançando as estrelas. Estava... Feliz.

Yeonjun também o levou para conhecer diversas criaturas mágicas, e amou cada uma delas, principalmente os unicórnios. Mas não deixou de estranhar a atitude de Yeonjun de sempre manter-se distante nesses momentos, lhe observando de longe com um sorriso indecifrável nos lábios cheios. E tornou ainda mais estranho quando foram conhecer as sereias, e essas olhavam feio para o garoto de fios negros em modo de ataque. Yeonjun, como prometido, também o levou para o esconderijo não tão secreto dos outros perdidos, humanos como eles. E todos mantiveram-se distantes de Yeonjun. Sempre que esse se aproximava, os outros se afastavam, e Beomgyu não entendia. Yeonjun era tão doce.

Beomgyu passou alguns dias com os perdidos fazendo amizade e ao ir embora, prometeu que voltaria. Disse a eles que queria seu próprio canto naquela Terra mágica, e junto de Yeonjun e a ajuda da indispensável fadinha Ningning, construíram uma bela cabana próxima à cachoeira. Foi só então que Beomgyu notou que, na colina mais alta da floresta, havia uma grande e chamativa casa.

ㅡ Uau! É um belo lugar para morar. Quem será que vive lá? – Inquiriu animado apontando a casa.

Beomgyu notou como Yeonjun mudou sua expressão despreocupada de sempre dando lugar à uma seriedade nunca vista antes, com o olhar perdido na casa citada. Não dizia nada, nem mesmo piscava. E sentiu novamente aquela presença estranha de quando aquela criatura o visitou em seu antigo lar.

ㅡ O diabo na janela. – Ouviu Yeonjun falar baixinho, quase em um sussurro.

O diabo. Beomgyu ainda se lembrava dele. Lembrava da sensação de estar diante da criatura, de seus pelos arrepiados e da voz que o seduziu sem ao menos se esforçar. E dos lábios... Os doces lábios tentadores. E queria mais. Desde o momento em que selou o acordo, quis mais. Sempre mais.

ㅡ Me conte sobre ele. – Pediu.

ㅡ Não há o que contar. Vamos dormir.

Yeonjun acompanhou o mais novo até a porta da cabana e desejou-lhe uma boa noite após um doce beijinho na bochecha. Beomgyu sempre ficava corado com esses atos repentinos do garoto perdido, e sentia seu corpo todo aquecer no menor contato físico. Por um breve momento até esqueceu-se sobre a casa da colina, mas bastou apenas fechar a porta da cabana e deitar-se na cama improvisada com a fadinha ao seu lado, que voltou a ficar curioso. Yeonjun parecia saber algo, mas não falaria, então anotou mentalmente que daria seu jeito de descobrir sozinho, iria até a casa se precisasse. Precisava descobrir mais sobre o diabo na janela.

Enquanto dentro da cabana, humano e fada dormiam profunda e serenamente, do lado de fora havia um garoto perdido encarando a casa do diabo. Seu olhar era fixo no local, nem mesmo o frio o fazia encolher. Bem, não sentia mais frio ou calor, fome ou sono, e estava perdendo toda a sensibilidade que ainda lhe restava. Não iria muito longe se continuasse assim. Sabia que Beomgyu era esperto e precisava agir rápido, tudo dependia disso.

ㅡ Quase lá...

(...)

No dia seguinte, os garotos resolveram ir à praia passar o dia, e quem sabe até nadar um pouco. E estavam sentados lado a lado na areia olhando o mar, sem trocar nenhuma palavra. Mas o silêncio não era desconfortável, era apenas... instigante. Beomgyu queria falar, queria saber mais sobre Yeonjun, foi quando notou que ele de fato não tinha uma sombra.

ㅡ Yeonjun, cadê a sua sombra?

ㅡ Ah! Ela está escondida por aí em algum lugar.

ㅡ Não deveria ir atrás dela? – Sugeriu.

ㅡ Não adianta ir atrás se não tenho como nos unir de novo. – Revelou descrente, abaixando os ombros.

ㅡ O que? Você precisa de algo tipo cola ou agulha e linha? – Perguntou inocente, fazendo o outro dar um risinho e olhar para si.

ㅡ Tipo isso.

ㅡ Talvez eu possa ajudar, me conte sobre ela. – Pediu com olhinhos brilhando, como sempre fazia quando queria algo com afinco.

Beomgyu descobriu cedo como esse truque dos olhinhos brilhando funcionava sempre muito bem ao seu favor, e usava e abusa. Mas mesmo assim, notou Yeonjun hesitar.

ㅡ Vamos, você sempre conta histórias sobre as criaturas daqui, mas nunca fala sobre você. Por favor? – Pediu novamente insistente.

ㅡ Está bem. - Concordou Yeonjun. – Não há muito o que contar, então eu vou resumir. Éramos uma coisa só andando por aí em busca da perfeição. Tínhamos tudo que alguém pode querer, mas dia após dia o preço da perfeição batia à porta, até que fomos devidamente cobrados. Um dia alguém se ofereceu para acabar com todos esses problemas, mas apenas fomos enganados. Nós tentamos nos vingar, mas esse alguém fez com que o laço que nos amarrava se rompesse. Fim da história.

ㅡ Curioso... E quem enganou vocês?

Yeonjun ficou calado por minutos apenas observando as pequenas ondas que o mar fazia, tão distante quanto as estrelas no céu, talvez perdido nos próprios pensamentos. Beomgyu queria perguntar mais, mas concordou consigo mesmo que talvez aquele não fosse o momento de especular sobre a existência alheia. Aos seus olhos, o garoto perdido era sempre tão espontâneo e divertido, mas mudava completamente quando perguntado sobre si. Parecia para baixo e melancólico, literalmente um garoto perdido.

ㅡ Por que não vamos até as nuvens hoje? Vai adorar saber como são macias. Soube também que são tão doces que é possível comê-las. – Propôs com um sorriso nos lábios, voltando ao humor costumeiro, levantando-se num pulo e segurando na mão de Beomgyu, trazendo-o consigo.

ㅡ Tipo algodão doce? – Perguntou animado com um brilho genuíno no olhar, e o perdido apenas confirmou com um aceno.

ㅡ Então vamos logo. – Segurou firme na mão do perdido e juntos alçaram voo até as nuvens.

Naquele dia, foi a primeira vez que passaram algum tempo sozinhos sem a pequena fada por perto, que estava sumida desde a manhã. Beomgyu pensou que essa pudesse estar com saudades de casa e que depois voltaria, por isso não se alarmou, pois, a pequena nunca o deixava. Então aproveitou o dia com o perdido. Pularam de nuvem em nuvem, brincaram e até comeram. De fato, eram as mais doces de toda aquela Terra mágica. Ao fim do dia, sentaram-se na nuvem mais alta e assistiram ao sol dizer um breve adeus. E foi naquele pôr do sol que Beomgyu provou algo ainda mais doce que aquelas nuvens: os lábios de Yeonjun. O toque daqueles lábios carnudos nos seus era tão suave e instigante... Não soube ao certo de quem viera a iniciativa, mas não se importava, apenas queria mais daquela doce tentação. E foi no meio daquele beijo, que Beomgyu sentiu pequenas correntes elétricas atravessando seu corpo, desbloqueando em sua mente algo há muito esquecido:

Um estúdio de dança, um garoto fofo de cabelos escuros e sorriso meigo, e sorvete azul de casquinha com orelhinhas de coelho.

Tal imagem fez seu coração se aquecer e apertar ao mesmo tempo. Sentia-se feliz e triste. Flutuando alto nos céus ao mesmo tempo que caía no mais profundo abismo. Mas também sentiu uma pequena, minúscula, pontinha de esperança, como uma pequena chama a queimar em seu coração adormecido. E não entendeu o momento em que uma pequena lágrima escorreu de seus olhos. E aquele misto de sensações ficou encravado em seu peito. Separou-se minimamente do garoto perdido e lhe encarou, buscando entender o que de fato havia acontecido. Teria ele sentido algo semelhante também?

E antes que disparasse a perguntar, algo no alto do céu noturno, como uma grande sombra com chifres enormes chamou-lhe a atenção. O vento frio os atigiu em cheio, quase os derrubando da nuvem fofinha, que começava a se desfazer devido a força descomunal do vento. E instintivamente agarraram-se um ao outro temendo a enorme queda que os aguardava.

ㅡ Yeonjun, o que é aquilo?

ㅡ Fomos descobertos. Temos que sair daqui. Rápido. – Falou um tanto assustado, segurando na mão de Beomgyu prestes a pular da nuvem com ele naquela escuridão.

ㅡ Espere, o que está acontecendo?

ㅡ É ele, o diabo na janela.

Inexplicavelmente, Beomgyu não se apavorou, apenas ficou ainda mais curioso. Havia algo sobre tal criatura que lhe fascinava de forma irreal, e precisava descobrir o que era. Ao mesmo tempo que precisava saber o que havia acontecido minutos atrás. Mas deixando tais pensamento de lado por hora, apenas deixou-se ser guiado por um Yeonjun um tanto quanto apavorado. E não demorou até que estivessem de volta em terra firme, correndo floresta adentro, sem um rumo específico. E no meio daquela fuga sem sentido, ouviu novamente aqueles mesmos sussurros estranhos, dizendo coisas incoerentes em seus ouvidos, mas uma coisa conseguiu entender, o sussurro mais distante e agoniante, e dizia: Ajude-me.

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